Sócrates: craque da bola e da cidadania

Sócrates participando da campanha "Diretas Já" (São Paulo, 25/01/1984). Foto: Jorge Henrique Singh

Perde o futebol, perde o Brasil, perdem todos os que têm espírito contestador. Pois tudo isso tinha Sócrates: grande futebol, o Brasil no nome (Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira), e um pensamento crítico muito raro no meio futebolístico.

Jogador de sucesso, poderia ter se contentado com a fama que o futebol lhe deu. Mas Sócrates fez mais. Formou-se em Medicina e exerceu a profissão, fato raríssimo (foi assim que surgiu um de seus apelidos, “Doutor” – outro deles era “Magrão”). Teve opinião, e jamais temeu expressá-la: participou ativamente da campanha “Diretas Já” em 1984, e nunca escondeu que seu lado era a esquerda. Foi sempre crítico à formação de jogadores no Brasil (que procura criar apenas atletas de alto rendimento, sem se preocupar com “o lado humano”, ou seja, em formar também cidadãos mais conscientes), assim como aos rumos da política esportiva no país, mais dedicada à organização de grandes eventos do que ao próprio fortalecimento do esporte brasileiro.

No Corinthians, o craque foi junto com o diretor de futebol Adílson Monteiro Alves (formado em Sociologia) um dos principais idealizadores da Democracia Corinthiana, um dos movimentos mais importantes da história do futebol brasileiro: tudo era decidido no voto, desde o local da concentração até a escalação do time. E isso quando o Brasil ainda estava sob a ditadura militar… Durante a vigência do sistema de autogestão, o Corinthians foi bicampeão paulista (1982-1983) e quitou suas dívidas. Foi uma pena que tal experiência, que poderia ter servido de exemplo a qualquer clube brasileiro, tenha durado tão pouco: em 1984 os resultados no gramado não foram tão bons, e no ano seguinte a gestão clássica voltou ao Corinthians, quando o presidente Waldemar Pires deixou o cargo e não conseguiu eleger seu sucessor – lançou justamente Adílson Monteiro Alves como candidato situacionista.

Após deixar o futebol, Sócrates passou a se dedicar à Medicina. Mais adiante, tornou-se colunista da revista Carta Capital. E se engana quem pensa que o Doutor falava apenas de futebol… Ainda mais que, em seus tempos de jogador, nunca lia as páginas de esportes nos jornais: preferia a seção de política.

O Doutor foi não só um jogador, como também um cidadão que fará muita falta ao nosso país.

Valeu, Magrão!

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Reveja o golaço de Sócrates contra a União Soviética, na difícil estreia do Brasil na Copa de 1982.

E também uma entrevista com o Doutor. Vale a pena vê-lo falar.

5 comentários sobre “Sócrates: craque da bola e da cidadania

  1. A birita é foda, Rodrigão…
    Bueno, que seja mais uma alma ilunidada do outro lado – se houver.
    Se não, que sua memória nos sirva de alguma coisa.
    Gostava muito dele.
    Uma pena.

  2. Ele foi gênio.

    Eu fiquei muito triste… Torço pra Lusa, não sou fanático, mas a importância de Sócrates era muito mais do que futebol, como vc mesmo já comentou.

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