Das falsas equivalências

Está na moda ser “nem a nem b” no Brasil. “Nem Lula nem Bolsonaro”, diz uma galera louca de vergonha de admitir que, em caso de segundo turno entre os dois, vota no segundo pois “PT nunca mais”. (Engraçado que provavelmente nunca tenham vivido tão bem como na época em que o PT “destruía nossas vidas”.)

O pior desse (por assim dizer) argumento “nem Lula nem Bolsonaro” é a falsa equivalência entre os dois. “Sou contra extremos, temos que romper a polarização”, diz quem consegue ver algum resquício de extremismo nos governos petistas. “PT vai transformar o Brasil em Venezuela”: tchê, se em 13 anos de presidência isso não aconteceu, ou foi muita incompetência ou simplesmente nunca houve tal objetivo (dica: a resposta certa é a segunda).

Se houve algum extremo nos governos Lula e Dilma, foi de moderação. Os bancos lucraram como nunca. Não houve regulação da mídia. Foi um período no qual o capitalismo brasileiro se fortaleceu. Mas para isso acontecer era preciso haver maior inclusão social (como defendem liberais de verdade), o que é (e continua) inaceitável para as elites e boa parcela da chamada “classe média” – que se identifica mais com a classe dominante mesmo estando muito próxima do “andar de baixo”.

Ou seja, não há uma extrema-esquerda viável eleitoralmente no Brasil. Ao contrário da extrema-direita que, graças ao apoio desses ditos “setores moderados”, é governo atualmente. Onde está a polarização?

Resposta: na cabeça de quem apertou 17 em 2018 e não apenas se recusa a admitir que fez cagada, como também tem disposição de repetir a cagada em 2022.


De certa forma, o mesmo ocorre no tocante à famosa “treta” entre “frioristas” e “caloristas” que se repete ano após ano quando vivemos o auge ou do inverno, ou do verão. Ouvi ao longo deste domingo (um dos dias mais sufocantes da história dessa cidade infernal chamada Porto Alegre) que “nenhum extremo é bom, nem inverno nem verão”.

Olha, eu já nem sou mais muito fã do inverno, confesso que “encaranguei” no último, quando junho e julho foram mais frios que o normal. Tenho preferido temperaturas amenas.

Mas… Inverno ou verão para mim é quase como um segundo turno entre Lula e Bolsonaro (com a diferença de que na eleição eu já vou de 13 no primeiro turno). É uma falsa equivalência dizer que são “dois extremos”.

O inverno é bem cruel com os mais pobres (especialmente moradores de rua), é verdade. O que torna ainda mais revoltante a desigualdade no Brasil: reduzindo a pobreza, também se diminui o sofrimento com o frio, visto que não temos temperaturas realmente extremas como no Canadá ou na Noruega (países onde o inverno não é uma tragédia social). Falta calefação nas construções aqui no sul do Brasil, mas ao mesmo tempo isso encareceria os imóveis: excetuando os municípios de maior altitude (onde faz mais frio), será que valeria a pena considerando que são muito poucos os dias nos quais realmente é preciso aquecer ambientes? Alguém poderia dizer que não posso ser a referência mas lembro do quanto senti frio em junho e julho de 2021: ainda que eu tenha “encarangado”, foram bem poucos os dias nos quais realmente senti falta de ter aquecimento; nos demais bastava vestir mais roupas e tomar uma taça de vinho para ficar confortável. Sem contar que nosso inverno não é inteiramente frio, não são incomuns dias de intenso calor quando se esperariam temperaturas baixas.

Já o verão é igualmente cruel com os mais pobres, mas isso não dá tanto “ibope” nas redes sociais: é mais fácil posar de defensor dos moradores de rua dizendo que odeia inverno mesmo esquecendo deles quando chega a primavera. Num dia como foi o domingo, com Porto Alegre registrando mais de 40 graus, os pobres com teto precisaram escolher entre ligar o ar condicionado (quando o têm) e pôr comida na mesa (é preciso dinheiro para pagar a conta de energia); moradores de rua dormem no chão muito quente (e desconfortável), à mercê de baratas e outros insetos, e passando muita sede. E contornar o calor é muito mais difícil por se depender muito mais de energia elétrica: se no inverno só não conseguimos nos aquecer apenas vestindo mais roupas em meia dúzia de dias, no verão o ar condicionado é uma necessidade ao longo de quase toda a estação para que se possa trabalhar com conforto (e em muitos dias também é necessário para conseguir dormir). Ainda mais que, ao contrário do inverno, o verão nunca dá trégua: já vesti bermuda em julho mais de uma vez, e nunca usei blusão de lã em janeiro.

O fato é que ninguém gosta de passar frio ou calor, a diferença é na facilidade para lidar com um ou outro. Aqui não é o Canadá (onde faz 50 graus negativos), nosso inverno é muito moderado, ao contrário do verão que é, cada vez mais, extremo. Escolher entre um e outro é algo como… Optar entre Lula e Bolsonaro. É uma escolha facílima.

O verão é o Bolsonaro do nosso clima.

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O pior de todos os verões

Dizer que o verão de Porto Alegre é “infernal” configura redundância. Não é de hoje que faz “calor de desmaiar Batista” (a própria expressão surgiu em 2010 após o referido comentarista passar mal ao vivo na televisão).

Mas o próximo verão, que se aproxima e já faz seus primeiros “ataques”, tem tudo para ser o pior de todos os tempos. Pois se em tempos normais já se passa muito calor por aqui, em 2020/2021 teremos o agravante do uso da máscara por conta da covid-19.

Sexta-feira tive uma “amostra grátis” do que nos aguarda. Fui ao supermercado e cheguei em casa vertendo suor. E isso que nem estava tão quente… Imagina em janeiro.

Pior é pensar que poderia ser menos arriscado sair sem máscara agora que o tempo começa a esquentar. Pois ainda antes do inverno um bando de idiotas vinha com o papo furado de “direitos individuais” para justificar o não uso da proteção. Por conta disso, a pandemia até “arrefece” mas segue muito longe de estar controlada. E provavelmente não será recomendado o uso de ar condicionado no serviço durante o verão.

Os tais “direitos individuais” dessa corja atentam contra o direito coletivo de preservarmos nossa saúde e de sofrermos menos com o calor. Culpa principalmente do ser repulsivo que foi eleito presidente em 2018, apesar de tanto avisarmos que era roubada.

Saudade das amenidades

Já fui mais fã do inverno, confesso. É verdade que continuo me sentindo mais confortável em dias como a sexta-feira do print acima (feito numa manhã na qual não precisei sair da cama por conta da quarentena: apenas capturei a tela, virei para o lado e dormi novamente) do que naqueles de calor infernal do verão “forno-alegrense”. Sem contar que em matéria de frio o nosso inverno é bem ameno na comparação com os que se registram no Canadá, na Escandinávia ou na Sibéria. Mas a verdade é que ultimamente ando preferindo as temperaturas amenas do outono – e, às vezes, da primavera (problema dela é ter muito temporal, apesar de ser a época do meu aniversário).

Um dos motivos é, sem dúvida, de ordem social. Não é segredo para ninguém que “curtir o inverno” não é para qualquer pessoa. Sou privilegiado: tenho um teto para me abrigar, roupas para vestir etc. Quem tem poucos recursos e, pior ainda, vive nas ruas, realmente sofre com as baixas temperaturas. (Sim, o verão também é cruel para quem não tem grana para passar dias na praia ou para comprar e usar com regularidade o ar condicionado: o problema maior não é o clima e sim a pobreza.)

Nos últimos anos, também senti muito pela minha avó Luciana. Ela vinha sofrendo bastante os efeitos do frio, e cada inverno que terminava era motivo de celebração. Em 2020 não será, por ela não ter chegado a ele: o próximo domingo (5) marca o primeiro mês da partida dela. E os últimos dez dias demonstram que ainda não “caiu a ficha” por conta do isolamento imposto pela pandemia (a última vez que vi ela com vida foi em março): as previsões de frio intenso ainda me fazem pensar, automaticamente, que “isso é ruim pra vó”.

No ano de 2020, em particular, ainda tem essa maldita pandemia de covid-19. Os fatos demonstram que o tempo quente não está intimidando o vírus: Manaus, onde faz calor o ano inteiro, passou por momentos terrivelmente tristes. Mas é verdade que o inverno aumenta a incidência de doenças respiratórias aqui no Rio Grande do Sul, e não é de hoje que emergências e UTIs lotam nos meses mais frios do ano em Porto Alegre. E é exatamente agora que estamos vendo o forte crescimento da pandemia por aqui, coincidindo com o pico de gripes e pneumonias.

Jamais imaginei que um dia iria perguntar isso, mas: falta muito para a primavera? Ainda que eu goste de assistir filme e dormir enrolado em cobertores, estou bem a fim de uma temperatura amena.

Aliás, queria muito que voltássemos a ter dias mais amenos, sem tantas notícias tristes.

A sexta-feira que mais aguardo

Minha estação do ano preferida é o outono. Gosto tanto dessa época que conto os dias para sua chegada em praticamente todos os verões – e obviamente não está sendo diferente no atual.

Em 2020 o outono terá um “plus”. O início oficial será no habitual 20 de março, que este ano cairá em uma sexta-feira.

Outono e sexta-feira: seria possível uma combinação melhor?

E a melhor notícia é que, contando o tempo que falta para 20 de março “para trás”, o resultado é já depois do Natal. Significa que mais da metade do verão já foi. Que o restante passe ainda mais rápido!

A falta que faz o horário de verão

Falar que o verão está sendo muito quente em Porto Alegre é quase uma redundância. Digo “quase” pois de vez em quando acontece deles serem um pouco mais “civilizados”. Como aconteceu ano retrasado, quando não houve longos períodos de calor insuportável e na maioria dos dias tinha um vento por demais agradável nos finais de tarde.

Já no ano passado a coisa foi bem ruim. E agora está sendo ainda pior. Mesmo que eu tenha a impressão de que as madrugadas estão sendo menos quentes – provavelmente o abafamento noturno de 2019 se devesse ao El Niño que, felizmente, acabou no meio do ano. Complicado mesmo está sendo sair para trabalhar: as manhãs estão muito mais sufocantes que o habitual. Para entender o motivo, vamos voltar um pouco no tempo.

Em 14 de janeiro de 2019, o sol nasceu às 6h37min em Porto Alegre. Hoje, exatamente um ano depois, na mesma cidade, ele raiou às 5h37min. Por conta disso, em janeiro de 2019 saíamos para trabalhar com menos calor pois fazia menos tempo que o sol tinha nascido. Já agora ele está no céu há mais tempo: quando o relógio marca 8h, temos o mesmo tempo de luz solar no dia que o registrado às 9h no ano passado. E essa diferença não se deve a mudanças nos períodos de rotação e translação da Terra: isso tudo continua igual, o que mudou foi a hora marcada pelo relógio, que no final das contas é o que rege nossas atividades em uma sociedade urbanizada. Pois um ano atrás tínhamos horário de verão, e agora não o temos por (mais uma) decisão estúpida do cidadão que (des)governa o Brasil.

Pior que a decisão, só os “argumentos” que a sustentam. Tem aquele já bem batido do “relógio biológico”: engraçado que já vi os mesmos reclamões viajarem para a Europa e não reclamarem da diferença de fuso horário… Outro diz respeito às pessoas que “saem cedo, ainda no escuro, para pegar ônibus”: neste caso, é bom lembrar que (pelo menos no caso de Porto Alegre e outras cidades do Rio Grande do Sul) no inverno o sol nasce bem mais tarde que com horário de verão (depois das 7h em junho e julho); e estações do ano não podem ser canceladas por decreto.

O mais razoável tem relação com a economia de energia elétrica proporcionada pelo horário de verão, que vinha caindo ano após ano: se antigamente fazia a diferença as pessoas chegarem em casa bem antes do pôr-do-sol e por isso não precisarem acender as luzes, mais recentemente a disseminação dos aparelhos de ar condicionado (e seu uso madrugadas adentro para proporcionar um sono com maior conforto térmico) fez com que a mexida nos relógios causasse menos impacto no consumo de eletricidade. Apesar disso, ainda faria sentido a implantação da medida.

E faz não só por conta da ainda existente economia de energia. O horário de verão significava mais tempo de luz natural para ser desfrutado, considerando que o relógio rege as nossas vidas. Em Porto Alegre, no verão do ano passado ainda tinha sol às 20h; no atual já é praticamente noite. Isso proporcionava não apenas mais qualidade de vida a todos nós, como também colaborava para movimentar a economia: as pessoas ficavam mais tempo na rua e, consequentemente, consumiam mais, especialmente em bares – já que o tempo quente torna ainda mais desejável uma cerveja gelada. E a noite que começava “mais tarde” também terminava “mais tarde” no dia seguinte, fazendo com que o calor nos castigasse menos pela manhã.

Ou seja, no geral só perdemos com essa decisão estúpida de acabar com o horário de verão. Mas, faz muito sentido se considerarmos o caráter do (des)governo atual, que faz de tudo para acabar com o que resta de felicidade no Brasil.

Que tal detestar a coisa certa?

Está acabando o inverno e isso não me deixa feliz. Mesmo que eu não desgoste da primavera (estação na qual vim ao mundo há quase 38 anos), lembrar que mais um verão está a caminho me leva a já contar os dias para o outono, que é minha estação do ano preferida. Mas entre inverno e verão eu prefiro o primeiro, ainda que para os mais pobres o frio cause muito sofrimento: comigo acontece o contrário pois acho mais fácil lidar com as baixas temperaturas que com as altas, já que para mim basta vestir mais roupas enquanto no calor só o ar condicionado resolve – o que resulta em alto gasto de energia elétrica e, consequentemente, em uma conta mais cara.

Claro que é fácil preferir o inverno quando se está debaixo de um teto e se tem roupas para vestir. Ao mesmo tempo que gostar de verão podendo passar a maior parte dele na praia ou no ar condicionado é “barbada”. Difícil é curtir o frio tendo poucos recursos para se proteger dele, ou calor precisando trabalhar debaixo do sol a pino do meio-dia.

Acredito que os dois parágrafos anteriores deixaram bem claro qual é o maior problema. Não é nada de ordem climática: é a pobreza e a desigualdade social. Não importa a época do ano, para rico não existe adversidade: no verão ele pode curtir uma piscina pois tem condições de manter uma, ir para a praia ou simplesmente pegar um avião e ir para algum país frio sem se preocupar com os custos da viagem; no inverno pode desfrutar de um café colonial em Gramado ou esquiar em Bariloche sem sentir aquela “dor no bolso”, ou embarcar em um voo (igualmente “barato”) para algum lugar quente (vão pra Cuba!); na primavera é possível escapar de eventuais alergias pelo florescimento viajando sem preocupação para onde é outono – a propósito, alguém consegue ter alguma coisa a reclamar do outono?

Ruim mesmo não é inverno ou verão. A falta de grana para se sofrer menos com o clima é que é uma bosta: mesmo detestando calor eu tenho ar condicionado e posso usá-lo com frequência mesmo isso que pese no bolso depois. Para os mais pobres, isso significa menos comida na mesa – e a fome independe da estação do ano.

Logo, que tal passar a atacar e detestar o que realmente importa? Pois não adianta “sentir pena” dos pobres no inverno só para “fazer média” nas redes sociais e votar na direita depois que chega a primavera…

Conselhos: se fossem bons, seriam pagos

O ditado é um tanto “dinheirista”, mas concordo demais pois faz muito sentido.

Ontem postei uma foto cujo objetivo maior era o escárnio ao (des)governo instalado em Brasília na última terça-feira. Captura de tela do meu celular informando a temperatura de 37°C e dizendo que após o coisa ruim tomar posse, “estávamos no inferno”.

Pra quê… Recebi “conselhos” para “aproveitar melhor o verão”, como “me associar em clube com piscina”.

É o seguinte: isso não cabe no meu orçamento. Se coubesse, talvez já tivesse me associado… Talvez. Pois ser sócio de clube com piscina não me livraria desta noite de merda, com 30°C depois de uma hora da madrugada e ar condicionado não dando vencimento. E ainda tenho de torcer para não ter corte de luz – algo muito possível numa noite como essa. Sair de Porto Alegre me parece muito mais eficaz do que clube com piscina: pena que só tenha direito a 30 dias anuais de férias e o verão dure (pelo menos) 90… Sem contar que eu sequer teria dinheiro para passar um mês fora dessa fornalha.

“Ai mas no inverno os pobres sofrem, moradores de rua passam frio”: sim, mas eles não sentem calor também? O problema do inverno é meramente de ordem sócio-econômica: com um teto para se abrigar e roupas para vestir, dificilmente se sofrerá realmente com o frio por aqui.

Isso me dá muito nojo: gente que pode tranquilamente usar estufas e mesmo tirar férias durante o inverno para viajar a um lugar mais quente (ou simplesmente dormir até mais tarde já que, de fato, o frio dá preguiça de sair da cama), ao invés de fazer isso, prefere ficar de “mimimi” em rede social fingindo que se preocupa com os pobres, quando apenas quer uma desculpa “nobre” para sua preguiça de vestir algumas roupas a mais. E nem é no inverno inteiro: dá para “contar nos dedos” o número de dias de “renguear cusco” a cada ano – e em alguns deles não temos nenhum.

A pobreza não acaba quando a temperatura sobe, acho bom lembrarem disso. E eu mesmo reclamo de “barriga cheia” do calor: felizmente tenho ar condicionado (espero que haja energia para ele funcionar a noite inteira), os pobres que sofrem com o frio certamente estão com imensa dificuldade de dormir nesta noite de merda.

Larguem de ser populistas: vocês que reclamam de um inverno que é “fichinha” na comparação com Sibéria, Canadá, Escandinávia e mesmo a nossa vizinha Argentina, são de dar inveja a Trump e Bolsonaro.

E não me deem conselhos. Já tenho idade suficiente para saber o que quero. Se eu precisar de qualquer dica, pedirei. Caso eu simplesmente reclame de alguma coisa e não peça ajuda, reclame junto ou mantenha um respeitoso silêncio. E se quiser mandar contra, ao menos seja engraçado ao invés de passar conselhos que mais parecem “spam”.

Promessas

Nunca me esqueço de uma crônica de Luis Fernando Verissimo acerca de resoluções de ano novo, na qual explicava por que não as fazia. O motivo principal: elas costumam acontecer “no calor do momento”, quando a soma de bebidas alcoólicas e empolgação por uma “novidade” – que nada mais é do que uma convenção – nos impele a falar coisas sem pensar.

Lembro disso e, automaticamente, de outras promessas que fiz – as quais, obviamente, não consigo cumprir.

Uma delas é bem recente: a de não mais beber cerveja. Foi na noite seguinte à derrota do Grêmio para o River Plate, que eliminou o Tricolor da Libertadores. Para mim o saldo foi bem mais negativo do que um resultado adverso no campo, visto que naquela noite fui furtado: quando percebi meus bolsos estavam vazios, precisei encarar burocracia em busca da segunda via dos meus documentos e terei a despesa não-planejada da compra de um novo celular (atualmente uso um provisório só para acessar o básico). É verdade que bebi demais, mas injustamente quis culpar a cerveja: o maior culpado, antes de qualquer outra pessoa (ou bebida), é, obviamente, o ladrão. Até havia algum fundamento na ideia de largar a cerveja: aquela noite, dois dias após o segundo turno eleitoral, foi apenas um “fecho de ouro” para o pior outubro da minha vida, no qual muito bebi para suportar o fardo que era – aliás, ainda é – morar no Brasil. Mas foi só (re)começar o calorão que me veio a vontade de tomar uma breja gelada: moderadamente, vale muito a pena.

Outra promessa que andei fazendo tempos atrás e não tenho como cumprir: não reclamar do calor. Pois a fiz lá em junho, lembrando que nunca convenci ninguém que prefere o inferno ao inverno a mudar de ideia, para dar uma indireta aos “chatonildos do pão e circo” que reclamavam da Copa do Mundo – que foi das raríssimas coisas boas de 2018, apesar do fracasso latino-americano nos gramados russos. Era o auge do inverno (aliás, outra coisa boa de 2018 é que teve inverno, mesmo que eu tenha caído de cama por um gripaço), já tinha quase me esquecido do desconforto que o verão me proporciona. Mas não completamente: em alguns momentos cheguei a desejar temperaturas amenas, jamais o abafamento e os banhos de suor típicos do nosso verão.

Mas o maior fracasso dentre minhas promessas, sem dúvida alguma, foi a de ignorar o noticiário político. Não tive como. Ainda mais numa eleição como foi a de 2018.

É por isso que continuarei bebendo, mesmo que moderadamente. E substituo a expressão “calor de desmaiar Batista” por “calor coiso”: acho que faz muito mais sentido, pois trinta e todos graus – assim como o candidato que venceu a eleição presidencial – me dão desespero e vontade de ir embora para o Canadá, enquanto o frio pode até causar algum desconforto, mas nos leva a pensar mais nas pessoas e dá vontade de abraçá-las. Inverno é amor.

Camarada verão

O atual verão está sendo até agora o menos massacrante em muitos anos aqui em Porto Alegre. Dá para “contar nos dedos” os dias de “Forno Alegre”: uns na semana passada, outros em janeiro, e o dia da final do Mundial entre Grêmio e Real Madrid (16 de dezembro: no calendário ainda era primavera mas na prática já era verão). De resto, vários dias com calor à tarde – afinal, é verão – mas com um ventinho ao anoitecer para refrescar. Espero que siga assim até seu final: importante falar disso, pois ainda falta mais de um mês para o início do outono.

Claro que não está sendo um verão “frio”, apesar da manhã desta terça-feira ter se assemelhado mais à Páscoa (que por ser no outono muitas vezes registra mínimas amenas e mesmo frias) do que ao Carnaval que está em suas últimas horas. Pois “verão frio” é algo que ao menos em Porto Alegre inexiste: ainda que uma temperatura mínima de 15°C seja baixa para fevereiro, em junho e julho é algo “acima da média” (que oscila entre 9°C e 10°C). Assim como não recordo de alguma vez ter precisado usar jaqueta, blusão de lã e cachecol durante o verão por aqui.

Bem ao contrário de usar bermuda e camiseta no inverno, algo muito mais comum do que parece: apesar da imagem de “Sibéria” associada ao Rio Grande do Sul, nosso frio é “fichinha” em comparação com lugares de inverno realmente rigoroso. Até porque raramente temos longos períodos “de renguear cusco”, o mais comum é a alternância de dias frios com amenos e até mesmo quentes.

E em alguns anos o inverno sequer é digno do nome – algo que muito desagrada a quem, como eu, prefere o frio ao calor. Foi o que aconteceu em 2017.

Mas hoje me senti um pouco “vingado” – sim, eu tenho “espírito de porco”. No Facebook, vi gente que morou a vida toda no Rio Grande do Sul reclamando do “frio” da manhã, mesmo que fossem moderados 15°C. Sentiram (só) um pouco da insatisfação térmica que eu tive nas várias vezes em que no último inverno o termômetro “passou lotado” dos 30°C (média das máximas em janeiro e fevereiro).

Não derreti com o calor

Até porque nem está tão quente assim, o problema é a umidade elevada. A previsão de “onda de calor” para os próximos dias chega a me fazer rir, pois não há prognóstico de três semanas com temperaturas beirando os 40°C como aconteceu em 2014 – naquela época eu já celebrava quando não passava dos 35°C.

Mas ainda assim, não vejo a hora que chegue o outono. Faltam “só” 30 dias para o início oficial – o início “de verdade”, que é quando a temperatura cai, leva mais um tempo.

Que venha logo.