630 dias depois

Hoje à tarde, sentei em uma mesa de bar e pedi uma cerveja pela primeira vez desde 28 de dezembro de 2019. A data é essa mesma: confirmei na minha linha do tempo do Google Maps – e pensar que tem gente doida achando que a vacina é que tem chip para nos rastrear…

Naquele sábado, fazia um calor infernal em Porto Alegre e decidi dar uma volta no final da tarde apesar da alta temperatura, para não passar o dia inteiro dentro de casa com ar condicionado ligado e luzes acesas. Foi um momento em que começou a bater um ventinho que reduzia a sensação de sufoco.

A covid-19 já existia mas ainda nem tinha sido divulgado o surto na China. O ano de 2020 me parecia bastante promissor… Mal sabia o que estava por vir.

Poucos dias após aquele sábado uma frente fria aliviou o calorão, mas não voltei mais a uma mesa de bar pois a maior parte dos amigos estava em férias. A vida social no começo de 2020 se daria nos encontros familiares e nos jogos do Grêmio – e na Arena tive o que considero como marco inicial do horrível distanciamento social, pois após o Gre-Nal da Libertadores passei a maioria esmagadora do tempo sozinho em casa, sem abraçar pessoas e sem perspectiva de sair.

Nos últimos meses passei bem menos tempo em casa, mas ainda me restringindo muito. Hoje já não vejo razão para passar um dia como este sábado trancado dentro de um apartamento pequeno e sem sacada, quando é possível sair tomando cuidados: é só usar máscara e evitar aglomerações. Pegar um sol e arejar a cabeça trazem benefícios à saúde mental – o que é bem diferente de ir para uma festa lotada.

Quando vi um bar com mesas ao ar livre e sem aglomeração, não pensei duas vezes e resolvi parar nele, sentar e pedir uma cerveja. E era exatamente o mesmo bar no qual estive naquele tórrido sábado do final de 2019.

A saudade de algo tão corriqueiro até um ano e meio atrás como tomar uma cerveja em uma mesa de bar era tão grande, que acabei pedindo outra e também um petisco. Fiquei mais tempo do que imaginava, e valeu muito a pena.

Graças à vacinação, aos poucos vamos saindo do longo túnel pandêmico e vendo novamente a luz do sol. Celebrando a sobrevivência a um (por assim dizer) governo que quer matar o máximo possível de pessoas.

Comemoremos, mas jamais esqueçamos o culpado por quase 600 mil ausências depois de tudo isso. Ano que vem ele estará pedindo votos com a canalhice que lhe é de praxe, como se nada de ruim tivesse acontecido.

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Cão Uivador descobre segredo da ótima geração belga

A Bélgica chegou à Copa do Mundo bem cotada, credenciada por uma ótima campanha nas eliminatórias. Os belgas terminaram a fase de classificação invictos e vários comentaristas diziam que os “Diabos Vermelhos” poderiam ir longe no Brasil, talvez repetindo a campanha de 1986, quando alcançaram as semifinais.

Há 28 anos a campanha belga terminou contra a Argentina, fato repetido em 2014, só faltou ser na mesma fase – desta vez foi nas quartas-de-final. Não apresentou um futebol de encher os olhos: a única partida realmente boa foi contra os Estados Unidos (oitavas-de-final), de resto a Bélgica foi apenas eficiente (exceto contra a Argentina, claro). Mas trata-se realmente de uma ótima geração, a melhor dos últimos anos (a última Copa disputada pelos “Diabos Vermelhos” fora a de 2002, para se ter uma ideia), e que por ser ainda jovem poderá render mais bons resultados nos próximos anos. E, só para variar, conta com um ótimo goleiro: Thibaut Courtois ocupa o posto que na Copa de 1994 pertenceu a Michel Preud’homme, a quem eu gostava de me comparar sempre que defendia um chute (mesmo que deixando passar outros mil).

Mas, se a Bélgica já foi embora da Copa dando a sensação de que rendeu menos do que o esperado, o mesmo não se pode dizer de sua comida: essa não decepcionou. No outro final de semana, foi minha vez de cozinhar o tradicional almoço de sábado (que excepcionalmente aconteceu no domingo) na casa da minha avó, e o prato da vez era belga. Pesquisei e dentre as opções achei uma receita chamada Carne Belga – que é uma espécie de carne de panela, simples de preparar, mas diferente das que costumamos comer por aqui. O segredo é um ingrediente comum a várias receitas belgas que encontrei: cerveja. Fiz o prato duas vezes: a primeira no outro final de semana, a segunda ontem – e por conta disso, após passar a receita e o modo de preparo falarei de algumas adaptações que tomei a liberdade de fazer, em especial na segunda vez.

A receita original é a seguinte:

  • Duas colheres de sopa de farinha de trigo;
  • Três colheres de sopa de banha;
  • Duas xícaras de chá de cerveja;
  • 200 gramas de cebolas cortadas;
  • Tempero a gosto;
  • Um quilo de lagarto (tatu).

Modo de preparo:

  • Fritar a cebola até dourar;
  • Fritar a carne (cortada em fatias) até dourar bem dos dois lados;
  • Juntar a farinha de trigo e misturar a cerveja aos poucos, para não engrossar;
  • Cozinhar em panela tampada por pelo menos duas horas.

Como já tinha falado mais acima, fiz algumas adaptações na receita. A primeira disse respeito à banha: decidi usar óleo normal.

Quanto aos temperos, como a própria receita dizia, era “a gosto”. Assim, antes de fritar temperei a carne com aceto balsâmico e cerveja (depois de fritar juntei a farinha com mais cerveja), misturando também um pouco de pimenta – mas só um pouco, para não repetir o “calorão” que passaram todos (inclusive eu, claro) que comeram o prato chileno que cozinhei no início de junho.

A maior adaptação foi quanto à carne utilizada. Na primeira vez, se deu apenas na quantidade: achei que um quilo era demais, então comprei algo em torno de 500 gramas. Usei a mesma quantidade na segunda vez, mas de outro tipo de carne: ao invés de lagarto, optei por entrecot, mais macio – e que, assim, não precisa cozinhar tanto tempo (a receita original fala em duas horas).

Quanto ao tempo, é um problema ter de cozinhar a carne por duas horas – ainda mais que a cerveja dá ao molho um cheiro irresistível. Por isso, vale mais a pena optar por cortes mais macios. Ainda mais que justamente no dia em que preparei a receita com lagarto o gás acabou quando eu mal começara a fritar as cebolas: o que já seria demorado tornou-se ainda mais demorado, e dada a fome de todos, a carne não cozinhou o tempo necessário, ficando um pouco “dura”.


Para beber, a sugestão é óbvia, né? Mesmo que inverno combine com vinho, essa receita “pede” para ser acompanhada por uma boa cerveja – de preferência a deliciosa Stella Artois, uma das mais famosas da Bélgica.

O prato principal do almoço de domingo. Pena que não deu para anexar o cheiro junto...

Pena que não deu para anexar o cheiro junto…

“Efeito colateral” não me serve

Eventualmente, após o expediente, no caminho de casa paro em um bar, peço uma cerveja e uma torrada, e fico ali, refletindo. Não faço isso todos os dias, nem mesmo todas as semanas, mas a “tradição” vem de dois anos atrás, de forma que os garçons não só me conhecem como também sabem exatamente o que vou pedir. E até hoje, jamais pedi a segunda cerveja a cada parada, pouco importando a pressa ou o calor.

Fiz isso no final da tarde da quarta-feira. Na mesa ao lado, estava um grupo de pessoas discutindo política – mais especificamente, a repressão policial às manifestações de junho. Notei que as opiniões não coincidiam: havia os que criticavam a ação policial por atingir pessoas que não praticavam vandalismo, e outros que defendiam porque “na hora não tem como distinguir”.

Quando estava quase indo embora, um dos caras começou a falar sobre a ação do Bope na Favela da Maré, no Rio de Janeiro, que deixou nove mortos entre os dias 24 e 25 de junho. Ele falou sobre as mortes e as críticas sofridas pelos policiais devido às mortes, em especial de pessoas que não tinham nenhuma ligação com grupos criminosos. Segundo o cara, tratava-se de “efeito colateral”, pois se, supondo, um inocente havia morrido, a morte de oito “bandidos” resultou em muitas vidas inocentes poupadas. Dessa forma, estaria justificado o crime cometido pelo Bope.

Sim, crime. Pois se matar é um ato criminoso, isso vale também para a polícia. Ela é o “braço armado” do Estado, tem a função de nos proteger. E essa história de “matar um para salvar dez” não me serve. É fácil acreditar que dessa forma a polícia protege inocentes de serem mortos por criminosos, simplesmente ignorando que ela assassina muitos outros. Se é para realmente proteger, não pode matar, ponto. (A não ser em legítima defesa, o problema é que aí ela provavelmente servirá de “justificativa” para inúmeras ações policiais criminosas: é capaz de argumentarem que pedras eram uma ameaça mortal a uma tropa armada com fuzis.)

Não cheguei a dizer ao cara a minha opinião, pois realmente já estava de saída. Não acompanhei o restante da discussão. De qualquer forma, fica registrado o que eu penso. Se estou doente, quero um remédio que me cure, e sempre procurarei escolher o que não me cause efeitos colaterais ou que eles sejam mínimos. Se um medicamento que causa sonolência é ruim, o que dizer de um que resulta em morte?

A vida é uma soma de insignificâncias

O avião é o meio de transporte mais seguro que existe. Mas ao mesmo tempo é também o mais apavorante para muitas pessoas. Afinal de contas, por mais que as estatísticas nos mostrem que morrer em um acidente de carro a caminho do aeroporto é mais fácil do que na aeronave, também sabemos que um erro do piloto pode ser fatal – ou seja, sentimos que nossas vidas está nas mãos de outra pessoa. Quando viajamos de carro, temos a ilusão de que está tudo sob controle: sim, uma ilusão, pois mesmo tomando todos os cuidados necessários quando se dirige, um outro motorista pode estar bêbado ao volante e na próxima curva nos acertar em cheio, de frente, sem que tenhamos tempo suficiente para desviar.

Acredito que tenha sido mais ou menos assim que o papo com o Alexandre Haubrich, do Jornalismo B, tenha tomado a direção que tomou quinta-feira passada, no Parangolé. Resumindo: somos resultados de escolhas que nós mesmos e outras pessoas fazemos. E que, por mais insignificantes que sejam aparentemente, definem o que será de nossas vidas a curto, médio, ou longo prazo. Continuar lendo

Carro pra quê?

Terça-feira era dia de aula na especialização. Assim, ao invés de sair do trabalho e voltar a pé para casa, embarquei em um ônibus da linha T1.

Na hora de descer, me deparei com o par de olhos mais lindo que já vi. Até agora me pergunto se o rosto dela era tão belo assim, ou se era só reflexo daqueles olhos verdes…

Isso também me faz perguntar: comprar um carro, pra quê? Quando saio com os amigos, também me acompanha a cerveja – o que me deixa inapto a voltar dirigindo. Assim, melhor pegar carona com quem não bebe, ou um táxi, ou até ônibus no caso deles ainda passarem.

Usar carro durante a semana, para ir e voltar do trabalho? Nem pensar. Se andando a pé (ou de ônibus, como na última terça) já sou estressado ao extremo, imaginem dirigindo no “fantástico” trânsito de Porto Alegre? Isso não iria acabar bem.

De qualquer forma, adoro andar de ônibus, apesar dos pesares (como os constantes aumentos na passagem que não correspondem a uma melhoria no serviço – o que motiva mais gente a usar o carro no dia-a-dia). Ao contrário do Milton Ribeiro, não consigo ler durante o trajeto (embora eu siga insistindo em levar um livro toda vez que viajo de ônibus), então procuro observar as pessoas, as paisagens. Olho tanto para fora como para dentro do ônibus, e vejo tanto coisas ruins como boas.

Quando se está dirigindo, por sua vez, é impossível fazer tais observações sem correr sérios riscos. A única coisa que interessa é saber a distância do carro da frente, cuidar a velocidade, a sinalização etc. E a coisa piora quando o trânsito está caótico. Enfim, acho um saco dirigir na realidade, esse negócio que acontece fora das propagandas de automóveis.

Sem contar que dirigindo não há a possibilidade de poder observar um belo par de olhos verdes: se olhar demais, o sinal é que fica verde e preciso acelerar para não ser xingado até a quinta geração.

Da falta de inspiração

Quando o Cão fica sem atualizações, não é simplesmente por falta de tempo. Às vezes passo por uma “escassez de inspiração” para escrever, que chega a ser perturbadora.

Não costumo atualizar o blog diariamente, fato. Para isso, sim, falta tempo, pois escrever num blog não é coisa tão simples quanto possa parecer. Sem contar que certos assuntos merecem um texto bem elaborado, não podem sair assim, “em cima da hora”.

O pior é que a semana que se inicia não promete muito. Mas me esforçarei.

Quem sabe saia, finalmente, alguma memória do Olímpico Monumental: para terem uma ideia do quão próxima está a despedida dele, o jogo de ontem foi o último realizado em um sábado, pois as duas partidas que restam pelo Campeonato Brasileiro serão em domingos (dia 11 contra o São Paulo e o Gre-Nal em 2 de dezembro). E pela Sul-Americana, caso avancemos, os jogos são sempre durante a semana. O pior de tudo é que nem tinha notado isso, e sequer fui tomar uma última cerveja pós-jogo de sábado no Olímpico…

O fim da melhor feijoada da escadaria do Viaduto Otávio Rocha

Fui pela primeira vez ao Tutti Giorni num final de tarde de verão em 2008. Aquelas mesas na escadaria do Viaduto Otávio Rocha me chamaram a atenção, e pensei no quão bacana seria tomar uma cerveja ali. Ainda mais que por ser um lugar alto, bate mais vento e assim se sente menos calor.

Quando tomei aquela primeira cerveja, descobri que não era apenas um bar num lugar privilegiado. O Nani falou dos pratos que costumava servir no almoço, com destaque para o tradicional carreteiro a R$ 1,99. Mas além disso, tinha uma deliciosa feijoada. E a decoração do Tutti, então, era sensacional: inúmeros desenhos, cartuns, e mesmo caricaturas do Nani, feitas pelos cartunistas da GRAFAR que haviam adquirido o hábito de se reunir no bar todas as terças-feiras à noite. Inclusive, o Tutti só funcionava à noite nas terças-feiras – exceto no verão, quando abria em mais noites de olho nos Rodrigos da vida, sedentos por uma cervejinha gelada (com direito à deliciosa uruguaia Zillertal).

Frequentei bastante o Tutti em 2008 e 2009, época em que o meu pai morava ali perto e também costumava ir bastante ao bar. Porém, no segundo semestre de 2009 meu pai se mudou e passei a andar menos pela região; além disso, foi a época de escrever meu trabalho de conclusão na faculdade, que me fazia pensar muito menos em cerveja e muito mais no prazo cada vez mais apertado. Assim, minha frequência diminuiu bastante.

Já sabia àquela altura que o Nani corria risco de perder o bar devido a pendências com o condomínio referentes a um período em que ele esteve em coma devido a um acidente de carro. Mas imaginava que tudo iria se resolver, e o “bar dos cartunistas” continuaria ali, animando uma das escadarias do viaduto da Borges todas as noites de terça-feira. Não conseguia pensar que, um dia, iria ao Tutti Giorni pela última vez.

Pois o dia chegou. Em breve, o Nani terá de entregar o ponto. Anteontem (uma terça-feira, óbvio), o Tutti Giorni abriu pela última vez à noite, e fiz questão de passar lá e tirar com o celular mesmo algumas fotos do bar que não terei mais como frequentar – a não ser que ele reabra em outro ponto, como torço que aconteça. Mas de qualquer forma, só resta lamentar pelo fim do espaço em um lugar tão bacana, que ajudava a escadaria do viaduto a não ser um lugar tão inseguro nas noites de terça-feira – os mesmos que devem estar celebrando o “fim do barulho” certamente sentirão falta do Tutti quando o entorno ficar pouco movimentado e, consequentemente, mais perigoso.

Pelo direito de sair apenas quando se está com vontade

A culpa que as pessoas sentem de ficar em casa em uma sexta-feira ou sábado à noite é nada menos que impressionante. E meio assustadora. Incrível como a galera acha que há uma espécie de dever social de sair à noite, encher a cara, fazer farra, pegar alguém se for solteiro e amanhecer em algum lugar bizarro e desconhecido, de preferência com um(a) completo(a) desconhecido(a) do lado. E que não fazê-lo dentro dos prazos e intervalos semanais determinados pelo senso comum é algum tipo de doença ou derrota social.

Sou velho. Acho que nasci velho, na verdade. E tenho essa mania de (olha que absurdo!) só fazer as coisas quando estou realmente com vontade. Muitas vezes quero sair, outras tantas não. E nada há de certo ou errado em uma coisa ou outra. Não consigo entender que culpa há em não sair no sábado, por ex: é um dia como os outros. Ou precisamos mesmo concentrar tudo de bom que uma semana pode ter em algumas poucas horas de um dia específico? Prefiro uma vida boa do que uma noite boa, de modo geral. E uma série de boas noites empilhadas, queiram vocês ou não, não constitui uma vida.

Por favor: parem com essa auto-depreciação boba de “não vou sair hoje, ai que derrota”. Se querem sair, saiam; se não querem ou não podem, fiquem em casa. E era isso. Mas, por favor, decida e pare de reclamar.

A citação acima é do Igor Natusch, via Facebook, publicada ontem à noite. Achei tão sensacional, que decidi “roubar”, e escrever sobre ela.

É um assunto sobre o qual já falei outras vezes aqui no Cão, e acho que nunca é demais discutir novamente: a tal da “obrigação de ser feliz”. Ou melhor, os padrões do que é uma “vida feliz” que as pessoas se sentem obrigadas a seguir.

Lembro dos tempos de colégio, mais especificamente do segundo grau. Toda segunda-feira, via vários colegas comentando sobre as “baladas” do final de semana, e eles ficavam espantados quando eu dizia não só que não tinha ido a “festa” alguma, como também que não me fazia o menor sentido sair em todos os finais de semana. (A adolescência é realmente o período mais interessante da vida: é a época na qual queremos “afirmar nossa identidade”, daí a tendência de alguns a se rebelar contra os pais; mas ironicamente o que se desenvolve é um “senso de manada” que leva os jovens a seguirem padrões, a fazerem o que é considerado “coisa de jovem”, enquanto quem realmente tem personalidade própria – ou seja, afirma sua identidade – é rotulado.)

Dizem que a “primeira impressão é a que fica”. Portanto, a primeira impressão que tive de uma “balada” (eu tinha de ir para poder falar mal) foi a pior possível. Era verão, época na qual Porto Alegre vira Forno Alegre. Vesti uma bermuda para sair, ou seja, vestimenta adequada à temperatura registrada na cidade. Foi depois que soube: na maioria dos lugares não se pode entrar de bermuda, só de calça comprida… Ou seja, para “me divertir” naquela noite eu teria de passar calor, o que para uma pessoa que sua em demasia combina mais com sofrimento do que com divertimento.

Ainda assim, por muito tempo, fui a “baladas”. Mais por causa da turma de amigos do que por vontade própria: eu não escondia deles que preferia ir a um bar, onde se pode conversar devido à música não ser tão alta, mas ainda assim não queria “fazer a desfeita” de não acompanhá-los. Não vou mentir dizendo que nunca me diverti, mas não era meu programa preferido para uma sexta ou um sábado à noite.

Com o passar do tempo, comecei a fazer o que eu realmente gostava: ir a um barzinho com a turma, reunir o pessoal para ver um filme, ou mesmo ficar em casa. Era convidado para “baladas” e não ia mais. Aos poucos, os amigos deixaram de me convidar, o que não lamentei, pois assim não corria o risco deles me convencerem através da insistência – o que já acontecera muitas vezes, quando invariavelmente eu sentia falta do dinheiro gasto na noite.

Ou seja, geralmente estou “a postos” para ir ao bar, jogar War na casa de alguém ou mesmo botar conversa fora tomando um chimarrão na Redenção. Nem sempre faço isso… Ruim? Não. Pois isso quer dizer que não tenho uma “programação-padrão” para os finais de semana. Em alguns eu saio, em outros não – tanto por falta de convite como pela própria vontade de ficar em casa fazendo alguma outra coisa.

E se der vontade de tomar uma cerveja no final da tarde de uma segunda-feira, o que fazer? Esperar a sexta-feira? Claro que não: basta conferir a carteira; se ela não estiver “limpa” é só ir para o bar, com ou sem companhia.

Viver bastante vale a pena, seja por muito ou pouco tempo

O título parece uma frase sem sentido, mas não é. Viver bastante, não é a mesma coisa que viver por muito tempo.

Na última segunda-feira, 5 de março, minha avó Luciana completou 90 anos de idade. Mais que isso: 90 anos de vida. Pois ela nunca aceitou aquele papel que costuma ser designado aos idosos, o de apenas existirem. Faz comida (com especial preocupação voltada ao almoço de sábado, que é quando meu irmão e eu costumamos visitá-la), toma cerveja, lava louça, roupa, e até pouco tempo atrás, ia sozinha ao supermercado e ao banco – só não tem mais ido porque já levou dois tombos graças às “maravilhosas” calçadas de Porto Alegre, o que é muito perigoso para quem tem osteoporose.

A verdade é que existir não é igual a viver. Conheço idosos que são “úteis”, não no sentido de “trabalhar para fazer o sistema funcionar” (como pregam os defensores do status quo), e sim, de procurarem fazer alguma diferença, e assim serem importantes para as pessoas que conhecem – e muitas vezes, até para quem não conhecem.

Ao mesmo tempo conheço gente com menos idade que a minha avó, mas que só existe para se alimentar e assistirem televisão – e falo da programação de domingo da TV aberta; antes fossem os documentários do National Geographic ou do Discovery. Sinceramente, não consigo me imaginar vivendo assim: só de tentar, já me vem à cabeça a palavra “depressão”.

Não sei se viverei por tanto tempo, igual à minha avó (que deve ir ainda mais longe). Mas se eu chegar aos 90, quero que seja igual a ela: podendo fazer a maior parte das coisas que gosto. Mas, caso eu tenha muitas limitações, espero que não me impeçam de ler bastante.

Grêmio 1 x 1 América-MG

Pergunta da minha chefe, na manhã de hoje: O Grêmio jogou ontem?

Minha resposta: Ontem o Grêmio entrou em campo. Agora, jogar já é outra história…

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Acabei não indo ao jogo. Fiz bem: se eu fosse, teria de assistir aquilo, e ainda por cima sem poder tomar uma cervejinha para atenuar o desalento.

E também não poderia protestar após o apito final. Pois quem vaia é “falso gremista”, e ainda corre o risco de apanhar da polícia…

FORA ODONE!