Saudade das amenidades

Já fui mais fã do inverno, confesso. É verdade que continuo me sentindo mais confortável em dias como a sexta-feira do print acima (feito numa manhã na qual não precisei sair da cama por conta da quarentena: apenas capturei a tela, virei para o lado e dormi novamente) do que naqueles de calor infernal do verão “forno-alegrense”. Sem contar que em matéria de frio o nosso inverno é bem ameno na comparação com os que se registram no Canadá, na Escandinávia ou na Sibéria. Mas a verdade é que ultimamente ando preferindo as temperaturas amenas do outono – e, às vezes, da primavera (problema dela é ter muito temporal, apesar de ser a época do meu aniversário).

Um dos motivos é, sem dúvida, de ordem social. Não é segredo para ninguém que “curtir o inverno” não é para qualquer pessoa. Sou privilegiado: tenho um teto para me abrigar, roupas para vestir etc. Quem tem poucos recursos e, pior ainda, vive nas ruas, realmente sofre com as baixas temperaturas. (Sim, o verão também é cruel para quem não tem grana para passar dias na praia ou para comprar e usar com regularidade o ar condicionado: o problema maior não é o clima e sim a pobreza.)

Nos últimos anos, também senti muito pela minha avó Luciana. Ela vinha sofrendo bastante os efeitos do frio, e cada inverno que terminava era motivo de celebração. Em 2020 não será, por ela não ter chegado a ele: o próximo domingo (5) marca o primeiro mês da partida dela. E os últimos dez dias demonstram que ainda não “caiu a ficha” por conta do isolamento imposto pela pandemia (a última vez que vi ela com vida foi em março): as previsões de frio intenso ainda me fazem pensar, automaticamente, que “isso é ruim pra vó”.

No ano de 2020, em particular, ainda tem essa maldita pandemia de covid-19. Os fatos demonstram que o tempo quente não está intimidando o vírus: Manaus, onde faz calor o ano inteiro, passou por momentos terrivelmente tristes. Mas é verdade que o inverno aumenta a incidência de doenças respiratórias aqui no Rio Grande do Sul, e não é de hoje que emergências e UTIs lotam nos meses mais frios do ano em Porto Alegre. E é exatamente agora que estamos vendo o forte crescimento da pandemia por aqui, coincidindo com o pico de gripes e pneumonias.

Jamais imaginei que um dia iria perguntar isso, mas: falta muito para a primavera? Ainda que eu goste de assistir filme e dormir enrolado em cobertores, estou bem a fim de uma temperatura amena.

Aliás, queria muito que voltássemos a ter dias mais amenos, sem tantas notícias tristes.

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A sexta-feira que mais aguardo

Minha estação do ano preferida é o outono. Gosto tanto dessa época que conto os dias para sua chegada em praticamente todos os verões – e obviamente não está sendo diferente no atual.

Em 2020 o outono terá um “plus”. O início oficial será no habitual 20 de março, que este ano cairá em uma sexta-feira.

Outono e sexta-feira: seria possível uma combinação melhor?

E a melhor notícia é que, contando o tempo que falta para 20 de março “para trás”, o resultado é já depois do Natal. Significa que mais da metade do verão já foi. Que o restante passe ainda mais rápido!

Que tal detestar a coisa certa?

Está acabando o inverno e isso não me deixa feliz. Mesmo que eu não desgoste da primavera (estação na qual vim ao mundo há quase 38 anos), lembrar que mais um verão está a caminho me leva a já contar os dias para o outono, que é minha estação do ano preferida. Mas entre inverno e verão eu prefiro o primeiro, ainda que para os mais pobres o frio cause muito sofrimento: comigo acontece o contrário pois acho mais fácil lidar com as baixas temperaturas que com as altas, já que para mim basta vestir mais roupas enquanto no calor só o ar condicionado resolve – o que resulta em alto gasto de energia elétrica e, consequentemente, em uma conta mais cara.

Claro que é fácil preferir o inverno quando se está debaixo de um teto e se tem roupas para vestir. Ao mesmo tempo que gostar de verão podendo passar a maior parte dele na praia ou no ar condicionado é “barbada”. Difícil é curtir o frio tendo poucos recursos para se proteger dele, ou calor precisando trabalhar debaixo do sol a pino do meio-dia.

Acredito que os dois parágrafos anteriores deixaram bem claro qual é o maior problema. Não é nada de ordem climática: é a pobreza e a desigualdade social. Não importa a época do ano, para rico não existe adversidade: no verão ele pode curtir uma piscina pois tem condições de manter uma, ir para a praia ou simplesmente pegar um avião e ir para algum país frio sem se preocupar com os custos da viagem; no inverno pode desfrutar de um café colonial em Gramado ou esquiar em Bariloche sem sentir aquela “dor no bolso”, ou embarcar em um voo (igualmente “barato”) para algum lugar quente (vão pra Cuba!); na primavera é possível escapar de eventuais alergias pelo florescimento viajando sem preocupação para onde é outono – a propósito, alguém consegue ter alguma coisa a reclamar do outono?

Ruim mesmo não é inverno ou verão. A falta de grana para se sofrer menos com o clima é que é uma bosta: mesmo detestando calor eu tenho ar condicionado e posso usá-lo com frequência mesmo isso que pese no bolso depois. Para os mais pobres, isso significa menos comida na mesa – e a fome independe da estação do ano.

Logo, que tal passar a atacar e detestar o que realmente importa? Pois não adianta “sentir pena” dos pobres no inverno só para “fazer média” nas redes sociais e votar na direita depois que chega a primavera…

Verão: o horário já foi

Curto bastante o horário de verão. Acho muito agradável andar na rua às 8 da “noite” com céu ainda claro, o relógio adiantado permite aproveitar mais a luz solar. Fora que nunca tive problemas para me adaptar ao horário, e não entendo quem fica todo esse tempo de “mimimi”: a média para se acostumar é algo em torno de uma semana (reconheço que sou um privilegiado pois em questão de dois ou três dias estou bem habituado), logo quem depois desse tempo ainda não se ajustou deveria é procurar orientação médica ao invés de ficar reclamando no Facebook.

Por outro lado, também adoro quando acaba o horário de verão, numa aparente contradição. Mas que se explica facilmente: me acostumo muito facilmente com a hora adiantada, enquanto ao verão faz 35 anos que não me adapto. E o fim do horário de verão, mesmo com todo esse calor, é um sinal de que já é possível vislumbrar o outono no horizonte.

Faltam 29 dias.

Não derreti com o calor

Até porque nem está tão quente assim, o problema é a umidade elevada. A previsão de “onda de calor” para os próximos dias chega a me fazer rir, pois não há prognóstico de três semanas com temperaturas beirando os 40°C como aconteceu em 2014 – naquela época eu já celebrava quando não passava dos 35°C.

Mas ainda assim, não vejo a hora que chegue o outono. Faltam “só” 30 dias para o início oficial – o início “de verdade”, que é quando a temperatura cai, leva mais um tempo.

Que venha logo.

O frio está a caminho

Porto Alegre dentro de algumas semanas

Porto Alegre dentro de algumas semanas

No colégio, aprendi que equinócios são os instantes em que o Sol cruza o equador celeste. Em tais ocasiões, que se dão apenas duas vezes a cada ano (20 de março e 22 de setembro), ambos os hemisférios da Terra recebem igual insolação.

Tais eventos também significam trocas de estação (variando conforme o hemisfério, norte ou sul). Em um lado da Terra o verão acaba e tem início o outono, enquanto no oposto é o inverno que dá lugar à primavera.

Hoje é dia de equinócio. E, pela lógica, está chegando o outono: afinal de contas, como pode começar a primavera sem que tenha havido inverno? Ou seja, preparemos os agasalhos pois agora sim vai começar a esfriar.


Quem dera fosse realmente o outono que estivesse chegando… Não que eu desgoste da primavera (térmica e visualmente falando, ela costuma ser agradável a maior parte do tempo): o problema é saber que um novo verão está há três meses de distância, ainda mais que em quase 33 anos de vida nunca sofri tanto com o calor como em 2014.

Já o “inverno” (se é que dá para chamar assim) que acaba às 23h29min de hoje, teve muitos gols da Alemanha e pouco frio.

Um passeio de verão

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Baseado em fatos reais.

Aproxima-se o final do expediente. Momento tão desejado por tantos, mas não por Eduardo, no dia de hoje. A hora de ir embora é detestada como se fosse o fim das férias, o toque do despertador ou a música do Fantástico.

O que há de tão diferente em comparação com outros dias? A temperatura. Quando falam em 30 graus, Eduardo lembra com saudade de quando o termômetro marcava isso. Ultimamente são 38, 39, até mesmo 40 graus. “Mais do que frente fria, a cidade precisa mesmo é de dipirona”, pensa.

Ao contrário de outros dias, este passou correndo. Justamente porque era para ser mais longo. Eduardo procura retardar o máximo possível sua saída, mas não adianta: é preciso ir embora. Mas não sem tomar as necessárias precauções: após bater o ponto, vai ao banheiro e troca a roupa, substituindo a calça por uma bermuda. Durante o dia não sofreu por conta do ar condicionado, mas sabe que na rua a história é diferente.

Geralmente, Eduardo caminha do trabalho para casa. É um ótimo exercício, para o corpo e para a mente. Às vezes, faz uma parada em um bar no caminho (ocasiões em que o exercício para o corpo é anulado), toma uma cerveja e pensa na vida.

Mas hoje, o trajeto será feito de ônibus. Com todo esse calor, é melhor trocar a caminhada pelo ar condicionado do coletivo, mesmo vestindo bermuda.

Ao sair do prédio, acontece o que não podia acontecer: o ônibus já está passando e Eduardo o perde, por ter demorado mais tempo para sair do que em outros dias. Consultara a tabela de horários e esta indicava que o próximo ônibus demoraria bastante a passar; seria preciso aguardar um longo tempo, e em uma parada no sol abrasador.

Eduardo desiste desta linha. Resolve pegar um outro ônibus, mas para isso é preciso caminhar duas quadras. Mesmo que haja sombra em boa parte do trajeto (graças a uma rua arborizada), não é fácil. Por isso, entra em um mercadinho e decide comprar uma bebida. A lata de cerveja está lá, bastante sedutora, mas Eduardo prefere água. Paga pela garrafa e volta ao calor da rua.

Chegando à rua pela qual passa o ônibus, Eduardo constata algo desolador: a parada também fica no sol. Olha ao redor, procura outra na mesma rua, mas nenhum sinal. Tem duas escolhas: esperar ali mesmo, ou seguir caminhando. Decide pela segunda opção.

A rua pela qual Eduardo caminha em direção à sua casa é bastante arborizada. Ele anda lentamente, de modo a suar o mínimo possível; é notável que faz menos calor na rua pela qual caminha em comparação com outras. Lembra, indignado, de árvores que foram derrubadas para alargar e descongestionar avenidas que já estão novamente congestionadas: “o prefeito deveria é andar na rua a pé, para ter noção de como ruas com árvores são mais agradáveis”.

Chegando ao final da rua, vem o desafio de atravessar uma avenida. Do outro lado, ao menos, há um um parque. Por dentro dele, segue o caminho de Eduardo até sua casa em um dia infernal. Ainda há água dentro da garrafa, o suficiente para atravessar o parque – depois dele, em outra avenida, há outro mercadinho onde é possível comprar mais água.

A travessia do parque se dá sem problemas. É a parte mais agradável do trajeto: embora ainda muito quente, é menos poluída – tanto atmosférica como sonoramente.

Eduardo não para no bar: embora a água já tenha acabado, faltam poucas quadras para chegar em casa. O trecho final da caminhada é feito na mesma velocidade, para evitar o maior desgaste.

Chegando em casa, é que o suor começa a literalmente escorrer, até mesmo a pingar. Nem pensa duas vezes: tira a roupa e corre para o banho “frio” – que também é quente. Debaixo do chuveiro, pensa no dia de amanhã, torcendo para sair a tempo de pegar o ônibus. E, mesmo acordado, sonha com o outono.

Quando a Lua triunfar sobre o Sol

89 dias atrás, era 23 de setembro. Início da primavera mas ainda com cara de inverno, vestíamos casacos. Parece que foi ontem.

Agora, é 21 de dezembro, começa o verão. Mas, dentro de 89 dias, será 20 de março. Parece que é amanhã. Então, o outono é logo ali, e não demorará tanto para, enfim, as noites serem mais longas e a Lua triunfar sobre o Sol.

Aliás, o que seria da poesia se não existissem as noites e a Lua?

Ele voltará

A primavera é a estação das flores, e não é possível negar que tem sua beleza. O mês de setembro é marcado pelo espetáculo de ipês roxos e amarelos; em outubro é a vez dos jacarandás embelezarem a cidade com seu florescimento.

Sinceramente, a primavera podia muito bem durar seis meses, começando agora e só terminando em março. Assim, seria seguida pelo outono, que também tem sua beleza; depois viria o inverno, no qual as folhas velhas cairiam e seriam substituídas por flores em uma nova primavera. Dessa forma nos livraríamos do verão, que em Porto Alegre sabe como ser insuportável.

Mas como não tem jeito, o negócio é curtir as primeiras semanas de primavera, que ainda têm temperaturas agradáveis e também nos enchem os olhos. Em geral, o tempo é bom (leia-se “não é Forno Alegre”) até o final de outubro, algumas vezes ainda em novembro e muito raramente em dezembro. Depois, é penar* e contar os dias para o retorno do outono.

Porto Alegre, maio de 2013

Porto Alegre, maio de 2013

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* Falar em praia e férias não vale: não é qualquer um que pode se dar ao luxo de passar mais de três meses “de papo pro ar”, longe da cidade…

O verão não me representa

O pior é que recém estamos em setembro...

O pior é que recém estamos em setembro…

Tirei a foto pouco depois das 6 horas da tarde da “invernal” quinta-feira – mesmo horário de outra que bati em 22 de julho, quando o tempo era bastante diferente. Bem mais, digamos, representativo de minha pessoa

Ao menos a umidade estava bem baixa, pelo visto. Minha pele estava seca. Um calor menos pior que aquele registrado lá por janeiro e fevereiro, quando é possível tomar um banho de suor com a mesma temperatura e umidade do ar em torno dos 500%.

Mas, ainda assim, calor que faz esquecer que ainda estamos no inverno e parecer que é verão – que, como já disse, não me representa. Além do suplício que é andar na rua vestindo calça comprida (aliás, vestindo qualquer coisa) com altas temperaturas, detesto a “obrigação de ser feliz” associada a dias ensolarados e quentes – e a noites igualmente quentes, embora sem sol. Não é por desejar a infelicidade humana, mas sim, por abominar imposições sociais.

Dias frios e cinzentos são convidativos a ficar em casa, à introspecção. Óbvio que também gosto de estar na rua, e prefiro fazê-lo nos dias frios – quando o Sol não me parece aquela bola de fogo que quer me queimar até a morte. Mas não me sinto um “fracassado” quando fico em casa num sábado à noite – ao contrário de muitas pessoas. Relembrando o que escrevi em julho:

Porém, muitas pessoas parecem não gostar de estar consigo mesmas, ainda mais que vivem nos dizendo que devemos sempre “curtir a vida adoidado”, sem tempo para pensamento e autocrítica. O resultado é: querem sempre estar rodeadas de muita gente, pois de tanto ouvirem que o contrário significa o “fracasso social” elas não suportam a si mesmas.

Digamos que isso não tem a ver apenas com o clima, é óbvio. Há várias partes do Brasil onde “inverno” é apenas uma palavra no dicionário – ou representa a estação chuvosa (ou seja, mesmo sem frio, tem menos sol). Mas a publicidade que vemos ser veiculada nacionalmente sempre vincula “verão” com “festa” – então, vamos “curtir”! Ou seja, fazer o que todo mundo faz, única e exclusivamente porque… Todo mundo faz.

Claro que também há o “efeito manada” no inverno – leia-se “ir ver a neve em Gramado”. Mas, como disse, o que me atrai no inverno é justamente a maior facilidade em se quebrar o padrão de que devemos estar sempre “nos divertindo” de uma determinada forma, como se não fosse possível ser feliz de outras maneiras.

Inclusive, já disse certa vez que a “estação-padrão” de Porto Alegre deveria ser o outono, mas a preferência pelo inverno se explica pelo simples fato dele “fazer oposição” ao verão – que, por sua vez, representa o oposto do que sou. Não quero saber de “solaço” e badalação, prefiro ver a Lua bebendo tranquilamente uma taça de vinho.