Os 100 anos de Vinicius de Moraes

Meu irmão, nada poético em dias de Gre-Nal (caso deste domingo), deve o nome ao poeta Vinicius de Moraes, cujo nascimento completou 100 anos ontem. Quatro anos após meu nome ter sido escolhido pelo meu pai e – literalmente – referendado em uma votação familiar realizada em Rio Grande, foi a vez da minha mãe escolher; meu pai, fã do poetinha, sequer pensou em fazer alguma ressalva.

Além de genial poeta e compositor, Vinicius de Moraes era também um boêmio inveterado – só o fato de considerar o uísque como “cachorro engarrafado” dá uma ideia do quanto apreciava a bebida. E isso resultou em histórias sensacionais, algumas delas contadas pelo meu pai no almoço de sábado.

A primeira delas, é sobre uma surreal entrevista à televisão, gravada na manhã seguinte a uma apresentação aqui em Porto Alegre. O repórter foi encontrá-lo no hotel, e Vinicius logo pediu uísque. Ao final, ambos estavam completamente bêbados, e o mais incrível: a entrevista foi ao ar!

Outra, aconteceu em uma apresentação de Vinicius em Pelotas. Boêmio que era, seu palco contava com uma mesa de bar, e sobre ela uma garrafa de uísque (óbvio…), um cinzeiro e cigarros. Num intervalo, um jovem decidiu subir no palco e pegar como lembrança do espetáculo justamente a garrafa que ainda tinha um pouco de uísque. Quando Vinicius retornou, anunciou que a apresentação não continuaria caso a garrafa não fosse devolvida. Ofereceram outra, da mesma marca, mas ele foi irredutível: queria aquela que antes estava na mesa, para terminar de bebê-la e só então abrir uma nova. O jovem que subiu no palco, temendo levar uma surra, não teve coragem de devolver a garrafa e o espetáculo foi realmente encerrado…

Publicidade

São José do Norte: tranquilidade com os dias contados?

Em minhas últimas férias, tive a oportunidade de conhecer São José do Norte. Estive na pequena cidade, que fica ao norte de Rio Grande (daí a denominação que lembra sua localização geográfica, sendo que os riograndinos costumam chamar a localidade simplesmente de “Norte”) no dia 29 de março.

Era 2013, mas se olhássemos apenas para os prédios, poderíamos achar que era bastante tempo atrás. Pois andar por algumas ruas de São José do Norte dá a impressão de que se voltou ao passado: boa parte das edificações da cidade é antiga, com muitas casas de estilo açoriano.

Tal impressão se acentua também pela tranquilidade da cidade. Tudo bem que era feriado*, mas o pouco movimento nas ruas me chamou bastante a atenção: afinal de contas, em dias úteis certamente São José do Norte não lembra nem um pouco sua vizinha Rio Grande, que é uma cidade muito maior e que começa a ter problemas semelhantes aos de Porto Alegre, como a alta no preço dos imóveis e o trânsito caótico – o que é fruto do crescimento econômico gerado pelos investimentos no porto, transformando a cidade em um importante polo naval e atraindo mão-de-obra vinda de muitos lugares.

Agora, está sendo construído em São José do Norte um estaleiro para construção de plataformas de extração de petróleo, o que gerará um impacto positivo na economia do município, atualmente baseada na produção de cebola. E provavelmente causará um aumento populacional, pois como os imóveis estão muito caros em Rio Grande, morar em São José do Norte deverá sair mais em conta: mesmo sem a sonhada ligação “a seco” entre as duas cidades (via ponte ou túnel), há uma linha hidroviária que só não funciona durante a madrugada, operada por barcos que saem de meia em meia hora. (Sem contar que depois do asfaltamento da antiga “estrada do inferno” é possível sair da cidade por terra podendo se ter uma ideia do horário de chegada ao destino: não muito tempo atrás, uma viagem que hoje dura horas era uma aventura que podia levar dias, devido aos diversos atoleiros naquele trecho da BR-101.)

Não acredito que São José do Norte ficará tão agitada como Rio Grande em um curto espaço de tempo, mas certamente a cidade mudará bastante, se tornando mais movimentada. Assim, fica a dica: quem quiser curtir seu aspecto “de passado”, aproveite enquanto ele ainda não é coisa do passado.

Abaixo, algumas fotos que tirei da cidade:

Mais Cão, menos Facebook: agora vai?

Não ando fazendo exatamente o que “prometi” lá em dezembro. Tinha dito que procuraria passar mais tempo escrevendo no Cão do que no Facebook (e inclusive também pretendia usar mais o Twitter, que andava “abandonado”).

Pois bem: ontem, cá estava me queixando da “falta de tempo” para atualizar o Cão. De fato, gostaria de poder escrever e postar aqui na hora que bem entendesse, mas as coisas não são assim para ninguém.

E ao mesmo tempo, será que essa “falta de tempo” também não se deve ao uso excessivo do Facebook? Penso que sim.

Como já disse aquela vez, o Facebook, da mesma forma que o Twitter e o Orkut (vale lembrar que ele ainda existe, embora tenha encerrado minha conta lá), é uma baita ferramenta de divulgação – tanto que é muito grande a possibilidade que estejas lendo isso aqui graças a um link no Facebook. Minhas contas em tais redes, inclusive, se devem à decisão de divulgar mais o blog: no início de 2009 retornei ao Orkut após três anos de ausência (estivera lá de 2004 a 2006) e ao mesmo tempo criei meus perfis no Twitter e no Facebook.

Porém, eles não podem ser mais do que isso: ferramentas, que servem tanto para divulgação como também para que conheçamos mais pessoas. O problema é o “vício”, a “necessidade” de sempre “estar por dentro” (aí lembro que passei cinco dias em Rio Grande na semana retrasada, ficando “desconectado” a maior parte do tempo, e não achei nada ruim).

Assim, vou “prometer” de novo, para ver se agora cumpro: ficar menos tempo no Facebook e mais escrevendo no Cão ou lendo. O que não obviamente não quer dizer que vá abrir mão de entrar no Facebook para manter contato com as pessoas, e mesmo de também usar outras redes sociais como o Twitter e o Google+ (na última, estou recém começando a me aventurar).

Aliás, importante registrar que uma coisa me agradou muito no Google+ em comparação com o Facebook: a ausência, pelo menos na minha rede de contatos, das piadas sobre tomate. (Sim, pessoal, isso já encheu o saco.)

El otro fútbol

Eis um filme que preciso assistir. El otro fútbol é um documentário dirigido pelo fotógrafo e publicitário argentino Federico Peretti, que ao lado do jornalista Fernando Prieto, passou mais de três anos fotografando e filmando jogos de futebol das divisões inferiores da Argentina.

Peretti concedeu uma entrevista ao Impedimento, e ao longo da leitura percebi que se fosse feito um trabalho semelhante aqui no Brasil, a única diferença seria, em linhas gerais, o idioma do filme.

Aliás, quando ele fala no “espírito amador que na primeira divisão e no futebol europeu já está quase perdido”, foi impossível não lembrar de minha ida ao Arthur Lawson em abril passado, para assistir Rio Grande x 14 de Julho (Livramento), pela Divisão de Acesso do Gauchão. Aquela partida me fez ter a impressão de que assistia a um futebol “com cara de antigamente”: em um estádio pequeno, mas com cara de estádio e não de shopping center (o que tem sido a regra nas novas “arenas multiuso” inauguradas mundo afora); e com direito a comer um churrasquinho no intervalo (algo inimaginável em algum jogo da dupla Gre-Nal, já que o palito seria considerado uma “arma em potencial”).

Abaixo, o trailer do filme que, espero, não demore muito tempo para ser exibido no Brasil…

O primeiro gostinho de despedida

Estamos no último ano do Estádio Olímpico Monumental. Isso é uma obviedade desde que 2011 virou 2012, mas ainda não me tinha “caído a ficha”. Pois agora, amigos, é que isso começou a acontecer.

Lembro de, no início de 2012, ter prometido a mim mesmo que iria ao máximo possível de jogos no Olímpico, se possível a todos. Promessa que o verão de destruição em massa que tivemos este ano em Porto Alegre me fez descumprir, pelo menos até o camarada equinócio de outono. Até ali, só fora ao Gre-Nal do dia 5 de fevereiro: estava um calorão e o Inter escalara o time reserva, mas era Gre-Nal.

Por sua vez, desde que os dias voltaram a ficar mais curtos que a noite (e mais amenos), não perdi mais nenhum jogo do Grêmio em casa. Foi curioso: viajei duas vezes, e tive a sorte de nestes períodos fora de Porto Alegre o Tricolor só jogar no estádio adversário. Acreditem, na hora de marcar as viagens eu não conferi as tabelas do Gauchão e da Copa do Brasil: só dei uma olhada na da Divisão de Acesso estadual, pois queria ir (e fui) a um jogo do Vovô em Rio Grande. Entre uma viagem e outra, conferi Grêmio x Avenida, vitória fácil por 4 a 0.

Reparei que, do início do outono em diante, passei a cumprir a promessa que fiz… Porque este é o último ano que vou a jogos no Olímpico.

E agora percebo que, em menos de um ano, passar ali pela famosa “rótula do Papa” não terá mais o mesmo significado de sempre para mim. Hoje eu passo ali, olho para o lado e lá está o Olímpico Monumental: dá aquele orgulho, pois olhar para o Olímpico automaticamente faz lembrar do Grêmio, dele se impondo contra seus adversários, ganhando títulos como aquela Libertadores de 1983 e também o Brasileirão de 1996. Faz lembrar a torcida apaixonada tomando conta da região nos dias de jogos. Também me vêm automaticamente a lembrança de ter estado lá dentro mais de duzentas vezes desde 16 de setembro de 1995.

Já em abril de 2013, passar por aquele ponto me fará lembrar de tudo isso que falei no parágrafo acima. Mas não terei mais o Olímpico Monumental para olhar. Vai dar uma tristeza, um aperto no peito, mesmo com o Grêmio existindo, embora em outro endereço – que, espero, seja realmente um bom negócio para o Tricolor…

Futebol com cara de antigamente

Ser torcedor de um grande clube brasileiro é um hábito que fica cada vez mais caro. O caso das mensalidades de sócios do Grêmio é um exemplo: paga-se R$ 86 mensais na minha modalidade, o que é caro, mas relativamente “barato” se o sócio vai a todos os jogos no mês. Para se ter uma ideia, contra o Ipatinga pela Copa do Brasil na próxima quarta-feira, o ingresso mais barato para quem não é sócio sairá por R$ 40. Nem quero nem imaginar o valor a que subirão as mensalidades (e os ingressos) ano que vem, quando o Grêmio passará a mandar seus jogos na Arena…

O que vem acontecendo há quase uma década no Brasil é uma progressiva elitização dos principais clubes. Lembro que no Campeonato Brasileiro de 2004 o Atlético-PR passou a cobrar R$ 30 pelo ingresso mais barato na Arena da Baixada, motivando protestos de torcedores do lado de fora do estádio. Achei absurdo cobrarem tanto por um ingresso, mas nem imaginava que era apenas o início de tudo isso. Aliás, não podia ter começado em outro lugar: inaugurada em 1999, a Arena da Baixada foi o primeiro estádio ao estilo “arena multiuso” do país.

Com isso, o torcedor de menos renda fica cada vez mais afastado de seu clube do coração, caso ele seja um integrante da chamada “elite” do futebol brasileiro (e falo de “elite” em termos simbólicos, ou seja, dos principais clubes do país, mesmo quando não disputam a Série A). More onde o torcedor morar: no Gauchão, geralmente os ingressos para jogos da dupla Gre-Nal no interior são caríssimos: lembro de um Santa Cruz x Grêmio em 2006 com o Estádio dos Plátanos às moscas, visto que o ingresso mais barato custava R$ 30 (detalhe: para sentar no sol, em um dia de calor infernal). E em 2011, o ingresso mais barato para o Gre-Nal de Rivera (Uruguai) custava R$ 50 – em consequência disso o público foi de aproximadamente 5 mil pessoas, num estádio onde cabem 25 mil.

O que restará a quem não pode comprometer boa parte do seu salário com mensalidades ou ingressos para jogos de futebol? Acompanhar pela televisão? Pelo rádio?

Talvez, mas no interior, ainda há uma alternativa. Os clubes menores são a resistência: nestes tempos de arenas multiusos e ingressos a valores astronômicos, são uma oportunidade de se assistir futebol pagando menos e em estádios com cara de estádio, não de shopping center.

Foi esta experiência que vivi no domingo, 1º de abril, em Rio Grande: fui ao Estádio Arthur Lawson assistir ao jogo do Vovô contra o 14 de Julho de Santana do Livramento (o “Leão da Fronteira”), pela Segunda Divisão do Gauchão. O ingresso a R$ 10 faria qualquer acostumado com os valores absurdos da dupla Gre-Nal pensar que se tratava de uma brincadeira pelo Dia da Mentira, mas era a mais pura verdade.

É verdade que a qualidade do futebol não é a mesma de um jogo da dupla Gre-Nal. Mas se fôssemos nos basear apenas por isso, deveríamos trocar qualquer partida do futebol brasileiro por jogos do Barcelona. Mas não é o que acontece – pelo menos, por enquanto.

Dei sorte: o Rio Grande venceu por 4 a 1. Porém, o resultado não foi suficiente para tirar o Vovô da lanterna de seu grupo na Segundona. E pior ainda, na última sexta-feira o Rio Grande perdeu para o mesmo 14 de Julho por 2 a 0, desta vez em Livramento, e segue ameaçado de cair para a Terceira Divisão. Restam oito jogos para tentar evitar o rebaixamento do clube mais antigo do Brasil – e espero que a torcida compareça mais ao Arthur Lawson, onde o Vovô obteve suas duas vitórias até agora no campeonato: além dos 4 a 1 sobre o Leão da Fronteira, uma semana antes o time goleou o Guarani de Venâncio Aires por 5 a 2.

Abaixo, algumas pitadas fotográficas de Rio Grande x 14 de Julho.

Este slideshow necessita de JavaScript.

Avenida Portugal

O título informal de “rua mais bonita do mundo” atribuído à Rua Gonçalo de Carvalho, em Porto Alegre, tem origem em Portugal. A fama da Gonçalo se deve ao biólogo Pedro Nuno Teixeira Santos, de Covilhã, que edita o blog A Sombra Verde. Em 4 de março de 2008, ele escreveu o texto com o título que hoje é automaticamente associado à rua porto-alegrense – basta fazer uma pesquisa no Google.

Em Rio Grande, onde estive esta semana, há uma avenida que me chamou muito a atenção logo que cheguei. No canteiro central foram plantadas várias árvores, principalmente plátanos, o que torna mais agradável caminhar pelo meio da avenida – tanto que muitas pessoas o fazem.

Logo que comentei sobre a beleza da avenida, soube seu nome: Portugal. E imediatamente lembrei do Pedro e outros portugueses que tanto amam as árvores, como o João Martins, de Loulé, que assim como o Pedro, é sócio da Associação Árvores de Portugal.

Abaixo, algumas fotos que tirei desta bela avenida. E considerando que as folhas das árvores já estão com uma coloração bacana agora em abril, no início do outono, peço ao leitor que imagine como estarão lá pela metade de maio…

Tem coisas que só acontecem no Brasil

Fui à versão chilena do Google Maps e fiz uma busca por “avenida Augusto Pinochet”, para ver se havia alguma com o nome do ex-ditador do país (1973-1990). Não encontrei, troquei “avenida” por “calle”, e o resultado foi idêntico, tentei “plaza” e de novo, nada. O Chile não homenageia Pinochet sequer em algum nome de praça.

Então me dirigi “ao leste”: busquei logradouros com nomes de alguns ex-ditadores da Argentina e, de novo, não encontrei.

Na versão paraguaia, busquei logradouros com o nome de Alfredo Stroessner, ex-ditador do Paraguai (1954-1989). Aí sim apareceram dois resultados: uma “colônia” e uma praça. Só que a primeira homenageia Stroessner apenas como general, já a praça o chama de “presidente”. Ah, e se o leitor pensa que ambos os lugares se encontram no Paraguai, se enganou.

A “colônia”, essa sim é no país que Stroessner governou ditatorialmente, já a praça (que, lembrando, o homenageia como “presidente”) se encontra no Brasil… Mais precisamente, em Guaratuba (PR).

Onde mais poderia ser, né? Afinal, o que não falta em nosso país é praça, rua e avenida que homenageie ex-ditador (aqui em Porto Alegre, por exemplo, a principal via de entrada da cidade se chama “avenida Castelo Branco”). Até bairros, e mesmo cidades temos. É só fazer uma busca no Google Maps pelo nome de algum ex-ditador.

Então, não me surpreende que em Rio Grande se queira homenagear com um monumento o general Golbery do Couto e Silva. Nascido na cidade em 21 de agosto de 1911, Golbery conspirou por vários anos contra a democracia brasileira, e foi um dos principais elaboradores do golpe de 1964. Porém, como a maioria das pessoas têm “memória curta”, Golbery acabou entrando para a história como “democrata”, por ter articulado a abertura “lenta, segura e gradual” (que fez a ditadura no Brasil terminar numa eleição indireta). Sim, “abertura política” depois do “fechamento” para o qual ele também colaborou decisivamente… Muito fácil ser “democrata” assim.

Só nos resta uma alternativa (que não é “deitar e chorar”): fazer pressão! Clique e subscreva o abaixo-assinado contra o monumento em homenagem a Golbery.