Tchau, Mubarak!

Charge de Carlos Latuff

Posso dizer mais do que “desde que me conheço por gente o Egito era governado por Hosni Mubarak”. Seu período no poder praticamente se confundia com minha existência: Mubarak tornou-se presidente em 14 de outubro de 1981, um dia antes de eu nascer. O que mostra quanto tempo durou seu governo (e também o quanto estou ficando velho).

É de se celebrar, é claro, a queda de um ditador, fruto de uma grande mobilização popular. Que começou no fim do ano passado, pela Tunísia (derrubando Ben Ali, que estava no poder desde 1987), e agora motiva o povo em vários países árabes a lutar por democracia. Mas é também preciso ficar cauteloso, pois não sabemos se o que virá pela frente serão verdadeiras democracias, ou apenas “mais do mesmo”.

No Egito, desde a derrubada da monarquia em 1952, todos os presidentes foram militares: o líder do golpe que depôs o rei Faruk I era Gamal Abdel Nasser, que governou o país até morrer, em 1970, tornando-se um dos principais nomes do chamado “Movimento dos Não-Alinhados”; Nasser foi sucedido por Anwar Sadat, que aproximou-se de Israel e dos Estados Unidos, e foi assassinado durante uma parada militar em outubro de 1981 por militares que integravam a Jihad Islâmica, descontentes com as negociações com Israel; com a morte de Sadat, quem assumiu o poder foi o vice-presidente, Hosni Mubarak.

E quem sucedeu Mubarak? Uma junta militar…

Resta torcer para que seja cumprida a promessa de que o governo passará às mãos dos civis após as eleições presidenciais previstas para setembro. É preciso que o povo egípcio se mantenha alerta.