A um mundo que acabou

Melhor meme de 2012

21 de dezembro de 2012, 22h

É uma noite de sexta-feira, mas estou em casa defronte ao computador, me divertindo com memes sobre mais um “fim do mundo”. Obviamente é mais um momento de dar risada, visto que passei por vários “fins do mundo” e continuo aqui.

A “culpa” é dos Maias, cujo calendário se encerra hoje. Soube disso no segundo semestre de 2005, quando cursei a disciplina de História da América Pré-colombiana na faculdade, e na hora imaginei que sete anos depois estaríamos nos divertindo com mais um “fim do mundo”, ainda que o término do calendário maia signifique na visão deles o fim de um ciclo e não de tudo.

Dá para pensar: qual ciclo estará se encerrando? O que virá depois será melhor ou pior? Não tenho como saber…

Para além do Facebook, é bom dar uma olhada na caixa de e-mails, volta e meia chega alguma coisa importante ali. E é estranho o que vejo na caixa de entrada: um e-mail cujo remetente sou eu mesmo. Essa porcaria não deveria ter caído na caixa de “spam”?

O título do e-mail é estranho: “2012–2022”. E então percebo o mais bizarro: ele tem como data o dia 21 de dezembro de 2022, ou seja, é como se tivesse vindo “do futuro”.

Vou abrir, mas com cuidando para não clicar em qualquer link estranho.


2012–2022

Como certamente já percebeste, eu/tu mesmo sou/és remetente e destinatário deste e-mail. Sim, é engraçado.

Mas não estamos no mesmo tempo, como pode ser percebido pela corretíssima data no cabeçalho: escrevo e envio esta mensagem na noite de 21 de dezembro de 2022, uma quarta-feira, três dias após a final da Copa do Mundo do Catar — sim, ao contrário do que imaginavas que ia acontecer, a FIFA não mudou a sede da Copa, e sim o período dela, do meio para o final do ano. E, acredita, isso será legal demais. Ainda mais após tudo o que passamos nos tempos recentes — que para ti ainda são “futuro”, e não iniciarão exatamente após o “fim do mundo” que por aí está divertidíssimo, mas não tardarão muito.

Não tenho como contar exatamente o que irá acontecer, pois isso poderia fazer (caso alguém acreditasse no que escrevo, obviamente) com que tudo mudasse e aí sim o espaço-tempo poderia entrar em colapso. Mas posso dar links do que virá, espero que funcionem mesmo antes de serem publicados.

Uma coisa óbvia é que o mundo não acaba aí — tá mais arriscado alguém morrer de rir dos memes do que sendo atingido por um dos “aerolitos” que soterram o Chapolin. Ainda que de vez em quando alguns possam cair na Terra e até causarem estrago, especialmente na Rússia (não por nenhuma preferência por vodca, mas sim por ser apenas o maior país em área territorial).

E se o fim do mundo não for causado por um “aerolito”? É bem mais plausível que o fim não seja “cataclísmico” como retrata (ou “sonha?”) a indústria dos “filmes-catástrofe”, mas sim que aconteça aos poucos, num longo e penoso processo histórico cujo início só seja definido quando temos suficiente distanciamento temporal dele.

O mundo não acaba aí e nem é o 21 de dezembro de 2012 o marco inicial do processo histórico que vivemos em 2022 — trata-se apenas de uma efeméride que recordo pela passagem de uma década. Alguns sinais do que vem pela frente já estão por aí faz vários anos, outros chegarão em pouco tempo, até que as coisas definitivamente sejam tiradas do lugar.

Vários sinais estão na política — de cuja “previsibilidade” daí de 2012 eu sinto muita falta aqui na década que se passou. Aliás, o principal deles me faz lembrar da famosa frase “a bola pune” dita pelo Muricy Ramalho para fazer uma analogia com o que virá. Aprendemos da pior forma possível que tem consequências deixar impune um deputado que merece cassação. Tal qual a bola, o voto pune. Acho que não preciso dizer o nome — tem vários posts no meu/teu blog falando das barbaridades de tal criatura.

Sim, imagino o pensamento aí em 2012: Bolsonaro vai virar presidente? Como isso pode ser possível?

Até acho que dá para tentar evitar sem causar o colapso do espaço-tempo, pelo menos em termos de Brasil. Impossível que as coisas sejam piores caso outro candidato vença a eleição de 2018. O problema é que o Bolsonaro será apenas mais um de uma tendência mundial — sendo que algumas figuras até já estão no poder lá na Europa, e só serão percebidas mais adiante.

É verdade que o Bolsonaro vai perder a reeleição em 2022 (sim, estou feliz agora quando mando essa mensagem), mas o estrago que ele causará… Vai ser uma tarefa dura reconstruir este país, mas quero acreditar que será possível (até agora não recebi nada vindo de 2032). Não toma cicuta ao terminar de ler este e-mail, por favor.

Aliás, vale lembrar que cicuta não cura nenhuma doença, mesmo que comecem a espalhar por aí que sim. Esse será outro grande problema mais adiante: uma galera começará a dizer que a Terra é plana (!!!), mas pior ainda será quem fala o absurdo de que vacina faz mal… Vacina!!! Lembra que falei do fim do mundo poder vir aos poucos e não de uma forma cataclísmica? Pois então, olhamos muito para pedras gigantes no espaço quando o fim pode já estar escondido aqui na Terra. (Dica: aproveita muito o ano de 2019.)

Falei muito de fim do mundo e seus sinais: políticos bosta, coisas escondidas na Terra, e deves estar se perguntando sobre o aquecimento global. Afinal, ele parou? Bom, te digo que com o Bolsonaro na presidência só aumentou a preocupação do mundo com a devastação da Amazônia e suas consequências para o clima mundial, o que já dá uma pista. Aliás, adiantando um fato pessoal: em pouco mais de três anos escaparás de um desastre climático pelo simples fato de mudar de cidade (sim, Porto Alegre não é tua/minha casa pela vida inteira).

Comecei esta mensagem citando a Copa de 2022, mas acredito que aí em 2012 a tua curiosidade (e a de todo mundo) é sobre quem ganha no Brasil em 2014. Não vou contar pelo simples fato de que ninguém vai acreditar mesmo.

E encerro falando de política: para um pouco de chamar o Alckmin de “picolé de chuchu”. É sério. Aqui em 2022 eu nunca critiquei ele.


22 de dezembro de 2012, 9h

Que doideira esse sonho que tive. Ora, e-mail do futuro… HAHAHAHAH!

E olha os papos do maluco se passando por mim no futuro. Bolsonaro presidente do Brasil? Que diarreia mental é essa? E que história é essa de Alckmin? Mais uma enquete sobre novo técnico do Inter?

E ainda dizendo que ninguém acreditará no que vai acontecer na Copa de 2014… Seria algo extraordinário, totalmente impossível, tipo o Brasil perder uma semifinal de 7 a 1? É fácil dizer que “veio do futuro” e não falar nada sobre daqui um ano e meio, né?

E ainda enchendo o e-mail de links. Até parece que sou idiota de clicar neles e encher meu computador de vírus, né? Já basta os resfriados que pego ao longo do ano! Ah, se tivesse vacina para eles…

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Olá, marcianos

Foto1630

Revista Galileu, abril de 1999

Achei a revista acima fazendo uma “limpa” nas minhas coisas, por conta da pintura aqui em casa (como os móveis terão de ser afastados, deixá-los mais leves retirando o que tinham dentro foi necessário). Na hora me chamou a atenção, não só pela capa, como também pelo fato de que eu guardava essa revista havia 15 anos e provavelmente não a tinha lido mais desde que a recebera. Tanto que ela estava guardada junto com várias outras numa pilha abaixo de um gaveteiro no guarda-roupa, praticamente esquecida.

Tento imaginar como reagi à matéria de capa quando recebi a revista. Será que acreditei que em 15 anos o homem estaria chegando a Marte? Terei achado exagerada? É difícil, justamente porque tinha esquecido da existência de tal revista. Mas é certo que, como naquela época ainda faltava muito para 2014, certamente muitas pessoas acreditaram que hoje estaríamos começando a colonização de Marte.

Entender e explicar o passado é algo complicado: em geral, tendemos a enxergar os acontecimentos pretéritos de maneira “contaminada” pela visão de mundo que temos no presente; daí a necessidade de especialistas no assunto – leia-se “historiadores”. Em 14 de julho de 1789, por exemplo, a massa que tomou a Bastilha não tinha ideia de que tal fato marcaria o início do que chamamos “Idade Contemporânea”: tal definição foi dada a posteriori, por historiadores mais distanciados do fato; agora, acreditar que quem ajudou a tomar a Bastilha sabia que aquilo seria tão significativo em termos históricos consiste no pior erro que pode cometer um historiador, o chamado anacronismo (analisar os acontecimentos de uma época por meio de valores pertencentes a outra época).

Se explicar o que já aconteceu é difícil, o que dizer daquilo que jamais ocorreu? O futuro, tempo que virá, é terreno fértil para especulações. Eis, aliás, uma das únicas certezas sobre ele: sempre procuraremos prevê-lo, com base em dados cientificos, vontades ou mero misticismo. Quanto mais tempo faltar para a época que queremos imaginar, maior será o leque de possibilidades. E a maioria esmagadora delas, claro, não se realiza.

O que leva tantas previsões a não se concretizarem é uma espécie de “anacronismo”, só que diferente daquele cometido quanto aos fatos do passado. É que também enxergamos o futuro com nossa visão “contaminada” pelos valores que temos na época que fazemos a previsão.

No final dos anos 80 e início dos 90 eu ainda acreditava que os carros voariam no ano 2000 (obrigado, Jetsons), assim como em 1999 havia quem acreditasse que em 2014 estaríamos mandando foguetes tripulados a Marte. Em 1999 também procurava traçar o “roteiro” de minha vida nos anos que viriam: em 2000 ingressaria na faculdade (que ainda nem sabia qual seria), me formaria ali por 2003 ou 2004; acreditava que por volta de 2006 casaria, e logo depois teria filhos…

Nada disso aconteceu: por enquanto, só usamos o verbo “voar” nos referindo a carros quando seus motoristas correm desesperadamente; e a chegada de seres humanos a Marte atualmente está prevista para 2025 (mas não nos surpreendamos se chegarmos a 2029 – 30 anos após aquela capa da Galileu – sem termos pessoas em Marte). Quanto ao “roteiro” de minha vida que traçava naquela época, um dos raros acertos foi quanto ao ingresso na faculdade em 2000 (num curso que largaria em 2002). E hoje em dia não penso em casar, tampouco em ter filhos.

Houve uma vez uma noite de Ano Novo…

Há 10 anos, o mundo estava em um quase êxtase. Era a chegada do ano 2000. Nada simbolizava tanto o “futuro” quanto este número tão “redondo”.

Mesmo nos anos 80, a ideia que eu tinha do mundo do ano 2000 era de um lugar onde os carros voavam e as pessoas usavam roupas esquisitas, tipo nos desenhos dos Jetsons.

Inclusive lembro de um diálogo com o meu pai no dia do aniversário dele em 1999 (ou seja, 31 de dezembro!). Falávamos sobre o ano 2000, que finalmente chegava, e eu lembrava a visão inspirada nos filmes que eu tinha da data: “Pois é, e os carros não estão voando” (apesar de alguns motoristas doidos tentarem isso até a morte – literalmente).

No dia 31 de dezembro de 1999, a televisão passou o dia mostrando imagens da entrada do ano 2000 em diversas partes do mundo. E, claro, não terminava nunca aquela discussão sobre o final do século XX (e do milênio).

E o “bug do milênio”? Havia todo aquele temor quanto às falhas nos computadores na virada do ano, que levariam o mundo ao caos. Inclusive dizia-se que os sistemas de controle das armas nucleares russas seriam muito defasados, e que a partir da meia-noite de 1º de janeiro de 2000 as ogivas nucleares simplesmente se disparariam, acabando com o mundo. Claro que nada disso aconteceu, pois estamos todos aqui…

Esperei a entrada na Usina do Gasômetro. Chovia em Porto Alegre, senti frio por estar molhado e precisei comprar uma capa de chuva. E não chegava nunca meia-noite: não era culpa da expectativa, e sim, dos “excelentes” shows musicais daquela noite… À meia-noite, aconteceu algo comum na vida de um gremista: um foguetório comemorativo. Era o “futuro” chegando.

————

O “ano do futuro” não foi tão maravilhoso como se esperava. Nem no âmbito pessoal. Já em janeiro, passei no vestibular para Física na UFRGS: eu largaria o curso dois anos depois, mas fiquei feliz, é claro. Só que o primeiro ano foi desastroso: nas poucas cadeiras nas quais fui aprovado, o conceito foi “C”, ou seja, “suficiente para passar”. Mesmo assim, em nenhum momento de 2000 eu pensei em abandonar o curso (em 2001 eu pensaria nisso pela primeira vez, embora brevemente).

Mas o mais incrível de tudo é perceber que o “futuro” já se encontra 10 anos atrás. Quando estivermos entrando em 2020, o que falaremos dos dias de hoje (e também dos de 10 anos atrás, que lá serão “20 anos atrás”)? E, se o assunto é “futuro”, estará o mundo de daqui a 10 anos semelhante ao do filme Soylent Green, que se passa em 2022?

Não basta “torcer para que não esteja”, e sim, é preciso que também façamos a nossa parte, procurando evitar desperdício de comida, água e energia, consumindo somente o realmente necessário, caminhando mais e andando menos de carro (gastar gasolina para andar duas quadras sozinho é o cúmulo – e o motorista engorda e não sabe por quê…). Quem não age assim, que tal começar em 2010?

Afinal, o “futuro perfeito” que eu acreditava ser o ano 2000, além de já ser passado, também é irreal. O futuro – seja bom ou ruim – será consequência de nossos atos hoje.

E se muito do que desejamos parece impossível, a ponto de nos desmotivar… Passo a palavra a Mario Quintana:

Das utopias

Se as coisas são inatingíveis… ora!
Não é motivo para não querê-las…
Que tristes os caminhos, se não fora
A mágica presença das estrelas!

A todos os leitores do Cão Uivador, um grande abraço e FELIZ 2010!