Algo que eu não imaginaria um dia ouvir novamente

Foi há bastante tempo, pelos padrões de quem tem “só” 27 anos.

Em 2000, eu costumava ir aos jogos do Grêmio com o meu amigo Marcel, que era de uma torcida organizada, a Super Raça Gremista – ele me convidou umas trinta vezes para entrar, e recusei as trinta. Certo dia, foi junto conosco um amigo dele, de nome Vinícius. O mesmo que o do meu irmão (que é colorado fanático).

O Vinícius era também integrante da Raça. Porém, não tinha aquele perfil típico de integrante de torcida organizada. Era meio quieto, bem calmo.

Certo dia, o Marcel me contou que em um jogo que ele tinha ido, a torcida havia cantado uma música que era assim:

Sooou do Grêmio,
Sooou do Grêmio,
Do Grêmio eu sooou!

Tempos depois, descobriria que era inspirada em uma música cantada pela torcida do Uruguai em homenagem à Celeste Olímpica.

Me disse o Marcel que o Vinícius (o amigo dele) detestava essa música. Em todos os jogos que eu ia com o Marcel, junto com a Raça (que naquela época ficava na Social), a música não era cantada.

Eis que um dia, em que o Vinícius estava junto… A música foi cantada!

Não há palavras para descrever o quão engraçada era a cena: o cara cantava e batia palmas com uma empolgação…

Com o tempo, para diferenciar o Vinícius (meu irmão) do Vinícius (amigo do Marcel), comecei a chamar o segundo de… SOU DO GRÊMIO! Foi uma opção conservadora: dei prioridade ao meu irmão, que eu conhecia desde 1985, em detrimento do já meu amigo, mas apenas desde 2000.

O bizarro apelido começou a ser difundido por minha culpa – e do Marcel, que também começou a chamar o cara de “Sou do Grêmio”. Com o passar do tempo, a grafia mudou para “Sô do Grêmio”.

Em uma madrugada de 2001, encontrei o Sô do Grêmio no ICQ (velhos tempos, do ICQ…) pela primeira vez desde que eu tinha feito minha conta lá, e obviamente “cantei a música”, deixando-o “p da vida”. Fazia muito tempo que ele não ia ao jogo – e coincidentemente, a música não era cantada no Olímpico desde a última vez que ele fora ao estádio.

Os anos se passaram, o Marcel deixou a Raça, e nunca mais quis saber de torcida organizada. O Sô do Grêmio nunca mais foi ao Olímpico conosco. E as próprias organizadas do Grêmio minguaram, com o advento da “desorganizada” Geral.

————

Domingo, 16 de novembro de 2008. Me dirijo à parada de ônibus para pegar minha condução de volta para casa após a vitória gremista por 2 a 1 contra o Coritiba. Não percebo nenhum sinal de violência – só vou saber da grave briga entre torcidas do próprio Grêmio dois dias depois, pelos jornais. Caminhando, percebo que alguém canta uma música conhecida, mas que há muito tempo eu não ouvia.

Demoro um pouco para identificar a letra da música cujo ritmo já conhecia. E então percebo que se trata da mesma de oito anos atrás:

Sooou do Grêmio,
Sooou do Grêmio,
Do Grêmio eu sooou!

8 comentários sobre “Algo que eu não imaginaria um dia ouvir novamente

  1. Rodrigo,

    História fantástica! Olha… Eu tô a fim de escrever um livro com vivências de gremistas que não têm nada a ver com a mídia ou com cargos diretivos.

    A gente pode juntar uma galera e tentarmos viabilizar esse lance.

    O que tu achas? ;)

    []’s,
    Hélio

  2. Camarada Rodrigo, desta vez ñ irei flautear: estas brigas de torcidas do mesmo time me lembra as divisões da esquerda.

  3. Hélio: TÔ NESSA! Tem muita história pra se contar do nosso Tricolor.
    Assim como tô pensando em começar a escrever as “memórias da faculdade”: só termino o curso ano que vem, mas além das cadeiras de projeto e TCC, não tenho mais nenhuma obrigatória – ou seja, a convivência com os colegas que vem desde 2004, vai começar a diminuir. Nada melhor do que lembrar algumas histórias.

    Jorge: é verdade. É aquela disputa que aparentemente é para ver quem é “mais gremista” ou “mais de esquerda”, mas que na verdade trata-se de disputa pelo poder de ser “a principal liderança”. Esse é o grande problema da esquerda: ao invés de unir-se em torno das concordâncias, fragmenta-se devido a divergências que sempre existiram – o que acontece tanto na esquerda como na direita – e sempre existirão, já que ninguém é obrigado a concordar com tudo.
    A direita, mais pragmática, faz o que deveria fazer a esquerda, e por isso é forte.

  4. Camarada Rodrigo, agora flauteando: ñ te esquece de escrever sobre a História dos dois rebaixamentos do “Ih…mortal”. KKK

  5. Duas frases para te ajudar a escrever sobre o assunto:

    “Vamos sim para a segunda divisão. Mas vamos de cabeça erguida para conquistar mais um título inédito para o Grêmio.”
    – Hélio Dourado, vice-presidente do Grêmio em 2004.

    “Comemorar a ascensão (…) para a primeira divisão é como fazer churrasco quando um primo é solto da cadeia. A gente compra a carne, a cerveja, comemora, mas…dá uma vergonha dizer o motivo da festa”.
    – Antonio Roque Citadini, ex-dirigente do Corinthians

    Ah e ñ se esqueça de comparar a volta “triunfante” do Ih…Mortal com outros clubes tipo Corinthians, Palmeiras, Botafogo, Atlético/MG, q ñ necessitaram nem de “Batalhas” e nem de viradas de mesa. KKK

    Abraço de um NoSegunda!!!

  6. O título de 2005, camarada Jorge, em si não vale quase nada.
    O que merece ser lembrado é a lição de vida: tudo parecia perdido, mas não estava.

    Abraços de um NoPifa*!

    * Das duas, uma: ou o Veranópolis de abril/2007 era melhor que o Barcelona de dezembro/2006, ou o Inter foi, definitivamente, uma zebra e tanto…

  7. Concerteza camarada Rodrigo foi uma verdadeira lição para os outros clubes e ao q tudo indica o Corinthians extraiu bem a lição pq subiu com 6 rodadas de antecedência. KKK
    Nós Colorados tb aprendemos: a ñ cair! KKK

    Ainda bem q tu sabe q é um NoFIFA, q o teu “mundial” só é reconhecido pela Toyota, já pensou se ela quebra com a crise, quem vai avalizar o teu “mundial”? KKK

    Ah e concerteza o Colorado é uma “zebra” permanente q ñ pára mais de disputar título internacional. KKK

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