O meu 2022

Pela primeira vez em muito tempo, não publiquei meu tradicional texto de balanço do ano que se encerrava em seu último dia. O principal motivo foi não ter começado a escrevê-lo antes: pretendia fazê-lo na noite de 29 de dezembro, mas o falecimento do Rei Pelé tomou toda a minha atenção; meu pai faz aniversário no último dia do ano e assim a noite anterior foi de churrasco pensando no abraço à meia-noite. E no 31 de dezembro de 2022 simplesmente não parei.

No fim, foi até melhor. Veio o 1º de janeiro de 2023, e enfim a posse de Lula para pôr fim ao pesadelo que foi o (por assim dizer) governo Bolsonaro. O pior presidente que o Brasil já teve fugiu sem se dignar a passar a faixa a seu sucessor; mas de certa forma acabou sendo melhor assim, pois a entrega por parte de representantes do povo brasileiro a Lula foi linda e simbólica do que representa este terceiro mandato dele. Será um imenso desafio reconstruir um país que vinha sendo saqueado desde 2016 (pois tudo isso começou com o golpe contra Dilma naquele ano), e procuro não me iludir com as lembranças da bonança que vivemos nos dois primeiros mandatos de Lula.

O primeiro dia de 2023 foi, de certa forma, o ato final de 2013, visto que o inferno pelo qual passamos começou com a captura das manifestações daquele ano pela direita.


A eleição presidencial foi, sem dúvida alguma, o momento definidor de 2022. Caso Bolsonaro tivesse sido reeleito, provavelmente eu estaria falando de um ano “trágico”, tal qual foi 2018 (que no aspecto pessoal esteve longe de ser ruim, ainda que também de ser dos melhores). Como a maioria do povo (ainda que por estreita margem) optou por Lula, podemos respirar aliviados: o país se livrou de mergulhar numa ditadura que poderia fazer 1964 parecer “brincadeira de criança”.

2022 foi o ano no qual conheci a covid-19 “de perto” – digo, com o vírus no meu corpo. DUAS VEZES: uma em fevereiro e outra em novembro. Felizmente, ambos os casos foram leves e, que eu saiba, não transmiti para ninguém. E pensar que tem gente por aí dizendo que vacina não funciona… Estar imunizado com a terceira dose (em fevereiro) e com a quarta (novembro) certamente fez toda a diferença – ainda mais que felizmente não tenho comorbidades. Em compensação, no final de junho tive um resfriado (doença para a qual infelizmente não existe vacina) que me deu muito mais congestão nasal que as duas vezes que peguei covid SOMADAS.

As vacinas ajudarem a preservar minha saúde é uma das razões pelas quais nada tenho a reclamar de 2022. No aspecto pessoal, aliás, foi um belo ano. Viajei pela primeira vez desde 2019 (em 2020 e 2021 não o fiz por conta da pandemia de covid-19) e também pela segunda: em janeiro fui à Praia do Cassino por poucos dias; em março fui a Curitiba e Florianópolis, retornando a Porto Alegre no começo de abril. Voltei à Arena do Grêmio após afastamento de quase dois anos imposto pela pandemia (poderia ter retornado ainda em 2021 mas esperei até 2022). Já que falei de futebol, o Grêmio voltou aos trancos e barrancos para a Série A mas no último dia do ano anunciou Luis Suárez (ou seja, entra MORDENDO em 2023). Teve Copa do Mundo para fechar o ano “com chave de ouro”, com Messi jogando tudo o que sabe e mais um pouco para ajudar a Argentina a conquistar a taça pela terceira vez, trazendo-a de volta a América do Sul após 20 anos.

O ano de 2022 foi também de aprendizados em termos profissionais, muito por minha opção de mudar de setor no trabalho. Falo tão mal daquela galera “coach” que fala em “sair da zona de conforto”, mas ironicamente fiz isso – no caso, pedi para sair da unidade onde trabalhava desde 2016 – e não me arrependo nem um pouco.

Não acho que 2022 tenha sido o melhor ano da minha vida. Mas foi o melhor desde, pelo menos, 2015, ano que quando acabou considerei como ruim mas hoje em dia percebo como fundamental para o que sou hoje, pessoal e profissionalmente. Até entendo que muita gente tenha achado ruim, pesado, por conta da política, mas se pensarmos no resultado final, dá para dizer que valeu a pena. E para mim, valeu demais.

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A um mundo que acabou

Melhor meme de 2012

21 de dezembro de 2012, 22h

É uma noite de sexta-feira, mas estou em casa defronte ao computador, me divertindo com memes sobre mais um “fim do mundo”. Obviamente é mais um momento de dar risada, visto que passei por vários “fins do mundo” e continuo aqui.

A “culpa” é dos Maias, cujo calendário se encerra hoje. Soube disso no segundo semestre de 2005, quando cursei a disciplina de História da América Pré-colombiana na faculdade, e na hora imaginei que sete anos depois estaríamos nos divertindo com mais um “fim do mundo”, ainda que o término do calendário maia signifique na visão deles o fim de um ciclo e não de tudo.

Dá para pensar: qual ciclo estará se encerrando? O que virá depois será melhor ou pior? Não tenho como saber…

Para além do Facebook, é bom dar uma olhada na caixa de e-mails, volta e meia chega alguma coisa importante ali. E é estranho o que vejo na caixa de entrada: um e-mail cujo remetente sou eu mesmo. Essa porcaria não deveria ter caído na caixa de “spam”?

O título do e-mail é estranho: “2012–2022”. E então percebo o mais bizarro: ele tem como data o dia 21 de dezembro de 2022, ou seja, é como se tivesse vindo “do futuro”.

Vou abrir, mas com cuidando para não clicar em qualquer link estranho.


2012–2022

Como certamente já percebeste, eu/tu mesmo sou/és remetente e destinatário deste e-mail. Sim, é engraçado.

Mas não estamos no mesmo tempo, como pode ser percebido pela corretíssima data no cabeçalho: escrevo e envio esta mensagem na noite de 21 de dezembro de 2022, uma quarta-feira, três dias após a final da Copa do Mundo do Catar — sim, ao contrário do que imaginavas que ia acontecer, a FIFA não mudou a sede da Copa, e sim o período dela, do meio para o final do ano. E, acredita, isso será legal demais. Ainda mais após tudo o que passamos nos tempos recentes — que para ti ainda são “futuro”, e não iniciarão exatamente após o “fim do mundo” que por aí está divertidíssimo, mas não tardarão muito.

Não tenho como contar exatamente o que irá acontecer, pois isso poderia fazer (caso alguém acreditasse no que escrevo, obviamente) com que tudo mudasse e aí sim o espaço-tempo poderia entrar em colapso. Mas posso dar links do que virá, espero que funcionem mesmo antes de serem publicados.

Uma coisa óbvia é que o mundo não acaba aí — tá mais arriscado alguém morrer de rir dos memes do que sendo atingido por um dos “aerolitos” que soterram o Chapolin. Ainda que de vez em quando alguns possam cair na Terra e até causarem estrago, especialmente na Rússia (não por nenhuma preferência por vodca, mas sim por ser apenas o maior país em área territorial).

E se o fim do mundo não for causado por um “aerolito”? É bem mais plausível que o fim não seja “cataclísmico” como retrata (ou “sonha?”) a indústria dos “filmes-catástrofe”, mas sim que aconteça aos poucos, num longo e penoso processo histórico cujo início só seja definido quando temos suficiente distanciamento temporal dele.

O mundo não acaba aí e nem é o 21 de dezembro de 2012 o marco inicial do processo histórico que vivemos em 2022 — trata-se apenas de uma efeméride que recordo pela passagem de uma década. Alguns sinais do que vem pela frente já estão por aí faz vários anos, outros chegarão em pouco tempo, até que as coisas definitivamente sejam tiradas do lugar.

Vários sinais estão na política — de cuja “previsibilidade” daí de 2012 eu sinto muita falta aqui na década que se passou. Aliás, o principal deles me faz lembrar da famosa frase “a bola pune” dita pelo Muricy Ramalho para fazer uma analogia com o que virá. Aprendemos da pior forma possível que tem consequências deixar impune um deputado que merece cassação. Tal qual a bola, o voto pune. Acho que não preciso dizer o nome — tem vários posts no meu/teu blog falando das barbaridades de tal criatura.

Sim, imagino o pensamento aí em 2012: Bolsonaro vai virar presidente? Como isso pode ser possível?

Até acho que dá para tentar evitar sem causar o colapso do espaço-tempo, pelo menos em termos de Brasil. Impossível que as coisas sejam piores caso outro candidato vença a eleição de 2018. O problema é que o Bolsonaro será apenas mais um de uma tendência mundial — sendo que algumas figuras até já estão no poder lá na Europa, e só serão percebidas mais adiante.

É verdade que o Bolsonaro vai perder a reeleição em 2022 (sim, estou feliz agora quando mando essa mensagem), mas o estrago que ele causará… Vai ser uma tarefa dura reconstruir este país, mas quero acreditar que será possível (até agora não recebi nada vindo de 2032). Não toma cicuta ao terminar de ler este e-mail, por favor.

Aliás, vale lembrar que cicuta não cura nenhuma doença, mesmo que comecem a espalhar por aí que sim. Esse será outro grande problema mais adiante: uma galera começará a dizer que a Terra é plana (!!!), mas pior ainda será quem fala o absurdo de que vacina faz mal… Vacina!!! Lembra que falei do fim do mundo poder vir aos poucos e não de uma forma cataclísmica? Pois então, olhamos muito para pedras gigantes no espaço quando o fim pode já estar escondido aqui na Terra. (Dica: aproveita muito o ano de 2019.)

Falei muito de fim do mundo e seus sinais: políticos bosta, coisas escondidas na Terra, e deves estar se perguntando sobre o aquecimento global. Afinal, ele parou? Bom, te digo que com o Bolsonaro na presidência só aumentou a preocupação do mundo com a devastação da Amazônia e suas consequências para o clima mundial, o que já dá uma pista. Aliás, adiantando um fato pessoal: em pouco mais de três anos escaparás de um desastre climático pelo simples fato de mudar de cidade (sim, Porto Alegre não é tua/minha casa pela vida inteira).

Comecei esta mensagem citando a Copa de 2022, mas acredito que aí em 2012 a tua curiosidade (e a de todo mundo) é sobre quem ganha no Brasil em 2014. Não vou contar pelo simples fato de que ninguém vai acreditar mesmo.

E encerro falando de política: para um pouco de chamar o Alckmin de “picolé de chuchu”. É sério. Aqui em 2022 eu nunca critiquei ele.


22 de dezembro de 2012, 9h

Que doideira esse sonho que tive. Ora, e-mail do futuro… HAHAHAHAH!

E olha os papos do maluco se passando por mim no futuro. Bolsonaro presidente do Brasil? Que diarreia mental é essa? E que história é essa de Alckmin? Mais uma enquete sobre novo técnico do Inter?

E ainda dizendo que ninguém acreditará no que vai acontecer na Copa de 2014… Seria algo extraordinário, totalmente impossível, tipo o Brasil perder uma semifinal de 7 a 1? É fácil dizer que “veio do futuro” e não falar nada sobre daqui um ano e meio, né?

E ainda enchendo o e-mail de links. Até parece que sou idiota de clicar neles e encher meu computador de vírus, né? Já basta os resfriados que pego ao longo do ano! Ah, se tivesse vacina para eles…

Sobre uma urgência: a eleição mais importante de nossas vidas

Neste domingo irei à minha seção eleitoral e, após digitar os números de meus candidatos para quatro cargos, virá o quinto e mais importante de todos, ainda mais em 2022: o de Presidente da República.

Só que não será uma simples escolha de uma pessoa para governar o país pelos próximos anos. Será um voto, dentre diversos motivos:

– Para que o Brasil volte a ser respeitado, e não motivo de chacota, na comunidade internacional;

– Pelo resgate dos símbolos nacionais das mãos de um grupo político que se diz “patriota” mas na verdade odeia o Brasil e o povo brasileiro;

– Pela transparência e pelo fim dos sigilos de 100 anos;

– Pelos servidores públicos, meus colegas, tão atacados nestes últimos tempos;

– Em defesa do SUS, que aplicou centenas de milhões de doses de vacina contra a covid-19 nos nossos braços, e ainda cuidou muito bem da saúde da minha mãe em três ocasiões apenas no ano passado;

– Pela volta do incentivo à vacinação, o que sempre foi um orgulho nacional;

– Para frear a destruição da Amazônia e do Pantanal;

– Pelas minorias que, somadas, são a maioria de nossa população mas ainda assim enormemente perseguidas: mulheres, indígenas, negros, LGBTQIA+;

– Para que o Brasil saia novamente do Mapa da Fome da ONU;

– Contra a inflação que levou inúmeras famílias à pobreza extrema;

– Contra a violência política e o discurso de ódio que levou a assassinatos nesta campanha — com todos os autores de um lado e as vítimas do outro na disputa eleitoral;

– Pelo fim da interferência dos militares na política;

– Contra o discurso da falsa “polarização”, que põe na mesma barca uma candidatura de centro-esquerda que nunca pregou contra a democracia, e outra de extrema-direita que não tem vergonha alguma de louvar torturadores e a ditadura de 1964;

– Contra os discursos golpistas;

– Contra as teorias conspiratórias sobre fraudes eleitorais;

– Contra o negacionismo e a desinformação;

– Pela memória das quase 700 mil pessoas que morreram de covid-19 desde março de 2020 no Brasil, que não eram apenas números: eram avós, avôs, mães, pais, irmãs, irmãos, parentes, cônjuges, amigas e amigos… E em sua esmagadora maioria, não teriam morrido caso a presidência fosse ocupada por alguém à altura do cargo.

Por tudo isso, meu voto é 13.

Não tenho a ilusão de que teremos a mesma bonança de quando Lula governou o Brasil pela primeira vez: o contexto atual é muito diferente daquele de 20 anos atrás. Talvez fosse bom uma renovação.

Mas isso pode muito bem ficar para depois, primeiro temos de resolver o que é urgente. E nada urge mais do que começar a acabar, o mais rápido possível, com esse inferno que vivemos nos últimos quatro anos. Nem falo em “pesadelo” pois de um é possível acordar: o que temos agora é assustadoramente real, e ainda deve demorar um pouco para passar totalmente — e por isso é preciso dar o primeiro passo.

Fora Bolsonaro. Agora.


Um adendo: na lista de motivos nem falei do horário de verão, extinto por Bolsonaro, por julgar que isso se tornou insignificante diante do horror que passamos. Mas vale a lembrança para ressaltar que, quando se fala que é um “governo das trevas”, não é mera figura de linguagem: nem aquele solzinho que permite ficar no parque até mais tarde durante o verão nós temos mais; em compensação, perdemos o sono pois às 5 da manhã já está muito claro.

Das falsas equivalências

Está na moda ser “nem a nem b” no Brasil. “Nem Lula nem Bolsonaro”, diz uma galera louca de vergonha de admitir que, em caso de segundo turno entre os dois, vota no segundo pois “PT nunca mais”. (Engraçado que provavelmente nunca tenham vivido tão bem como na época em que o PT “destruía nossas vidas”.)

O pior desse (por assim dizer) argumento “nem Lula nem Bolsonaro” é a falsa equivalência entre os dois. “Sou contra extremos, temos que romper a polarização”, diz quem consegue ver algum resquício de extremismo nos governos petistas. “PT vai transformar o Brasil em Venezuela”: tchê, se em 13 anos de presidência isso não aconteceu, ou foi muita incompetência ou simplesmente nunca houve tal objetivo (dica: a resposta certa é a segunda).

Se houve algum extremo nos governos Lula e Dilma, foi de moderação. Os bancos lucraram como nunca. Não houve regulação da mídia. Foi um período no qual o capitalismo brasileiro se fortaleceu. Mas para isso acontecer era preciso haver maior inclusão social (como defendem liberais de verdade), o que é (e continua) inaceitável para as elites e boa parcela da chamada “classe média” – que se identifica mais com a classe dominante mesmo estando muito próxima do “andar de baixo”.

Ou seja, não há uma extrema-esquerda viável eleitoralmente no Brasil. Ao contrário da extrema-direita que, graças ao apoio desses ditos “setores moderados”, é governo atualmente. Onde está a polarização?

Resposta: na cabeça de quem apertou 17 em 2018 e não apenas se recusa a admitir que fez cagada, como também tem disposição de repetir a cagada em 2022.


De certa forma, o mesmo ocorre no tocante à famosa “treta” entre “frioristas” e “caloristas” que se repete ano após ano quando vivemos o auge ou do inverno, ou do verão. Ouvi ao longo deste domingo (um dos dias mais sufocantes da história dessa cidade infernal chamada Porto Alegre) que “nenhum extremo é bom, nem inverno nem verão”.

Olha, eu já nem sou mais muito fã do inverno, confesso que “encaranguei” no último, quando junho e julho foram mais frios que o normal. Tenho preferido temperaturas amenas.

Mas… Inverno ou verão para mim é quase como um segundo turno entre Lula e Bolsonaro (com a diferença de que na eleição eu já vou de 13 no primeiro turno). É uma falsa equivalência dizer que são “dois extremos”.

O inverno é bem cruel com os mais pobres (especialmente moradores de rua), é verdade. O que torna ainda mais revoltante a desigualdade no Brasil: reduzindo a pobreza, também se diminui o sofrimento com o frio, visto que não temos temperaturas realmente extremas como no Canadá ou na Noruega (países onde o inverno não é uma tragédia social). Falta calefação nas construções aqui no sul do Brasil, mas ao mesmo tempo isso encareceria os imóveis: excetuando os municípios de maior altitude (onde faz mais frio), será que valeria a pena considerando que são muito poucos os dias nos quais realmente é preciso aquecer ambientes? Alguém poderia dizer que não posso ser a referência mas lembro do quanto senti frio em junho e julho de 2021: ainda que eu tenha “encarangado”, foram bem poucos os dias nos quais realmente senti falta de ter aquecimento; nos demais bastava vestir mais roupas e tomar uma taça de vinho para ficar confortável. Sem contar que nosso inverno não é inteiramente frio, não são incomuns dias de intenso calor quando se esperariam temperaturas baixas.

Já o verão é igualmente cruel com os mais pobres, mas isso não dá tanto “ibope” nas redes sociais: é mais fácil posar de defensor dos moradores de rua dizendo que odeia inverno mesmo esquecendo deles quando chega a primavera. Num dia como foi o domingo, com Porto Alegre registrando mais de 40 graus, os pobres com teto precisaram escolher entre ligar o ar condicionado (quando o têm) e pôr comida na mesa (é preciso dinheiro para pagar a conta de energia); moradores de rua dormem no chão muito quente (e desconfortável), à mercê de baratas e outros insetos, e passando muita sede. E contornar o calor é muito mais difícil por se depender muito mais de energia elétrica: se no inverno só não conseguimos nos aquecer apenas vestindo mais roupas em meia dúzia de dias, no verão o ar condicionado é uma necessidade ao longo de quase toda a estação para que se possa trabalhar com conforto (e em muitos dias também é necessário para conseguir dormir). Ainda mais que, ao contrário do inverno, o verão nunca dá trégua: já vesti bermuda em julho mais de uma vez, e nunca usei blusão de lã em janeiro.

O fato é que ninguém gosta de passar frio ou calor, a diferença é na facilidade para lidar com um ou outro. Aqui não é o Canadá (onde faz 50 graus negativos), nosso inverno é muito moderado, ao contrário do verão que é, cada vez mais, extremo. Escolher entre um e outro é algo como… Optar entre Lula e Bolsonaro. É uma escolha facílima.

O verão é o Bolsonaro do nosso clima.

2021, o ano suficiente

Em 31 de dezembro de 2020, quando escrevi meu tradicional texto de “balanço” do ano que acabava, ele teve o seguinte parágrafo:

Não nutro lá muitas esperanças de que o próximo ano será bom. Ainda que haja vacina, muitos milhões de pessoas empobrecerão bastante por conta do estrago na economia causado pela pandemia. Mas, se 2021 for péssimo, já será melhor que 2020 sem sombra de dúvidas.

O final muito melhor que o começo dá a impressão de que nem foi lá um ano tão ruim, mas a verdade é que ele foi bem complicado. Pesado.

Começou com uma tentativa de golpe no país que tantas outras patrocinou ao redor do mundo. A CPI da Pandemia no Senado mostrou que quem nos “governa” é imensamente mais cruel do que parecia ser. E por incrível que pareça, essa gente má ainda tem bastante apoio (como demonstrou o dia 7 de setembro), mesmo que seja (agora) minoritária.

Também tivemos o TSUNAMI de casos de covid-19 de fevereiro a abril, época na qual as redes sociais viraram obituários. Culpa da falta de noção e da irresponsabilidade patrocinada pelo genocida de Brasília. Não à toa, na enquete que faço no Instagram sobre qual foi o pior ano entre 2020 e 2021, a parcial no momento em que escrevo é um empate.

2021 foi o ano do retorno da torcida aos estádios, mas ainda não me encorajei – menos pela arquibancada em si, ao ar livre, e sim pelas aglomerações no transporte público. Não perdi nada: o Grêmio fez o Campeonato Brasileiro mais ridículo em 118 anos de História, conseguindo a façanha de ser rebaixado com as contas em dia. Meu último jogo na Arena foi o Gre-Nal da Libertadores de 2020, e o retorno por uma competição que não seja o Gauchão será na Série B, algo que jamais imaginei.

2021 também foi um ano complicado em matéria de saúde para a minha mãe, mas felizmente terminou tudo bem. Foram três cirurgias, com duas internações: a primeira em fevereiro, pouco antes do pior momento da pandemia; a segunda em novembro, quando ela felizmente já tinha tomado a terceira dose da vacina. Por conta disso, decidi abrir mão de morar sozinho (algo que por tanto tempo desejei), para poder estar mais próximo dela após tantos problemas; meu projeto para o futuro (e muito improvável que se concretize em 2022) é financiar um apartamento próprio aqui por perto, para não ficar mais à mercê dos reajustes de aluguel. (Aliás, no tocante à residência, em 2021 me convenci em definitivo que acertei ao retornar a Porto Alegre em 2016.)

Ainda assim, 2021 não foi um ano que considero perdido como 2020. O principal motivo para tal se chama VACINA. Minha mãe e meu pai tomaram três doses, meu irmão e eu recebemos duas – e agora em janeiro teremos a terceira. Enquanto as PRAGAS ANTIVACINA falam que a vacinação obrigatória é um “atentado à liberdade”, a vacina significa justamente o contrário: graças à imunização, voltei a sentar em uma mesa de bar após 630 dias, pude sair com menos medo (ainda tomando cuidados pois a pandemia está longe de acabar), foi possível voltar a encontrar e, principalmente, ABRAÇAR PESSOAS após tantos meses. Não ter vacinas (como o genocida queria que fosse) é que tirava a nossa liberdade.

2021 foi também o ano no qual entrei nos “enta”. Infelizmente não tive como reunir amigos em um bar para celebrar pois nem todos estavam completamente vacinados. Ficou para 2022, quando o 15 de outubro cairá num sábado.


Faz um bom tempo que decidi fazer igual ao Luís Fernando Veríssimo: não mais fazer resoluções de ano novo. Não será agora que mudarei de ideia – ainda mais considerando o que foram 2020 e 2021.

Tenho dois alentos para 2022. O primeiro é que tem boas chances de ser o último ano em que o Brasil sofre com seu pior presidente em 133 anos de República. Não me iludo com as pesquisas que apontam vitória fácil do Lula: a eleição será dificílima, com as criaturas saídas do bueiro jogando ainda mais sujo do que em 2018.

O segundo é que 2022 é ano de Copa do Mundo. Que será um tanto diferente: no final do ano, para escapar do calor absurdo que faz no absurdo país-sede do Mundial, o Catar (primeiro anfitrião estreante desde a Itália em 1934). A perspectiva da bola rolar no maior de todos os torneios de futebol sempre dá um ânimo. Recordo 1998, que comecei “na fossa” por um “coração partido”: lembrar que cinco meses depois começaria a Copa da França me ajudou MUITO a levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima. (E no final das contas aquele foi um dos melhores anos da minha vida: fazendo uma analogia com o futebol, foi uma fantástica “vitória de virada”.)

Mas, ainda assim, prefiro desejar em especial que o novo ano SE COMPORTE. Se 2022 reservar alguma surpresa, POR FAVOR, que seja positiva. (Tipo um impeachment do genocida: acho que ainda dá tempo, apesar de que motivos para ele ocorrer em 2021 abundaram e não rolou.)

Nova profissão: comentarista de velório

Está um saco essa onda de “mimimi” sobre o velório de Marisa Letícia. Galera reclamando que Lula “fez discurso político”. Gente que desejou a morte dela agora fica dizendo que foi “desrespeito”.

Ora, mas vão se catar!

E aviso: no meu velório também vou querer discurso político. De esquerda, é óbvio. Pois se alguém se atrever a falar direitices eu juro que volto do além para lhe fazer umas visitinhas… De preferência no meio da madrugada.

O ódio nosso de todo dia

Seguindo minha “linha” de escrever no Medium sobre assuntos ditos “relevantes”, resolvi fazê-lo sobre o ódio que temos vivenciado todos os dias. Quando o texto estiver pronto, divulgarei o link – tanto aqui como também no Facebook, no Twitter…

Vou apenas fazer um breve comentário (seria um “texto-comentário”?) acerca de tal assunto que gera tantos “textões” mas pouca reflexão verdadeira. Como se vê no caso do falecimento de Marisa Letícia, esposa de Lula e importante figura do PT.

Ela foi alvo de muitas manifestações de ódio da direita, isso é fato – e nem surpreende, visto que nossa direita é muito competente em odiar. Porém, muitas pessoas de esquerda estão enveredando pelo mesmo caminho em relação aos “desafetos” do outro lado, ou seja, utilizando os mesmos “métodos” repudiados nos discursos. Com direito até mesmo a linchamentos virtuais – coisa que, aliás, nem é de hoje.

A situação está chegando a um ponto em que as pessoas se sentem intimidadas e preferem não tocar no assunto “política”, pois qualquer comentário pode ser alvo do ódio de ambos os lados. E nem tenho como criticá-las, pois elas não querem ser “apolíticas” como muita gente pensa.

Embora seja verdade que o nível da discussão política no Brasil nunca tenha sido dos mais elevados, a situação atual é cada vez mais preocupante, pois temos duas “metades” que se odeiam e, no meio, uma “maioria silenciosa” que ao não se posicionar abertamente é taxada de “coxinha” ou “petralha”. E isso não parece que vai mudar no curto prazo, infelizmente.

Dia de usar panelas…

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Para cozinhar, é claro. Pois neste domingo, fazer comida é um ato político. Mesmo que, no meu caso, tenha cozinhado apenas um ovo e uma porção de arroz (que, inclusive, eu poderia ter feito no sábado à noite mas deixei para o domingo justamente pelo caráter político da coisa).

“Panelaço” é coisa séria. Se consagrou como um protesto contra a pobreza e a falta de perspectivas – situações que deixam muitas pessoas com as panelas vazias, por falta de grana para comprar comida. Não por acaso, é uma forma de manifestação tipicamente latino-americana – e que chamou a atenção quando chegou à Europa, nos protestos contra a crise financeira na Islândia em 2009.

Mas sempre tem gente que desvirtua as coisas. No caso do “panelaço”, é gente que não passa o drama de estar com as panelas vazias por falta de dinheiro. Os sem-noção aqui do Brasil não são fato novo: na Venezuela, muito se bateu panela contra Hugo Chávez – e tal como aqui, não eram os mais pobres que o faziam. Não por acaso, enquanto rolava “panelaço” na Zona Sul do Rio de Janeiro, no Complexo do Alemão as panelas estavam sobre o fogão cumprindo sua função primordial de fazer comida.

Isso não quer dizer que vá tudo bem com o país. É fato que há inflação: mesmo que ela seja “brincadeira de criança” em comparação com o que tínhamos no final dos anos 80 e no início dos 90, é algo que complica a vida de quem ganha menos. O desemprego subiu: mesmo que ainda possa ser considerado baixo se fizermos uma comparação com outros países e inclusive com o Brasil de um passado não tão distante (10, 15 anos atrás…), causa preocupação a quem tem suas contas a pagar. Toda hora se descobre um novo escândalo de corrupção: a galera esquece que até não tanto tempo atrás o mais comum era as denúncias serem engavetadas e não investigadas, mas isso não inocenta o PT de ter aderido ao esquema apenas “porque os outros também faziam”.

Mas ainda assim me recuso a aderir ao coro do “Fora Dilma”. Primeiro, porque nem faz um ano que ela foi reeleita, e assim é descarado que protestos como os de hoje são puro chororô de quem perdeu a eleição e quer ganhar na marra. Coisa de criança mimada que quando não vê sua vontade atendida começa a espernear e a fazer escândalo.

Mas tem outro motivo também: mesmo que apareçam indícios que comprometam Dilma e assim justifiquem a abertura de um processo de impeachment, não tenho como participar de protestos como os de hoje. Um texto escrito por Luis Fernando Veríssimo em 2007 ajuda a explicar (aliás, basta trocar “Lula” por “Dilma” para o texto ficar totalmente atual):

Cumplicidade

Uma comprida palavra em alemão (há uma comprida palavra em alemão para tudo) descreve a “guerra de mentira” que começou com os primeiros avanços da Alemanha nazista sobre seus vizinhos. A pouca resistência aos ataques e o entendimento com Hitler buscado pela diplomacia européia mesmo quando os tanques já rolavam se explicam pelo temor comum ao comunismo. A ameaça maior vinha do Leste, dos bolcheviques, e da subversão interna. Só o fascismo em marcha poderia enfrentá-la. Assim muita gente boa escolheu Hitler como o mal menor. Ou, comparado a Stalin, o mau menor. Era notório o entusiasmo pelo nazismo em setores da aristocracia inglesa, por exemplo, e dizem até que o rei Edward VIII foi obrigado a renunciar não só pelo seu amor a uma plebéia mas pela sua simpatia à suástica. Não tardou para Hitler desiludir seus apologistas e a guerra falsa se transformar em guerra mesmo, todos contra o fascismo. Mas por algum tempo os nazistas tiveram seu coro de admiradores bem-intencionados na Europa e no resto do mundo – inclusive no Brasil do Estado Novo. Mais tarde estes veriam, em retrospecto, do que exatamente tinham sido cúmplices sem saber. Na hora, aderir ao coro parecia a coisa certa.

Comunistas aqui e no resto do mundo tiveram experiência parecida: apegarem-se, sem fazer perguntas, ao seu ideal, que em muitos casos nascera da oposição ao fascismo, mesmo já sabendo que o ideal estava sendo desvirtuado pela experiência soviética, foi uma opção pela cumplicidade. Fosse por sentimentalismo, ingenuidade ou convicção, quem continuou fiel à ortodoxia comunista foi cúmplice dos crimes do stalinismo. A coisa certa teria sido pular fora do coro, inclusive para preservar o ideal.

Se esses dois exemplos ensinam alguma coisa é isto: antes de participar de um coro, veja quem estará do seu lado. No Brasil do Lula é grande a tentação de entrar no coro que vaia o presidente. Ao seu lado no coro poderá estar alguém que pensa como você, que também acha que Lula ainda não fez o que precisa fazer e que há muita mutreta a ser explicada e muita coisa a ser vaiada. Mas olhe os outros. Veja onde você está metido, com quem está fazendo coro, de quem está sendo cúmplice. A companhia do que há de mais preconceituoso e reacionário no país inibe qualquer crítica ao Lula, mesmo as que ele merece.

Enfim: antes de entrar num coro, olhe em volta.

Pois bem: ainda que houvesse motivos para o impeachment de Dilma, eu não deixaria de ficar em casa cozinhando para ir ao protesto (nem sei se terá em Ijuí). Pois como bem alerta LFV, antes de entrar num coro eu olho em volta. E nesse em específico, eu me depararia exatamente com o que há de mais preconceituoso e reacionário no país. E como diz o texto (numa aparente contradição de LFV mas que não entendo como tal), não seria na companhia da direita que eu me manifestaria contra qualquer governo: não é “a minha turma”. Jamais serei cúmplice dessa gente que defende “meritocracia” (seria um sistema justo, sem aspas, se a todos fossem dadas as mesmas condições), fim dos programas sociais, expulsão de imigrantes, pena de morte, redução da maioridade penal, e, o pior de tudo, a tal “intervenção militar” (que jamais será “constitucional”). O que deixa bem claro que tolerância com o diferente não é o forte dessa gente.


O negócio, então, é zoar no dia de hoje. E já que a “moda” é protestar “contra a corrupção” vestindo a camisa da Seleção (com o escudo da super-correta e nada corrupta CBF), agora vai ter 7 gols da Alemanha (pois essa gente merece muito os 7 a 1). Se reclamar, vai ter 14. Se reclamar de novo, vai ter 28!

Criança em tempos de eleição

Mais uma vez chega o dia das crianças e, claro, no Facebook boa parte dos meus contatos trocam a foto de perfil para remeter à infância. Fiz o mesmo com a minha, mas com o adendo de um selinho pedindo voto em Tarso e Dilma no segundo turno (ou seja, faça a vontade do bebê gordo da foto, do contrário ele não te deixa apertar as bochechas dele!).

A combinação entre “lembranças da infância” e “campanha eleitoral” obviamente me faz lembrar as eleições dos tempos em que eu era criança – e nas quais, obviamente, eu não votava. Embora isso não significasse exatamente que eu não tivesse alguma opinião.

A primeira eleição da qual tenho lembranças aconteceu em 15 de novembro de 1988: naquela terça-feira, foram eleitos vereadores e prefeitos municipais. Em Porto Alegre, Olívio Dutra venceu e deu início ao ciclo petista na prefeitura, que duraria 16 anos. Mas o que me marcou mais foi a “eleição” feita na minha turma do Jardim de Infância, no Esquilo Travesso: os coleguinhas pensavam diferente da maioria da população, e votaram majoritariamente em Guilherme Socias Vilella, do PDS; já eu era “brizolista” na época, por causa de minha avó (uma espécie de “retribuição” por ela fazer praticamente todas as minhas vontades, aliás, como as avós sempre costumam fazer), e assim dei meu voto a Carlos Araújo, do PDT – que acabou sendo o único que ele recebeu na turminha. Não recordo se Olívio recebeu algum voto, e se ninguém tiver optado pelo “bigode” eu nem estranharei: meu pai lembra que a escolinha era bastante cara para os padrões de nossa família e, pelo que a lógica indica, com predominância de alunos cujos país eram conservadores (tanto que o “eleito” pela turma foi um candidato da direita e da antiga ARENA, partido que apoiava a ditadura).

O ano de 1989 foi de mudanças. Ingressei na 1ª série do 1º grau, em novo colégio: fui para o Marechal Floriano Peixoto, estadual – como diz o meu pai, para aprender o conteúdo ministrado nas aulas e também para crescer sem ficar “apartado” da realidade brasileira (como, por exemplo, os problemas da educação), o que não aconteceria caso tivesse toda minha formação básica em escolas privadas. Na Europa Oriental o “socialismo real” baseado no modelo da União Soviética ruía, e tal dissolução era simbolizada pela abertura do Muro de Berlim, fato histórico que tive o privilégio de assistir pela televisão, embora sem entender qual era a importância de um (aparentemente) simples muro.

Já no Brasil, tinha eleição presidencial pela primeira vez desde 1960 (e foi também a última em um ano ímpar). Era o primeiro processo eleitoral totalmente regido pela Constituição promulgada no ano anterior, e o primeiro turno aconteceria justamente no dia em que o Brasil celebrava 100 anos da República (proclamada em 15 de novembro de 1889).

Na véspera do primeiro turno, novamente “votei” no colégio. Mas as “urnas” da minha turma no Floriano deram um resultado ideologicamente oposto aos de um ano antes, no Esquilo. Leonel Brizola, um dos dois principais nomes da esquerda naquela eleição (o outro era Lula), recebeu o meu voto e o da maioria dos colegas; se não me engano, só a professora votou em Lula e Fernando Collor não foi votado por ninguém. No dia seguinte, a eleição “para valer” consagrou Brizola no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro (ambos Estados dos quais ele foi governador), mas quem foi para o segundo turno (realizado em 17 de dezembro) foram Lula e Collor. O último foi eleito, mas sem nenhum voto dos colegas: as aulas terminaram cerca de uma semana antes do segundo turno e assim não houve nova “votação” na turma.


Em 29 de setembro de 1992, dia em que a Câmara dos Deputados aprovou a abertura do processo de impeachment de Fernando Collor, novamente a minha turma no Floriano foi consultada, e ninguém votou favoravelmente ao presidente. Definitivamente, Collor não era popular lá no colégio…

Dia de perdas

A política brasileira está de luto com a trágica morte de Eduardo Campos, ex-governador de Pernambuco e candidato à presidência pelo PSB. É uma grande perda, a ser lamentada independente da opção política. (E, numa triste coincidência, Campos faleceu exatos nove anos depois de seu avô Miguel Arraes, que também governou Pernambuco e foi um dos nomes mais importantes da política brasileira no Século XX.)

Hoje o dia também é triste para o jornalismo esportivo. Conforme anunciado três semanas atrás, o site Impedimento deixa de ser atualizado após a final da Libertadores, que será jogada logo mais. Mas é uma perda que vai além do mero jornalismo esportivo: a partir do futebol (e com foco na América do Sul), o Impedimento fala também de cultura, sociedade, política etc. Foi lá que li alguns dos melhores textos sobre os protestos de 2013, por exemplo.

Quem não conhece o Impedimento deve estar achando que os dois parágrafos acima não têm relação alguma, relatam apenas (mais) uma triste coincidência. Mas sim, eles têm a ver um com o outro, conforme explicarei agora.

O Impedimento tem vários fatores que o diferenciam dos principais portais e páginas sobre futebol. Um deles é tratar o esporte por uma ótica que foge do senso comum (algo sobre o qual pretendo escrever mais). Uma das consequências disso é o outro diferencial: os comentários em alto nível (salvo raríssimas excessões), com muitas discordâncias, mas que constituem uma discussão em seu sentido original, de “trocar ideias”; não raramente ela acabava fugindo do tema original (ou seja, o artigo publicado), mas não porque algum “troll” o fazia com esse objetivo e sim por uma “evolução natural”, justamente porque os textos fugiam do senso comum e por conta disso atraiam leitores com características semelhantes. Se toda a internet fosse como o Impedimento, aquela máxima “nunca leia os comentários” não faria sentido.

Mas infelizmente a realidade é outra. A maioria dos comentários em portais de notícias é simplesmente odiosa. Mas isso não se resume aos portais: quem comenta lá tem seus perfis em redes sociais, e neles reproduzem as mesmas “opiniões”. Que, ao contrário dos comentários do Impedimento, exalam muito senso comum. É o caso daquela máxima tão difundida de que “político é tudo igual, nenhum presta” (como se eles “chegassem lá” sozinhos, sem necessitarem de votos). Cria-se uma ojeriza à política que tem como resultado comentários celebrando o falecimento de Eduardo Campos, assim como em 2011 comemoraram o câncer de Lula e torceram pela morte do ex-presidente. E tenho certeza de que a maioria que disse tais sandices sequer tem conhecimento do que ambos fizeram como governantes.

Ah, se toda a internet fosse como o Impedimento…