O meu 2022

Pela primeira vez em muito tempo, não publiquei meu tradicional texto de balanço do ano que se encerrava em seu último dia. O principal motivo foi não ter começado a escrevê-lo antes: pretendia fazê-lo na noite de 29 de dezembro, mas o falecimento do Rei Pelé tomou toda a minha atenção; meu pai faz aniversário no último dia do ano e assim a noite anterior foi de churrasco pensando no abraço à meia-noite. E no 31 de dezembro de 2022 simplesmente não parei.

No fim, foi até melhor. Veio o 1º de janeiro de 2023, e enfim a posse de Lula para pôr fim ao pesadelo que foi o (por assim dizer) governo Bolsonaro. O pior presidente que o Brasil já teve fugiu sem se dignar a passar a faixa a seu sucessor; mas de certa forma acabou sendo melhor assim, pois a entrega por parte de representantes do povo brasileiro a Lula foi linda e simbólica do que representa este terceiro mandato dele. Será um imenso desafio reconstruir um país que vinha sendo saqueado desde 2016 (pois tudo isso começou com o golpe contra Dilma naquele ano), e procuro não me iludir com as lembranças da bonança que vivemos nos dois primeiros mandatos de Lula.

O primeiro dia de 2023 foi, de certa forma, o ato final de 2013, visto que o inferno pelo qual passamos começou com a captura das manifestações daquele ano pela direita.


A eleição presidencial foi, sem dúvida alguma, o momento definidor de 2022. Caso Bolsonaro tivesse sido reeleito, provavelmente eu estaria falando de um ano “trágico”, tal qual foi 2018 (que no aspecto pessoal esteve longe de ser ruim, ainda que também de ser dos melhores). Como a maioria do povo (ainda que por estreita margem) optou por Lula, podemos respirar aliviados: o país se livrou de mergulhar numa ditadura que poderia fazer 1964 parecer “brincadeira de criança”.

2022 foi o ano no qual conheci a covid-19 “de perto” – digo, com o vírus no meu corpo. DUAS VEZES: uma em fevereiro e outra em novembro. Felizmente, ambos os casos foram leves e, que eu saiba, não transmiti para ninguém. E pensar que tem gente por aí dizendo que vacina não funciona… Estar imunizado com a terceira dose (em fevereiro) e com a quarta (novembro) certamente fez toda a diferença – ainda mais que felizmente não tenho comorbidades. Em compensação, no final de junho tive um resfriado (doença para a qual infelizmente não existe vacina) que me deu muito mais congestão nasal que as duas vezes que peguei covid SOMADAS.

As vacinas ajudarem a preservar minha saúde é uma das razões pelas quais nada tenho a reclamar de 2022. No aspecto pessoal, aliás, foi um belo ano. Viajei pela primeira vez desde 2019 (em 2020 e 2021 não o fiz por conta da pandemia de covid-19) e também pela segunda: em janeiro fui à Praia do Cassino por poucos dias; em março fui a Curitiba e Florianópolis, retornando a Porto Alegre no começo de abril. Voltei à Arena do Grêmio após afastamento de quase dois anos imposto pela pandemia (poderia ter retornado ainda em 2021 mas esperei até 2022). Já que falei de futebol, o Grêmio voltou aos trancos e barrancos para a Série A mas no último dia do ano anunciou Luis Suárez (ou seja, entra MORDENDO em 2023). Teve Copa do Mundo para fechar o ano “com chave de ouro”, com Messi jogando tudo o que sabe e mais um pouco para ajudar a Argentina a conquistar a taça pela terceira vez, trazendo-a de volta a América do Sul após 20 anos.

O ano de 2022 foi também de aprendizados em termos profissionais, muito por minha opção de mudar de setor no trabalho. Falo tão mal daquela galera “coach” que fala em “sair da zona de conforto”, mas ironicamente fiz isso – no caso, pedi para sair da unidade onde trabalhava desde 2016 – e não me arrependo nem um pouco.

Não acho que 2022 tenha sido o melhor ano da minha vida. Mas foi o melhor desde, pelo menos, 2015, ano que quando acabou considerei como ruim mas hoje em dia percebo como fundamental para o que sou hoje, pessoal e profissionalmente. Até entendo que muita gente tenha achado ruim, pesado, por conta da política, mas se pensarmos no resultado final, dá para dizer que valeu a pena. E para mim, valeu demais.

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A Copa do alívio

Foi o maior intervalo entre duas Copas do Mundo desde os 12 anos que separaram os torneios de 1938 na França do de 1950 no Brasil. Mas naquela ocasião houve uma tal de Segunda Guerra Mundial no meio do caminho. Agora foi apenas o resultado de uma escolha bizarra que levou a Copa para um país no qual faz 50 graus à sombra em junho e julho.

Desta vez foi até um pouquinho (mas BEM pouquinho mesmo) menor do que se previa: era para a Copa do Mundo de 2022 começar amanhã, dia 21, mas por uma bizarrice na tabela a cerimônia de abertura ocorreria após duas partidas já terem sido jogadas — visto que a “inauguração oficial” teria de ser logo antes da estreia do anfitrião Catar — e houve assim a alteração na ordem dos jogos.

Um dia a menos de espera para um dos Mundiais mais aguardados, pelo menos por mim. Não pelos 1589 dias que separam 15 de julho de 2018 deste domingo, 20 de novembro (o intervalo anterior tinha sido de 1432 dias entre 13 de julho de 2014 e 14 de junho de 2018). Tampouco pelo país escolhido para sediá-la, uma monarquia absolutista em pleno Século XXI e que não tem tradição alguma no futebol: o Catar é o primeiro anfitrião que sedia uma Copa sem jamais ter jogado uma anterior desde a Itália em 1934 (que não quis viajar ao Uruguai para a edição inaugural quatro anos antes), e hoje se tornou o primeiro a ser derrotado na estreia — para efeito de comparação, a África do Sul (que provavelmente perderá o posto de único país-sede eliminado na primeira fase) empatou com o México na abertura da Copa de 2010, e só não foi às oitavas-de-final por ter saldo de gols pior que os mexicanos.

Esta é para mim a Copa do Mundo do alívio.

Afinal de contas, temos Copa, e estou vivo para assisti-la. Dois anos e meio atrás, eu tinha minhas sinceras dúvidas.

Logo no início das quarentenas impostas pela pandemia da covid-19, a FIFA liberou em seu canal no YouTube o seu documentário oficial da Copa do Mundo de 2018. Fazia menos de dois anos que tinha soado o apito final da decisão entre França e Croácia em Moscou, faltava muito tempo para a bola rolar no Catar, mas a sucessão de eventos esportivos sendo adiados ou mesmo cancelados me fazia não ter certeza de que poderia curtir uma Copa em 2022. Assisti ao documentário pensando em quanto tempo eu precisaria suportar só relembrando jogos do passado; mais adiante, quando o futebol voltou sem público, os estádios vazios nos quais dava para se ouvir (pela televisão) tudo o que se gritava dentro de campo só faziam aumentar a saudade não só de estar na Arena do Grêmio, como também de abraçar pessoas e confraternizar.

Fora, é óbvio, o medo de contrair a doença e não sobreviver. (Felizmente só fui pegar em fevereiro de 2022, já tendo tomado três doses de vacina que transformaram a covid-19, no meu corpo, em algo mais suave que qualquer resfriado que já tive.)

A Copa do Mundo, finalmente, começou. Ainda sob pandemia, mas numa situação bem melhor que a de dois anos e meio atrás: hoje temos vacinas e sabemos bem mais sobre o vírus que paralisou o mundo em 2020. Podemos não só ver jogos com público nos estádios como também é possível confraternizar com amigos. Nada parecido com os dias horríveis que vivemos na maior parte de 2020 e 2021.

E, se por um lado a escolha do Catar como sede foi bizarra, por outro lado nos proporcionou essa Copa no final do ano: ela termina dia 18 de dezembro e pouco depois, acabam também 2022 e o mandato do pior presidente que o Brasil já teve.

Que alívio!

Bons tempos em que eu escrevia

Julho, mês que costuma representar o auge do inverno no Rio Grande do Sul, terminou com um friozinho que não representa o que ele realmente foi. Não sei de dados estatísticos quanto a isso, mas provavelmente foi o menos frio desde, pelo menos, 2017.

Se faltou cara de inverno justamente no mês que em outros anos foi o auge dele, também é verdade que o frio esteve mais presente do que eu aqui neste espaço. Tanto que fui escrever estas linhas já perto da meia-noite, quando julho já estava virando agosto.

Julho terminou tendo como destaque a quarta dose da vacina da covid-19, que tomei justamente no aniversário da primeira. Como boa “comemoração”, a dose fabricada na Fiocruz tal qual a que começou minha imunização em 7 de julho de 2021 me deu uma reaçãozinha, mas muito leve na comparação com a do ano passado: apenas um pouco de sonolência e dor no corpo que na manhã seguinte nem senti mais.

Algo que julho também não teve foi derrota do Grêmio, tal qual junho. Aliás, desde o começo de maio não sabemos o que é perder: não jogamos um futebol vistoso mas fazemos pontos, que afinal de contas é o que importa na Série B – penso que o fundamental é sair desse inferno.

Não prometo maior frequência de textos em agosto pois já faz oito anos que fracasso retumbantemente todas as vezes que digo “agora vou retomar a frequência de textos”. Pois infelizmente não vejo possibilidade de uma retomada da blogosfera como se tinha no final dos anos 2000 e no começo dos 2010. Sem leitores frequentes como naquela época, a motivação para escrever cai.

Minhas duas palavras sobre a variante ômicron

CALMA, PORRA!


Tudo bem, agora falando sério: nem o biólogo Átila Iamarino, tão chamado de pessimista por muitos (inclusive por mim em alguns momentos lá no começo da pandemia, para que depois eu reconhecesse que na verdade ele estava sendo bem realista), está tomado pelo pânico tal qual boa parte da minha “bolha” nas redes sociais após o descobrimento da nova variante do SARS-CoV-2 na África do Sul, país com baixo percentual de pessoas vacinadas – como, aliás, acontece em todo o continente africano, o que só ressalta a urgência de uma distribuição mais equânime das vacinas. (Na Europa há doses em excesso e perdendo a validade por culpa da BURRICE antivax.)

A ômicron deve ser fruto de preocupação sim, pela quantidade de mutações. Mas até agora não se tem nenhuma informação de que escape da imunidade vacinal. E mesmo que os piores temores se confirmassem, não retornaríamos à estaca zero pois seria apenas o caso de adaptar as vacinas existentes (como se faz anualmente para a gripe), ainda que isso levasse um certo tempo. Em novembro de 2021, definitivamente, não estamos no mesmo “mato sem cachorro” que em março de 2020, quando pouco se sabia sobre o vírus e não tínhamos ideia de quando haveria uma vacina disponível.

Li anteontem uma excelente analogia no Twitter que para mim diz tudo sobre o momento atual da pandemia.

Devemos ter medo da nova variante? Sim. Aliás, como temos (ou deveríamos ter) da covid-19 desde que começou a se espalhar pelo mundo. Afinal de contas, sabemos o que de ruim pode acontecer e o que deve ser feito para que não ocorra: usar máscaras de qualidade (preferencialmente PFF2), evitar aglomerações, dar preferência a ambientes ao ar livre ou bem ventilados etc, e principalmente TOMAR VACINA. Da mesma forma que ao atravessar uma avenida movimentada é importante olhar para os dois lados e fazer a travessia em uma faixa de segurança (preferencialmente com semáforo) para evitar um atropelamento.

Não é o momento de medidas irresponsáveis como flexibilizar o uso de máscaras e liberar festejos de Ano Novo e blocos de Carnaval. Mas também não faz o menor sentido voltar para aquele pânico que se viveu em março de 2020, quando o pessoal comprava todo o estoque de papel higiênico dos supermercados (devem ter pacotes fechados até hoje) e ao chegar em casa lavava todas as embalagens – quando bastaria simplesmente guardar as compras e lavar as mãos, pois a covid-19 se transmite principalmente pelo ar, sendo extremamente baixa a chance de contaminação por superfícies. (É preciso parar de ter medo do pacote de arroz por causa do vírus para temê-lo pelo que realmente importa no Brasil de Bolsonaro, o PREÇO.)

Já sabemos o que salva: vacina, máscara, ventilação e não aglomerar.

CALMA, PORRA!

630 dias depois

Hoje à tarde, sentei em uma mesa de bar e pedi uma cerveja pela primeira vez desde 28 de dezembro de 2019. A data é essa mesma: confirmei na minha linha do tempo do Google Maps – e pensar que tem gente doida achando que a vacina é que tem chip para nos rastrear…

Naquele sábado, fazia um calor infernal em Porto Alegre e decidi dar uma volta no final da tarde apesar da alta temperatura, para não passar o dia inteiro dentro de casa com ar condicionado ligado e luzes acesas. Foi um momento em que começou a bater um ventinho que reduzia a sensação de sufoco.

A covid-19 já existia mas ainda nem tinha sido divulgado o surto na China. O ano de 2020 me parecia bastante promissor… Mal sabia o que estava por vir.

Poucos dias após aquele sábado uma frente fria aliviou o calorão, mas não voltei mais a uma mesa de bar pois a maior parte dos amigos estava em férias. A vida social no começo de 2020 se daria nos encontros familiares e nos jogos do Grêmio – e na Arena tive o que considero como marco inicial do horrível distanciamento social, pois após o Gre-Nal da Libertadores passei a maioria esmagadora do tempo sozinho em casa, sem abraçar pessoas e sem perspectiva de sair.

Nos últimos meses passei bem menos tempo em casa, mas ainda me restringindo muito. Hoje já não vejo razão para passar um dia como este sábado trancado dentro de um apartamento pequeno e sem sacada, quando é possível sair tomando cuidados: é só usar máscara e evitar aglomerações. Pegar um sol e arejar a cabeça trazem benefícios à saúde mental – o que é bem diferente de ir para uma festa lotada.

Quando vi um bar com mesas ao ar livre e sem aglomeração, não pensei duas vezes e resolvi parar nele, sentar e pedir uma cerveja. E era exatamente o mesmo bar no qual estive naquele tórrido sábado do final de 2019.

A saudade de algo tão corriqueiro até um ano e meio atrás como tomar uma cerveja em uma mesa de bar era tão grande, que acabei pedindo outra e também um petisco. Fiquei mais tempo do que imaginava, e valeu muito a pena.

Graças à vacinação, aos poucos vamos saindo do longo túnel pandêmico e vendo novamente a luz do sol. Celebrando a sobrevivência a um (por assim dizer) governo que quer matar o máximo possível de pessoas.

Comemoremos, mas jamais esqueçamos o culpado por quase 600 mil ausências depois de tudo isso. Ano que vem ele estará pedindo votos com a canalhice que lhe é de praxe, como se nada de ruim tivesse acontecido.

O dia mais esperado das últimas 79 semanas

Em 12 de março de 2020, uma quinta-feira, fui à Arena do Grêmio pela última vez, assistir ao Gre-Nal da Libertadores. Já sabendo que depois ficaria um tempo sem poder ir ao estádio devido à proliferação do coronavírus causador da covid-19.

Não achei que seria só 15 dias (como diz um meme que circulou recentemente), mas jamais imaginei que ficaria mais de um ano e meio sem pisar na Arena. Já são exatas 79 semanas – faltando uma, portanto, para completar 80, que é um meme na minha turma de amigos de estádio (e o personagem sou eu).

No dia em que completo 79 semanas sem ir a um jogo do Grêmio, finalmente tomei minha segunda dose da vacina contra a covid-19. Ainda é preciso tomar cuidados, a pandemia não está perto de acabar, mas já é possível ver uma luz no fim do túnel.

Tenho esperanças de poder voltar ao estádio ainda em 2021. De poder ir a um bar tomar uma cerveja com amigos no próximo verão. De poder abraçar pessoas sem medo após um ano e meio dessa desgraça.

E, ao mesmo tempo, não esquecerei e farei o máximo possível para que não se esqueça o motivo pelo qual nosso martírio pandêmico durou tanto tempo – inclusive isso foi uma das minhas maiores motivações para me cuidar bastante e ficar vivo. O Brasil sempre foi exemplo mundial em vacinação, era para o mundo estar olhando para nós com admiração e inveja: enquanto em países como os Estados Unidos há doses perdendo a validade pois boa parte da população dá ouvido a BANDIDOS (é isso que são os “antivax”), no Brasil a imunização só não é maior pois o (des)governo federal queria matar o máximo possível de pessoas e atrasou a compra de vacinas.

O motivo pelo qual perdemos tantas pessoas queridas e passamos tanto tempo com medo de morrer de uma doença (inclusive quando já existia vacina contra ela): Jair Messias Bolsonaro. Que jamais haja perdão para ele e todas as pessoas que participaram ativamente do genocídio brasileiro de 2020-2021.

Para julho não passar batido

Desde que voltei a atualizar o blog com maior frequência, ano passado, poucas vezes passei tanto tempo sem um texto novo. E não foi por falta de motivos: meu velho computador, comprado em 2014, deu problema mais uma vez. Acabei fazendo meu bolso sofrer comprando um novo, mais atualizado, mas manterei o antigo como reserva.

Assim o mês de julho passou praticamente inteirinho sem um texto sequer. Acabei não escrevendo sobre minha METAMORFOSE (de humano para jacaré): tomei a tão desejada primeira dose da vacina contra a covid-19 no dia 7, uma quarta-feira. No mesmo dia começou a famosa reação da AstraZeneca com calafrios (debaixo de muitas cobertas) e uma febrezinha que passou (para não mais voltar) após tomar um remédio; na quinta-feira acordei como se tivesse ido à academia na madrugada, com muitas dores pelo corpo e também com a cabeça doendo, mas ao final dela já não sentia nada além da dor no braço da injeção – esta sim foi a maior marca, persistiu até o domingo. (Para efeito de comparação, dia 22 tomei a vacina contra a gripe e o braço doeu bem menos e por menos tempo.)

Também não falei do frio, que veio com força no final de junho. É bem verdade que já não gosto tanto de inverno como antigamente (em especial da parte de ficar encarangado dentro de casa, sofri com isso naqueles dias gelados de um mês atrás), mas continuo me irritando com “posts lacradores” de rede social associando o frio com mortes e “apontando o dedo” para quem curte essa época do ano e não gosta de verão (sigo detestando o “Forno Alegre”). É muito fácil culpar o clima e esquecer da desigualdade social que, QUEM DIRIA, faz os mais pobres sofrerem em qualquer época do ano. Afinal, também é preciso dinheiro para ir à praia e assim fugir do inferno no qual a cidade se transforma nos dias mais quentes. Se eu, que estou longe de passar necessidade, opto por permanecer em casa no ar condicionado pois viajar ao litoral faria um rombo nas minhas finanças, imaginem quem mora num casebre e precisa se contentar com no máximo um ventilador ou quem vive nas ruas e tem de mendigar para conseguir um pouco de água para matar a sede.

Teve Eurocopa e agora está rolando Olimpíada em Tóquio, e pela primeira vez sinto falta de ter TV por assinatura, que cortei há dois anos. Afinal, passei a depender da Globo ter vontade de transmitir os eventos. Na Olimpíada é só esperar acabar a novela (é tudo de madrugada mesmo), mas não consegui assistir a várias partidas da Euro por falta de televisionamento. Apesar disso, não cogito voltar a assinar um pacote: é muito dinheiro para ter uma imensidão de canais dos quais assistia apenas a meia dúzia (no caso, os esportivos). Quando permitirem que eu monte meu próprio pacote (e sem limite mínimo), aí posso pensar no assunto.

Teve Cepa Cova Copa América no Brasil também. Só assisti ao segundo tempo de uma das semifinais (Argentina x Colômbia) e à final. Não me senti nem um pouco menos brasileiro por ficar feliz com a vitória argentina (e de Messi). Um desfecho merecido para uma competição que nem deveria ter acontecido (teve outra Copa América em 2019, por aqui também) e só foi realizada porque nosso governo genocida topou fazer para salvar a Conmebol do prejuízo que representaria o cancelamento do torneio (Argentina e Colômbia sediariam, mas abriam mão). A Seleção Brasileira ensaiou um protesto e se falou na possibilidade de boicote, o que certamente a reaproximaria do povo do qual tanto se distanciou (só manda partidas das Eliminatórias no Brasil por obrigação, se dependesse da CBF os jogos seriam em Londres ou Miami). No fim o que teve foi um manifesto mixuruca como as notas de repúdio contra Bolsonaro (AS INSTITUIÇÕES ESTÃO FUNCIONANDO, TALQUEI?) e os jogos aconteceram “normalmente” – sem público, em contraste com os cantos de torcida que se ouviam na Eurocopa.

O Brasil para o qual eu torço é o que disputa medalhas em Tóquio, a despeito da falta de incentivos e investimentos. Cada pódio me deixa feliz e orgulhoso, mas também com a sensação de que poderiam ser bem mais. Potencial é o que não falta neste país.

Noite 972

A sexta-feira que acabou há pouco mais de uma hora, 25 de junho de 2021, foi o 971º dia após a eleição de Jair Bolsonaro para a presidência do Brasil. Ou seja, logo mais (depois de tomar umas cervejas que o dia MERECEU) irei dormir pela 972ª vez desde aquele trágico 28 de outubro de 2018, quando esse SER REPULSIVO ganhou a eleição.

Será a 972ª noite em que deitarei a cabeça no travesseiro sem peso algum na consciência. Pois naquele segundo turno eleitoral eu simplesmente fiz o que era certo: votei em Fernando Haddad, adversário de Bolsonaro, para presidente.

Se a alternativa a Bolsonaro fosse Ciro, teria meu voto sem pestanejar. Fosse Marina, idem. Podia também ser Alckmin, não teria vergonha alguma de votar no PSDB (partido contra o qual muita campanha fiz) para derrotar o fascismo.

Tem gente que votou em Bolsonaro e se arrependeu, acho ótimo. Mas tento me colocar no lugar dessas pessoas: deve ser muito ruim carregar a culpa de ter dado um voto que resultou em mais de meio milhão de mortes.

Provavelmente acreditando que estava elegendo um “honesto” ao invés da “corrupção do PT”. Para perceber, 971 dias depois, que sufragou uma corrupção muito pior.

Não quero ficar apontando o dedo – até porque o resultado disso costuma ser o contrário do esperado. Mas torço para que, sinceramente, a lição tenha sido aprendida. Se não, então nunca mais será.

Um luto incompleto

Sábado, fez um ano do falecimento de minha avó Luciana. Passou muito rápido.

Em tempos normais, eu teria passado pelos famosos “estágios do luto”, e um ano depois lembraria com saudades mas sem a estranha sensação de “não ter caído a ficha”. Fruto da pandemia.

A última vez que vi a Vó com vida foi em 14 de março de 2020. Logo depois a geriatria onde ela residia proibiu visitas devido ao temor causado pela covid-19, e passei a vê-la apenas por chamadas de vídeo do WhatsApp – mas ela se atrapalhava toda, estranhava que eu estivesse em uma tela e não lá. O que ela mais fazia era me perguntar quando eu iria novamente visitá-la, sempre respondia “assim que passar essa gripe” (bem longe de concordar com o discurso negacionista e genocida do presidente, é que a cabeça dela não estava bem o suficiente para entender que a pandemia em curso não era de uma gripe), mas temendo que ou ela não chegasse viva ao “pós-pandemia” (aliás, até agora ninguém chegou), ou demorasse tanto tempo que quando fosse possível retomar as visitas ela não reconhecesse mais ninguém.

Daí veio aquela chuvosa sexta-feira, 5 de junho de 2020. Ela acordou muito mal do estômago, e com a saúde tão fragilizada qualquer coisinha poderia ser suficiente para levá-la ao óbito. E foi o que aconteceu no final da tarde daquele dia.

Por conta da pandemia, no dia seguinte o velório teve restrição de pessoas. E embora não houvesse proibição expressa, também transcorreu sem os calorosos e demorados abraços que normalmente ocorrem em tais momentos.

Em tempos normais, eu teria de me acostumar a uma nova rotina, que não incluiria as visitas regulares à Vó na geriatria – geralmente aos sábados, e não deixa de ser uma triste ironia que eu tenha me despedido dela justamente em um sábado. Mas o que aconteceu foi, simplesmente, que voltei para casa, onde passava a maior parte do tempo desde a metade de março. E com isso não tive essa mudança.

Quando será? Não tenho ideia. Pela previsão do governo do Estado, minha faixa etária tomará a primeira dose da vacina em agosto, mas isso ainda não significará o retorno à normalidade. Talvez “caia a ficha” quando a geriatria permitir visitas novamente (meu tio-avô, irmão dela, continua lá): será significativo não encontrá-la no local que para mim desde 2017 é associado a ela.

Ou quando o Natal chegar – se tudo der certo, com a família inteira vacinada, permitindo a tradicional celebração. Que terá uma pessoa a menos…

Desgoverno maldito

As vidas que não acabam por culpa de Jair Bolsonaro, são paralisadas. Sem previsão de retorno.

Para ter uma noção do tempo que passou (visto que desde o começo da pandemia minha percepção temporal ficou meio distorcida), costumo fazer uma “continha” na calculadora do Windows que também permite fazer os cálculos com datas. Pego o dia que considero “marco inicial” desse tormento (12 de março de 2020, quando fui à Arena pela última vez), vejo quanto tempo se passou desde então, e depois faço a conta “para trás”.

Hoje faz 440 dias que minha vida parou. Na calculadora, subtraí o mesmo período de tempo do dia daquele Gre-Nal e o resultado foi 28 de dezembro de 2018.

Isso mesmo: o começo dessa merda já está temporalmente mais próximo do dia no qual o EXCREMENTÍSSIMO presidente tomou posse (no caso, 1º de janeiro de 2019) do que de hoje.

E o mais inacreditável é saber que ainda vai levar muito tempo para acabar quando não precisava ser assim, pois o presidente NÃO QUIS COMPRAR VACINAS CEDO.

Que raiva INTERMINÁVEL que sinto. (E ainda “reclamo de barriga cheia”, pois pelo menos estou vivo.)


Inverno chegando, previsão de um friozão no próximo final de semana. Perfeito para chamar a “crush” para tomar um vinho aqui em casa… Mas AINDA não dá, pois a BOSTA DE RATO DESARRANJADO não comprou vacinas cedo. E nem digo que “fica para 2022”, pois ano passado não achava que quase na metade de 2021 continuaríamos nessa merda.

Quem sabe em 2023. Quem sabe…