A utilidade das árvores

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Em fevereiro, o prefeito de Porto Alegre justificou a derrubada de árvores para alargar uma avenida dizendo que as pessoas “não as utilizavam”. Virou piada na hora.

Uma das utilidades das árvores, como já lembrei naquela época, é proporcionar sombra. Ainda mais nesses últimos dias, em que caminhar pelas ruas de Porto Alegre é um verdadeiro suplício: nada melhor que árvores de copas generosas para ficarmos protegidos do sol inclemente. Afinal de contas, não são todos que podem andar de carro com ar condicionado (aliás, ainda bem, pois se a cidade já está quase parando agora, imaginem se todos andassem de carro).

Mas, um dia o feitiço há de virar contra o feiticeiro: o ar condicionado do carro do prefeito pifará num dia como hoje, e ele ficará trancado no congestionamento em uma dessas avenidas sem árvores que todos acreditaram que melhoraria o trânsito.

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Estranha Porto Alegre

Porto Alegre em um 26 de dezembro sempre tem uma cara completamente diferente de qualquer outro dia útil. Andando pelas ruas, não se vê aquela montoeira de carros passando, como acontece durante a maior parte do ano. É uma calmaria quase dominical, que causa impacto: acostumada com a grande movimentação, é notável o início de um ritmo mais calmo, que geralmente se estende até o Carnaval.

Mas Porto Alegre não estava simplesmente diferente neste 26 de dezembro de 2013. Estava estranha. Ruas limpíssimas. Calçadas em ótimo estado, sem oferecer risco de quedas. Todos os ônibus cumprindo seus horários. Semáforos para pedestres abrindo rápido, sem demorar um século. E para o pouco tempo de espera, sombras de generosas copas de árvores. Era tudo muito esquisito mesmo, parecia alguma pegadinha – afinal, não lembrava de ter me mudado para outra cidade, tão bem cuidada.

Charge do Kayser (fevereiro de 2010, mas é como se fosse dezembro de 2013)

Charge do Kayser (fevereiro de 2010, mas é como se fosse dezembro de 2013)

Agora entendi…

Ele voltará

A primavera é a estação das flores, e não é possível negar que tem sua beleza. O mês de setembro é marcado pelo espetáculo de ipês roxos e amarelos; em outubro é a vez dos jacarandás embelezarem a cidade com seu florescimento.

Sinceramente, a primavera podia muito bem durar seis meses, começando agora e só terminando em março. Assim, seria seguida pelo outono, que também tem sua beleza; depois viria o inverno, no qual as folhas velhas cairiam e seriam substituídas por flores em uma nova primavera. Dessa forma nos livraríamos do verão, que em Porto Alegre sabe como ser insuportável.

Mas como não tem jeito, o negócio é curtir as primeiras semanas de primavera, que ainda têm temperaturas agradáveis e também nos enchem os olhos. Em geral, o tempo é bom (leia-se “não é Forno Alegre”) até o final de outubro, algumas vezes ainda em novembro e muito raramente em dezembro. Depois, é penar* e contar os dias para o retorno do outono.

Porto Alegre, maio de 2013

Porto Alegre, maio de 2013

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* Falar em praia e férias não vale: não é qualquer um que pode se dar ao luxo de passar mais de três meses “de papo pro ar”, longe da cidade…

Os “ecochatos” me representam

Resfriado, acabei não indo ao protesto contra o corte de árvores na região do Gasômetro, que aconteceu no final da tarde de hoje. Porém, ao mesmo tempo que lamentava o fato de estar ausente, também tinha certeza de algo: quem lá esteve, me representou.

Não consigo ver sentido em querer reduzir os congestionamentos em Porto Alegre (um problema que é sério) mediante o alargamento de ruas. Com isso trilhamos o caminho inverso ao seguido por cidades como Bogotá, onde o problema do trânsito foi resolvido não com construção de avenidas largas e viadutos, mas sim com ciclovias e transporte público de qualidade. Para ver só: enquanto em outros lugares os governantes (e a população, que os elege) estão abrindo os olhos e percebendo que priorizar o automóvel só piora as coisas…

Aqui em Porto Alegre, certa imprensa não se cansa de deixar bem claro que está ao lado da prefeitura (embora siga fingindo ser “imparcial”). E vários comentários em suas matérias, então, são de um reacionarismo nauseante. Aquele velho papo de “tem que dar pau nesses vagabundos”, típico de gente que não dá a mínima importância para a democracia. Sem contar, claro, as tradicionais referências a quem luta pelo meio ambiente como sendo “ecochatos que impedem o progresso da cidade”.

Pois eu digo: fico feliz que os “ecochatos” estejam se manifestando. Não sei se conseguirão alcançar seu objetivo, que é o de impedir a derrubada das árvores, visto que ela foi permitida pelo Tribunal de Justiça. Mas ao menos estão tentando.

Os “ecochatos” me representam, assim como a todos os que não têm como estar lá. Bem ao contrário dos que ainda conseguem a façanha de acreditar que asfalto é progresso: diante de tanta estupidez, num momento de raiva pensei em responder dizendo que desejava a eles que fossem para o inferno. Porém, depois reparei em algo: Porto Alegre já está se tornando infernal (e não simplesmente devido ao intenso calor do nosso verão), e no que depender desses “asfaltochatos”, o inferno será aqui.

O indiscutível “progresso” de Porto Alegre

Um monte de gente acha que rua asfaltada é “progresso”. Que é preciso abrir mais vias para os automóveis particulares passarem, pois a cidade está muito congestionada devido à falta de espaço para os carros.

E não é só isso. Acham que é preciso “dar uma tunda nesses vagabundos ecochatos” que reclamam da derrubada de árvores para o alargamento de ruas. Afinal, é bobagem essa história de “Forno Alegre”, a cidade é fria o ano inteiro, ninguém precisa usar as sombras das árvores, né?

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Quente ou fria (sinceramente, acho muito mais é quente), Porto Alegre tem chuva. Às vezes fraquinha, “de mansinho”. Só que de vez em quando “vem tudo de uma vez”. E a lei da gravidade faz com que a água escorra para os locais mais baixos, em direção ao Guaíba.

Mas, é possível fazer com que desça ainda mais água, para alagar boa parte da cidade e criar inúmeros congestionamentos: basta impermeabilizá-la com bastante concreto e asfalto. E, claro, eliminar áreas verdes, de solo permeável.

O resultado está aí. Espero que os fãs do “progresso” tenham curtido bastante este 20 de fevereiro de 2013.

Para que serve uma árvore?

O prefeito de Porto Alegre parece não saber, conforme declarou ao Correio do Povo. Ele acha que todas aquelas árvores derrubadas defronte à Usina do Gasômetro “não eram utilizadas” pela população.

Aliás, o que quer dizer “utilizar uma árvore”? Eu achava que elas serviam para serem aproveitadas, proporcionar sombra, purificar o ar etc. Aliás, “aproveitar” é um dos sinônimos de “utilizar”, o que quer dizer que aquelas árvores eram muito bem utilizadas.

Porém, para a prefeitura aquelas árvores só serviam para atrapalhar o andamento de uma “obra da Copa”. É assim no Gasômetro, e também lá na Anita Garibaldi, onde será construída uma passagem de nível também chamada de “trincheira” (se bem que o nome acerta na mosca: priorizar o automóvel faz o trânsito ficar cada vez mais estressante, num clima de “guerra”).

Se as árvores são “inúteis” e atrapalham o trânsito, então botem-nas abaixo! Afinal, em Porto Alegre o tempo é sempre frio e chuvoso… Essa história de “Forno Alegre” é coisa da oposição.

Porto Alegre precisa de mais árvores que façam sombra

No texto de ontem, falei sobre a “loucura do tempo” em agosto: a temperatura bem acima da média “confundiu” muitas árvores, que começaram a florescer antes da hora. Com destaque para os ipês-roxos, que geralmente ficam floridos em setembro, mas já estão assim agora.

O bacana neste tipo de árvore é demarcar a mudança das estações do ano, mesmo que parcialmente. Várias espécies plantadas em Porto Alegre não perdem as folhas no outono, mas sim no final do inverno, antecedendo o florescimento que anuncia a chegada da primavera – são árvores como os já citados ipês e os jacarandás (cuja floração, que atinge o auge em meados de outubro, chamou tanto a atenção do meu pai que ele escolheu a Rua Pelotas para morar quando eu estava para nascer). Temos também as espécies que perdem as folhas durante o outono, tornando-o a época que considero a melhor para se estar em Porto Alegre.

Só que as árvores tem outra função importantíssima além do paisagismo. Após o florescimento da primavera, no verão elas se enchem de folhas e proporcionam a tão necessária sombra nos dias de sol forte, de modo a evitar queimaduras e mesmo um câncer de pele (antes que falem em protetor solar, lembro que comigo não adianta muito pois eu suo em demasia). Além disso, em ruas bem arborizadas se passa menos calor do que em outras que têm poucas árvores. Ou seja, os diversos “túneis verdes” que a cidade tem fazem com que ela não seja totalmente inóspita naqueles dias de “Forno Alegre” que nos assolam durante o verão.

Porém, ultimamente, há uma estranha tendência em Porto Alegre: a de só se plantar palmeiras nas ruas. Logo que se constrói algum novo empreendimento comercial, em seu entorno são plantadas palmeiras, é claro, como compensação ambiental relativa a árvores removidas nas obras.

Tem gente que é totalmente contra plantar palmeiras por achar que elas “não combinam com Porto Alegre”. Bobagem: algumas avenidas têm como “marcas registradas” as belas palmeiras imperiais em seus canteiros centrais – casos da Getúlio Vargas e da Osvaldo Aranha. Sem contar aquelas que foram plantadas por engano na ponte da João Pessoa sobre o Arroio Dilúvio e, por incrível que pareça, cresceram – não se sabe de outro caso semelhante (na ponte da Getúlio também há duas palmeiras, mas elas são pequenas).

Porém, elas têm um problema sério: praticamente não produzem sombra. Como eu disse, caminhar por uma rua com poucas árvores (ou mesmo nenhuma) durante o verão em Porto Alegre é um verdadeiro suplício; já numa via arborizada, se sofre menos com o calorão… Desde que as árvores diminuam a insolação. O que não acontece com as palmeiras, que embora cresçam mais rápido que outras espécies, não têm copa frondosa como jacarandás, ipês e tipuanas.

Assim, nada pior do que passar a se plantar apenas palmeiras em Porto Alegre. Felizmente ainda restam muitas ruas com árvores que fazem sombra; porém, deveríamos ter mais. Não só para sofrer menos no verão, como também para que a cidade fique mais bonita, com uma arborização diversificada.

Obviamente, isso não impede que também se plantem palmeiras – acho que elas ficam muito bem em canteiros de avenidas, como provam as já citadas Osvaldo Aranha, João Pessoa e Getúlio Vargas. Mas, como eu disse, também, e não apenas. E trocar um jacarandá ou um ipê por uma palmeira como forma de compensação ambiental, não compensa nada.

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E como falei em jacarandás, não custa nada levar o leitor a uma “visita virtual” à Rua Pelotas, da qual tanto falo quando lembro minha infância (só uma pena que o carro do Google passou por lá em setembro do ano passado, quando deveria ter esperado mais um mês). Aliás, a rua está cada vez menos arborizada: muitas árvores estão doentes e têm caído com uma frequência preocupante, sem contar as que foram cortadas pela SMAM. Foram plantadas outras mudas no lugar (felizmente não são palmeiras!), mas de espécies diferentes; e mesmo que fossem jacarandás, o ideal seria tratar os que já estão lá, visto que levaram muitos anos para atingirem o tamanho atual.

O mês em que o inverno enlouqueceu junto com os cães

Sempre ouvi dizer que agosto é o “mês do cachorro louco”. Não que eles de fato fiquem loucos nesta época: tem alguns que parecem estar sempre “malucos”, pouco importando o mês.

Imaginei que a tal “loucura” dos cães que é atribuída a agosto na verdade tivesse relação com a expressão “dias de cão” ou “canícula”, usadas para definir o auge do verão no hemisfério norte (e na França, as ondas de calor em qualquer época são chamadas de canicule). Lá, assim como aqui, os dias mais quentes costumam vir cerca de um mês após o solstício de verão: Porto Alegre costuma virar “Forno Alegre” com mais frequência entre o final de janeiro e a metade de fevereiro; já no hemisfério norte o calor mais intenso se dá entre o fim de julho e o meio de agosto.

E realmente, tem a ver com a tal “canícula”. Pois a estrela Sírius, a mais brilhante da constelação de Cão Maior (Canis Major), antigamente costumava surgir no horizonte antes do nascer do Sol justamente no período que corresponde ao auge do verão no hemisfério norte (hoje em dia, devido à precessão do eixo terrestre, a estrela “nasce” pouco antes do Sol em setembro). Daí se começou a associar os dias de muito calor aos cães que ficariam “loucos”.

Acredito que seja apenas coincidência, mas o vídeo abaixo foi postado em 27 de julho de 2006, portanto, em um dos “dias de cão” daquele ano:

Já deve ter gente rindo da minha cara, é óbvio. Afinal, detesto o verão, e os “dias de cão” são associados a calorão… Porém, prefiro outro ponto de vista: trata-se do verão no hemisfério norte, portanto, os “dias de cão” acontecem durante o inverno meridional. Logo, são realmente os “meus” dias.

Porém, neste agosto de 2012 parece que, se os cães enlouqueceram, o “rigoroso” inverno gaúcho resolveu imitá-los. Nas últimas noites, tenho ligado o ventilador para dormir, algo que não lembro de ter feito alguma vez nessa época do ano. (Inclusive ele está funcionando agora mesmo, enquanto escrevo.)

Mas não se trata apenas de ligar ventilador. Os ipês-roxos, que costumam florescer apenas em setembro e assim anunciam a chegada da primavera, já estão floridos agora. Ainda não vejo sinal de florescimento nos jacarandás (árvores que geralmente se enchem de flores em outubro), mas acredito que isso não deva tardar, devido ao tempo bizarro que temos visto em agosto.

As árvores floridas dão uma embelezada na cidade; porém, há o outro lado disso. Pois este mês quente também tem sido extremamente seco (dá para contar nos dedos de uma só mão quantos dias choveu até agora em agosto). A umidade relativa do ar tem andado em torno dos 20%, o que por um lado causa um desconforto menor pelo suor (que evapora rapidamente e sem nos dar aqueles “banhos” típicos do verão, quando a umidade é desesperadoramente alta), mas por outro resulta em outros problemas como ressecamento da pele e até das narinas (tanto que muita gente acaba sangrando pelo nariz, devido à secura do ar respirado).

Mas o pior é um fenômeno típico de São Paulo que tem nos atingido nos últimos dias: o chamado smog, que é literalmente um “nevoeiro de fumaça” (ou seja, poluição atmosférica). Toda vez que chove, o ar é “limpo” pela água que cai do céu; se por muitos dias a chuva não vem, o resultado não pode ser outro que não aquela névoa sobre a cidade. Quando o sol começa a baixar, ela fica mais perceptível. Resulta em um efeito bacana, mas logo depois lembro que a causa disso é um monte de porcarias no mesmo ar que adentra meu sistema respiratório, e já não acho mais tão bonito.

Porto Alegre, no final da tarde de sexta-feira. Parece bonito, mas não é.

Menos mal que, finalmente, a chuva está retornando junto com o frio…

Avenida Portugal

O título informal de “rua mais bonita do mundo” atribuído à Rua Gonçalo de Carvalho, em Porto Alegre, tem origem em Portugal. A fama da Gonçalo se deve ao biólogo Pedro Nuno Teixeira Santos, de Covilhã, que edita o blog A Sombra Verde. Em 4 de março de 2008, ele escreveu o texto com o título que hoje é automaticamente associado à rua porto-alegrense – basta fazer uma pesquisa no Google.

Em Rio Grande, onde estive esta semana, há uma avenida que me chamou muito a atenção logo que cheguei. No canteiro central foram plantadas várias árvores, principalmente plátanos, o que torna mais agradável caminhar pelo meio da avenida – tanto que muitas pessoas o fazem.

Logo que comentei sobre a beleza da avenida, soube seu nome: Portugal. E imediatamente lembrei do Pedro e outros portugueses que tanto amam as árvores, como o João Martins, de Loulé, que assim como o Pedro, é sócio da Associação Árvores de Portugal.

Abaixo, algumas fotos que tirei desta bela avenida. E considerando que as folhas das árvores já estão com uma coloração bacana agora em abril, no início do outono, peço ao leitor que imagine como estarão lá pela metade de maio…

Mais um jacarandá caiu na Rua Pelotas

Em novembro de 2008, fui com meu pai à Rua Pelotas, para fotografar seus jacarandás floridos. Falamos com alguns moradores da rua, que comentaram sobre o preocupante estado das árvores: muitas estavam com os troncos ocos, o que representava sério risco de queda nos vendavais que costumam atingir Porto Alegre. Eles queriam não que os jacarandás fossem removidos, e sim, que recebessem tratamento, para que pudessem continuar embelezando a rua por muito tempo.

No ano de 2009, dois jacarandás da Pelotas foram cortados pela SMAM, e em seus lugares foram plantadas novas árvores, que levarão muitos anos até se tornarem imponentes como as que ali estavam antes. E em abril de 2010, num dia em que não ventava, uma outra árvore caiu sobre carros na rua.

Assim, infelizmente não chega a me surpreender que a ventania da manhã de hoje tenha derrubado mais um jacarandá na Rua Pelotas, próximo à Cristóvão Colombo, atingindo uma banca de revistas. E dessa vez, os prejuízos não foram apenas materiais: duas pessoas ficaram feridas.

E enquanto os Bombeiros trabalhavam para remover a árvore caída, um pedaço de outra também caiu, conforme relatou à Rádio Guaíba o tenente Cláudio Bayerle, oficial de serviço do 9º BPM – que também chamou à atenção para as várias árvores podres na rua, que ameaçam cair. O que não é nenhuma novidade, mas quem sabe com o alerta vindo da Brigada Militar alguma atitude seja tomada pelas autoridades competentes para evitar que os jacarandás continuem a cair, a pôr em risco a vida das pessoas e a deixar a Rua Pelotas cada vez menos verde.