Vale tudo por audiência

Charge do Kayser

Não assisto BBB. A única vez que tentei assistir foi na primeira edição: enchi o saco logo no começo. (E pelo que sei, a única coisa realmente boa que o programa fez ao Brasil foi tornar conhecido Jean Wyllys, que hoje é deputado federal pelo PSOL-RJ e empreende no Congresso uma valorosa luta contra a homofobia.)

Porém, com todo mundo falando do programa na época de sua exibição (o que é um dos motivos pelos quais odeio o verão), praticamente não tinha como saber sobre a acusação de abuso sexual cometido por um dos participantes. A vítima, sob efeito de álcool e visivelmente desacordada no momento, já é acusada pelos machistas de plantão de “ter se insinuado”. Sim: para eles, mulher vítima de abuso sexual “fez por merecer”.

(Assim, caso vejas uma mulher de minissaia na rua, pode ter certeza: ela não está com calor – o mesmo que te faz destilar suor – e sim, quer ser agarrada… Ela vai gritar, te chamar de tarado, mas não dá bola, isso é só para “se fazer de difícil”: vai fundo e mostra quem é o dominador nessa história.)

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O participante acusado de abuso foi expulso do BBB pela produção do programa, e provavelmente terá de se explicar à polícia (que foi aos estúdios da Rede Globo para investigar a denúncia). Ótimo.

Porém, o que acontecerá com a Globo, que transmitiu as cenas ao vivo, depois dessa? Não fosse a grande repercussão do caso na internet (que levou a polícia ao Projac), podem ter certeza de que a emissora teria “posto panos quentes” no assunto, que “morreria” em poucos dias. Afinal, pelo que li, a Globo já tinha negado qualquer possibilidade de abuso sexual no programa, e Pedro Bial ainda teria dito “o amor é lindo”, em referência ao fato.

Acho que já passa muito da hora de rever as concessões (que são públicas) para emissoras que fazem qualquer coisa por audiência.

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Que chegue logo o outono!

No momento que escrevo, milhões estão grudados na televisão para assistirem à maior idiotice da TV brasileira – tanto que é um dos motivos pelos quais odeio o verão.

Uma pergunta muito pertinente: qual a percentagem de fanáticos que sabe o motivo do programa ter o nome que tem? Triste ironia: o negócio é inspirado em um personagem de um livro (o “Grande Irmão”, de 1984, clássico de George Orwell), mas seu objetivo ao confinar pessoas numa casa não é que elas discutam literatura (ou o crescente vigilantismo dos dias atuais).

Aliás, mais um motivo para ter nojo da Globo: na Argentina, eles assistem ao Gran Hermano – ou seja, tradução ao espanhol do original em inglês. Já a “vênus platinada”, como defensora do Brasil que é (né, Galvão Bueno?), prefere que falemos Big Brother

A única coisa boa nessa bosta é que, quando terminar, já estaremos no outono. Que chegue logo!

Começa oficialmente mais um verão

E com isso, republico (com uma devida atualização) a lista dos motivos pelos quais prefiro o inverno ao verão, que postei pela primeira vez em julho.

  1. Odeio suar o tempo inteiro.
  2. O Sol não é meu inimigo no inverno – no verão nem adianta me encher de protetor, eu suo tudo.
  3. Os principais eventos esportivos (Copa do Mundo, Jogos Olímpicos, Copa América, Eurocopa etc.) acontecem entre junho e agosto, meses mais frios do ano no hemisfério sul.
  4. O Natal é no verão.
  5. O programa mais imbecil da televisão brasileira passa sempre no verão. Claro que não o assisto, mas me dá nojo ver como “o Brasil para” por causa desse lixo.
  6. No verão, eu bebo cerveja e suo. No inverno, ela me aquece (e não venham me dizer que isso é contradição: se for por isso, quem gosta do calor não devia ligar ventilador).
  7. Vinho não combina com 35°C.
  8. Economia de energia: no inverno não preciso ligar ventilador nem ar condicionado.
  9. Assistir a um filme enrolado num cobertor é muito bom!
  10. Verão no Rio Grande do Sul + futebol = Campeonato Gaúcho.
  11. Os mosquitos (espécie animal mais mala que existe) sofrem com o frio.
  12. Baratas, idem.
  13. A babaquice de algumas propagandas de cerveja aumenta exponencialmente no verão.
  14. Até o calor do inverno é melhor: tem dias que faz mais de 30°C e eu não suo, devido à baixa umidade (o que é raro no verão).
  15. Dizer que o nosso inverno é horrível é exagero dos bons: nunca se considerou Porto Alegre o lugar mais frio do mundo num dia. Agora, mais quente, sim… Inverno frio demais, é na Antártida ou na Sibéria.
  16. Não temo pelo meu computador em dias frios.
  17. Menos gente lê o Cão Uivador no verão.
  18. Comer chocolate no verão é um problema: ele fica todo molengão.

Parou por aí, porque por enquanto não lembrei de mais nenhum motivo – que poderá vir nos comentários.

Alguém poderá citar o sofrimento das pessoas mais pobres com o frio como motivo para preferir o verão, e a minha resposta é: a culpa não é do inverno!

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Menos mal que, de acordo com as previsões, o fenômeno La Niña vai deixar o tempo menos úmido por aqui. Pois o que faz o verão ser terrível em #fornoalegre não é simplesmente o calor, e sim a umidade elevadíssima. A ponto de muitas vezes uma caminhadinha de 50 metros se traduzir num banho de suor, mesmo que a temperatura esteja abaixo de 30°C.

Uma pena que o La Niña seja também ruim para a agricultura, por provocar estiagem. Mas não podemos simplesmente culpar o clima pelos problemas da agricultura.

De qualquer jeito, seja o calor seco ou úmido, começa junto com o verão a minha contagem regressiva para o outono: faltam 89 dias!

Bons motivos para eu preferir o inverno ao verão

  1. Não estou suado!
  2. O Sol não é meu inimigo nessa época – no verão nem adianta me encher de protetor, eu suo tudo.
  3. Os principais eventos esportivos (Copa do Mundo, Jogos Olímpicos, Copa América, Eurocopa etc.) acontecem entre junho e agosto, meses mais frios do ano no hemisfério sul.
  4. O Natal é no verão.
  5. O programa mais imbecil da televisão brasileira passa sempre no verão. Claro que não o assisto, mas me dá nojo ver como “o Brasil para” por causa desse lixo.
  6. No verão, eu bebo cerveja e suo. No inverno, ela me aquece (e não venham me dizer que isso é contradição: se for por isso, quem gosta do calor não devia ligar ventilador).
  7. Vinho não combina com 35°C.
  8. Economia de energia: faz uns três meses que não ligo o ventilador para dormir. Ar condicionado, então, só ligo quando o calor está muito forte, no frio eu dispenso.
  9. Assistir a um filme enrolado num cobertor é muito bom!
  10. Verão no Rio Grande do Sul + futebol = Campeonato Gaúcho.
  11. Os mosquitos (espécie animal mais mala que existe) estão todos encarangados de frio.
  12. Baratas, idem.
  13. A babaquice de algumas propagandas de cerveja aumenta exponencialmente no verão.
  14. Até o calor do inverno é melhor: semana passada fez 30°C em Porto Alegre e eu não suei, graças à baixa umidade.
  15. Dizer que o nosso inverno é horrível é exagero dos bons: nunca se considerou Porto Alegre o lugar mais frio do mundo num dia. Agora, mais quente, sim… Inverno frio demais, é na Antártida ou na Sibéria.
  16. Não temo pelo meu computador em dias frios.
  17. Menos gente lê o Cão Uivador no verão.
  18. Continuo sem suar!

Parou por aí, porque por enquanto não lembrei de mais nenhum motivo – que poderá vir nos comentários.

Alguém poderá citar o sofrimento das pessoas mais pobres com o frio como motivo para preferir o verão, e a minha resposta é: a culpa não é do inverno!

O cigarro e eu

Quem já me viu perto de fumantes, sabe o quanto sou chato… Êta fumacinha desgraçada! O fato do meu pai e da minha mãe serem fumantes apenas ajuda a aumentar minha repulsa por essa (autêntica) droga.

Cheiro de cigarro é simplesmente horrível. Tão ruim, que acredito detestá-lo mais do que o verão de Porto Alegre. Aquele calorão pode ser nojento, me deixar de mau humor… Mas, em si, ele não mata: as doenças típicas do verão – como a dengue – podem ser prevenidas mesmo que a temperatura mantenha-se alta.

Já o cigarro, causa no mínimo um câncer. E o pior de tudo, é que aquela fumaça maldita é mais maléfica para quem não está com o cigarro na boca: afinal, a porcaria tem filtro que impede o fumante de aspirar todo o lixo contido no negócio. Ou seja, quem acompanha o “chaminé” corre mais risco: guardadas as proporções, andar com um fumante é como ter uma Chernobyl ambulante ao lado (afinal, radiação também causa no mínimo um câncer).

Ou seja, quem me conhece acha que eu devo adorar “leis antifumo”, como a que começou a vigorar em São Paulo, e a que já existe em Porto Alegre (não sei se é exatamente igual à paulista). Mas, incrivelmente, eu sou contra. Por quê?

Simples. Apesar do cigarro ser uma droga (literalmente), fazer mal à saúde etc., acho que a melhor maneira de combatê-lo é a educação: ou seja, divulgando o máximo possível os malefícios causados por ele, tornando as pessoas conscientes disso. Assim como, é claro, os fumantes aprenderem que nem todo mundo gosta de cigarro e daquela fumaça desgraçada, e assim evitarem fumar junto a quem não se mata aos poucos.

Sem contar que não vejo lógica em uma lei que proiba o fumo em tantos lugares, sendo o cigarro uma droga legalizada. Ou seja, o fumante pode comprar cigarro (pagando uma porrada de imposto – e tem que pagar mesmo) mas ao mesmo tempo não pode consumi-lo mesmo em alguns locais abertos.

Porém, e se um dono de bar decidir que seu estabelecimento é “exclusivo para fumantes”? Afinal, não haveria conflitos, visto que quem não fuma não entraria. Já aconteceu em Porto Alegre, logo que a lei antifumo passou a vigorar por aqui: o proprietário colocou uma placa em frente avisando que o bar era “exclusivo para fumantes”, mas alguém chamou a Brigada, o que gerou confusão.

E já que falei em bar, não custa nada lembrar a estúpida proibição ao álcool nos estádios de futebol. Venderam isso como a solução para a violência entre as torcidas, e assim desde o Campeonato Brasileiro do ano passado não se pode tomar uma cervejinha gelada durante o jogo. Mas, no dia 16 de novembro de 2008, uma briga entre torcidas gremistas após o jogo Grêmio x Coritiba terminou em tiroteio e pessoas baleadas em estado grave no HPS. E a motivação é bem mais séria do que uma simples desavença provocada por umas cervejas a mais.

O que eu quero dizer com tudo isso? É que utilizando-se de motivos nobres – como o combate aos malefícios causados por uma droga – o Estado vai se “bigbrotherzando” aos poucos. Uma coisa é a defesa da saúde do cidadão e a repressão ao crime, outra é usá-las como desculpas para controlar o dia-a-dia e os costumes das pessoas. Afinal, o que é a Lei Azeredo?

Hoje, os vilões são os pedófilos, os fumantes e os torcedores que gostam de tomar uma cervejinha no estádio (claro que não todo o estoque do bar, aí sim é coisa de bebum!). No futuro, poderão ser todas as pessoas que não se encaixem no padrão para uma “sociedade ideal”. Ou seja, que sua aparência, seus costumes, seus hábitos, não agradem a quem detém o poder.

Lei Azeredo: o medo deles não é o que se “baixa”, e sim o que se “sobe”

A Claudia Cardoso disse tudo, lá no Dialógico. Embora haja muitos interesses da indústria cultural (gravadoras, editoras etc.) em criminalizar a troca de arquivos de áudio, vídeo e textos via internet, a maior preocupação é quanto ao que se “sobe” para ela. Afinal, a web permite o acesso a informações que jamais se teria na mídia corporativa, e pode até mesmo influenciar as pautas dela.

Um exemplo atual é a situação vivida por moradores de uma área cobiçada pela especulação imobiliária no bairro Cristal, zona sul de Porto Alegre.  Através da música, denunciaram as “propostas” dos especuladores para que deixem o local onde moram há anos (o vídeo, pesquei do Alma da Geral).

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Claro que os mentores do projeto não dirão isso, pelo medo de serem acusados – com toda a justiça – de defensores do autoritarismo. Pelo que eles dizem – e que convencerá os que não têm conhecimento do que se trama – a lei a la 1984 servirá para combater a pirataria e, principalmente, a pedofilia. Ou seja: se utilizando de uma causa nobre – proteger crianças de tarados que não estão só na internet – passarão a considerar qualquer internauta como um criminoso em potencial, que até prova em contrário, será suspeito.

O Google é o Grande Irmão?

bigbrother

Em cada artigo na Desciclopédia (a hilária sátira da Wikipédia), aparecem frases (em geral fictícias, mas engraçadas) sobre o tema. Em todos, aparece a expressão “Você quis dizer: …”, e abaixo “Google sobre [tema do artigo]”.

Pois bem: no artigo sobre o Grande Irmão, a frase do Google era “Você quis dizer: Google“. Não bastasse isso, o artigo ainda era vigiado! Pelo próprio Grande Irmão (Google?), claro.

Ontem, ao acessar as estatísticas do Cão, vi que o blog havia sido citado em algum fórum do Orkut. Algo que já havia acontecido outras diversas vezes. Fora do Orkut desde março de 2006, me era vedada a possibilidade de ver onde havia sido citado o blog.

Como tenho um e-mail no Google (Gmail), isso quer dizer que tenho conta no Google. Logo, poderia me recadastrar no Orkut. Decidi então fazê-lo, mas não chamar ninguém. Apenas veria onde o Cão havia sido citado, e depois sairia. Não me passava pela cabeça voltar a cuidar de perfil, mensagens e outros inconvenientes.

Logo que completei o processo de cadastro, apareceu uma lista de “sugestões de amigos”. E logo no começo da lista, uma guria que eu mandaria para o inferno se eu acreditasse na existência dele.

Apavorado, fiz o que eu pretendia fazer: vi de onde no Orkut haviam clicado no meu blog. Era uma comunidade sobre futebol…

Logo, desfiz meu cadastro novamente. O Orkut é do Google, e ele sabia quais seriam meus “amigos”. Havia gente legal na lista (e faltava muita também), mas a presença dessa guria é a prova: o Google é o Grande Irmão! E assim como na obra de George Orwell, ele é do mal, mas quer que o amemos!

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Como o post é de humor, não posso deixar de recomendar essa, apesar de não ser relacionado ao fato acima.

E não custa nada dizer a verdade para não apavorar os mais impressionáveis: as “sugestões de amigos” do Orkut eram baseadas em quem tem meu endereço do Gmail. Sim, o Google sabe muito, mas só porque tem o meu e-mail.

“Diletas” Já!

Caderno "Domingo" do Correio do Povo, 22 de janeiro de 1984 (clique para ampliar)

Caderno "Domingo", Correio do Povo, 22 de janeiro de 1984 (clique para ampliar)

O ano era 1984. Ao contrário do que previra George Orwell, (ainda) não vivíamos em uma sociedade da vigilância total. O que não quer dizer que fosse um mundo muito democrático: aqui no Brasil, os militares ainda estavam no governo.

Porém, a ditadura iniciada em 1964 se encaminhava para seu final, conforme a idéia de uma abertura “lenta, gradual e segura”. Pela primeira vez, se vislumbrava a eleição de um civil para a Presidência da República, após 20 anos de governos militares. Mas, conforme previa a Constituição de 1967, a escolha do sucessor do general Figueiredo se daria de forma indireta, via Colégio Eleitoral, em 15 de janeiro de 1985.

Em março de 1983, o deputado Dante de Oliveira (PMDB-MT) apresentou uma proposta de emenda constitucional para reestabelecer a eleição direta para presidente. Para mostrar à ditadura militar que o povo queria votar, diversos líderes políticos decidiram mobilizar a sociedade. Em 27 de novembro de 1983 foi realizado um comício no Pacaembu (São Paulo), e no dia seguinte, diversos governadores oposicionistas assinaram manifesto por eleições presidenciais diretas em 1984.

Zero Hora, 14 de janeiro de 1984 (capa)

Zero Hora, 14 de janeiro de 1984 (clique para ampliar)

A campanha adotou as palavras de ordem “Diretas Já!” e “Eu quero votar para presidente”. O primeiro comício aconteceu em Curitiba, no dia 12 de janeiro, reunindo 60 mil pessoas. No início da tarde do dia seguinte, uma passeata de 10 mil pessoas percorreu o Centro de Porto Alegre, apesar do forte calor – que provocou indisposição no governador mineiro Tancredo Neves, impedindo sua ida ao comício de lançamento das “Diretas Já” no Estado, realizado na noite de 13 de janeiro em Cachoeira do Sul, com a presença de 5 mil pessoas.

No dia 14 de janeiro, o veraneio deu lugar à politização em Camboriú (SC), onde um comício reuniu 15 mil pessoas. A campanha cresceu e ganhou força com o comício realizado na Praça da Sé, em São Paulo, no dia do aniversário da cidade (25 de janeiro) – utilizado pela Globo como pretexto para encobrir a verdadeira razão de um público estimado entre 250 mil e 400 mil pessoas se reunir.

O título “à moda Cebolinha” se deve ao fato de que o meu pai me ensinou a gritar “Diretas Já!”, mas eu, com 2 anos e meio de idade em abril de 1984 (quando se realizaram os maiores comícios da campanha, dentre eles o que reuniu 200 mil pessoas em frente à Prefeitura de Porto Alegre), gritava “DILETAS JÁ!”.