O Milton Ribeiro postou quinta-feira em seu blog uma fotografia que talvez seja a mais hedionda já obtida. Mais que isso, digo que é extremamente revoltante.
O homem de paletó e gravata, com um pedaço de pão na mão, era um oficial turco-otomano. As pessoas que o cercam, visivelmente desnutridas, eram armênios, vítimas de um genocídio que mais tarde teria inspirado Adolf Hitler a fazer o mesmo com os judeus – é atribuída ao ditador alemão a frase “afinal, quem fala hoje do extermínio dos armênios?”, contando com o esquecimento para argumentar a favor do plano de eliminar as populações judaicas.
Já se passaram 97 anos do início do Genocídio Armênio, em 1915. Até hoje, o Estado turco (sucessor do Império Otomano) insiste em negar que a matança foi deliberada, e ainda reprime qualquer manifestação pró-reconhecimento dentro de suas fronteiras*. E vários países (dentre eles o Brasil), em nome de manter boas relações com a Turquia, não reconhecem o genocídio.
E para ver só, até em matéria de memória quanto a acontecimentos de outros países a Argentina “dá de relho” na gente: ano passado, um juiz argentino emitiu uma sentença condenando a Turquia pelo extermínio. Não foi a primeira medida neste sentido no país vizinho, visto que o Estado argentino já reconhecia formalmente o Genocídio Armênio. O primeiro ato de reconhecimento veio do Uruguai, mediante resolução parlamentar em abril de 1965, 50º aniversário do massacre.
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* Em 2005, o escritor turco Orhan Pamuk (Prêmio Nobel de Literatura em 2006) afirmou numa entrevista a uma revista suíça que na Turquia “ninguém se atreve a falar” do genocídio contra os armênios e da posterior matança de 30 mil curdos, e por conta disso sofreu processo judicial por “insultar e desacreditar a identidade turca” (crime previsto no artigo 301 do código penal da Turquia).