O dia em que percebo o quanto estou velho

17 de junho. Hoje o Brasil celebra os 50 anos do bicampeonato mundial conquistado no Chile. Desde então, nunca mais uma seleção ganhou duas Copas seguidas.

Hoje também é o 40º aniversário do famoso jogo da Seleção Brasileira contra uma “Seleção Gaúcha” (na verdade, um combinado Gre-Nal), em “desagravo” a Everaldo. Já era para ter um texto aqui sobre a partida, mas me atrapalhei demais e ficou para amanhã.

Mas este 17 de junho também mostra o quanto estou velho, por outros dois fatos importantes – e também relacionados a futebol – que são lembrados hoje.

O primeiro deles é que hoje faz 20 anos que o São Paulo ganhou a Libertadores pela primeira vez. Mesmo sendo gremista, não posso negar que dava gosto ver aquele São Paulo de 1992/93, timaço que marcou época como um dos melhores times que já vi jogar. Foi o esquadrão que dominou o futebol brasileiro antes do início dos duelos entre Grêmio e Palmeiras.

Já o segundo, é algo que já falei alguns meses atrás. Hoje faz 18 anos que começou a Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos. Quem nasceu naquele dia do qual me lembro tão bem, acaba de atingir a maioridade.

Em questão de semanas, será a vez de Mattheus, filho de Bebeto, comemorar sua chegada à maioridade…

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Catastroika

A mesma equipe que produziu o excelente “Dividocracia” agora apresenta um novo documentário. “Catastroika” demonstra o quão desastrosos são para os cidadãos os impactos das privatizações de serviços essenciais como água, energia, transportes etc.

O nome “catastroika” é uma corruptela de “perestroika”, a fracassada tentativa de reestruturação da economia da União Soviética implementada por Mikhail Gorbachev. O nível de vida na Rússia, que já havia caído nos últimos anos do regime soviético, despencou de forma assustadora após a desintegração da URSS, aumentando a insatisfação popular. O presidente Boris Yeltsin, que vinha promovendo a venda das antigas estatais soviéticas a “preço de banana”, enfrentava a oposição do povo e do parlamento (dominado pelos comunistas), e reagiu dando um golpe de Estado em 1993: eliminada a oposição, levou adiante o processo de privatizações. E a Rússia não se democratizou, como prometiam os “liberais de plantão”: assim como no Chile de Augusto Pinochet, a implantação do neoliberalismo foi um processo não-democrático.

São medidas semelhantes que agora estão sendo aplicadas na Grécia e em diversos países afetados pela crise econômica, que a utilizam como pretexto para saquear os bens públicos.

Que feio, Suárez!

Um gesto, e opiniões opostas: aquela mão na bola de Luis Suárez no jogo contra Gana, nas quartas-de-final da Copa do Mundo de 2010. Foi ela que impediu que Gana vencesse e uma seleção da África chegasse pela primeira vez a uma semifinal de Copa.

O gesto tornou Luisito Suárez herói para os uruguaios: conforme preveem as regras do futebol, ele foi expulso, e assim “se sacrificou pela pátria”. O mesmo ato, porém, o transformou em vilão para os africanos, mesmo que tenha levado o cartão vermelho. Na disputa do terceiro lugar da Copa, entre Uruguai e Alemanha (3 a 2 para os alemães), as vuvuzelas paravam de soar quando Suárez tocava na bola: o barulho ensurdecedor das cornetas era substituído por vaias.

Porém, os africanos teriam muito mais motivos para vaiar Suárez agora. O uruguaio, que atualmente joga pelo Liverpool, foi acusado pelo francês Patrice Evra, do Manchester United, de tê-lo insultado de forma racista, em partida pelo Campeonato Inglês disputada em outubro passado. A Football Association considerou Suárez culpado e o puniu com oito jogos de suspensão.

Ontem, já com Suárez em campo, o Liverpool enfrentou o Manchester United na casa do adversário. Então, aconteceu o fato lamentável: no momento em que os jogadores dos dois times trocavam apertos de mão antes da bola rolar, Suárez recusou-se a apertar a mão de Evra, acirrando os ânimos no gramado.

Pode-se muito bem dizer que Suárez estava furioso com o francês, e assim não quis cumprimentá-lo. Só que isso não é justificativa – ainda mais num ato que é meramente protocolar. Provavelmente será punido novamente, por atitude antidesportiva.

Ruim para o próprio Suárez, ruim também para o Uruguai que, antes de se consagrar nos Jogos Olímpicos de 1924 e 1928 (além das Copas de 1930 e 1950), foi o primeiro país sul-americano a contar com jogadores negros em sua seleção de futebol. No Campeonato Sul-Americano de 1916, Isabelino Gradín e Juan Delgado foram escalados para enfrentar o Chile; o primeiro marcou dois gols na vitória de 4 a 0. No dia seguinte, a delegação chilena exigiu a anulação da partida alegando que o Uruguai “havia escalado dois africanos”.

Ditadura é um regime político

ditadura sf 1. Forma de governo em que todos os poderes se enfeixam nas mãos dum indivíduo, grupo, partido ou classe. 2. Tirania.

O trecho acima é a definição do minidicionário Aurélio para “ditadura”. Em outro dicionário é provável que encontremos palavras diferentes, mas provavelmente ele não nos dirá que se trata de um regime plural, aberto.

Diante desta definição, como negar que houve uma ditadura no Chile de 1973 a 1990, época em que o país era governado com mão de ferro pelo general Augusto Pinochet? Simples: reescrevendo a história nos livros didáticos chilenos. (O que, dada a admiração dos atuais governantes do país pelo ditador, não me surpreende.)

A direita brasileira deve estar babando: certamente, o sonho dos piores reacionários de nosso país é tornar ilegal alguém dizer que o Brasil de 1964 a 1985 era uma ditadura militar.

Agora, a certeza (“pergunta” seria perda de tempo): se o governo da Rússia tomar uma atitude semelhante à do Chile, e determinar a retirada da expressão “ditadura” dos livros escolares nos trechos que tratam sobre o stalinismo (se é que já não fez isso), os mesmos reaças condenarão o absurdo, vomitando seus mofados discursos anticomunistas como se ainda estivéssemos na Guerra Fria. (E depois a esquerda que é “atrasada”…)

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Alguém poderá argumentar que não há diferença entre usar o termo “ditadura militar” e “regime militar” nos livros escolares. Porém, como a notícia citada informa, a ideia é fazer os estudantes chilenos usarem “regime” ao invés de “ditadura”. Assim, se um aluno escrever “ditadura militar” em uma prova, perderá pontos por sua resposta?

E além disso, “ditadura” não é sinônimo de “regime”: ela é apenas um tipo de regime político. “Democracia” é outro (e que, aliás, é bem melhor).

Terça-feira, 11 de setembro

Em 11 de setembro, uma terça-feira, uma barbárie causou a morte de milhares de pessoas. Teve importantes reflexos na economia, na política e até mesmo no futebol – o ano seguinte seria de Copa do Mundo.

Sim, falamos do 11 de setembro de 2001. Mas também do 11 de setembro de 1973.

Na terça-feira, 11 de setembro de 1973, um golpe militar depôs o presidente do Chile, Salvador Allende. O comandante do Exército, Augusto Pinochet, que havia sido nomeado pelo próprio Allende, chefiou a criminosa ação na qual o Palácio de La Moneda, sede do governo chileno, foi bombareado por caças da Força Aérea. Allende ensaiou uma resistência, mas ao perceber que não teria como superar as forças golpistas, fez um último pronunciamento no rádio. Depois, cometeu suicídio ou foi assassinado – ainda não há uma certeza sobre a morte do presidente chileno.

O general Augusto Pinochet assumiu o poder, e implantou uma das mais sangrentas ditaduras que já teve a América Latina. De 1973 a 1990, milhares de pessoas foram vitimadas pela repressão. Qualquer um que fosse “suspeito” de simpatizar com o governo de Allende podia ser preso e brutalmente torturado – isso quando não fosse executado ou “desaparecido”.

A economia chilena foi bastante impactada pelo golpe. Antes, o país estava quase paralisado, graças a decisão dos Estados Unidos de “sufocar” o Chile pela via econômica, para não deixar que um país se tornasse comunista “devido à irresponsabilidade de seu povo” como disse Henry Kissinger (ou seja, para ele o povo chileno não valia nada). Com o fim da democracia, os dólares voltaram a entrar no Chile, que transformou-se em “laboratório de testes” para o neoliberalismo dos “Chicago Boys”, cujo maior expoente era Milton Friedman. Exato: não foi com Ronald Reagan nem com Margaret Thatcher que ele começou, mas sim com Augusto Pinochet… Detona-se, assim, o mito segundo o qual liberalismo econômico e democracia são sinônimos.

Até o futebol sofreu o impacto do 11 de setembro de 1973. Mais precisamente, a Copa do Mundo de 1974, na Alemanha Ocidental. Havia uma preocupação muito grande com a segurança (como veremos no Mundial de 2002, menos de um ano após os atentados nos EUA), devido ao terrorismo: nos Jogos Olímpicos de Verão de 1972, realizados também na Alemanha Ocidental (na cidade de Munique), o grupo Setembro Negro invadiu a Vila Olímpica e assassinou onze atletas israelenses. Mas o impacto do 11 de setembro se deu dentro de campo mesmo: nas repescagens das eliminatórias para a Copa, uma das vagas seria disputada entre uma seleção sul-americana e uma europeia; o Chile seria esta equipe da América do Sul, e a União Soviética a da Europa.

A primeira partida foi disputada em 26 de setembro de 1973 (portanto, já depois do golpe) em Moscou, e terminou empatada em 0 a 0. O jogo decisivo estava marcado para 21 de novembro no Estádio Nacional de Santiago, que após o 11 de setembro se tornara um campo de concentração no qual inúmeras pessoas foram torturadas e fuziladas. Os dirigentes soviéticos pediram que a partida fosse realizada em outro local que não o Estádio Nacional, mas a FIFA se fez de surda e com isso, a seleção da URSS não viajou a Santiago para jogar. Desta forma o Chile garantiu a vaga à Copa sem disputar o jogo que a URSS poderia muito bem vencer apesar de jogar fora de casa, mas para “cumprir tabela” os chilenos entraram em campo e marcaram um gol no arco vazio.

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Em 11 de setembro de 2001, uma terça-feira, quase 3 mil pessoas morreram vítimas dos atentados terroristas nos Estados Unidos. Mas em consequência disso, quase um milhão de vidas foram tiradas nas guerras travadas pelos EUA no Afeganistão e no Iraque. Aquele trágico dia tornou-se “justificativa” para matar ainda mais gente.

A economia sofreu as consequências do 11 de setembro de 2001. Os Estados Unidos vivem hoje a sua pior crise econômica desde 1929, e uma das causas disso são os gastos excessivos com as guerras “justificadas” pela tragédia.

E o futebol, claro, também foi afetado. Na Copa de 2002, realizada na Coreia do Sul e no Japão, a preocupação com a segurança foi muito maior do que nos Mundiais anteriores. E a seleção dos Estados Unidos teve de contar com esquema especial de proteção, devido ao temor de ataques terroristas.

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Como bem disse o chileno Pablo no vídeo que abre este post, em uma carta dirigida aos familiares de vítimas do 11 de setembro de 2001: os chilenos, assim como todo o mundo, lembram as vidas perdidas de 2001; e é preciso que os estadunidenses, e o mundo também, lembrem de 1973.

Tem coisas que só acontecem no Brasil

Fui à versão chilena do Google Maps e fiz uma busca por “avenida Augusto Pinochet”, para ver se havia alguma com o nome do ex-ditador do país (1973-1990). Não encontrei, troquei “avenida” por “calle”, e o resultado foi idêntico, tentei “plaza” e de novo, nada. O Chile não homenageia Pinochet sequer em algum nome de praça.

Então me dirigi “ao leste”: busquei logradouros com nomes de alguns ex-ditadores da Argentina e, de novo, não encontrei.

Na versão paraguaia, busquei logradouros com o nome de Alfredo Stroessner, ex-ditador do Paraguai (1954-1989). Aí sim apareceram dois resultados: uma “colônia” e uma praça. Só que a primeira homenageia Stroessner apenas como general, já a praça o chama de “presidente”. Ah, e se o leitor pensa que ambos os lugares se encontram no Paraguai, se enganou.

A “colônia”, essa sim é no país que Stroessner governou ditatorialmente, já a praça (que, lembrando, o homenageia como “presidente”) se encontra no Brasil… Mais precisamente, em Guaratuba (PR).

Onde mais poderia ser, né? Afinal, o que não falta em nosso país é praça, rua e avenida que homenageie ex-ditador (aqui em Porto Alegre, por exemplo, a principal via de entrada da cidade se chama “avenida Castelo Branco”). Até bairros, e mesmo cidades temos. É só fazer uma busca no Google Maps pelo nome de algum ex-ditador.

Então, não me surpreende que em Rio Grande se queira homenagear com um monumento o general Golbery do Couto e Silva. Nascido na cidade em 21 de agosto de 1911, Golbery conspirou por vários anos contra a democracia brasileira, e foi um dos principais elaboradores do golpe de 1964. Porém, como a maioria das pessoas têm “memória curta”, Golbery acabou entrando para a história como “democrata”, por ter articulado a abertura “lenta, segura e gradual” (que fez a ditadura no Brasil terminar numa eleição indireta). Sim, “abertura política” depois do “fechamento” para o qual ele também colaborou decisivamente… Muito fácil ser “democrata” assim.

Só nos resta uma alternativa (que não é “deitar e chorar”): fazer pressão! Clique e subscreva o abaixo-assinado contra o monumento em homenagem a Golbery.

Um campeão de empates? Por favor, não…

Considerando a campanha do Paraguai até agora nesta Copa América, não teria medo de apostar em mais um empate na tarde de hoje. E assim a Albirroja poderá, ironicamente, ser campeã invicta, mesmo sem ganhar nenhum jogo…

Não chega a ser algo inédito uma seleção ir longe num campeonato só empatando. Em 1990, a Irlanda chegou até as quartas-de-final da Copa do Mundo com quatro empates: três na primeira fase, e nas oitavas-de-final eliminando a Romênia nos pênaltis; nas quartas, os irlandeses não conseguiram empatar mais uma, e foram eliminados pela anfitriã Itália com uma derrota de 1 a 0 (curiosamente, na Copa seguinte as duas seleções se enfrentaram na estreia e a Irlanda devolveu o placar). No Mundial de 1998, Chile e Bélgica tiveram campanhas semelhantes, mas não a mesma sorte: ambas empataram os três jogos da primeira fase, mas os chilenos se classificaram, e os belgas voltaram para casa. Já ano passado, com três empates na primeira fase a Nova Zelândia fez história: apesar de não ir adiante na Copa, foi a única seleção invicta e certamente tirou pontos de todos os que participaram de bolões.

Mas campeão só empatando os seis jogos, que eu saiba, nunca se viu. E espero não ver hoje. Pelo bem do futebol e de minha querida Celeste Olímpica. VAI URUGUAI! (E não me importarei se for nos pênaltis, como naquele jogo com Gana. Tá na hora do Paraguai perder uma desse jeito…)

O mito do inverno com neve no Rio Grande do Sul

Hoje foi um dia com a minha cara aqui em Porto Alegre: manhã com 6°C e muito vento, tão forte que chegava a uivar (e ainda querem que eu goste do verão?). Houve rajadas superiores a 90 km/h, que causaram transtornos como queda de árvores, falta de energia elétrica e, consequentemente, de água, devido à interrupção do fornecimento de eletricidade em algumas estações de bombeamento. E o vento obviamente aumentou a sensação de frio.

Taí a verdadeira cara do inverno gaúcho: o famoso “minuano”. O vento gelado deve seu apelido aos minuanos, povo indígena que habitava os pampas (e que como vários outros, foi exterminado pelo homem branco “civilizado”). E todo ano há pelo menos um desses dias de “minuano”, um “frio de renguear cusco”.

Aí alguém vai perguntar: “e a neve?”; e eu já respondo: QUE NEVE???

Episódios como o de agosto do ano passado são exceção. É muito raro nevar daquele jeito no sul do Brasil – fosse comum, não seria tão noticiado.

Só que a “grande mídia”, de tanto falar sobre “a possibilidade de neve”, faz muita gente pensar que basta comprar a passagem para Gramado, reservar o hotel e a festa – “nevada”, claro – estará garantida.

Dados os preços que costumam ser cobrados em Gramado e Canela durante o inverno, quem quer realmente ver neve deveria economizar um pouco mais e viajar a algum lugar onde é garantido que vai nevar (ir a Bariloche, na Argentina, deve estar mais barato que o normal por causa do vulcão Puyehue). Já a Serra Gaúcha, por sua vez, pode ser uma excelente alternativa para o verão: foge-se tanto do calor insuportável de “Forno Alegre” como do movimento absurdo nas praias.

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E por falar em calor, quase derreti no ônibus hoje pela manhã, com todas as janelas fechadas e sem ar condicionado. Tudo bem que fazia frio, o vento era muito forte. Mas não justifica fechar tudo, impedindo qualquer renovação do ar dentro do coletivo. Aí, quando pegam uma gripe, reclamam do frio…

Não fosse o meu trajeto curto, provavelmente eu abriria uma janela, a despeito dos “protestos” dos demais passageiros. Para convencê-los (se necessário), forçaria uma tossida e comentaria, em tom de lamento: “bosta de gripe A que nunca passa”. Queria só ver se não abririam tudo correndo…

O nosso Eyjafjallajökull

Ano passado, quando o vulcão islandês Eyjafjallajökull provocou um caos aos aeroportos europeus, comentei que o Brasil não estava livre de uma situação dessas, visto que vários países vizinhos têm vulcões ativos. Só não imaginava que demoraria apenas um ano…

Também lembrei que era interessante se investir em outras modalidades de transporte, como o ferroviário: embora ir de trem seja mais demorado do que de avião, é mais rápido e seguro do que encarar nossas congestionadas e mal-conservadas rodovias. Sem contar que as cinzas vulcânicas não impedem a circulação dos trens.

Só imagino se a erupção do vulcão chileno Puyehue ocorresse três anos mais tarde, em junho de 2014. Não adiantaria nada usar a desculpa da Copa para que ele parasse de expelir cinzas, de modo a permitir as viagens aéreas das seleções.