Perdendo datas redondas e poder de compra

Se em 2 de novembro eu não esqueci de postar uma referência aos 10 mil dias do início da Copa do Mundo de 1994 (evento futebolístico máximo para boa parte da minha geração afora conquistas de clubes), um mês depois acabei passando batido. Mas por um bom motivo: estava na antevéspera de me mudar e assim rasgava boletos vencidos há tempos. Por isso não lembrei de vir aqui falar dos 10 mil dias de quando o Galvão gritou “É TETRAAAAA” abraçado ao Pelé, com o complemento de que a Seleção quebrava um jejum que já tinha 24 anos. (Detalhe: 17 de julho de 1994 está distante de nós mais de 27 anos, ou seja, mais perto da magia de 1970 do que dos dias atuais; e lá se vão quase 20 que não celebramos um Mundial vencido pelo Brasil.)

Dentre os boletos que eu rasguei enlouquecidamente no dia em que deveria ficar lamentando os DEZ MIL DIAS DE SAUDADES da Copa com a qual ainda sonho de vez em quando, estavam faturas do cartão de crédito pagas em 2014. Sim, antes de minha mudança para Ijuí (2015), e mesmo de outro Mundial inesquecível – apesar dos tristemente famosos 7 a 1.

O fato de ter toda essa papelada inútil guardada sem necessidade (por que guardar boletos pagos há SETE anos?) me deixou menos impressionado do que os valores. Incrível como as coisas eram BARATAS em 2014.

Nas faturas do cartão de crédito, por exemplo, identifiquei as vezes em que fui assistir a jogos do Grêmio em uma lanchonete (fechada há um bom tempo) na frente de casa. Lembro bem que costumava pedir um xis ou um cachorro quente, e (pelo menos) uma cerveja de garrafa (600 ml). A maioria das vezes em que identifiquei pagamentos com o cartão no local, a despesa era de menos de 20 reais.

MENOS DE 20 REAIS.

Hoje em dia só a cerveja sai por pelo menos 14 reais. E só um xis, nunca mais comi por menos de 20.


Nosso poder de compra caiu absurdamente nos últimos sete anos. Lembro de quando me mudei para Ijuí e fui procurar apartamento para alugar: a maior dificuldade foi ESCOLHER um dentre as opções boas e baratas que tinha (interior costuma ser mais barato que capital); no final estava entre dois imóveis excelentes, ambos com dois quartos, e fiquei com um que tinha sacada (que saudades).

Hoje em dia, com o meu salário, eu nem chegaria perto de poder ir morar num apartamento como aquele escolhido no início de 2015. Tanto em Porto Alegre como em Ijuí.

Ficaram mais caros aluguel, condomínio, gasolina, pão, arroz, feijão, carne, cerveja etc. E os salários, quando não ficaram estacionados no mesmo lugar, não subiram no mesmo ritmo. Só caíram a Dilma (por um motivo que definitivamente não se justifica, ainda mais diante do horror atual) nosso poder de compra e a imagem do Brasil perante o resto do mundo.

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Datas ainda mais redondas

Duas semanas atrás escrevi, com certo atraso, sobre duas efemérides: meus 40 anos e os 10 anos da minha “fake news” preferida.

Agora, sem atraso, falo de uma data ainda mais “redonda”, com QUATRO zeros.

Hoje, 2 de novembro de 2021, faz 10.000 (DEZ MIL) dias que começou o MAIOR EVENTO DA HISTÓRIA DO UNIVERSO. Óbvio que falo dela, a COPA DO MUNDO DE 1994.

Pois é, não basta fazer 40 anos, agora lembrarei de dias com os quais ainda SONHO com essa SOMBRA DOS QUATRO ZEROS.

Lembro de quando se falava sobre a Seleção de 1994 jogar “feio” (e não sem alguma razão) apesar de ganhar. Além de lembrarem do time de 1982, também sobravam menções a 1970, quando o Brasil ganhou e jogou bonito.

Aquele “tiozão saudosista” lá de 1994, em 2021… Sou eu!

O 1950 de cada um de nós

Certamente, a criatura mais injustiçada na história do futebol brasileiro. Era um goleiro magistral. Fazia milagres, desviando de mão trocada bolas envenenadas. O gol de Ghiggia, na final da Copa de 50, caiu-lhe como uma maldição. E quanto mais vejo o lance, mais o absolvo. Aquele jogo o Brasil perdeu na véspera.

(Armando Nogueira)

Em 1988, Ana Luiza Azevedo e Jorge Furtado dirigiram o curta “Barbosa”. O filme, de 13 minutos, conta a história ficcional de um menino que estava entre os 200 mil presentes ao Maracanã em 16 de julho de 1950, dia da partida entre Brasil e Uruguai que decidiria o vencedor da Copa do Mundo. Ele acreditava que todos os sonhos dele eram possíveis, e tais sonhos (dele e de um país inteiro) se materializavam na Copa, que seria conquistada pela Seleção Brasileira caso empatasse o jogo que muitos consideravam “mera formalidade”. Mas a glória não veio e ele sofreu por 38 anos, até que conseguiu construir uma máquina do tempo e decidiu voltar àquele dia para tentar impedir a derrota, de modo a mudar o destino do goleiro Moacir Barbosa – e o seu próprio.

Aquela Copa do Mundo significava bem mais para o Brasil do que um simples campeonato de futebol. Era preciso mostrar ao mundo que não éramos mais um país atrasado, que já podíamos estar no seleto grupo das “nações civilizadas”. Daí a construção do Maracanã, que por muito tempo foi o estádio com maior capacidade de público do mundo. Até hoje o número de espectadores na decisão de 1950 não foi superado – e talvez jamais seja.

Porém, o momento em que o Brasil se afirmaria como “grande nação” acabou por se transformar numa tragédia, devido à vitória uruguaia por 2 a 1, de virada, aumentando o que Nelson Rodrigues chamava “complexo de vira-latas”: na hora decisiva, o Brasil enquanto povo “tremeria” diante dos estrangeiros, sendo a Seleção Brasileira mero reflexo disso. Contribuiu para a difusão de tal ideia as afirmações de que Bigode teria “se acovardado” depois de supostamente ter sido agredido pelo capitão uruguaio Obdulio Varela – fato negado por muitos dos jogadores brasileiros que participaram daquela partida. O tal “complexo de vira-latas” seria, em tese, superado a partir de 1958, quando a Seleção Brasileira conquistou sua primeira Copa do Mundo, na Suécia – e depois ainda ganharia mais quatro vezes, fazendo do Brasil o maior dos campeões mundiais, com cinco títulos.

Em tese, apenas. Pois quando as seleções de Brasil e Uruguai se enfrentam, voltam as lembranças de 1950. Para os uruguaios, gloriosas – tanto que, quando o jogo é no lendário Estádio Centenário de Montevidéu, a torcida sempre leva uma enorme bandeira na cor celeste, com apenas uma inscrição: “1950”. Para terem uma ideia: quando estive em Montevidéu pela primeira vez, em agosto de 1998, os uruguaios me tocaram flauta por aquela Copa.

Já os brasileiros lembram uma derrota que jamais foi superada*, mesmo depois de tantas vitórias. Lembro bem daquele 19 de setembro de 1993, quando Brasil e Uruguai se enfrentaram no Maracanã, pela última rodada das eliminatórias sul-americanas para a Copa do Mundo dos Estados Unidos. A principal manchete esportiva do Correio do Povo naquele domingo era: “1950, o ano que não terminou”. Tudo parecia pronto para uma tragédia semelhante à que ocorrera 43 anos antes, e na qual eu poderia encarnar o menino do filme “Barbosa”, apenas com a diferença de que veria pela televisão: eu tinha 11 anos de idade, e o Brasil precisava apenas empatar (sim, naquela época eu torcia pela Seleção). Uma derrota daria a vaga ao Uruguai, e pela primeira vez o Brasil ficaria fora de uma Copa. Felizmente, não aconteceu: 2 a 0 para o Brasil, dois gols de Romário que, no Mundial, foi fundamental para a conquista brasileira.

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O desfecho do filme “Barbosa” acabou por ser tão trágico para aquele homem de “agora” 49 anos (uso aspas pois o personagem vivia em 1988) quanto fora para ele próprio quando tinha 11 anos. Afinal, ele tentou fazer o que todos, certamente, já desejaram alguma vez: voltar no tempo e mudar a história. Pois todos temos uma espécie de “1950 pessoal”: um acontecimento traumático que deixou feridas que parecem nunca cicatrizar. Pode ser a perda de uma pessoas querida, problemas profissionais, uma desilusão amorosa etc. São coisas nas quais, assim como Barbosa em relação àquele chute de Ghiggia, “pensamos um milhão de vezes”: como poderíamos ter evitado que acontecesse, o que teria sido de nós caso aquele evento não tivesse ocorrido…

Quando as lembranças nos atormentam, a ideia de voltar no tempo para “consertá-las” é por demais tentadora. Pois temos a tendência de idealizar um passado que não aconteceu, acreditando que as coisas teriam sido melhores caso ele – e não o passado real – tivesse ocorrido.

Porém, nunca pensamos que tudo poderia ter sido bem pior, como mostra uma crônica de Luis Fernando Verissimo. Perdemos tempo demais nos lamentando pelo que poderíamos ter sido, esquecemos do que somos (com defeitos e qualidades), e principalmente, do que poderemos ser.

Obviamente não acho que a vida de Barbosa após 1950 teria sido pior caso ele tivesse conseguido defender aquele chute. De fato, ele caiu em desgraça justamente por conta daquele gol, mesmo que tenha sido um grande goleiro. Mas ao mesmo tempo, é impossível dizer que sua carreira seria apenas de glórias caso tivesse se consagrado como o goleiro campeão mundial naquele domingo. E o mesmo vale para o que aconteceria com a Seleção (e o próprio Brasil) caso tivesse ganho a Copa, assim como para todos os que ficam especulando sobre os caminhos que poderiam ter seguido, não necessariamente melhores.

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Barbosa faleceu em 7 de abril de 2000 na cidade de Praia Grande (SP), onde vivia só, aos 79 anos de idade. Em seus últimos anos de vida, o ex-goleiro recebeu uma pensão do Vasco, clube no qual mais se destacou, de modo a diminuir seus problemas financeiros. Faltavam pouco mais de três meses para os 50 anos do Maracanazo (como ficou conhecida aquela derrota brasileira) e da condenação de Barbosa por um crime que não cometeu.

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* Na já citada ida ao Uruguai em 1998, disputei uma partida de futebol: era mais uma boa maneira de integrar brasileiros e uruguaios, visto que se tratava de uma viagem de intercâmbio escolar (um mês depois, foram os orientales que vieram a Porto Alegre). Fomos escolher os times e decidimos facilitar: brasileiros de um lado, uruguaios do outro. E passou pela minha cabeça um pensamento: “hora de dar o troco por 1950”. Porém, não falei nada, pois tinha a intenção de que o jogo fosse limpo. Resultado: tomamos olé, envergonhamos o Brasil…

Definitivamente, estou ficando velho

Lembram do dia 17 de julho de 1994? Pois é, hoje fez 18 anos

Brasil x Itália, final da Copa do Mundo de 1994. A Seleção voltava a decidir um Mundial depois de 24 anos (a última final fora em 1970, coincidentemente, também contra a Itália). Nas ruas de Porto Alegre (e certamente de todo o país) se vivia um clima de absoluta empolgação, visto que muitos jamais tinham visto o Brasil chegar à decisão. Meu pai, então com 42 anos, era mais “cauteloso” e alertava sobre a festa antecipada, imaginando o clima “de velório” que tomaria conta do país caso a Seleção perdesse.

Foi um jogo “morno”, sem graça, como comprovei no verão de 1995: em casa, de férias, decidi assistir à gravação da partida e quase dormi… Ficamos tensos naquele 17 de julho só porque era o Brasil em campo (naquela época eu ainda conseguia torcer pela Seleção).

Obviamente os italianos, fanáticos por futebol como os brasileiros, também sofreram muito naquela tarde; e foi até mais, por terem perdido. Assim, o vídeo que posto aqui é da televisão italiana – mas reparem o quão “calmo” é o narrador, principalmente na hora que Roberto Baggio chuta o último pênalti para fora. Um belo contraste com os gritos enlouquecidos de Galvão Bueno, que aqui no Brasil já assistimos incontáveis vezes nos últimos 18 anos.

E eu lembro disso como se tivesse sido ontem. Tinha apenas 12 anos de idade, agora tenho 30… Definitivamente, estou ficando velho em uma velocidade absurda!

O dia em que percebo o quanto estou velho

17 de junho. Hoje o Brasil celebra os 50 anos do bicampeonato mundial conquistado no Chile. Desde então, nunca mais uma seleção ganhou duas Copas seguidas.

Hoje também é o 40º aniversário do famoso jogo da Seleção Brasileira contra uma “Seleção Gaúcha” (na verdade, um combinado Gre-Nal), em “desagravo” a Everaldo. Já era para ter um texto aqui sobre a partida, mas me atrapalhei demais e ficou para amanhã.

Mas este 17 de junho também mostra o quanto estou velho, por outros dois fatos importantes – e também relacionados a futebol – que são lembrados hoje.

O primeiro deles é que hoje faz 20 anos que o São Paulo ganhou a Libertadores pela primeira vez. Mesmo sendo gremista, não posso negar que dava gosto ver aquele São Paulo de 1992/93, timaço que marcou época como um dos melhores times que já vi jogar. Foi o esquadrão que dominou o futebol brasileiro antes do início dos duelos entre Grêmio e Palmeiras.

Já o segundo, é algo que já falei alguns meses atrás. Hoje faz 18 anos que começou a Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos. Quem nasceu naquele dia do qual me lembro tão bem, acaba de atingir a maioridade.

Em questão de semanas, será a vez de Mattheus, filho de Bebeto, comemorar sua chegada à maioridade…

Maioridade

Há algumas semanas, o Vicente Fonseca fez um comentário no Facebook que demonstra bem o quanto é interessante essa história de “ficar velho”. Ele chamou a atenção para o fato de que pessoas nascidas em 1994 completam 18 anos em 2012.

Tá, até aí, nada mais natural, pura “questão de matemática”. Os números podem ser “frios”; porém, o fato é que ele lembra bem daquele ano de 1994 – e eu também.

Alguém poderá dizer que lembramos com facilidade porque 1994 foi realmente um ano marcante: Copa do Mundo, morte de Ayrton Senna, Plano Real, rebelião do Presídio Central, neve granular em Porto Alegre, Grêmio bi da Copa do Brasil… Bastante coisa para 365 dias. Porém, 1989 também foi um ano histórico (massacre da Praça da Paz Celestial, primeiras eleições presidenciais no Brasil depois de 29 anos, queda dos regimes autoritários ditos “socialistas” na Europa Oriental etc.), mas não teve para mim o mesmo significado: lembro “em primeira mão” (ou seja, sem ser graças ao conhecimento adquirido posteriormente) apenas de que foi o ano em que entrei no Floriano, de ter torcido para o Brizola no primeiro turno e para o Lula no segundo, e de ter ganho um Pense Bem no Natal.

Já de 1994, lembro bem de todos aqueles fatos que citei. Além de acontecimentos mais pessoais como, por exemplo, a apendicite que me mandou para uma sala de cirurgia no mês de abril.

Agora, como entender que gente nascida naquele ano, que não lembra nada da Copa do Mundo mais marcante para nossa geração (a dos nascidos nos anos 80), que não conheceu inflação de verdade (quando os preços subiam todos os dias), agora esteja em idade de prestar vestibular, tirar carteira de motorista, ser obrigada a votar e se alistar no Exército? (Lembram do filho do Bebeto, que ele “embalou” após marcar aquele gol contra a Holanda? Pois é…)

Pois é, tudo que aconteceu em 1994 completa 18 anos em 2012. Passou-se o mesmo tempo que o compreendido entre 1981 e 1999 – com a diferença de que em 1999 (quando completei 18 anos) eu não lembrava de absolutamente nada acontecido em 1981 sem precisar me “socorrer” de memórias alheias e livros de História.

Das maluquices da FGF

Em 1994, pela última vez o Campeonato Gaúcho foi disputado no sistema de pontos corridos, em turno e returno. Bem que podia voltar a ser assim, né? Deve ter sido um campeonato bacana.

O pior é que não foi. Pois o Gauchão de 1994 foi o mais longo (e pior) de todos os tempos, e por isso recebeu da imprensa a justíssima alcunha de “O Interminável”. Começou no dia 5 de março, e foi acabar só em 17 de dezembro. Foi um festival de absurdos: 23 participantes, 506 jogos, com Copa do Mundo e Brasileirão em andamento…

Por conta do Gauchão ocorrer em meio a tantas competições, o Grêmio não teve alternativa que não fosse simplesmente deixar o estadual em enésimo plano. Afinal, ganhou a Copa do Brasil (cuja decisão foi em agosto), disputou a Supercopa dos Campeões da Libertadores (sendo eliminado pelo Independiente em meados de outubro) e a Copa Conmebol (sem passar do “expressinho” do São Paulo na primeira fase). Além, claro, do Campeonato Brasileiro, com o qual esteve envolvido até novembro.

O resultado disso foi um grande número de partidas atrasadas quando 1995 já batia à porta. E só houve um jeito do Grêmio poder disputar todas (caso contrário as perderia por WO): jogar três delas na mesma tarde.

E o pior é que não foi uma tarde qualquer: o dia 11 de dezembro de 1994 foi de muito calor em Porto Alegre, com temperatura máxima de 38°C. E o primeiro jogo começou às 14h – não por acaso, acabou em 0 a 0.

Vários anos depois, novamente um jogo de Gauchão no Olímpico “cozinhou” os jogadores. Na tarde de 3 de fevereiro de 2010, uma quarta-feira (e não era feriado!), a temperatura máxima em Porto Alegre foi, oficialmente, de 38,1°C; mas estação próxima ao Olímpico apontou 41,3°C na hora em que Grêmio e São Luiz de Ijuí jogavam. Porém, o que todo mundo lembra daquele jogo, claro, é do famoso desmaio.

Logo, penso que a ideia de levar o Gre-Nal da primeira fase do Gauchão 2012 para Boston, nos Estados Unidos, só pode ser uma “compensação” ao Grêmio por parte da Federação Chilena Gaúcha de Futebol (FGF). Depois de fazer o Tricolor jogar tantas vezes sem necessidade debaixo de um sol inclemente, agora o objetivo é que o Grêmio volte a disputar uma partida de Gauchão na neve, assim como em 1979.

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Sobre o “Gre-Nal de Boston”, agora falando sério: isso é “valorizar o Gauchão”? Ainda acho que o melhor seria seguir a minha proposta, de um torneio curto “em nome da tradição” (semelhante ao de 2002). Porém, desde que foi adotada a atual fórmula do Campeonato Brasileiro, que faz o nacional ocupar mais espaço no calendário em comparação à “era formulista”, nunca o Gauchão foi tão “interminável” quanto em 2011: a final foi apenas em 15 de maio. E o calendário do futebol brasileiro para 2012 será semelhante. Nos preparemos.

Aliás, “interminável” também será a hipotética viagem dos jogadores até os EUA para jogarem o Gre-Nal – mais longe do que ir até o México para uma partida de Libertadores. E só imagine o choque térmico: eles sairão de nossa “fornalha” direto para a “geladeira”, já que a temperatura média de fevereiro em Boston é de 0°C.

Um ano DAQUELE JOGO

A tarde de 2 de julho de 2010 teve sol e calor em Porto Alegre, situação bem diferente da verificada hoje. Também tinha futebol: no caso, eram as quartas-de-final da Copa do Mundo da África do Sul.

Começou com a eliminação do Brasil: 2 a 1 para a Holanda, de virada. Horas depois, veio o jogaço: Uruguai x Gana. O melhor que vi em uma Copa depois daquela de 1994, a maior de todas (e nem adianta me falarem de 1982, quando eu não tinha nem completado um ano!).

Qualquer que fosse o resultado, seria histórico. Desde 1970 o Uruguai não chegava às quartas-de-final de uma Copa (e também a uma semifinal). Já Gana poderia fazer história ao ser a primeira seleção africana a estar entre as quatro melhores do Mundial.

Sinto grande carinho pelo Uruguai, e queria ver a Celeste na semifinal. Mas ver uma seleção africana chegar lá não me deixaria triste. E parecia que a segunda opção era a que se confirmaria. Só que Gyan mandou no travessão, certamente causando enfartos em torcedores de ambos os países.

E a classificação do Uruguai veio de forma “maluca”: Sebástian “El Loco” Abreu, de cavadinha, converteu a ultima cobrança da série de pênaltis. No Grêmio ele não fazia dessas

Assisti ao jogo no antigo bar Ritrovo, na Rua da República, em companhia do Hélio Paz que, admirador do futebol africano, torcia por Gana. A maioria dos presentes era “uruguaia”, mas no final todos celebramos o futebol, que mais uma vez mostrava porque é tão apaixonante.

A ressurreição de Nicolae Ceausescu

O Natal de 1989 foi inesquecível para mim: passei o dia inteiro brincando com meu presente preferido daquele ano, um “Pense Bem”. Aquele 25 de dezembro foi também memorável na Romênia, mas por outro motivo: foi o dia em que o ditador Nicolae Ceausescu (que estava no poder desde 1965) e sua esposa Elena acabaram executados por um pelotão de fuzilamento, três dias depois da derrubada da ditadura por uma insurreição popular.

Porém, oito anos e meio depois, Ceausescu voltou à vida por um mês. E acreditem, foi na tela da Rede Globo!

Simples: a vinheta que abria as transmissões “globais” da Copa do Mundo de 1998 terminava com o logotipo da emissora, que continha dentro algumas bandeiras de países. Reparem que falei simplesmente em “países”, e não em “países da Copa”. Pois havia a presença de bandeiras como as de Austrália, Canadá e Irlanda, cujas seleções não disputaram o Mundial da França.

Mas procurando por mais erros, reparei que a bandeira da Romênia continha o brasão “socialista”, que fora retirado do pavilhão romeno após dezembro de 1989. Por motivos óbvios: com o fim da ditadura de Ceausescu, a Romênia deixara de ser “socialista”. (Inclusive, durante os protestos contra o regime se via muitas bandeiras romenas, todas com um buraco no lugar do brasão, recortado pelos manifestantes – as bandeiras “vazias” se tornaram um símbolo da insurreição popular.)

É importante lembrar que não foi só a bandeira romena que saiu errada: a África do Sul adotou a sua atual em 1994, mas a que aparece na vinheta é a anterior, dos tempos do apartheid.

Provavelmente o leitor deve estar pensando que em 1998 a Globo cometera a façanha de ainda não ter atualizado seu “arquivo de bandeiras”. Pois é, então como explicar que, na vinheta de 1994, a bandeira da Romênia estava correta? Mas não pensem que a “plim plim” tinha deixado de fazer de fazer sua propaganda comunista: sobrou para a Bulgária, cuja bandeira desde 1990 não tinha mais brasão… (É muito rápido, e por isso difícil de perceber o brasão no pavilhão búlgaro, mas ele está lá.)

A noite em que terei de torcer pelo vermelho

Não tenho nada contra a cor vermelha. Muito pelo contrário. Na política, não tenho vergonha nenhuma de dizer que sou vermelho, já que esta é a cor associada com a esquerda. Tanto que, nos tempos em que eu “bandeirava” para o PT (ou seja, até 2004), a bandeira sempre foi vermelha. Nunca quis a azul.

Mesmo no futebol, não posso dizer que basta um time vestir vermelho para merecer meu ódio mortal. Para citar um exemplo: nas quartas-de-final da Copa do Mundo de 1994, na mesma tarde torci por dois times que jogaram de vermelho: primeiro para a Bulgária nos 2 a 1 contra a Alemanha; e depois para a Romênia que, vermelha da cabeça aos pés, infelizmente acabou eliminada pela Suécia nos pênaltis. Tudo bem, eram os uniformes reservas, mas eram vermelhos. E naquela mesma Copa também torci por outra seleção vermelha, a Bélgica – neste caso, era a cor do uniforme titular.

Ou seja, só abomino a cor vermelha do rival do Grêmio. Então, não terei nenhuma dificuldade em torcer pelo Independiente nesta bizarra noite. (Mas para quem não consegue de forma alguma torcer pelo vermelho, resta a alternativa de secar o Goiás…)

Sem contar que não chega a ser uma novidade. Em 1983, o Grêmio precisou de uma ajudinha do vermelho América de Cali para chegar à final da Libertadores. O time colombiano já estava eliminado, mas se segurasse o empate com o Estudiantes, classificaria o Tricolor para a decisão; se os argentinos vencessem, ficariam com a vaga.

Acabou 0 a 0. O resto da história, todos conhecem…