Perdendo datas redondas e poder de compra

Se em 2 de novembro eu não esqueci de postar uma referência aos 10 mil dias do início da Copa do Mundo de 1994 (evento futebolístico máximo para boa parte da minha geração afora conquistas de clubes), um mês depois acabei passando batido. Mas por um bom motivo: estava na antevéspera de me mudar e assim rasgava boletos vencidos há tempos. Por isso não lembrei de vir aqui falar dos 10 mil dias de quando o Galvão gritou “É TETRAAAAA” abraçado ao Pelé, com o complemento de que a Seleção quebrava um jejum que já tinha 24 anos. (Detalhe: 17 de julho de 1994 está distante de nós mais de 27 anos, ou seja, mais perto da magia de 1970 do que dos dias atuais; e lá se vão quase 20 que não celebramos um Mundial vencido pelo Brasil.)

Dentre os boletos que eu rasguei enlouquecidamente no dia em que deveria ficar lamentando os DEZ MIL DIAS DE SAUDADES da Copa com a qual ainda sonho de vez em quando, estavam faturas do cartão de crédito pagas em 2014. Sim, antes de minha mudança para Ijuí (2015), e mesmo de outro Mundial inesquecível – apesar dos tristemente famosos 7 a 1.

O fato de ter toda essa papelada inútil guardada sem necessidade (por que guardar boletos pagos há SETE anos?) me deixou menos impressionado do que os valores. Incrível como as coisas eram BARATAS em 2014.

Nas faturas do cartão de crédito, por exemplo, identifiquei as vezes em que fui assistir a jogos do Grêmio em uma lanchonete (fechada há um bom tempo) na frente de casa. Lembro bem que costumava pedir um xis ou um cachorro quente, e (pelo menos) uma cerveja de garrafa (600 ml). A maioria das vezes em que identifiquei pagamentos com o cartão no local, a despesa era de menos de 20 reais.

MENOS DE 20 REAIS.

Hoje em dia só a cerveja sai por pelo menos 14 reais. E só um xis, nunca mais comi por menos de 20.


Nosso poder de compra caiu absurdamente nos últimos sete anos. Lembro de quando me mudei para Ijuí e fui procurar apartamento para alugar: a maior dificuldade foi ESCOLHER um dentre as opções boas e baratas que tinha (interior costuma ser mais barato que capital); no final estava entre dois imóveis excelentes, ambos com dois quartos, e fiquei com um que tinha sacada (que saudades).

Hoje em dia, com o meu salário, eu nem chegaria perto de poder ir morar num apartamento como aquele escolhido no início de 2015. Tanto em Porto Alegre como em Ijuí.

Ficaram mais caros aluguel, condomínio, gasolina, pão, arroz, feijão, carne, cerveja etc. E os salários, quando não ficaram estacionados no mesmo lugar, não subiram no mesmo ritmo. Só caíram a Dilma (por um motivo que definitivamente não se justifica, ainda mais diante do horror atual) nosso poder de compra e a imagem do Brasil perante o resto do mundo.

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Rumo aos 31 a 0

“Todo dia é um 7 a 1 diferente” virou gíria no Brasil de depois daquela fatídica semifinal da Copa do Mundo de 2014. E em muitos casos se usa aquele fiasco diante da Alemanha como comparativo para outras situações.

Foi o caso de um meme (no caso, um print do Twitter) que circulou no final de junho do ano passado. Terminava o primeiro semestre de 2020, e na época achávamos que tinha sido tão ruim que era fácil concordar que a última vez que a primeira parte de algo acabara tão mal o Brasil ia para o intervalo do jogo contra a Alemanha perdendo por 5 a 0. Lembro inclusive de meu comentário ao compartilhar o meme: “pela lógica, levamos só mais dois no segundo tempo e tomara que o ‘gol do Oscar’ seja o impeachment”. (Para ver só, eu nem contava com vacina tão cedo…)

O segundo semestre de 2020 não foi como o segundo tempo daquele Brasil x Alemanha. Afinal, em 2014 os alemães só fizeram mais dois gols. Houve um “gol do Oscar” que foi a vacina; o problema é que em time mal treinado o atacante não presta atenção à defesa adversária e vive impedido: o “gol de honra” acabou anulado, e perdemos por 11 a 0.

Mas foi uma derrota honrosa na comparação com 2021, cujo primeiro semestre (pelo menos no Brasil) se encaminha para ser a pior primeira parte de algo desde quando soou o apito encerrando a etapa inicial de Austrália x Samoa Americana, partida válida pelas eliminatórias da Copa de 2002 que completou 20 anos no último domingo e entrou para a história pelo registro da maior goleada em um jogo oficial entre seleções nacionais. No caso, o Brasil vestiu a camisa de Samoa Americana e a covid-19, a da Austrália, que foi para o vestiário pensando se era ou não o caso de recuar o time e segurar a vitória parcial de 16 a 0.

A “retranca” prevaleceu e os australianos “tiraram o pé” no segundo tempo, só marcando mais 15 gols. Placar final: 31 a 0.

Considerando que estamos na metade de abril, na comparação recém passamos a metade do primeiro tempo. Em Samoa Americana x Austrália, o oitavo gol dos “Socceroos” saiu aos 23 minutos e o nono, aos 25. Aos 27, já estava 10 a 0.

Como diminuir o brilho de uma final

O futebol mineiro está em alta nos últimos dois anos. O Atlético-MG foi campeão da Libertadores de 2013 e acaba de ganhar a Copa do Brasil de 2014; já o Cruzeiro ganhou no último domingo seu segundo Campeonato Brasileiro consecutivo, um feito que poucos clubes conseguiram. Suprema ironia: o melhor futebol do Brasil na atualidade é jogado na mesma cidade em que a Seleção Brasileira afundou meses atrás, ao levar 7 a 1 da Alemanha na semifinal da Copa do Mundo – no mesmo Mineirão que hoje recebeu a decisão da Copa do Brasil.

Mas, se dentro de campo o espetáculo foi de qualidade, fora dele o Mineirão registrou um novo vexame. Era só ligar a televisão e notar as muitas cadeiras vazias. No anel inferior do estádio, a lotação foi máxima atrás dos gols onde os alemães foram sete vezes felizes e mínima na parte central, que aparecia mais na transmissão. E no anel superior, a lotação também não foi máxima.

No início da transmissão no Sportv foi dito que os ingressos para aquele setor “vazio”, de responsabilidade da Minas Arena (administradora do estádio), custavam a bagatela de R$ 1000 (sim, MIL reais). Na verdade, não é tão caro: segundo o Trivela, uma cadeira ali saiu por R$ 700 para os torcedores em geral e R$ 490 para sócios do Cruzeiro, mandante do jogo e ao qual interessava – ou ao menos deveria interessar – um Mineirão lotado para tentar reverter a vantagem de 2 a 0 que o Atlético construiu na primeira partida.

O incrível é que isso é prejudicial até mesmo à ideia de futebol como um “negócio”. Pense: um estádio lotado não valorizaria mais o “produto”? Mesmo que seja pela televisão, é muito mais bacana de assistir.

Mas não. Falou mais alto a ganância de se cobrar valores completamente fora da realidade brasileira só porque era uma final. Proporcionalmente à renda média da população, é (muito) mais barato assistir futebol na Alemanha do que no Brasil: não por acaso, os estádios alemães – mesmo as “arenas” – estão sempre repletos de torcedores.

Traduzindo: mais uma humilhação que a Alemanha nos impõe…

O frio está a caminho

Porto Alegre dentro de algumas semanas

Porto Alegre dentro de algumas semanas

No colégio, aprendi que equinócios são os instantes em que o Sol cruza o equador celeste. Em tais ocasiões, que se dão apenas duas vezes a cada ano (20 de março e 22 de setembro), ambos os hemisférios da Terra recebem igual insolação.

Tais eventos também significam trocas de estação (variando conforme o hemisfério, norte ou sul). Em um lado da Terra o verão acaba e tem início o outono, enquanto no oposto é o inverno que dá lugar à primavera.

Hoje é dia de equinócio. E, pela lógica, está chegando o outono: afinal de contas, como pode começar a primavera sem que tenha havido inverno? Ou seja, preparemos os agasalhos pois agora sim vai começar a esfriar.


Quem dera fosse realmente o outono que estivesse chegando… Não que eu desgoste da primavera (térmica e visualmente falando, ela costuma ser agradável a maior parte do tempo): o problema é saber que um novo verão está há três meses de distância, ainda mais que em quase 33 anos de vida nunca sofri tanto com o calor como em 2014.

Já o “inverno” (se é que dá para chamar assim) que acaba às 23h29min de hoje, teve muitos gols da Alemanha e pouco frio.

Para saciar a fome do Chaves

Pobre México, tan lejos de Dios y tan cerca de los Estados Unidos. A frase, dita por Porfirio Díaz (ditador deposto pela Revolução Mexicana em 1911), sintetiza boa parte da história do México no Século XIX: considerável porção do território do país acabou nas mãos dos Estados Unidos, mediante guerras ou compras de terras. Não é por acaso que várias cidades estadunidenses têm nomes “espanhóis” (San Francisco, Los Angeles, San Diego, Las Vegas etc.): a Califórnia, por exemplo, pertenceu ao México até 1850.

Jugamos como nunca, perdimos como siempre. Tal frase é de Alfredo Di Stéfano (craque argentino naturalizado espanhol), mas é sempre lembrada pelos mexicanos a cada fracasso de sua seleção em Copas do Mundo. Afinal, o México sempre é um adversário difícil de ser batido (como a Seleção Brasileira bem sabe, no último Mundial ficou no 0 a 0 em uma jornada memorável do goleiro mexicano Ochoa), mas desde 1994 vem sendo eliminado nas oitavas-de-final. Aliás, vale lembrar a forma dramática como se deu a derrota de 2014: vencia a Holanda no Castelão por 1 a 0 até os 42 do segundo tempo, quando Sneijder empatou com um chutaço; nos acréscimos, Huntelaar virou o jogo com um gol de pênalti (incorretamente marcado, ao meu ver). E como se não bastasse, essa foi a terceira vez em que o México abriu o placar nas oitavas: já tinha saído na frente da Alemanha em 1998 e da Argentina em 2006.

Mas, se tem algo em que o México não perde de jeito nenhum, trata-se do seriado “Chaves”, cuja exibição no Brasil completou 30 anos no último dia 24 de agosto. O personagem principal é um tanto representativo da realidade mexicana e latino-americana como um todo: um menino pobre e esfomeado que não tem família (como o próprio Chaves diz sobre seus pais, “ainda não fomos apresentados”) e que depende muito da solidariedade alheia; talvez por isso tenhamos tanta identificação com o seriado a ponto dele ser tão adorado mesmo que os episódios se repitam desde 1984.

Se o México “joga como nunca e perde como sempre”, comigo na cozinha acontece o contrário. Ainda mais quando foi a minha vez de ir fazer a comida mexicana, mais um dos pratos da “Copa da Culinária”, nos almoços de sábado na casa da minha avó. Eu decidi o prato na madrugada de sábado: achei uma receita de Feijão Mexicano que tinha todo jeito de ser deliciosa. Porém, para poder fazê-la esqueci um detalhe: deixar o feijão de molho… Resultado: tive de trocar. Fui novamente à pesquisa na manhã de sábado, achei um prato chamado Frango à Mexicana, resolvi fazer, e ficou bom! Me atrapalhei como nunca, deu certo como sempre… Igual aos episódios do Chapolim, em que tudo acaba bem mesmo depois de incontáveis e hilárias trapalhadas.

Ingredientes:

  • 100ml de vinho branco;
  • 100g de amêndoas;
  • 2 dúzias de azeitonas;
  • 200g de tomates;
  • 250g de azeite;
  • 1 dente de alho;
  • Pimenta de Caiena;
  • Farinha de trigo;
  • 1 folha de louro;
  • 1 cebola;
  • 1 frango.

Modo de preparo:

Cortar o frango e condimentá-lo, passando-o pela farinha; fritar no azeite com a cebola em rodela e o alho esmagado; juntar o vinho branco, deixando cozinhar durante cerca de 30 minutos, condimentando-o com o louro e a pimenta de Caiena; pouco antes de servir, juntar as amêndoas cortadas em fatias finas, as azeitonas e os tomates.


Como em outras receitas que fiz, nem tudo correu conforme o script. Mas dessa vez, foi bem pouca coisa mesmo: a diferença principal foi a pimenta. Não achei a pimenta de Caiena, então optei pela vermelha; mas sem exagerar, devido às lembranças do “calorão” que foi a comida chilena.

O resultado, está abaixo. É ou não de saciar a fome do Chaves?

frango mexicano


Fazia mais de um mês que eu não postava nenhuma receita, mas não é por eu não ter feito mais nenhum prato. Nesse meio tempo eu fiz a comida italiana e não escrevi ainda… Em breve, publico aqui.

Uma receita de Camarões: Zom

zom

Camarões disputou sua primeira Copa do Mundo em 1982, na Espanha. A campanha não foi brilhante (eliminação na primeira fase), mas ao mesmo tempo foi histórica: os camaroneses voltaram para casa invictos (feito inédito e jamais repetido por nenhuma seleção africana), após empatarem as três partidas disputadas – uma delas foi contra a Itália, que acabaria campeã (e o empate em 1 a 1 que levou a Azzurra adiante só aconteceu devido a uma falha do bom goleiro Thomas N’Kono).

Alem de N’Kono, outro destaque daquele time de 1982 era Roger Milla. Oito anos depois, o já veterano atacante (38 anos de idade em 1990) foi fundamental na Copa do Mundo da Itália: Camarões chegou às quartas-de-final (feito até então inédito para uma seleção africana) e só perdeu para a Inglaterra na prorrogação. Mas engana-se que a história de Roger Milla em Mundiais acabou ali: já quarentão, o atacante ainda foi aos Estados Unidos em 1994.

Na última rodada da primeira fase, Rússia e Camarões enfrentaram-se pelo grupo B sonhando com uma improvável classificação às oitavas-de-final entre os melhores terceiros colocados (ambos os times acabaram eliminados). Os russos venceram por 6 a 1, na maior goleada daquela Copa; e o atacante Oleg Salenko estabeleceu o recorde ainda não superado de cinco gols em um só jogo (Salenko também foi artilheiro do Mundial, junto com o búlgaro Hristo Stoichkov). Mas aquele jogo disputado em 28 de junho de 1994 ainda teve mais dois recordes, ambos de Roger Milla, com 42 anos e 39 dias de idade: jogador mais velho a atuar em uma Copa (marca superada em 25 de junho de 2014 pelo goleiro colombiano Faryd Mondragon, 43 anos e 3 dias de idade ao entrar em campo nos minutos finais da partida contra o Japão) e a marcar gol em um Mundial (essa escrita continua intacta).

A campanha ruim de 1994 não foi exceção. Desde então, Camarões não mais superou a primeira fase da Copa do Mundo – e, em 2006, sequer foi à Alemanha. Em 2014, os Leões Indomáveis (apelido da seleção) foram facilmente “domados”: três jogos e três derrotas (duas delas de goleada, 4 a 0 da Croácia e 4 a 1 do Brasil). Assim como “uma andorinha só não faz verão”, apenas um craque (Samuel Eto’o) não faz timaço.

Porém, se Camarões não tem feito bonito no futebol, na cozinha os camaroneses vão muito bem, obrigado. No último final de semana, foi a minha vez de fazer o tradicional almoço de sábado (que mais uma vez foi adiado para o domingo) na casa da minha avó, e a tabela me designava um prato de Camarões. Ao contrário das ocasiões anteriores, não foi preciso fazer pesquisas no Google: meu amigo Hélio Paz (que escreveu o texto lá do primeiro link) é fã dos Leões Indomáveis desde a Copa de 1982, e me passou várias receitas quando comentei que faria comida camaronesa. Escolhi o Zom, receita que acabei não seguindo à risca, mas que ficou muito boa.

Ingredientes:

  • 900g de agulha cortada em cubos
  • 4 colheres de sopa de óleo vegetal
  • 1 cebola grande picada
  • 900g de espinafre lavado e picado (ou outra verdura qualquer)
  • 2 tomates bem picados
  • 2 colheres de sopa de purê de tomate
  • 2 colheres de sopa de manteiga de amendoim
  • Sal a gosto
  • Pimenta preta a gosto

Modo de preparo:

  1. Ferva a carne na panela com um pouco de sal e água suficiente para cobri-la. Tampe a panela e deixe por 100 minutos ou até a carne ficar macia;
  2. Retire a carne mas mantenha o caldo na panela;
  3. Em outra panela, aqueça o óleo. Use-o para fritar a cebola até ficar macia. Adicione a carne e cozinhe por 2 minutos;
  4. Ponha de volta a carne junto com a cebola na panela com o caldo de carne;
  5. Misture o espinafre, o tomate, o purê de tomate e a manteiga de amendoim e ponha para ferver. Abaixe o fogo e mantenha por 30 min. na panela fechada.
  6. Sirva a carne com o molho e a cebola sobre uma travessa de arroz e cubra a carne com a mistura de verduras e legumes.

Não segui a receita com rigor devido a uma troca intencional, à falta de um ingrediente e a um engano.

A troca intencional foi da carne. Ao invés de agulha, usei cordão do filé mignon, mais macio, para que a comida demorasse menos tempo a ficar pronta.

O que faltou foi a manteiga de amendoim. Fui ao supermercado e não encontrei. Assim, o prato ficou “incompleto”.

Anotei a receita no celular e acabei memorizando. Porém, muitas vezes não “decoramos” corretamente, e assim me confundi com o final: a mistura de tomate, massa de tomate e espinafre deveria ser cozida separadamente e adicionada ao final como uma “cobertura” para a carne, mas acabei misturando tudo ainda na panela. A carne foi servida com arroz, mas em panelas separadas e não na mesma travessa.

Ainda assim, o resultado foi ótimo. E considerando que a motivação disso tudo é a Copa do Mundo (que acabou só no campo, na cozinha ela vai até outubro), podemos dizer que foi uma vitória da culinária-arte: o improviso (mesmo que involuntário) superou a burocracia (seguir à risca o que está escrito). O que não quer dizer que não pretenda fazer novamente o Zom, sendo mais fiel à receita.

Julho amaldiçoado

Acabo de saber que um avião da Air Algérie que se dirigia de Burkina Faso para a Argélia caiu, com 116 pessoas a bordo. Mais um…

Neste julho de 2014 já tivemos outros dois aviões no chão. Além daquele da Malaysia Airlines lá na Ucrânia (e que ainda não se sabe quem o derrubou), ontem uma outra aeronave caiu em Taiwan após tentativa de pouso em meio a um tufão que atingia a região.

Este mês também é péssimo para a literatura brasileira. Três escritores se foram: João Ubaldo Ribeiro, Rubem Alves e Ariano Suassuna.

No futebol, mais perdas. A Copa do Mundo teve sua organização elogiada, mas a Seleção Brasileira levou 7 a 1 da Alemanha (que ainda ganhou o título, quebrando a escrita de nunca uma seleção europeia ter sido campeã na América). No tocante à crônica esportiva, tivemos a triste notícia de que o Impedimento (melhor página de futebol do país) deixará de ser atualizado após a Libertadores.

Relacionada à Copa, a questão dos ativistas presos e processados, acusados por violência em protestos antes mesmo deles acontecerem (não me parece coincidência as prisões terem se dado na véspera da final da Copa, e as razões para elas seguem nebulosas). A “Sininho” não é a “Che Guevara” que os esquerdistas mais cegos dizem que é, mas também não é uma “Bin Laden” como a velha imprensa procura pintar – discurso repetido, tristemente, por alguns petistas tão cegos quanto os ultraesquerdistas, não percebendo que quem sai mais prejudicado com a polêmica é justamente o governo Dilma, dado que muitas pessoas não sabem distinguir as diversas esferas governamentais (federal, estadual e municipal) e também esquecem que os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário são independentes uns dos outros.

Tudo isso num só mês, e que ainda tem uma semana pela frente… Será que não dá para “pular” estes sete dias e começar agosto amanhã?

Henry, o salvador do mundo

Mês passado, postei aqui sobre como os números poderiam levar a um novo “Maracanazo” na Copa do Mundo de 2014. Não refarei toda a conta, o link anterior explica como funciona. Só digo que segundo a fórmula original (e também com as que inventei na hora) o campeão mundial de 2014 seria o mesmo de 1950, ou seja, o Uruguai. O que bem sabemos, não aconteceu, visto que a Celeste foi embora nas oitavas-de-final.

Para a fórmula continuar válida, também seria necessário que o Brasil tivesse sido campeão em 2006 e a Alemanha em 2010; mas como bem lembramos, deu respectivamente Itália e Espanha nessas duas Copas. Porém, vamos supor que tivesse saído tudo conforme os números previam, e tivesse dado Brasil em 2006, Alemanha em 2010 e Uruguai em 2014.

Na próxima Copa, para sabermos o campeão teríamos de subtrair 2018 de 3964, e o resultado seria 1946. Porém, ao olharmos a tabela com os resultados de todos os Mundiais, não encontramos campeão em 1946. E o mesmo acontece com 1942, que indicaria o vencedor de 2022.

A Copa do Mundo de 1942 não aconteceu devido à Segunda Guerra Mundial, que tornava impossível a realização de qualquer torneio internacional de futebol a nível mundial. O conflito só acabou em 1945, o que também inviabilizou a disputa do Mundial no ano seguinte: a Copa só retornaria em 1950, no Brasil, que era um dos candidatos a sede para 1942 (o outro era a Alemanha, que foi proibida de participar em 1950).

Percebam, assim, a importância que teve aquele gol de Thierry Henry marcado contra o Brasil nas quartas-de-final da Copa do Mundo de 2006: foi o que enterrou definitivamente aquela “fórmula”. Caso ela continuasse válida, seria um sinal indiscutível da aproximação da Terceira Guerra Mundial. Ainda mais no atual contexto internacional: a região oriental da Ucrânia vive uma guerra civil, com rebeldes lutando pela anexação das províncias do leste à Rússia.

Com a queda de um avião da Malaysia Airlines justamente na área conflagrada, com suspeitas de que teria sido abatido por um míssil terra-ar, há acusações de lado a lado: o Ocidente acusa os separatistas de terem lançado o míssil que derrubou a aeronave e, de quebra, a Rússia por ter fornecido-lhes armas; já uma fonte do Kremlin diz que o ataque teria sido ordenado pelo governo ucraniano e que o verdadeiro alvo seria o avião presidencial russo (semelhante à aeronave derrubada), ou seja, que o objetivo seria matar Vladimir Putin, que retornava da reunião de cúpula do BRICS acontecida no Brasil (as rotas dos dois aviões eram coincidentes no leste da Europa). Claro que em ambas as versões há coisas estranhas: na primeira, é preciso entender o que levaria os rebeldes a abaterem uma aeronave que não é de uso militar; já na segunda, é de se questionar por que a Ucrânia teria optado por uma maneira tão pouco discreta para tentar assassinar Putin, ainda mais sabendo que um atentado desse nível pode ter consequências seríssimas – há 100 anos, a “faísca inicial” da Primeira Guerra Mundial foi o assassinato do herdeiro do trono da Áustria-Hungria, que nem era a principal potência europeia em 1914 (enquanto a Rússia atual é uma superpotência dotada de milhares de ogivas nucleares). Mas, ainda assim, trata-se de um acontecimento que ainda terá muitos desdobraentos.

Tivesse dado Brasil, Alemanha e Uruguai nas últimas três Copas, a essa altura eu já estaria pensando seriamente em construir um abrigo subterrâneo para me proteger de possíveis ataques nucleares que viriam na iminente Terceira Guerra Mundial. Mas, graças àquele gol que eliminou o Brasil em 2006 e enterrou a “fórmula mágica”, confio em uma solução diplomática que impeça o fim do mundo.

Obrigado, Henry.

De volta à realidade

Acabou a Copa do Mundo do Brasil, com resultado mais do que justo. A Alemanha, primeira seleção europeia a ser campeã na América, mereceu pelo que fez não só no Mundial (onde somou ao belo futebol uma simpatia incomparável que, seja ou não jogada de marketing, conquistou a torcida brasileira de maneira que nem aqueles 7 a 1 reverteram), como também nos últimos anos.

Torci pela Argentina (por ser sul-americana), que com a derrota segue em seu jejum de títulos: o último foi a Copa América de 1993. Já os alemães voltaram a ganhar uma taça depois de 18 anos (a última fora a Eurocopa de 1996), graças à total reformulação iniciada após o fiasco na Euro 2000 – um modelo que, se não é para ser seguido à risca pelo Brasil (afinal, somos diferentes da Alemanha), ao menos deveria servir de inspiração para a reconstrução do futebol brasileiro.

Agora, é voltar à realidade:

  • Depois da Copa do Mundo com segunda melhor média de público de todos os tempos, marcada por grandes jogos, é hora de voltar a assistir partidas de baixo nível técnico em estádios que muito raramente lotam. Algo do tipo Coritiba x Figueirense, que jogam quarta-feira às 19h30min pelo Campeonato Brasileiro;
  • Na Argentina, o segundo semestre de 2014 terá o Torneo Transición, e em 2015 o Campeonato Argentino abandonará o calendário europeu. Mas, passará a ser disputado por 30 clubes numa fórmula que não entendi, mostrando que o futebol no país vizinho (sob o comando de Julio Grondona desde 1979) também precisa de uma “arejada”;
  • Semana que vem, recomeça a Libertadores em sua fase semifinal. Sem nenhum clube brasileiro: é verdade que a maioria dos convocados para a Seleção Brasileira hoje em dia jogam na Europa, mas não ter nenhum representante do Brasil nas semifinais da principal competição de clubes da América do Sul poderia ter servido de alerta para o que nos aguardava na Copa, né? E reparemos que a Seleção passou por Chile e Colômbia “com as calças na mão” como diz o ditado – para depois ser humilhada diante da Alemanha;
  • Os protestos contra a Copa não chegaram nem perto de igualar as grandes multidões que foram às ruas em 2013, é verdade. O que cresceu foi a repressão, e nada faz crer que ela diminuirá porque o Mundial já é passado;
  • Enquanto acompanhávamos as partidas decisivas da Copa do Mundo, Israel atacava novamente a Faixa de Gaza, matando mais de 100 palestinos com a desculpa de reagir a foguetes lançados pelo Hamas contra território israelense. Uma reação, para variar, desproporcional de um país dono de um dos exércitos mais bem preparados do mundo contra um povo oprimido há décadas;
  • E a campanha eleitoral já começou, com direito a desmiolados querendo culpar Dilma pela derrota da Seleção. Isso é só o começo do que veremos até outubro…