No texto de ontem, falei sobre a “loucura do tempo” em agosto: a temperatura bem acima da média “confundiu” muitas árvores, que começaram a florescer antes da hora. Com destaque para os ipês-roxos, que geralmente ficam floridos em setembro, mas já estão assim agora.
O bacana neste tipo de árvore é demarcar a mudança das estações do ano, mesmo que parcialmente. Várias espécies plantadas em Porto Alegre não perdem as folhas no outono, mas sim no final do inverno, antecedendo o florescimento que anuncia a chegada da primavera – são árvores como os já citados ipês e os jacarandás (cuja floração, que atinge o auge em meados de outubro, chamou tanto a atenção do meu pai que ele escolheu a Rua Pelotas para morar quando eu estava para nascer). Temos também as espécies que perdem as folhas durante o outono, tornando-o a época que considero a melhor para se estar em Porto Alegre.
Só que as árvores tem outra função importantíssima além do paisagismo. Após o florescimento da primavera, no verão elas se enchem de folhas e proporcionam a tão necessária sombra nos dias de sol forte, de modo a evitar queimaduras e mesmo um câncer de pele (antes que falem em protetor solar, lembro que comigo não adianta muito pois eu suo em demasia). Além disso, em ruas bem arborizadas se passa menos calor do que em outras que têm poucas árvores. Ou seja, os diversos “túneis verdes” que a cidade tem fazem com que ela não seja totalmente inóspita naqueles dias de “Forno Alegre” que nos assolam durante o verão.
Porém, ultimamente, há uma estranha tendência em Porto Alegre: a de só se plantar palmeiras nas ruas. Logo que se constrói algum novo empreendimento comercial, em seu entorno são plantadas palmeiras, é claro, como compensação ambiental relativa a árvores removidas nas obras.
Tem gente que é totalmente contra plantar palmeiras por achar que elas “não combinam com Porto Alegre”. Bobagem: algumas avenidas têm como “marcas registradas” as belas palmeiras imperiais em seus canteiros centrais – casos da Getúlio Vargas e da Osvaldo Aranha. Sem contar aquelas que foram plantadas por engano na ponte da João Pessoa sobre o Arroio Dilúvio e, por incrível que pareça, cresceram – não se sabe de outro caso semelhante (na ponte da Getúlio também há duas palmeiras, mas elas são pequenas).
Porém, elas têm um problema sério: praticamente não produzem sombra. Como eu disse, caminhar por uma rua com poucas árvores (ou mesmo nenhuma) durante o verão em Porto Alegre é um verdadeiro suplício; já numa via arborizada, se sofre menos com o calorão… Desde que as árvores diminuam a insolação. O que não acontece com as palmeiras, que embora cresçam mais rápido que outras espécies, não têm copa frondosa como jacarandás, ipês e tipuanas.
Assim, nada pior do que passar a se plantar apenas palmeiras em Porto Alegre. Felizmente ainda restam muitas ruas com árvores que fazem sombra; porém, deveríamos ter mais. Não só para sofrer menos no verão, como também para que a cidade fique mais bonita, com uma arborização diversificada.
Obviamente, isso não impede que também se plantem palmeiras – acho que elas ficam muito bem em canteiros de avenidas, como provam as já citadas Osvaldo Aranha, João Pessoa e Getúlio Vargas. Mas, como eu disse, também, e não apenas. E trocar um jacarandá ou um ipê por uma palmeira como forma de compensação ambiental, não compensa nada.
————
E como falei em jacarandás, não custa nada levar o leitor a uma “visita virtual” à Rua Pelotas, da qual tanto falo quando lembro minha infância (só uma pena que o carro do Google passou por lá em setembro do ano passado, quando deveria ter esperado mais um mês). Aliás, a rua está cada vez menos arborizada: muitas árvores estão doentes e têm caído com uma frequência preocupante, sem contar as que foram cortadas pela SMAM. Foram plantadas outras mudas no lugar (felizmente não são palmeiras!), mas de espécies diferentes; e mesmo que fossem jacarandás, o ideal seria tratar os que já estão lá, visto que levaram muitos anos para atingirem o tamanho atual.
Curtir isso:
Curtir Carregando...