Rumo aos 31 a 0

“Todo dia é um 7 a 1 diferente” virou gíria no Brasil de depois daquela fatídica semifinal da Copa do Mundo de 2014. E em muitos casos se usa aquele fiasco diante da Alemanha como comparativo para outras situações.

Foi o caso de um meme (no caso, um print do Twitter) que circulou no final de junho do ano passado. Terminava o primeiro semestre de 2020, e na época achávamos que tinha sido tão ruim que era fácil concordar que a última vez que a primeira parte de algo acabara tão mal o Brasil ia para o intervalo do jogo contra a Alemanha perdendo por 5 a 0. Lembro inclusive de meu comentário ao compartilhar o meme: “pela lógica, levamos só mais dois no segundo tempo e tomara que o ‘gol do Oscar’ seja o impeachment”. (Para ver só, eu nem contava com vacina tão cedo…)

O segundo semestre de 2020 não foi como o segundo tempo daquele Brasil x Alemanha. Afinal, em 2014 os alemães só fizeram mais dois gols. Houve um “gol do Oscar” que foi a vacina; o problema é que em time mal treinado o atacante não presta atenção à defesa adversária e vive impedido: o “gol de honra” acabou anulado, e perdemos por 11 a 0.

Mas foi uma derrota honrosa na comparação com 2021, cujo primeiro semestre (pelo menos no Brasil) se encaminha para ser a pior primeira parte de algo desde quando soou o apito encerrando a etapa inicial de Austrália x Samoa Americana, partida válida pelas eliminatórias da Copa de 2002 que completou 20 anos no último domingo e entrou para a história pelo registro da maior goleada em um jogo oficial entre seleções nacionais. No caso, o Brasil vestiu a camisa de Samoa Americana e a covid-19, a da Austrália, que foi para o vestiário pensando se era ou não o caso de recuar o time e segurar a vitória parcial de 16 a 0.

A “retranca” prevaleceu e os australianos “tiraram o pé” no segundo tempo, só marcando mais 15 gols. Placar final: 31 a 0.

Considerando que estamos na metade de abril, na comparação recém passamos a metade do primeiro tempo. Em Samoa Americana x Austrália, o oitavo gol dos “Socceroos” saiu aos 23 minutos e o nono, aos 25. Aos 27, já estava 10 a 0.

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“Já li esse livro?”

Me fiz tal pergunta várias vezes durante a leitura de “O carisma de Adolf Hitler” – que ainda estou longe de terminar, para que se tenha uma ideia.

O livro de Lawrence Rees fala do nazismo mas em muitos (repito: MUITOS) trechos bastaria trocar nomes e época para que se tivesse um retrato do bolsonarismo. Até mesmo no tocante aos absurdos defendidos por Hitler em Mein Kampf.

“Óbvio que ele não vai fazer tudo isso, é só da boca pra fora”: ouvimos muito esta resposta em 2018 quando falávamos da ameaça representada por Jair Bolsonaro à democracia. E, em outras palavras, foi o que os nazistas responderam a quem alertava sobre Hitler.

Terminará o Brasil de Bolsonaro destruído e envergonhado como a Alemanha de Hitler? Melhor será não pagar para ver e fazer andar o impeachment.

Nada de novo

Pelo contrário, tudo muito velho neste começo de 2021 – e nem dava para esperar algo diferente.

A pandemia, obviamente, não respeita calendário, seguindo firme e (ainda mais) forte. Ali pelo meio de janeiro veremos os resultados das aglomerações durante as festas de final de ano.

Em Porto Alegre, temos um novo velho governo. Sebastião Melo, vice-prefeito no segundo mandato de José Fortunati, assumiu a prefeitura na sexta-feira e hoje já decretou uma irresponsável flexibilização que também ajudará a abreviar muitas vidas. Parecia difícil imaginar que um dia eu sentiria saudades de ver Nelson Marchezan Júnior no Paço Municipal, e mais incrível que isso se dê menos de uma semana após ele transmitir o cargo.

Nada de novo também no tocante ao pouco caso de muitas pessoas sobre o que é racismo e como ele passa desapercebido. Como vemos no hino do Rio Grande do Sul, com aquele famoso trecho sobre o destino de “povos sem virtude”. Discussão que ocorre justo quando a Austrália alterou a letra de seu hino nacional por conta de um verso que desconsiderava os indígenas – que chegaram àquelas terras milhares de anos antes do primeiro europeu pôr seus pés lá.

Dizem que Francisco Pinto da Fontoura, autor da letra do Hino Rio-Grandense, não se referiu aos negros quando escreveu “acaba por ser escravo”, mas sim aos rio-grandenses em relação ao Império do Brasil. Da mesma forma que Peter Dodds McCormick (que escreveu os versos do hino nacional australiano) provavelmente nem pensou que suas palavras desconsiderariam os indígenas – até porque eles sequer eram considerados como pessoas pelos censos da Austrália antes da década de 1960. Assim como August Heinrich Hoffmann von Fallersleben nem se preocupou que seu “Alemanha acima de tudo” pudesse ser associado ao nazismo, já que ele escreveu a letra da canção que se tornaria o hino nacional alemão quase meio século antes do nascimento de Adolf Hitler. E ainda há gremista que jure de pés juntos que o uso do termo “macaco” para se referir aos colorados é porque eles “eram imitões”, e não porque nosso rival abriu antes suas portas aos negros. (Sim, reconhecer isso não me faz menos gremista.)

Só que os tempos mudam. E certas coisas não cabem mais neles.

Eram negros os escravizados nos tempos em a letra que o Hino Rio-Grandense foi escrita – e a então província foi reintegrada ao Império do Brasil, não sem antes entregar “de presente” os Lanceiros Negros, tirando-lhes as armas que precisariam para a defesa. Ao contrário do que era cantado com sentido patriótico até 31 de dezembro de 2020 na Austrália, ela não foi descoberta no Século XVIII como diz sua “história oficial”, pois já era habitada mais de 60 mil anos antes da chegada dos europeus. Depois dos horrores perpetrados pelos nazistas, tornou-se inaceitável que os alemães cantassem em coro um verso que colocasse seu país “acima de tudo” mesmo que ele tivesse sido escrito um século antes. E, sinceramente, acho que a torcida do Grêmio fica bem mais legal incentivando o time ao invés de ficar falando do Internacional de forma escrota.

Só não mudam as pessoas que preferem manter suas cabeças fechadas. Assim como as que põem o lucro acima da vida e que agora estão, infelizmente, com mais poder em Porto Alegre.

Até o SARS-CoV-2 muda. Inclusive, sua famosa variante mais transmissível já está no Brasil.


Para alterar aquele verso do Hino Rio-Grandense, vi no Facebook uma sugestão que embora mude um pouco a rima, mantém a mesma vocalização:

Povo que não tem virtude, adora o Bolsonaro.

Uma (possível) irônica efeméride

Em 9 de novembro de 1989 aconteceu o evento histórico que convencionou-se chamar “Queda do Muro de Berlim”. Não foi exatamente assim (o muro foi derrubado aos poucos e alguns trechos seguem em pé até hoje como espaços de memória, na verdade o que aconteceu foi a abertura das fronteiras), mas não vem ao caso discutir isso agora.

Exatos 27 anos depois, os jornais do dia podem ter como manchete principal a eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos. Uma de suas promessas de campanha é construir um muro ao longo de toda a fronteira com o México — mandando a conta para os mexicanos pagarem.

A fronteira entre Estados Unidos e México (que em alguns trechos já é murada) tem 3.141 km de comprimento. Já o Muro de Berlim se estendia por 155 km.

Dia de usar panelas…

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Para cozinhar, é claro. Pois neste domingo, fazer comida é um ato político. Mesmo que, no meu caso, tenha cozinhado apenas um ovo e uma porção de arroz (que, inclusive, eu poderia ter feito no sábado à noite mas deixei para o domingo justamente pelo caráter político da coisa).

“Panelaço” é coisa séria. Se consagrou como um protesto contra a pobreza e a falta de perspectivas – situações que deixam muitas pessoas com as panelas vazias, por falta de grana para comprar comida. Não por acaso, é uma forma de manifestação tipicamente latino-americana – e que chamou a atenção quando chegou à Europa, nos protestos contra a crise financeira na Islândia em 2009.

Mas sempre tem gente que desvirtua as coisas. No caso do “panelaço”, é gente que não passa o drama de estar com as panelas vazias por falta de dinheiro. Os sem-noção aqui do Brasil não são fato novo: na Venezuela, muito se bateu panela contra Hugo Chávez – e tal como aqui, não eram os mais pobres que o faziam. Não por acaso, enquanto rolava “panelaço” na Zona Sul do Rio de Janeiro, no Complexo do Alemão as panelas estavam sobre o fogão cumprindo sua função primordial de fazer comida.

Isso não quer dizer que vá tudo bem com o país. É fato que há inflação: mesmo que ela seja “brincadeira de criança” em comparação com o que tínhamos no final dos anos 80 e no início dos 90, é algo que complica a vida de quem ganha menos. O desemprego subiu: mesmo que ainda possa ser considerado baixo se fizermos uma comparação com outros países e inclusive com o Brasil de um passado não tão distante (10, 15 anos atrás…), causa preocupação a quem tem suas contas a pagar. Toda hora se descobre um novo escândalo de corrupção: a galera esquece que até não tanto tempo atrás o mais comum era as denúncias serem engavetadas e não investigadas, mas isso não inocenta o PT de ter aderido ao esquema apenas “porque os outros também faziam”.

Mas ainda assim me recuso a aderir ao coro do “Fora Dilma”. Primeiro, porque nem faz um ano que ela foi reeleita, e assim é descarado que protestos como os de hoje são puro chororô de quem perdeu a eleição e quer ganhar na marra. Coisa de criança mimada que quando não vê sua vontade atendida começa a espernear e a fazer escândalo.

Mas tem outro motivo também: mesmo que apareçam indícios que comprometam Dilma e assim justifiquem a abertura de um processo de impeachment, não tenho como participar de protestos como os de hoje. Um texto escrito por Luis Fernando Veríssimo em 2007 ajuda a explicar (aliás, basta trocar “Lula” por “Dilma” para o texto ficar totalmente atual):

Cumplicidade

Uma comprida palavra em alemão (há uma comprida palavra em alemão para tudo) descreve a “guerra de mentira” que começou com os primeiros avanços da Alemanha nazista sobre seus vizinhos. A pouca resistência aos ataques e o entendimento com Hitler buscado pela diplomacia européia mesmo quando os tanques já rolavam se explicam pelo temor comum ao comunismo. A ameaça maior vinha do Leste, dos bolcheviques, e da subversão interna. Só o fascismo em marcha poderia enfrentá-la. Assim muita gente boa escolheu Hitler como o mal menor. Ou, comparado a Stalin, o mau menor. Era notório o entusiasmo pelo nazismo em setores da aristocracia inglesa, por exemplo, e dizem até que o rei Edward VIII foi obrigado a renunciar não só pelo seu amor a uma plebéia mas pela sua simpatia à suástica. Não tardou para Hitler desiludir seus apologistas e a guerra falsa se transformar em guerra mesmo, todos contra o fascismo. Mas por algum tempo os nazistas tiveram seu coro de admiradores bem-intencionados na Europa e no resto do mundo – inclusive no Brasil do Estado Novo. Mais tarde estes veriam, em retrospecto, do que exatamente tinham sido cúmplices sem saber. Na hora, aderir ao coro parecia a coisa certa.

Comunistas aqui e no resto do mundo tiveram experiência parecida: apegarem-se, sem fazer perguntas, ao seu ideal, que em muitos casos nascera da oposição ao fascismo, mesmo já sabendo que o ideal estava sendo desvirtuado pela experiência soviética, foi uma opção pela cumplicidade. Fosse por sentimentalismo, ingenuidade ou convicção, quem continuou fiel à ortodoxia comunista foi cúmplice dos crimes do stalinismo. A coisa certa teria sido pular fora do coro, inclusive para preservar o ideal.

Se esses dois exemplos ensinam alguma coisa é isto: antes de participar de um coro, veja quem estará do seu lado. No Brasil do Lula é grande a tentação de entrar no coro que vaia o presidente. Ao seu lado no coro poderá estar alguém que pensa como você, que também acha que Lula ainda não fez o que precisa fazer e que há muita mutreta a ser explicada e muita coisa a ser vaiada. Mas olhe os outros. Veja onde você está metido, com quem está fazendo coro, de quem está sendo cúmplice. A companhia do que há de mais preconceituoso e reacionário no país inibe qualquer crítica ao Lula, mesmo as que ele merece.

Enfim: antes de entrar num coro, olhe em volta.

Pois bem: ainda que houvesse motivos para o impeachment de Dilma, eu não deixaria de ficar em casa cozinhando para ir ao protesto (nem sei se terá em Ijuí). Pois como bem alerta LFV, antes de entrar num coro eu olho em volta. E nesse em específico, eu me depararia exatamente com o que há de mais preconceituoso e reacionário no país. E como diz o texto (numa aparente contradição de LFV mas que não entendo como tal), não seria na companhia da direita que eu me manifestaria contra qualquer governo: não é “a minha turma”. Jamais serei cúmplice dessa gente que defende “meritocracia” (seria um sistema justo, sem aspas, se a todos fossem dadas as mesmas condições), fim dos programas sociais, expulsão de imigrantes, pena de morte, redução da maioridade penal, e, o pior de tudo, a tal “intervenção militar” (que jamais será “constitucional”). O que deixa bem claro que tolerância com o diferente não é o forte dessa gente.


O negócio, então, é zoar no dia de hoje. E já que a “moda” é protestar “contra a corrupção” vestindo a camisa da Seleção (com o escudo da super-correta e nada corrupta CBF), agora vai ter 7 gols da Alemanha (pois essa gente merece muito os 7 a 1). Se reclamar, vai ter 14. Se reclamar de novo, vai ter 28!

Resolução cumprida

Em dezembro de 2013 fiz uma promessa para o ano que se aproximava. Algo raro, dado que não sou chegado a resoluções de Ano Novo. Mas naquele momento, entendo que era algo necessário: o ano de 2013 terminava de forma péssima para mim, e as perspectivas para 2014 não eram boas. Era preciso um projeto pessoal, e que dependesse única e exclusivamente da minha pessoa. Foi por isso que assumi a “responsabilidade” de começar a escrever um livro.

É verdade que me enrolei demais. Me preocupei com outras coisas. Mas sempre lembrava da promessa, feita bastante tempo antes das bebedeiras do dia 31 de dezembro. Então, eis que “aos 45 do segundo tempo”, enfim, posso dizer que cumpri a resolução: escrevi o primeiro parágrafo. Que será alterado em breve, pois preciso escolher o nome do personagem… Mas, tenho um parágrafo. E o que eu tinha prometido, ressalto, era começar um livro, não concluí-lo.

Portanto, 2014 já pode acabar sem que eu me sinta em dívida.


Sobre o ano que se acaba, constato um fato curioso: 2014, de modo geral, foi um ano ruim, com “oásis” de coisas boas. Mas termina muito melhor do que começou: o início do ano foi das piores épocas da minha vida, aquelas ocasiões em que tudo dava errado. Um “inferno astral” que começou ainda em 2013, ano que de modo geral achei bom mas no final foi simplesmente péssimo.

Já no término de 2014, falar em “perspectiva de mudança” não é mero discursinho de virada do ano: dentro de um mês, estarei trabalhando e morando em outra cidade, e terei de me acostumar a ver familiares e amizades de Porto Alegre apenas eventualmente, pois estarão a 400 quilômetros de distância. Mas as expectativas são as melhores possíveis: uma “mudança de ares” sempre é boa, e em muitos casos torna-se necessária.

Ou seja, se por um lado 2014 não me deixará muitas saudades, por outro ele termina (e dá lugar a 2015) realmente com ares de esperança. Aliás, coisa muito necessária também, de maneira geral, pois o ano que se encerra foi pesado, marcado por muito ódio (como bem vimos na campanha eleitoral e em tantas outras ocasiões). O alento vem de saber que, segundo monitoramento do uso de palavras em língua inglesa, a palavra mais popular de 2014 foi o “emoji” de coração. Resta torcer (e fazer a nossa parte) para que em 2015 o amor vença o ódio em todos os idiomas.


Já a “frase do ano”, qual foi? Não me resta dúvida alguma: “gol da Alemanha”.


Promessas para 2015? Não faço. Já quase descumpri a de 2014… E como disse, o ano termina bem melhor do que começou (e de como acabou 2013). Melhor não fazer resoluções – exceto a de continuar o livro, já que o primeiro parágrafo já está escrito.

E deixar meus votos para que 2015 seja melhor que 2014 (e há de ser), mas pior que 2016…

Como diminuir o brilho de uma final

O futebol mineiro está em alta nos últimos dois anos. O Atlético-MG foi campeão da Libertadores de 2013 e acaba de ganhar a Copa do Brasil de 2014; já o Cruzeiro ganhou no último domingo seu segundo Campeonato Brasileiro consecutivo, um feito que poucos clubes conseguiram. Suprema ironia: o melhor futebol do Brasil na atualidade é jogado na mesma cidade em que a Seleção Brasileira afundou meses atrás, ao levar 7 a 1 da Alemanha na semifinal da Copa do Mundo – no mesmo Mineirão que hoje recebeu a decisão da Copa do Brasil.

Mas, se dentro de campo o espetáculo foi de qualidade, fora dele o Mineirão registrou um novo vexame. Era só ligar a televisão e notar as muitas cadeiras vazias. No anel inferior do estádio, a lotação foi máxima atrás dos gols onde os alemães foram sete vezes felizes e mínima na parte central, que aparecia mais na transmissão. E no anel superior, a lotação também não foi máxima.

No início da transmissão no Sportv foi dito que os ingressos para aquele setor “vazio”, de responsabilidade da Minas Arena (administradora do estádio), custavam a bagatela de R$ 1000 (sim, MIL reais). Na verdade, não é tão caro: segundo o Trivela, uma cadeira ali saiu por R$ 700 para os torcedores em geral e R$ 490 para sócios do Cruzeiro, mandante do jogo e ao qual interessava – ou ao menos deveria interessar – um Mineirão lotado para tentar reverter a vantagem de 2 a 0 que o Atlético construiu na primeira partida.

O incrível é que isso é prejudicial até mesmo à ideia de futebol como um “negócio”. Pense: um estádio lotado não valorizaria mais o “produto”? Mesmo que seja pela televisão, é muito mais bacana de assistir.

Mas não. Falou mais alto a ganância de se cobrar valores completamente fora da realidade brasileira só porque era uma final. Proporcionalmente à renda média da população, é (muito) mais barato assistir futebol na Alemanha do que no Brasil: não por acaso, os estádios alemães – mesmo as “arenas” – estão sempre repletos de torcedores.

Traduzindo: mais uma humilhação que a Alemanha nos impõe…

Eliminatórias da Euro 2016: por que Gibraltar pode jogar, e Catalunha e País Basco não?

O fato esportivo da sexta-feira foi, sem dúvida alguma, a partida entre Alemanha e Gibraltar, em Nuremberg, válida pelas eliminatórias da Eurocopa de 2016. Quatro meses e um dia depois de conquistar seu quarto título mundial, a Seleção Alemã venceu por 4 a 0 e ouviu algumas vaias de uma torcida exigente e que espera ver o time repetir as mesmas atuações da Copa do Mundo. (Talvez os alemães estejam precisando de um joguinho com o Brasil – sabem como é, para “arrumar a casa”…)

Para os gibraltinos, perder por apenas 4 a 0 para os campeões mundiais foi uma façanha histórica. Não simplesmente por terem levado em 90 minutos (e na casa do adversário) o mesmo número de gols que a Seleção Brasileira tomou em menos de 30 na semifinal da Copa (jogando diante de sua torcida). É que a associação de futebol do pequeno território só foi aceita na UEFA (e ainda não na FIFA) em 2013, com sua seleção tendo disputado sua primeira partida oficial há menos de um ano (e, vamos combinar, começou bem: empate em 0 a 0 com a Eslováquia, que na Copa de 2010 eliminou a Itália).

Gibraltar é uma pequena península rochosa localizada ao sul da Espanha, e que a este país pertenceu até 1713, quando foi cedida ao Reino Unido pelo Tratado de Utrecht. Porém, posteriormente o Estado espanhol voltou a reivindicar o “rochedo” como parte integrante de seu território, e durante a ditadura de Francisco Franco a Espanha decidiu fechar a fronteira com Gibraltar, “isolando” a península (situação que perdurou até 1985) e tornando possível a chegada ou saída apenas por via marítima ou aérea: sim, o pequeno território possui um aeroporto que devido à falta de espaço tem a pista atravessada por uma avenida, cujo trânsito de veículos é interrompido quando algum avião pousa ou decola.

Mesmo possuindo aeroporto, Gibraltar não tem como abrigar as partidas de sua seleção de futebol pelas eliminatórias da Euro 2016 pois seu único estádio, com capacidade para 5 mil pessoas, não atende às exigências da UEFA. Devido à rejeição espanhola à filiação da Associação de Futebol de Gibraltar, o selecionado mandará seus jogos em Portugal.


A oposição espanhola a Gibraltar não impede sua seleção de disputar partidas oficiais pois o “rochedo” tem a “sorte” de pertencer ao Reino Unido, e não à Espanha. Segundo o artigo 10 dos estatutos da FIFA (à qual a UEFA é submissa), para uma seleção nacional poder disputar competições internacionais, sua associação precisa representar um país independente ou ter autorização expressa da associação do país ao qual pertence a região por ela representada; mas o mesmo artigo reconhece as quatro associações britânicas (inglesa, escocesa, galesa e norte-irlandesa) como membros independentes.

O resultado disso? Como Gibraltar é pertencente ao Reino Unido, sua associação não precisa de autorização para poder se filiar à UEFA (e muito provavelmente, logo integrará também a FIFA), já que não existe uma entidade única britânica.

Em compensação, a Espanha tem uma associação única (Real Federação Espanhola de Futebol), que não autoriza a filiação das associações da Catalunha e do País Basco, regiões cuja identidade não é meramente regional: tratam-se de nacionalidades históricas, com idiomas próprios – a língua basca, inclusive, não tem nenhum parentesco com a castelhana. O resultado disso é que as partidas disputadas pelas seleções da Catalunha e do País Basco sempre são amistosos sem caráter oficial, mesmo que os adversários sejam filiados à FIFA (caso do Brasil, que já enfrentou – e venceu – duas vezes a Seleção Catalã).


Em abril de 2001, a pequena cidade australiana de Coffs Harbour sediava uma das etapas das eliminatórias da Oceania para a Copa do Mundo de 2002. A Austrália (na época ainda filiada à Confederação Oceânica) era favorita não só por jogar em casa, mas também devido ao nível dos adversários, todos amadores: Fiji, Tonga, Samoa e Samoa Americana – esta última era uma dependência dos Estados Unidos, onde o futebol mais apreciado pela população é aquele cuja bola é oval.

A Austrália estreou no dia 9 de abril, aplicando 22 a 0 em Tonga. Achou muito? Pois dois dias depois os anfitriões foram ainda mais arrasadores: 31 a 0 sobre Samoa Americana, estabelecendo os recordes de maior goleada tanto de partidas entre seleções como de jogos organizados pela FIFA; com 13 gols marcados, o australiano Archibald Thompson tornou-se o maior artilheiro de uma só partida de futebol. Assistindo ao vídeo com os gols do jogo, é fácil perder as contas.

Três dias depois a Austrália venceu Fiji por (apenas) 2 a 0, e em 16 de abril encerrou a demolidora campanha na fase goleando Samoa por 11 a 0. Em apenas quatro partidas, os australianos marcaram 66 gols: para se ter uma ideia, o melhor ataque do Campeonato Brasileiro de 2014 até agora é do líder Cruzeiro, que balançou as redes adversárias 60 vezes em 34 jogos.


Por que tal lembrança? Para chamar a atenção quanto a esta bizarra situação: seleções de pequenos países (que não são independentes) como Samoa Americana e Gibraltar têm direito (e isso está corretíssimo) a disputar competições internacionais, enquanto outras de nações maiores e que contam inclusive com idioma próprio (casos da Catalunha e do País Basco) podem apenas jogar amistosos sem reconhecimento oficial.

O frio está a caminho

Porto Alegre dentro de algumas semanas

Porto Alegre dentro de algumas semanas

No colégio, aprendi que equinócios são os instantes em que o Sol cruza o equador celeste. Em tais ocasiões, que se dão apenas duas vezes a cada ano (20 de março e 22 de setembro), ambos os hemisférios da Terra recebem igual insolação.

Tais eventos também significam trocas de estação (variando conforme o hemisfério, norte ou sul). Em um lado da Terra o verão acaba e tem início o outono, enquanto no oposto é o inverno que dá lugar à primavera.

Hoje é dia de equinócio. E, pela lógica, está chegando o outono: afinal de contas, como pode começar a primavera sem que tenha havido inverno? Ou seja, preparemos os agasalhos pois agora sim vai começar a esfriar.


Quem dera fosse realmente o outono que estivesse chegando… Não que eu desgoste da primavera (térmica e visualmente falando, ela costuma ser agradável a maior parte do tempo): o problema é saber que um novo verão está há três meses de distância, ainda mais que em quase 33 anos de vida nunca sofri tanto com o calor como em 2014.

Já o “inverno” (se é que dá para chamar assim) que acaba às 23h29min de hoje, teve muitos gols da Alemanha e pouco frio.