A camisa que eu gostaria de ter

Uma camisa do Grêmio que eu gostaria muito de ter mas não comprei (se arrependimento matasse…), é o modelo que o time vestia na final da Copa do Brasil de 2001 – última grande conquista do Tricolor. E não é só por isso.

Aquele modelo, fabricado pela Kappa, não tinha nenhum anúncio publicitário. Nenhum! Exceto, claro, o logotipo da Kappa, mas não ocupava boa parte da camisa.

No início de 2001, o contrato do Grêmio (e também do Inter) com a General Motors expirou e não foi renovado, e em consequência disso os dois clubes ficaram sem patrocinador por um tempo. Foi com a camisa sem propaganda que o Grêmio conquistou o estadual e, duas semanas depois, a Copa do Brasil, jogando um belíssimo futebol. No segundo semestre, a dupla Gre-Nal assinou contrato de patrocínio com o Banrisul, e acabou-se a camisa sem publicidade.

Eduardo Galeano, em um genial texto sobre os anúncios publicitários nas camisas, definiu o jogador de futebol na atualidade como “um anúncio que joga” – o que explica as proibições das comemorações mostrando camisas personalizadas (independentemente de serem mensagens religiosas ou pacifistas): não se pode deixar de mostrar a marca do patrocinador na hora de comemorar o gol.

Me dei o direito de complementar a definição de Eduardo Galeano: o torcedor, em sua maioria, é um “anúncio que torce”. Afinal, ao comprarmos a camisa de nosso time, não mostramos apenas o orgulho que sentimos por torcer para ele: somos também obrigados a anunciar algum produto, alguma marca.

Talvez isso explique o motivo pelo qual camisas “retrô” – modelos que imitam as utilizadas no passado – fazem sucesso: a única marca que aparece é a do fornecedor esportivo, mas sem ocupar um grande espaço na camisa.

Porém, agora uma torcida terá o direito de “fazer propaganda” apenas de sua paixão: a do Racing. E mais: o clube argentino não está sem patrocinador, é que este, o Banco Hipotecario, decidiu não estampar sua marca na camisa do time, e sim, explorar outros espaços para publicidade, como mostra a postagem no Impedimento.

Quem sabe um dia esta ótima ideia chegue ao Brasil, e eu possa anunciar apenas a minha paixão pelo Grêmio, nada mais. Mas, claro, tomara que a fornecedora de material esportivo não “invente” bizarrices para estragar o manto sagrado

9 comentários sobre “A camisa que eu gostaria de ter

  1. Rodrigo,

    Certa vez, conversei com amigos advogados sobre a possibilidade de o torcedor-consumidor poder exigir a venda de um modelo oficial atual sem patrocínio. Em princípio, eles disseram que não há jurisprudência a respeito e que não se trata de um produto de primeira necessidade. Mas acho que, se os torcedores fizerem coro nas redes sociais via internet, a ideia pode tomar corpo.

    []’s,
    Hélio

    • É verdade, Hélio. E acho que poderia mobilizar muita gente mesmo.

      Lembro da camisa preta, ideia surgida em uma comunidade do Orkut que ganhou muita força a partir dali. Muita gente sugeria que fosse adotada como camisa reserva do time, mas aí se colocassem patrocínio, descaracterizaria.

      Quando me sobrar grana, comprarei um dos modelos “retrô” do Grêmio: tenho a preta, “limpa”, mas quero também uma tricolor sem patrocínio. Até tenho uma, original, da década de 70, que ganhei de presente quando tinha uns 14 anos: ela já era pequena então, quando eu era magro…

  2. tb tenho essa vontade.

    Acho curioso que o modelo feminimo seja vendido sem patrocinador. Acho que para os dois sexos deveria existir as opçoes com ou sem patrocínio.

    Também não sei o que preve o contrato entre gremio e banrisul. Fosse eu patrocinador exigiria a presença da minha marca em todas as camisas

    • Concordo totalmente, André: deveriam existir para os dois sexos as opções de camisas com e sem patrocínio. Eu gostaria muito de ter uma tricolor sem patrocínio.

      Quanto ao contrato do Grêmio com o Banrisul, talvez ele exija a presença da marca apenas nas camisas de jogo, e não nos outros modelos.

  3. Camarada Rodrigo: pegando gancho nesse post e linkando com o que o camarada escreveu mais acima notamos o quão insustentável é o crescimento capitalista.

    O camarada já parou para contar quantas camisas diferentes a dupla Grenal lançou de 2001 para cá? Temos pelo menos uma por ano.
    Qual a necessidade de o mesmo fornecedor de material esportivo lançar um modelo de camisa diferente a cada ano? Uma camisa com o mesmo tecido? Às vezes mais feia do que o modelo anterior?

    As respostas parecem óbvias!

    E assim é feito com as outras mercadorias. O crescimento do capitalismo é insustentável! Mas tem gente de esquerda que ainda acredita que dá pra humanizar esse modo de produção! É mole?

    Abraços!

    • Bom questionamento, camarada!

      A lógica das camisas é exatamente a mesma do capitalismo: altera-se o mínimo detalhe em um produto e aí anuncia-se o alterado como “grande novidade”, e a maioria das pessoas embarca.

      No caso do Grêmio, chega a ser pior, porque as camisas ficam REALMENTE diferentes a cada ano: a Puma não consegue manter um padrão que dure mais de ano, nunca vi coisa igual! Até agora, só (quase) acertaram no modelo de 2008, que ficou bem semelhante às camisas mais tradicionais.

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