25 anos da “superquarta”

É “tiro e queda”: toda vez que há vários jogos decisivos acontecendo no mesmo dia, ele vira “super”. Lembro de diversas “superquartas” e mesmo de “superdomingos”. (Existe também a “superterça” nos Estados Unidos, mas aí não tem nada a ver com futebol e sim com política, devido à realização de eleições primárias em vários estados, sendo assim um dia muito importante para a definição de quem se candidatará à presidência do país.)

Mas de todas as “superquartas” que já vi, nenhuma me marcou como 17 de novembro de 1993. Era um dia no qual se definiam várias seleções classificadas para a Copa do Mundo que ocorreria nos Estados Unidos em 1994, e também começava a decisão da Supercopa Libertadores daquele ano, entre Flamengo e São Paulo – que seria campeão.

Em 1993 eu estava na 5ª série do 1º grau e estudava à tarde, por isso perdi os primeiros jogos decisivos daquele 17 de novembro. Muito embora não fosse possível acompanhar muita coisa: ainda não tínhamos NET em casa, provavelmente o máximo que poderia assistir seria a um amistoso entre Alemanha e Brasil, vencido pelos alemães por 2 a 1. Tal confronto, que jamais ocorrera em uma Copa do Mundo até então, era cotado para ser a final do Mundial dos Estados Unidos: o Brasil faria a sua parte indo à decisão, mas seria contra a Itália, já que a Alemanha cairia diante da Bulgária nas quartas-de-final. (O primeiro encontro entre brasileiros e alemães em uma Copa aconteceria apenas na final de 2002, já o segundo… Deixa pra lá.)

A derrota alemã diante da Bulgária seria surpreendente, mas não tão inacreditável como poderia parecer nos dias de hoje. Pois aquela geração búlgara, comandada pelo genial Hristo Stoichkov, era a melhor da história do país (um time bem superior à Coreia do Sul de 2018). A Bulgária chegou aos Estados Unidos eliminando ninguém menos que a França, em algo bem parecido com um “Maracanazo”: os franceses jogavam por um empate em casa e saíram na frente, mas logo os búlgaros buscaram o empate; no último minuto do tempo regulamentar, quando a vaga já parecia perdida, Kostadinov marcou o gol histórico.

A classificação histórica também indicava que a Bulgária quebraria sua escrita negativa em Copas: jamais vencera uma partida até então. A estreia não seria nada animadora, com derrota de 3 a 0 para a Nigéria, mas na partida seguinte os búlgaros cobrariam a fatura “com juros e correção monetária”: 4 a 0 sobre a Grécia, estreante em Mundiais. A vaga grega veio com uma bela campanha nas eliminatórias europeias que foi encerrada justamente naquele 17 de novembro, com uma vitória por 1 a 0 sobre a Rússia. Dizer que o gol de Nikos Machlas “incendiou” o Estádio Olímpico de Atenas não me parece exagero.

No começo da noite, no Jornal Nacional (naquela época eu o assistia) fiquei sabendo dos jogos da tarde. Logo depois começou a novela e fui para o quarto esperar o jogaço que pude assistir naquela quarta-feira: Flamengo x São Paulo, abrindo a final da Supercopa Libertadores. No mesmo horário em que a Argentina, que no começo de setembro levara 5 a 0 da Colômbia em casa, enfrentava a Austrália disputando a última vaga na Copa do Mundo.

Em Buenos Aires, a Argentina fez o que dela se esperava e se classificou para a Copa, mas com uma magra vitória de 1 a 0.

Já no Maracanã, não faltou emoção. Leonardo abriu o placar para o São Paulo aos 15 do primeiro tempo, mas Marquinhos empatou aos 35 e virou no início do segundo tempo. Mas no final do jogo, quando a vitória flamenguista – e a consequente vantagem para a partida da volta, no Morumbi – já parecia garantida, Juninho (que ainda não tinha o complemento “Paulista”) empatou, e a partida acabou em 2 a 2.

Aquela “superquarta” foi tão “super” que sequer terminou ali. Pois o segundo jogo da final, na quarta-feira seguinte (24 de novembro) foi tão sensacional quanto o primeiro. O mais incrível é que a sequência de gols foi a mesma de uma semana atrás, apenas “invertendo os times”: o Flamengo abriu o placar aos 9 minutos do primeiro tempo com Renato Portaluppi, o São Paulo empatou com Leonardo aos 16 do segundo tempo e virou com Juninho aos 34, mas logo depois Marquinhos determinou um novo 2 a 2, levando a decisão do título para os pênaltis. O flamenguista Marcelinho (que ainda não tinha o complemento “Carioca” pois, afinal, jogava em um clube do Rio) desperdiçou a segunda cobrança rubro-negra; já o São Paulo acertou todas, venceu por 5 a 3 e levantou sua penúltima taça de um ano muito vitorioso que culminaria com a conquista do bicampeonato mundial menos de um mês depois, em Tóquio, contra o poderoso Milan. (A propósito, aquele time comandado por Telê Santana dava tanto gosto de ver jogar que eu só conseguia torcer contra quando enfrentava o Grêmio.)

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O Banheiro do Papa manda lembranças

O fato foi notícia anteontem. Das várias cidades do Rio Grande do Sul que investiram na expectativa de serem CTs de seleções na Copa do Mundo, só uma foi escolhida: Viamão, que receberá o Equador.

Quem acompanha o Cão há mais tempo, já leu em 2011: a Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 têm tudo para resultar em vários “Banheiros do Papa” pelo Brasil. No caso do Rio Grande do Sul, como vimos, já “é uma realidade”, pois da mesma forma que a passagem do papa João Paulo II por Melo (Uruguai) gerou uma enorme e frustrada expectativa entre os habitantes da cidade, o Estado apostou em “atrativos” que uma análise racional mostraria serem inexpressivos: colonização alemã e italiana, clima e “platinos”.

A “natural” atração de Alemanha e Itália por conta das colônias alemã e italiana no Rio Grande do Sul, qualquer um com mais conhecimento perceberia ser uma furada. Primeiro, porque alemães e italianos não vieram apenas para o Estado: a colônia germânica é muito grande também em Santa Catarina (a maior Oktoberfest do mundo fora da Alemanha é a de Blumenau); e não faltam descendentes de italianos em São Paulo, de localização muito mais central, o que facilita os deslocamentos pelo Brasil. E outra: de forma geral, alemães e italianos não se identificam com seus descendentes por aqui – ou seja, exatamente o contrário do que acontece com teuto-brasileiros e ítalo-brasileiros em relação a Alemanha e Itália.

O clima mais frio também seria um “atrativo” para as seleções fugirem do calor excessivo. Porém, é importante lembrar que a maior parte dos jogos acontecerá em cidades quentes; as duas sedes mais frias são Curitiba e Porto Alegre: a primeira só terá partidas da primeira fase, e a segunda “se despede” nas oitavas-de-final. Ou seja, faz muito mais sentido “se hospedar” no centro do país, especialmente em São Paulo e arredores, onde na época o tempo é mais ameno – nem tão quente, nem tão frio – e também pela facilidade de ir tanto a Manaus (calor muito forte e úmido) como a Porto Alegre (inverno). Sem contar outro detalhe: as cidades litorâneas e quentes são mais atrativas a turistas europeus que pretendam vir por conta da Copa, visto que em boa parte de seus países faz frio durante a maior parte do ano.

Outra aposta furada era quanto à grande presença de argentinos e uruguaios no Rio Grande do Sul, devido à proximidade. Porém, havia um detalhe que poucos levavam em conta: as cidades onde cada seleção joga (exceto o Brasil) são definidas por sorteio, e nenhuma delas disputa mais de uma partida da primeira fase no mesmo lugar. Assim, desde que Argentina e Uruguai foram definidas como cabeças-de-chave, já se podia antecipar que só uma delas poderia jogar em Porto Alegre, para isso precisando ficar no grupo F. O sorteio nos brindou com um Argentina x Nigéria, mas também poderia ter deixado os platinos longe do Estado. E não podemos esquecer de algo: a proximidade entre Buenos Aires e Porto Alegre facilitará a vinda de argentinos para o jogo, mas também a volta… Não convém apostar muito neles quanto a benefícios monetários.

E de qualquer maneira, mesmo que os “atrativos” do Rio Grande do Sul fossem sem aspas, não se podia deixar de levar em conta a conjunção de dois fatores: organização e geografia. Até 1994, a distribuição das cidades-sede se dava por grupos, e assim as seleções de cada chave jogariam apenas em duas ou três cidades. Em 1998 isso mudou: os seis jogos de cada grupo passaram a acontecer em seis cidades diferentes, fazendo com que as seleções viajassem bastante pelo país-sede. Até 2010 não havia problemas, pois as distâncias não eram tão grandes; agora, num país enorme e de climas variados, e com jogos acontecendo em várias partes do vasto território, a coisa complicou. Imaginem uma seleção se hospedando no Rio Grande do Sul e precisando ir jogar em Manaus: isso significaria não apenas sair de um possível frio intenso para um calor sufocante, como também uma viagem bastante demorada, o que torna muito mais lógico a opção por concentrações em pontos mais centrais do Brasil.

Quanto à opção do Equador por se hospedar no Rio Grande do Sul, provavelmente tenha sido mais barata em comparação com outros Estados mais centrais. E a tabela também ajudou: os equatorianos não jogarão em Porto Alegre, mas sim em cidades acessíveis sem necessidade de viagens demoradas (Brasília, Curitiba e Rio de Janeiro). Ou seja, Viamão também teve sorte.

Este país que não é sério

Esses dias um amigo compartilhou no Facebook uma informação que me deixou indignado. Descobri que nós, cidadãos de bem, nos matamos trabalhando para sustentar um monte de vagabundo. Somos os palhaços desse circo chamado Brasil.

Por isso decidi que não quero mais saber de trabalhar. Afinal, posso viver numa boa por conta do governo comunista do PT, que dá Bolsa Família para tudo que é vagabundo, pelo resto da vida.

Terei muito tempo para fazer sexo loucamente, e assim minha mulher terá incontáveis filhos. Como sustentar essa prole toda? Basta entrar para o mundo do crime. Se o assalto der certo, ótimo, mas se der errado também: vou preso e aí receberei o Bolsa Bandido, que paga R$ 971,78 mensais por filho. Ou seja, minha família passará a ter uma baita renda mensal. Tudo isso sem trabalhar!

Enquanto estiver preso, não terei tempo de dizer à criançada para que fique longe das drogas. É capaz de começarem a fumar crack. Bom, aí terão direito ao Bolsa Crack: R$ 1.350,00 por mês. Multiplique isso por um número grande e pense na fortuna que minha família fará… Viva o PT!

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Se você está indignado, clique aqui. Aliás, devia é ter clicado nos links anteriores, onde entenderia que as coisas não são bem assim como dizem no Facebook.

O Bolsa Família é apenas assistência e não sustenta uma família: se alguém largou o emprego para receber o benefício, pode ter certeza de que essa pessoa trabalhava por um salário de fome. O auxílio-reclusão existe há mais de 50 anos e é previsto na Constituição de 1988, logo, não é “coisa do Lula”; ele é pago à família do preso, mas não é proporcional ao número de filhos e sim à contribuição do detento para o INSS (ou seja, o “vagabundo” precisa ter emprego com carteira assinada), e tem o objetivo de evitar que a família passe necessidades por não mais contar com a renda do sujeito foi para a cadeia (afinal, ela não tem culpa do crime que o cara cometeu). Já o Cartão Recomeço é do governo do Estado de São Paulo (desde 1995 nas mãos do PSDB) e só pode ser usado para o dependente de crack buscar tratamento em comunidades terapêuticas privadas (o que é alvo de críticas), sem possibilidade de se receber qualquer valor em dinheiro.

Agora, se você continua indignado e pretende deixar um comentário cheio de palavrões para me xingar… Pena é o que sinto.

Uma tragédia anunciada

Caxias do Sul, 19 de maio de 2002. Pela primeira rodada do “Supergauchão”, Juventude e Internacional se enfrentaram no Estádio Alfredo Jaconi, com vitória do Inter por 1 a 0. Mas o futebol acabou ficando em segundo plano: o que marcou aquele domingo de muita neblina na Serra foi a violência.

No Alfredo Jaconi, bombas foram arremessadas contra a torcida do Inter e um colorado levou uma tijolada, sofrendo traumatismo craniano. Mas o pior aconteceu fora do estádio: um jovem que vestia a camisa da Super Raça (uma das torcidas organizadas do Grêmio) morreu devido à explosão de uma bomba caseira que ele carregava, e o mesmo artefato decepou a mão de um policial militar que o abordava; pouco depois, um ex-integrante da mesma Super Raça (fora expulso por ser “brigão”) levou um tiro.

Nos dias seguintes, a violência no futebol foi destaque na imprensa gaúcha. Muito se falou em acabar com as torcidas organizadas, de forma semelhante ao que acontecera em São Paulo sete anos antes. O Grêmio chegou a cortar os subsídios às suas torcidas organizadas, embora não de forma definitiva.

Pouco depois, teve início a Copa do Mundo de 2002. O Mundial passou a ser o assunto dominante, e a violência no futebol foi esquecida por aqui. Aliás, como é normal, dada a nossa “memória curta”.

Agora, se voltou a falar da violência nos estádios, em todo o país, graças à morte de um torcedor do San José, de Oruro, vítima de um foguete arremessado por um corinthiano em partida pela Libertadores, quarta-feira na Bolívia. Quando postei no Facebook o link da notícia, o meu irmão lembrou em um comentário: há muito tempo bombas e rojões são usados como armas em estádios. Logo, uma morte em decorrência disso era previsível.

O Corinthians foi provisoriamente punido pela CONMEBOL e terá de jogar o restante da competição sul-americana sem torcida. Apesar da imensa maioria dos corinthianos não ter culpa alguma, isso serve de exemplo a todos, e assim, a punição é justa. Muito embora seja um erro achar que apenas isso acabará com a violência no futebol.

Aliás, de nada adiantará falar em mil e uma “soluções mágicas” para a violência durante uma semana, para depois o assunto novamente cair no esquecimento e só ser lembrado quando ocorrer outra morte.

Meus jogos no Olímpico Monumental: 1999

No final de 1998, houve eleição presidencial no Grêmio. O oposicionista José Alberto Guerreiro, que já concorrera em 1996, venceu Saul Berdichevski, candidato da situação – Cacalo, que estava em seu primeiro mandato, não quis concorrer à reeleição.

Assim, o clube entrava em 1999 sob novo comando, mas mantendo o técnico Celso Roth, após a bela reação no Campeonato Brasileiro de 1998, quando o Grêmio saiu da lanterna para ficar entre os oito melhores. Roth resistiu até setembro, quando sucumbiu à má campanha do Tricolor no Brasileirão de 1999. Foi substituído por Cláudio Duarte, que não melhorou muito as coisas, já que o Grêmio acabou em 18º lugar entre 22 clubes, e só não esteve seriamente ameaçado de cair devido ao novo critério para determinar os rebaixados: pela média de pontos de 1998 e 1999, com a boa campanha no ano anterior aliviando a barra gremista enquanto dois clubes que ficaram à frente do Grêmio naquele campeonato, Gama e Paraná, caíram. (Se bem que em 2000 teríamos aquela sensacional virada de mesa…)

Mas nem tudo foi fracasso em 1999. Em abril, o Tricolor conquistou a primeira (e única) edição da Copa Sul, e em junho ganhou o título estadual, com Ronaldinho brilhando – e humilhando. O problema é que no segundo semestre, a cada entrevista após uma derrota, Guerreiro sempre dizia: “no primeiro semestre o Grêmio disputou três competições e ganhou duas” – um bordão semelhante às referências de Paulo Odone à Batalha dos Aflitos em 2011 e 2012. Irritava demais. Continuar lendo

Meus jogos no Olímpico Monumental: 1998

Para os gremistas, 1998 começava com o sonho da Libertadores. Era o quarto ano consecutivo em que o Tricolor disputava a competição sul-americana, feito conseguido por poucos clubes brasileiros.

Porém, algo incomodava. Estava no banco de reservas e atendia pelo nome de Sebastião Lazaroni. O técnico da Seleção na Copa de 1990 (quando o Brasil caiu nas oitavas-de-final diante da Argentina) não era visto com bons olhos pelos gremistas. Em sua coluna no Correio do Povo em 29 de novembro de 1997 (poucos dias após a contratação do técnico), Hiltor Mombach dizia que “onze em cada dez gremistas” eram contrários à vinda de Lazaroni; mas ao mesmo tempo recomendava que ao menos se deixasse o técnico trabalhar, antes de detoná-lo.

Assim se fez. E Lazaroni ficou até maio, quando após a eliminação do Campeonato Gaúcho foi substituído por Edinho, que durou igualmente pouco: no início de agosto, com o Grêmio já eliminado da Libertadores, chegou Celso Roth, que tirou o time da zona de rebaixamento no Campeonato Brasileiro e o levou às quartas-de-final. O Tricolor terminou o ano sem ganhar absolutamente nada, o que não acontecia desde 1992. Continuar lendo

Parabéns ao Corinthians

Torci pelo Corinthians contra o Chelsea, na final do Mundial de Clubes. Nada mais do que o normal: sempre torço pelos clubes da América do Sul (e antes que me perguntem sobre o Inter em 2006 e 2010: eles não são sul-americanos e sim marcianos infiltrados, e como sou terráqueo, torço contra eles).

Mas não torci pelo Corinthians só por ser sul-americano. Pois há algo que me incomoda muito: ver crianças vestindo camisas do Chelsea nas ruas.

Até 2003, quando foi comprado pelo bilionário russo Roman Abramovich, o Chelsea só tinha sido campeão inglês uma vez, em 1955. Isso em quase 100 anos de história (foi fundado em 1905). Ou seja: não consigo achar que, como clube, seja maior que o Grêmio ou (para citar um exemplo não-passional) o São Paulo. Porém, o Chelsea tem mais apelo midiático no mundo inteiro, está na capa do jogo de videogame, tem milhões e milhões de dólares no cofre. E aí o pessoal acredita que ele é mais importante que vários clubes da América do Sul, que têm muito mais história mas não aparecem no videogame.

Não é. E o melhor de tudo: ao contrário do Santos, que teve medo do Barcelona ano passado, o Corinthians encarou o Chelsea de igual para igual. Ou, mais corretamente, de maior para menor. E deixou, assim, um legado para o futebol sul-americano, como bem observou o Vicente: é possível vencer os times europeus sem jogar com medo.

Tanto que o Corinthians ganhou só de 1 a 0, mas podia ter feito mais. E se o Chelsea também atacou bastante, esbarrou no goleiro Cássio, ex-Grêmio, eleito melhor jogador do Mundial, de grande atuação na decisão, muito embora discorde de certas análises que definem sua atuação como das maiores de um goleiro. (De cara lembro duas: a de Victor nos 4 a 1 do Grêmio contra o Flamengo no Campeonato Brasileiro de 2009, e a de Rogério Ceni na final do Mundial de 2005 – graças a ele o São Paulo não simplesmente ganhou, como escapou de levar uma goleada do Liverpool.)

Meus jogos no Olímpico Monumental: 1995

No dia da despedida do Olímpico Monumental, abro a série de textos em que relembrarei as 258 vezes em que estive no estádio. Ao invés de um número fixo a cada postagem, optei por algo diferente: ano a ano. Assim, algumas vezes falarei de poucos jogos, e em outras o texto será “interminável”.

Como podem perceber, minha primeira ida ao estádio foi tardia: só em 1995. Tinha 13 para 14 anos. Meu pai é colorado, mas subverti a lógica de torcer para o mesmo time do pai e acabei seguindo minha mãe, gremista (mas caso um dia eu venha a ter filhos, espero subverter minha própria lógica e ser pai apenas de gremistas).

Tive chances de ir antes. Como na decisão da Copa do Brasil de 1993, entre Grêmio e Cruzeiro (com Ronaldo no banco). Estava tudo certo… E então, desabou uma chuvarada em Porto Alegre naquele 30 de maio. Como não tinha comprado ingresso (o faria na hora que chegasse ao estádio, naquela época era possível), acabei não indo. E esperei mais dois anos.

Até que chegou o glorioso ano de 1995. Foi quando o Grêmio ganhou a Libertadores pela segunda vez. Mas me faltava algo: ir ao estádio. E então, finalmente, eu fui.

1. Grêmio 2 x 3 Botafogo (Campeonato Brasileiro, 16 de setembro)

Minha estreia foi em um sábado à tarde. O adversário era o Botafogo, que contava com ninguém menos que Túlio Maravilha no ataque (já fora goleador do Campeonato Brasileiro de 1989 pelo Goiás, e em 1994 repetira a dose pelo Fogão).

No começo do Brasileirão o Grêmio estava “relaxado”, descansando da maratona da Libertadores (que terminara poucas semanas antes). Assim, a derrota para o time que viria a ser o campeão nacional daquele ano não chegou a ser tão surpreendente – o Tricolor “engrenaria” no campeonato mais adiante, embora já sem chances de chegar ao título, visto que a prioridade era o Mundial contra o Ajax no final de novembro.

Porém, não era só o Botafogo que tinha um goleador (Túlio marcou duas vezes naquela tarde). O Grêmio tinha Jardel, que marcou o segundo gol gremista (o primeiro foi de Paulo Nunes), diminuindo a desvantagem para 3 a 2.

2. Grêmio 1 x 0 Sport (Campeonato Brasileiro, 29 de outubro)

Esse jogo não teria me deixado maiores lembranças, não fosse um costume da minha mãe (que foi ao estádio comigo) do qual fui “vítima” aquela tarde: sair um pouco mais cedo para conseguir pegar táxi com mais facilidade. Graças a isso, não vi o gol, que saiu nos acréscimos…

Aprendi uma lição: nada de sair mais cedo quando ainda não há nada decidido.

3. Grêmio 2 x 1 São Paulo (Campeonato Brasileiro, 11 de novembro)

Pela primeira vez, consegui sair do estádio comemorando uma vitória, visto que contra o Sport perdi o gol. E foi um baita jogo: após o São Paulo abrir o placar na etapa inicial, o Grêmio virou no segundo tempo, gols de Dinho e Jardel.

Um fato curioso: o goleiro são-paulino era Rogério Ceni, que ainda era o reserva de Zetti. Tanto o primeiro como o último Grêmio x São Paulo que assisti no Olímpico tinham Rogério no gol adversário.

E após o jogo, ainda dei sorte: após chegar em casa, minha mãe pediu para ir ao supermercado comprar sei lá o quê. Quando cheguei à esquina da Cristóvão Colombo com a Ramiro Barcelos, encontrei justamente meu amigo Leonardo Sato, que é são-paulino. E assim não precisei esperar para flautear só quando chegasse na aula de segunda-feira.

4. Grêmio 1 x 0 Criciúma (Campeonato Brasileiro, 18 de novembro)

Esse jogo foi especial. Não valeu título nem nada. É que pela primeira vez, eu via o Olímpico lotar, com a minha presença. Não havia lugar para mais ninguém.

Simples: era a despedida do Grêmio, que disputava sua última partida antes de viajar ao Japão. Assim, o torcedor decidiu comparecer em massa a um jogo que nada valia (pois não havia mais chance de se classificar às finais do Brasileirão). Demonstração de apoio ao time que dez dias depois, iria brigar por seu segundo título mundial. Pena que não achei vídeo desse Grêmio x Criciúma…

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Estatísticas de 1995:

  • Jogos: 4
  • Vitórias: 3
  • Empates: 0
  • Derrotas: 1
  • Gols marcados: 6
  • Gols sofridos: 4

Tem como pular o final do ano?

Fim de ano não me agrada, e faz tempo. É uma época das mais deprimentes: mal entramos em novembro e já se fala na chatice do Natal; não bastasse isso, Porto Alegre começa a virar Forno Alegre.

Mas em 2012, o final do ano consegue ser pior. Está cada vez mais perto o último jogo do Estádio Olímpico Monumental. Faltam dois ou três jogos – depende do resultado do próximo dia 15, contra o Millonarios, o direito a disputar uma partida a mais contra o São Paulo, pela Copa Sul-Americana (além do próximo domingo, pelo Campeonato Brasileiro). E no terrivelmente próximo 2 de dezembro, teremos o Gre-Nal que fechará as portas do estádio para o futebol.

Nessa época tenho uma terrível inveja dos ursos, que conseguem cair num sono profundo que dura meses durante o inverno. Adoraria que os humanos pudessem pelo menos dormir um mês inteiro: no meu caso, seria dezembro, mas só a partir do dia 3 (por pior que seja a sensação, não posso deixar de ir ao último jogo do Monumental).