A volta da reclamação anti-BBB

Começou o ano, e de novo toda aquela reclamação quanto ao BBB no Facebook (em número muito maior do que os comentários sobre ele, como era de se esperar). Ainda não vi ninguém compartilhar aquela imagem dizendo que a cada vez que alguém assiste ao programa um livro comete suicídio, mas não esqueço do comentário feito por meu amigo Paulo Alcaraz no ano passado: “fiquei com vontade de assistir, para ver se o Cinquenta Tons de Cinza se matava”. A frase continua perfeita, basta trocar o best-seller do ano passado pelo atual…

O que o comentário do Paulo quer dizer é: assim como existem programas ruins (e considero o BBB um deles), também há livros ruins. Em geral, trocar a televisão pela leitura é bom, pois não recebemos “tudo pronto” e com isso usamos mais a imaginação (tanto que jamais duas pessoas imaginarão de forma igual a mesma cena narrada em um livro); mas não é garantia de um entretenimento de qualidade.

Porém, o que chama a atenção, da mesma forma que no ano passado, é ver gente defendendo que devemos ler ao invés de assistir ao BBB, mas que não está lendo nada no momento. O motivo é óbvio: gasta tempo com suas reclamações no Facebook ao invés de abrir um livro – o que poderia render comentários bem mais interessantes.

Ninguém é (ou não deveria ser) obrigado a gostar de qualquer coisa. Se você acha que tem muita bobagem no seu Facebook, faça uma “faxina” nos seus contatos. E não me refiro apenas ao BBB no conceito de “bobagem”, pois ele varia de pessoa para pessoa: há quem não goste de propaganda eleitoral, religião, futebol etc.

Aliás, se tem coisa para a qual ultimamente ando sem saco é debate “grenalizado” sobre futebol, tanto que quando ele toma tal rumo prefiro nem participar mais. É muito pior do que comentários sobre o BBB. Muito pior mesmo.

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Discussão religiosa

Algo que a vida me ensinou: nunca se meta a discutir religião. Nunca. Jamais.

A probabilidade de conseguir mudar a opinião da outra pessoa tende a zero. Não creio na existência de algum Deus. Se ela acredita, não será numa simples conversa que mudará de ideia.

Minhas convicções nem sempre foram as de hoje. E não passei a defendê-las após uma conversa de bar ou após a janta. O que nos leva à mudança, cada vez mais creio, é a leitura. Coisa nada simples, que não se faz “numa sentada”.

Obviamente é bom ir a um bar trocar ideias. E reparem no termo: “trocar ideias”. Pedir opiniões. Ir sem muitas certezas, a não ser que estas sejam muito bem fundamentadas. Então é bom estar pronto para defendê-las, de preferência indicando leituras à outra pessoa. Melhor do que querer, na marra, “ganhar o debate” já na mesa do bar.

Agora, sobre as religiões já dei várias vezes minha opinião: não gosto de nenhuma. Vale a pena debater, “brigar”, é pelo Estado laico, de forma a que ninguém tenha sua liberdade tolhida por conta de questões religiosas. Agora, discutir se existe ou não algum deus, é algo que não leva a lugar algum: de forma semelhante às minhas convicções, minha fé foi embora por meio da leitura. Não serão duas horas num bar que farão ela voltar – ou farão meu interlocutor tornar-se ateu. Melhor indicar-lhe bons livros.

Ainda estamos longe de um Estado laico

O texto de quarta, no qual foi feita comparação entre o papa Francisco e outras personalidades de destaque que adotam estilos de vida “simples” – no caso, o presidente uruguaio José Mujica e, principalmente, o ex-governador gaúcho Olívio Dutra – foi responsável pelo que provavelmente é o recorde de visitas ao Cão em apenas um dia. Superou inclusive a véspera da abertura da Copa do Mundo de 2010, quando meus palpites para o Mundial escritos logo após o sorteio dos grupos atraíram inúmeras pessoas que tinham dúvidas antes de apostar em bolões.

Porém, não resultou apenas em “audiência”. Gerou também intolerância. Não me refiro aos católicos que se sentiram incomodados com críticas ao papa: acho compreensível que eles defendam o líder máximo de sua religião. Porém, alguns foram além, ignorando inclusive o que o próprio papa defendeu, surpreendendo a muitos: o Estado laico.

Quem lê o Cão sabe que sou ateu. Não é “rebeldia”, “demônio”: simplesmente não acredito na existência de algum deus. É um direito meu não acreditar, assim como é direito seu, leitor, expressar sua fé caso a tenha.

O próprio papa defendeu, em nome da convivência pacífica entre as diversas religiões, o Estado laico. E eu defendo também para que direitos não sejam negados por motivos religiosos. Casos do aborto, do casamento homossexual e da eutanásia: são “pecados” para os cristãos, e por isso muitos deles se sentem no direito de querer que toda a população seja obrigada a seguir seus preceitos religiosos; e é o que acontece na prática, pois, por exemplo, mesmo a mulher ateia só pode interromper a gravidez caso ela seja fruto de estupro, implique em risco de morte ou o feto seja anencéfalo (azar o dela se achar que não é a hora certa, não tiver condições financeiras ou simplesmente não quiser filhos, segundo nossa legislação).

Estado laico, como todos já sabemos (ou deveríamos saber) não é Estado ateu. O último caso se verificou em alguns países como a Albânia “socialista” (1945-1991), onde o ateísmo fazia parte da doutrina do Estado e todas as manifestações religiosas eram proibidas. É contrário à liberdade religiosa, e por isso mesmo, à própria liberdade.

Por isso, deve ser laico. Nem religioso (caso do tão criticado Irã), nem ateu. Apenas acima de qualquer crença e não-crença, para que todos tenham a mesma liberdade. Mas pelo visto, ainda será necessário percorrer um longo caminho.

Não há nada de mais importante acontecendo no mundo

Pelo menos é a impressão que se tem ao ligar a televisão. Só se fala em papa, em missa… Ficou bem claro que jornalismo não é o que ela faz.

Espero que, enfim, as pessoas percebam o quão parcial é a mídia que se apresenta como “imparcial”. Há uma considerável quantidade de brasileiros que não é católica e não considera o papa como sua autoridade religiosa: não me refiro apenas aos ateus e agnósticos, mas até mesmo aos que seguem outras religiões. Daí a importância do Estado laico: ele não deve ter uma religião nem ser contra todas, mas sim tratar as pessoas igualmente, sem levar em conta seus credos.

Fosse o Estado brasileiro realmente laico, conforme prevê a Constituição de 1988, não teríamos tamanho “auê” midiático por conta do papa. Afinal, as emissoras de rádio e televisão não são donas do espectro eletromagnético (que é público), o utilizam por concessão estatal. Logo, deveriam zelar pelo interesse público, ao invés de fazer proselitismo religioso. Porém, como bem sabemos, o que não falta no rádio e na televisão é exatamente isso: a diferença é que o papa está monopolizando as transmissões da principal emissora do país, mas em outras emissoras, há tempos, é só ligar a televisão em certos horários e ver a Constituição ser rasgada.

Quero um passaporte uruguaio

O programa Polêmica, da Rádio Gaúcha, hoje tratou sobre a defesa da descriminalização do aborto até a 12ª semana de gravidez pelo Conselho Federal de Medicina. Segundo a entidade médica, não se trata de ser “a favor ou contra o aborto”, e sim, de defender a autonomia da mulher e dos médicos, atualmente limitada.

Dentre os debatedores, havia uma “pró-vida”, radicalmente contrária a descriminalização do aborto, com o argumento de que “há diversos métodos contraceptivos”. De fato, há. Porém, eles podem falhar (às vezes a camisinha estoura ou a pílula não faz efeito), por isso o aborto deve ser legalizado. É preciso ser muito ingênuo para achar que em caso de descriminalização, os casais sairão transando sem camisinha (o que pode causar mais do que uma gravidez indesejada) e as mulheres farão abortos toda hora: qualquer cirurgia envolve riscos.

Um exemplo é o que se passou na Romênia de 1990 em diante. Durante a ditadura de Nicolae Ceauşescu (1965-1989), o aborto era crime no país: o megalômano ditador queria aumentar a população do país a todo custo, e por conta disso qualquer método contraceptivo era proibido. Após a queda do ditador o aborto foi descriminalizado, e desde então, o número de procedimentos diminui ano a ano, justamente por haver conscientização quanto ao uso de outros métodos contraceptivos: obviamente as romenas preferem usar camisinha ou tomar pílula, sendo o aborto sua última opção.

Tem uma tecla na qual não canso de bater: aborto legal não é obrigar as mulheres a abortarem (assim como o casamento homossexual não impede héteros de se casarem). A maternidade deve ser um direito, não uma obrigação (e um fardo) para a mulher: quem é contra o aborto pelos mais variados motivos (filosóficos, religiosos etc.), simplesmente não faça um caso engravide, mas deixe quem pensa diferente (ou não acredita em seu deus) fazer caso necessário.

Ainda assim, sei que é difícil isso entrar na cabecinha desses “pró-vida”. Que, aliás, geralmente só se preocupam com vida de fetos, pouco se importando se depois de nascer a criança crescerá em um lar estruturado, onde ela é bem-vinda. Pois se engana quem pensa que, se a mãe não quer o(a) filho(a), basta entregar ao orfanato: há todo um procedimento legal, e a Justiça faz o possível para que a criança fique com os pais biológicos; assim, se entender que os pais têm condições de criá-la, terão de ficar com ela.

Essas horas, sinto uma imensa inveja de nosso vizinho Uruguai. Um país realmente laico, onde religião não se mete no que não é da sua conta (boa parte dos contrários ao aborto afirma motivos religiosos). Bem diferente do que acontece aqui no Brasil, onde há uma bancada religiosa que além de ser a mais ausente, inexpressiva e processada do Congresso, ainda impede que o país avance em direção a um Estado verdadeiramente laico, que garante direitos a todos, independentemente de crença, etnia, gênero ou orientação sexual. E como se não bastasse isso, chegamos ao absurdo de ter um dos seus representantes na presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara – ou seja, um presidente totalmente oposto aos propósitos da comissão que dirige.

Enfim, acho que quero um passaporte uruguaio.

Para que servem prefeitos e vereadores?

O que é que faz um deputado federal? Na realidade, eu não sei.

As frases acima foram ditas por Tiririca, atual deputado federal pelo PR de São Paulo, durante a campanha eleitoral de 2010. E por mais bizarro que pareça, acho que ele teve um grande mérito: escancarou ao Brasil que muita gente não sabe qual é a função das pessoas que elegem a diversos cargos.

Isso fica muito claro quando leio uma notícia no portal do jornal O Globo, sobre o engajamento de grupos conservadores na atual campanha eleitoral: estes pedem a seus simpatizantes que votem em candidatos contrários à descriminalização do aborto, direitos homossexuais etc. E os principais candidatos a prefeito, aqui em Porto Alegre, buscam aproximação com grupos religiosos.

Pois bem: um(a) prefeito(a) ser a favor ou contra a descriminalização do aborto em nada influencia a cidade que ele vai administrar. Vale o mesmo para os vereadores, visto que a legislação sobre o aborto é federal, e não municipal.

Candidato em eleição municipal tem de apresentar projetos para sua cidade, e não fazer discursinho moralista. Sou favorável à descriminalização do aborto, mas sei que debater este assunto em âmbito eleitoral é coisa para 2014 – e lembrando que isso é da alçada do Poder Legislativo (ou seja, o Congresso Nacional), não do Executivo.

Agora, quanto ao uso eleitoral da religião… Faço minhas as palavras do sociólogo Ottomar Peske: “Isto é oportunismo. A boa fé não permite expedientes ao lado de religiosos ou atos políticos com religiões. Isso trabalha com mensagem no campo da subjetividade, é má fé”. Afinal de contas, o Estado é laico, e assim os governantes e legisladores devem atuar visando o bem comum, acima de todas as crenças religiosas (e mesmo da não-crença de pessoas como eu).

Os valores conservadores e a influência da escola

Em 1970, o sociólogo francês Pierre Bourdieu publicou, em parceria com o colega Jean-Claude Passeron, “A reprodução”, obra que faz uma análise do sistema educacional na França. Embora não a tenha lido, tive acesso a sinopses e resumos dela, sabendo que o livro demonstra, de forma geral, que a função principal das escolas francesas não era a de estimular o pensamento, e sim, de legitimar o status quo.

Semana passada, tive um excelente exemplo de como a análise de Bourdieu e Passeron é correta. Percebi o óbvio: alunos de colégios conservadores tendem a ser adultos conservadores, ainda mais se vindos de famílias assim. (E se estudarem em universidades conservadoras, então…)

Notei isso semana passada, quando conversei com uma ex-colega do segundo grau com quem não falava há muitos anos, e uma das primeiras coisas que ela me perguntou foi se eu tinha casado… Foi quando reparei que, dentre o pessoal da época do segundo grau que mais encontro, o casamento – seja formal ou informal (o famoso “se juntar”) – é regra.

Então comparei com a turma de amigos do tempo do primeiro grau: nela, não só o casamento não é regra, como há mais contestação à “obrigatoriedade” de se ter uma relação afetiva estável. Como prova uma manifestação de uma de minhas ex-colegas, solteira e descompromissada, no Facebook em dezembro passado: comentando os “votos” para que arranjasse um namorado em 2012, ela questionou por que uma mulher solteira aos 30 anos incomoda tanta gente.

O que diferencia ambas as turmas? O colégio. Cursei o primeiro grau em escola pública (Colégio Estadual Marechal Floriano Peixoto); a maioria dos colegas também cursou o segundo grau em escolas públicas (muitos ficaram no próprio Floriano), ou seja, oficialmente laicas. Bem diferente do segundo grau, que cursei no Colégio Marista São Pedro; embora houvesse uma separação nítida entre a religião e o conteúdo ministrado nas aulas (em Biologia e História estudávamos Biologia e História mesmo, não criacionismo), o colégio era oficialmente católico, portanto, conservador (me digam qual religião não é conservadora?), e muitos colegas já eram alunos do São Pedro desde o jardim de infância.

A visão de mundo conservadora dá uma importância muito grande à “defesa da família”. Logo, é compreensível que um dos principais objetivos de vida para quem é conservador seja “constituir família”, antes de crescer profissionalmente, fazer algo para melhorar o mundo etc. (Não que eu considere ruim alguém querer constituir família: só acho que não é a única opção.)

Surge assim parte da resposta ao questionamento da minha amiga solteira: ao não dar tanta importância à busca por um namorado, ela subverte a lógica de que “toda pessoa solteira está em busca de um amor”, o que a impede de “constituir família”. E isso realmente incomoda muita gente – principalmente os machistas, que não suportam a ideia de uma mulher ser independente e não estar a fim de assumir compromisso com homem algum: para eles, a função da mulher ainda é “pilotar fogão”, limpar a casa e cuidar dos filhos.

Por fim, alguns devem estar querendo saber como não me tornei um conservador (e, “pior” ainda, agora sou ateu!). Certamente pesaram para isso o fato de não ter vindo de família conservadora (apesar de minha mãe ser católica, meu pai é agnóstico e de esquerda, logo, questionador), além de ter estudado predominantemente em instituições laicas: foram apenas três anos no São Pedro, contra dezesseis na soma de Floriano e UFRGS (Física inclusive). Pois como foi dito lá no começo, o conservadorismo trata-se de uma tendência, e não de um destino inevitável.

Distintivo do Xavante nos órgãos públicos de Pelotas, JÁ!

Pense bem se isso não é justo.

Segundo uma imagem postada, se não me engano, pela Niara no Facebook, 80% da população de Pelotas torce pelo Brasil. Ou seja, é uma enorme proporção de xavantes na cidade.

Se a informação realmente é correta, não sei. Mas, se confirmada, é um bom argumento em favor de, por conta desta maioria esmagadora, os órgãos públicos municipais de Pelotas passarem a ter, em suas paredes, o distintivo do Xavante.

“Mas o Estado tem de ser neutro, não pode ter clube!”, dirá alguém, se achando o dono da razão. Ora, mas por que isso impede que a prefeitura de Pelotas, por exemplo, ostente o distintivo que representa a paixão de 80% da população do município?

Afinal, vários órgãos públicos têm crucifixos nas paredes mesmo que o Estado seja laico, ou seja, neutro em termos religiosos.

O Natal é ditatorial

Há quase três anos, escrevi sobre a “obrigação” de se estar feliz no Natal. É aquela história: experimente manifestar desagrado, e lá vem o rótulo – “rabugento”!

Porém, há a opção de se ficar de mau humor. Em 2009, por exemplo, quando a “noite de Natal” foi terrivelmente abafada em Forno Alegre, não fiz questão alguma de fingir felicidade. No dia seguinte, claro, só ficavam falando da minha “rabugice”, mas como eu sabia de antemão que teria de arcar com as consequências de optar pela autenticidade ao invés do fingimento, não me importei – e sigo não me importando.

Agora, se há a alternativa de fazer cara feia para a celebração, isso não quer dizer que o Natal seja uma festa democrática. Pois não há possibilidade de se fazer qualquer coisa que não participar da “reunião de família” ou ficar sozinho no seu canto. Mesmo para quem não é cristão, já que há muito tempo a religião celebrada em 25 de dezembro é outra.

Caso eu queira reunir amigos ateus e agnósticos para tomar uma cerveja, por exemplo, não encontro nenhum bar aberto na noite de 24 de dezembro. Nenhum! Deve haver pelo menos um bar que pertença a um ateu ou a um agnóstico, porém, ele sabe que abrir as portas na “noite de Natal” é prejuízo na certa.

Bom, na impossibilidade de ir tomar cerveja num bar, que tal reunir os amigos em casa para uma “sessão de cinema”? Também não dá. Justamente por causa da porra da “obrigação” de se “estar em família” – mesmo que não faltem oportunidades melhores para reunir os familiares durante o resto do ano, inclusive sem esse clima de imposição. Tenho certeza de que, não fosse “obrigatório” a noite de 24 de dezembro ser de reunião familiar, se registrariam muito menos brigas e “maus humores” como os meus.

Ou seja, é praticamente impossível romper a polarização “família x sozinho no canto”. Digo praticamente porque, em tese, nada é impossível. Porém, enquanto a maioria das pessoas seguir aceitando essa “obrigatoriedade”, mesmo que a contragosto, nada mudará, pois vozes isoladas contra a ditadura do Natal não a derrubarão.

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E quase dois anos depois, o texto escrito pelo Milton Ribeiro continua atual – acho que também pode servir como um “manifesto”. (Não costumo copiar na íntegra, mas esse eu “assino embaixo”, e não deixe de ir ao original dar sua opinião.)

Abaixo o Natal!!!

O Natal devia ser como a Copa do Mundo, de quatro em quatro anos. O que há de bom nestes dias? Estar com a família? Sou alguém bastante sociável, gosto de minha familia e já os vejo frequentemente. Então, prefiro estar com eles sem as besteiras mesquinhas e os milagres da época. Mais do que o primado do consumo, detesto as promoções de bons sentimentos, a hipocrisia, a religião, a obrigação de felicidade. Pior, hoje serão servidas iguarias irresistíveis, vai se comer muito e não quero engordar. Por mim, dormia cedo. E amanhã todos voltarão porque haverá comida demais…

É uma festa legal quando temos crianças pequenas, mas agora, qual é o sentido? Há a necessidade de estarmos alegres após passar o dia arrumando a casa e lembrando de detalhes… Pois é, já viram, vai ser aqui em casa. Se a gente fica sério, as pessoas se preocupam. Então, o negócio é beber. Haja saco. Ainda bem que chove. Podia vir uma tempestade e faltar luz no meio da festa! Seria uma novidade!

Festa por festa prefiro a virada do ano. Ao menos é sem presentes e com menos religião. E, associada à data, há uma simbologia de renovação, de planos e mudanças quase sempre falsas, mas ao menos pensadas. Já o Natal… é pura merda. Na minha infância, era comemorado na manhã do dia 25. A gente acordava e havia presentes sob a árvore. Fim. Hoje é um happening, vão tomar no cu.