Sebastián Piñera, um empresário de direita, é o novo presidente do Chile. Ontem, derrotou Eduardo Frei, da coligação de centro-esquerda Concertación, no segundo turno da eleição presidencial. É a primeira vez em 52 anos que a direita chega ao governo de forma democrática no país: a última vitória direitista no país não se dera nas urnas, e sim nas armas, quando o golpe militar de 11 de setembro de 1973 derrubou o presidente socialista Salvador Allende e deu início à ditadura de Augusto Pinochet.
Foi também a primeira grande derrota da Concertación de Partidos por la Democracia, formada em 1988 como Concertación de Partidos por el No, quando da realização do plebiscito sobre a continuidade ou não de Pinochet no governo – a vitória do NÃO impediu o ditador de prosseguir no Palácio de la Moneda até 1997. Derrotado, não restou a Pinochet outro caminho que não o de convocar eleições para 1989, e deixar o governo em 11 de março de 1990, sendo substituído por Patrício Aylwin, do Partido Democrata Cristão, integrante da Concertación.
A direita chilena tem características muito singulares. Uma delas é o fato de se assumir como direita, bem diferente de seus colegas brasileiros. Outra, é não esconder sua admiração pela ditadura de Augusto Pinochet: no Brasil, só os reacionários (embora não sejam tão poucos) defendem abertamente o regime militar.
Pode causar estranheza o fato do Chile eleger um candidato opositor a um governo com 80% de aprovação. É o que faz a direita brasileira salivar: a presidente Michelle Bachelet não conseguiu transformar sua aprovação em uma avalanche de votos para Eduardo Frei. Porém, é preciso ressaltar alguns fatos.
O primeiro, é o fato de Frei já ter sido presidente, de 1994 a 2000. Se ele não fez um bom governo… Isso certamente foi muito lembrado pelo adversário e pelos que se julgaram prejudicados pelo governo Frei.
Também não se pode esquecer que a esquerda chilena, ao contrário da uruguaia, se dividiu – talvez até devido à indicação de um ex-presidente como candidato da Concertación: Marco Enríquez-Ominami apresentava-se como “esquerda”, e dizia o absurdo de que Frei e Piñera eram “iguais” (e certamente não faltará gente para dizer “Dilma e Serra são iguais” aqui no Brasil, assim como em Porto Alegre ajudaram a eleger Fogaça em 2004 ao dizerem “Pont e Fogaça são iguais”…). Enríquez-Ominami obteve 20% dos votos no primeiro turno: a maioria esmagadora de seus votos migraram para Frei no segundo, mas foram insuficientes para evitar a vitória da direita.
Vale também chamar a atenção para a apatia política da juventude no Chile. Muitos jovens sequer se inscreveram para votar, o que é uma tragédia. Literalmente, deixaram que os mais velhos decidissem seu futuro. Nem falo que os mais velhos sejam mais conservadores, já que a juventude se mostrou tremendamente acomodada – o que não deixa de ser uma forma de conservadorismo. Porém, os jovens nem sequer expressam sua opinião (mesmo que conservadora), deixando que os outros decidam.
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Tudo isso quer dizer que José Serra será o próximo presidente do Brasil? Claro que não. Mas deixa claro que, por maior que seja a popularidade de Lula, Dilma Rousseff ainda está longe de ser a ocupante do Palácio do Planalto a partir de 1º de janeiro de 2011.
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