2021, o ano suficiente

Em 31 de dezembro de 2020, quando escrevi meu tradicional texto de “balanço” do ano que acabava, ele teve o seguinte parágrafo:

Não nutro lá muitas esperanças de que o próximo ano será bom. Ainda que haja vacina, muitos milhões de pessoas empobrecerão bastante por conta do estrago na economia causado pela pandemia. Mas, se 2021 for péssimo, já será melhor que 2020 sem sombra de dúvidas.

O final muito melhor que o começo dá a impressão de que nem foi lá um ano tão ruim, mas a verdade é que ele foi bem complicado. Pesado.

Começou com uma tentativa de golpe no país que tantas outras patrocinou ao redor do mundo. A CPI da Pandemia no Senado mostrou que quem nos “governa” é imensamente mais cruel do que parecia ser. E por incrível que pareça, essa gente má ainda tem bastante apoio (como demonstrou o dia 7 de setembro), mesmo que seja (agora) minoritária.

Também tivemos o TSUNAMI de casos de covid-19 de fevereiro a abril, época na qual as redes sociais viraram obituários. Culpa da falta de noção e da irresponsabilidade patrocinada pelo genocida de Brasília. Não à toa, na enquete que faço no Instagram sobre qual foi o pior ano entre 2020 e 2021, a parcial no momento em que escrevo é um empate.

2021 foi o ano do retorno da torcida aos estádios, mas ainda não me encorajei – menos pela arquibancada em si, ao ar livre, e sim pelas aglomerações no transporte público. Não perdi nada: o Grêmio fez o Campeonato Brasileiro mais ridículo em 118 anos de História, conseguindo a façanha de ser rebaixado com as contas em dia. Meu último jogo na Arena foi o Gre-Nal da Libertadores de 2020, e o retorno por uma competição que não seja o Gauchão será na Série B, algo que jamais imaginei.

2021 também foi um ano complicado em matéria de saúde para a minha mãe, mas felizmente terminou tudo bem. Foram três cirurgias, com duas internações: a primeira em fevereiro, pouco antes do pior momento da pandemia; a segunda em novembro, quando ela felizmente já tinha tomado a terceira dose da vacina. Por conta disso, decidi abrir mão de morar sozinho (algo que por tanto tempo desejei), para poder estar mais próximo dela após tantos problemas; meu projeto para o futuro (e muito improvável que se concretize em 2022) é financiar um apartamento próprio aqui por perto, para não ficar mais à mercê dos reajustes de aluguel. (Aliás, no tocante à residência, em 2021 me convenci em definitivo que acertei ao retornar a Porto Alegre em 2016.)

Ainda assim, 2021 não foi um ano que considero perdido como 2020. O principal motivo para tal se chama VACINA. Minha mãe e meu pai tomaram três doses, meu irmão e eu recebemos duas – e agora em janeiro teremos a terceira. Enquanto as PRAGAS ANTIVACINA falam que a vacinação obrigatória é um “atentado à liberdade”, a vacina significa justamente o contrário: graças à imunização, voltei a sentar em uma mesa de bar após 630 dias, pude sair com menos medo (ainda tomando cuidados pois a pandemia está longe de acabar), foi possível voltar a encontrar e, principalmente, ABRAÇAR PESSOAS após tantos meses. Não ter vacinas (como o genocida queria que fosse) é que tirava a nossa liberdade.

2021 foi também o ano no qual entrei nos “enta”. Infelizmente não tive como reunir amigos em um bar para celebrar pois nem todos estavam completamente vacinados. Ficou para 2022, quando o 15 de outubro cairá num sábado.


Faz um bom tempo que decidi fazer igual ao Luís Fernando Veríssimo: não mais fazer resoluções de ano novo. Não será agora que mudarei de ideia – ainda mais considerando o que foram 2020 e 2021.

Tenho dois alentos para 2022. O primeiro é que tem boas chances de ser o último ano em que o Brasil sofre com seu pior presidente em 133 anos de República. Não me iludo com as pesquisas que apontam vitória fácil do Lula: a eleição será dificílima, com as criaturas saídas do bueiro jogando ainda mais sujo do que em 2018.

O segundo é que 2022 é ano de Copa do Mundo. Que será um tanto diferente: no final do ano, para escapar do calor absurdo que faz no absurdo país-sede do Mundial, o Catar (primeiro anfitrião estreante desde a Itália em 1934). A perspectiva da bola rolar no maior de todos os torneios de futebol sempre dá um ânimo. Recordo 1998, que comecei “na fossa” por um “coração partido”: lembrar que cinco meses depois começaria a Copa da França me ajudou MUITO a levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima. (E no final das contas aquele foi um dos melhores anos da minha vida: fazendo uma analogia com o futebol, foi uma fantástica “vitória de virada”.)

Mas, ainda assim, prefiro desejar em especial que o novo ano SE COMPORTE. Se 2022 reservar alguma surpresa, POR FAVOR, que seja positiva. (Tipo um impeachment do genocida: acho que ainda dá tempo, apesar de que motivos para ele ocorrer em 2021 abundaram e não rolou.)

Publicidade

Das raras coisas boas de 2020

Dediquei meu último texto do ano que acabou ontem a simplesmente falar mal dele. Justo e necessário.

Mas não dá para negar que houve algo realmente positivo em 2020: desde 2014 o Cão Uivador não estava tão ativo. Foram 35 textos publicados, contra 92 no ano da Copa do Mundo – sim, bem menos agora do que seis anos atrás, mas vale lembrar que de 2015 em diante escrevi pouco e, quando o fazia, costumava publicar no Medium, que praticamente abandonei.

Tanto é que se desconsiderarmos 2020, o ano mais ativo é justamente 2015, com 22 textos.

Sim, os 35 de 2020 são pouco na comparação com 2014 e ainda menos se lembrarmos da “era dourada” do Cão, de 2007 a 2013. Considero improvável voltar a números como os 313 textos de 2008, ou os 1.316 comentários que o blog recebeu em 2010. Eram outros tempos, em que eu me sentia muito motivado a escrever, antes das redes sociais “roubarem” a audiência e a discussão que ocorriam na blogosfera. Tanto que, apesar da muito pouca atividade recente na comparação com aquela época, modéstia a parte, me dá um pouco de orgulho ver que o Cão já é um “adolescente” enquanto outros blogs criados depois dele e que eram bem ativos e relevantes já acabaram há muito tempo.

Considero que manter este espaço vivo, ainda que com raros comentários e com atualizações bem menos frequentes que antigamente, é uma forma de resistência. Não só à estupidez reinante, como também ao domínio das redes sociais, em especial de Facebook e associados (Mark Zuckerberg é dono do Instagram e do WhatsApp). Até porque, vale lembrar, os buscadores de internet não mostrariam meus textos se publicasse lá no “Face” (me recuso a abrir os posts para qualquer um bostejar nos comentários, enquanto aqui posso excluir merdas sem que ninguém mais as leia). É possível fazer uma pesquisa e cair num texto que escrevi lá em 2007 – do qual é provável que hoje em dia eu DISCORDE, visto que mudei de ideia sobre diversos assuntos desde então, mas não apago pois acho legal mostrar que EVOLUÍ.

Enfim (e agora apelando para o clichê), que essa semente plantada em 2020 floresça em 2021. Que seja um ano com muitos textos escritos, e que de repente eu finalmente resolva publicar um livro… Em 2013 foi minha resolução de final de ano apenas começar, mas escrevi muito pouco e considerei que ela estava cumprida no final de 2014, visto que não era preciso terminar. Como ultimamente opto por não ter promessas de ano novo, não coloco como objetivo – mas, como diria Dilma Rousseff (última pessoa digna a presidir o Brasil, saudade IMENSA), se alcançar a meta, então a dobrarei.

Vida longa ao Cão, ainda mais no ano em que seu dono celebrará, se tudo correr bem (VACINA, CADÊ TU PARA EU PODER FAZER FESTA COM A GALERA?), quatro décadas de idade.

Enfim, acabando

Capa da revista Time, 14/12/2020

Já falei muitas vezes de como ultimamente a virada do ano tem significado para mim apenas o momento de fazer um balanço do que se passou e pensar no futuro, sem acreditar que tudo mudará magicamente no momento em que o 31 de dezembro vira 1º de janeiro. Então, não me estenderei falando disso.

Nem preciso também falar muito sobre o que foi 2020 – a capa da Time resume tudo. Para alguns ele pode ter sido especial por acontecimentos particulares, mas a verdade é que, de modo geral, foi realmente péssimo. A esmagadora maioria das pessoas vivas de agora provavelmente nunca passou por um ano tão ruim.

O motivo é óbvio: a pandemia, que causou tantas mortes e trancafiou em casa as pessoas sensatas, privando-as de vida social, de abraços, de trabalho… 2020 me dá como único motivo de comemoração o fato de chegar vivo ao seu final, o que é muito pouco – por essa lógica todos os anos desde 1981 são dignos de celebração.

No Brasil ainda tivemos o agravante chamado Jair Bolsonaro, principal responsável pela tragédia que vivemos e por ainda não termos ideia de quando começará a vacinação por aqui. Mas a população também não ajuda, aglomerando em plena pandemia: mandei à merda todo mundo que veio com papo “good vibes” de “agradecer aos ensinamentos deste ano que acaba”, mas é fato que em 2020 eu aprendi que uma imensa quantidade de pessoas é simplesmente babaca e não vale a pena fazer um esforço sequer por gente assim.

Mas chega de me estender, pois o ano que é velho desde março merece ouvir uma “homenagem” vinda da Itália*. Vaffanculo 2020!

(Aqui, o vídeo com legendas em português, que foi postado com restrição de idade e só pode ser assistido diretamente no YouTube.)

Não nutro lá muitas esperanças de que o próximo ano será bom. Ainda que haja vacina, muitos milhões de pessoas empobrecerão bastante por conta do estrago na economia causado pela pandemia. Mas, se 2021 for péssimo, já será melhor que 2020 sem sombra de dúvidas.


* Em março a mesma galera que agora aglomera como se não houvesse amanhã fazia posts solidários ao sofrimento italiano… Enfim, a hipocrisia.

A semana mais digna do ano

O período do Natal ao Ano Novo é uma época que parece ser “parada”. Já ocorreram eventos importantes de 25 a 31 de dezembro, mas na prática todo mundo já está com a cabeça no que virá depois disso.

Este ano de 2020 é, desde a metade de março, uma grande “semana final” – pelo menos para pessoas responsáveis. É uma mera espera pelo que virá depois, ainda que não seja possível ter ideia de quando será realmente; certo é que a pandemia não acaba com o ano e sabe-se lá quando teremos vacina no Brasil.

No meu caso, a reta final tem um vazamento na minha área de serviço, vindo “de cima”, só não se sabe exatamente de qual apartamento. Pelo odor, esgoto.

Um saco, mais uma coisa para me estressar, mas bastante condizente com a bela bosta que foi o ano de 2020.

Não tenho empatia com o vírus

O final deste ano interminável se aproxima, e previsivelmente começam a surgir os “textões” falando em “superação”, “resiliência”, e de como “ficamos mais fortes” e “aumentamos nosso autoconhecimento” em meio à tragédia que é a pandemia de covid-19. Que é só olhar o “copo meio cheio” ao invés de “meio vazio”.

Cada vez que leio algo nesse sentido meu sangue FERVE a ponto de quase passar ao ESTADO GASOSO.

Não é que seja proibido ter passado por momentos felizes em 2020 – comigo mesmo aconteceu, principalmente no começo – e até mesmo ter gostado desse ano. Tenho amigas que viraram mães (uma delas quando “coronavírus” parecia algo muito distante, lá em janeiro). Eu não pretendo ter filhos, mas para quem quer, obviamente se trata de um momento muito bacana e que torna o ano em que o fato aconteceu especial. Apesar da pandemia.

O que não dá é para alguém, com base em sua experiência individual, “cagar regra” sobre como todo mundo deve encarar um contexto geral que é por demais pesado.

Não há “lado positivo” em uma pandemia até agora que matou mais de 1,6 milhão de pessoas, sendo quase 184 mil só no Brasil – e infelizmente ainda vai morrer muita gente. Embora o desenvolvimento de vacinas em menos de um ano seja realmente algo fantástico, isso só aconteceu porque não havia escolha: ou cientistas de todo o mundo colocavam todos os seus esforços em tal propósito, ou sabe-se lá o horror que nos aguardaria logo ali em frente. (E nem com as vacinas estaremos livres de uma crise econômica e humanitária que não se vê há muitas décadas.)

Não tem problema algum achar que este foi o pior ano da sua vida (como é o meu caso), isso não faz ninguém ser “mais fraco”. Assim como também dá para dizer que, apesar dos pesares, 2020 valeu a pena (caso das já citadas amigas que viraram mães). Mas não é admissível considerar um balanço positivo ou negativo como única e exclusivamente dependente de sermos “good vibes” ou “bad vibes”: isso não nos torna “mais fortes”, e sim mais DESUMANOS.

Salvo poucos casos da espécie humana, quem tem muito a celebrar o ano de 2020 é o SARS-Cov-2, e eu não tenho a menor pretensão de “ver as coisas com o ponto de vista dele”. Não sinto empatia alguma pelo vírus. Favor não insistir.

E eu preferiria um milhão de vezes não “ficar mais forte”. Trocaria sem pestanejar o “autoconhecimento” por todos os abraços que não dou desde março.

O último mês do pior ano

Minha vida parou na metade de março, quando entrei em quarentena por conta da pandemia. Mesmo que já não possa dizer que a cumpro (afinal, voltei ao trabalho presencial no início de setembro, ainda que em regime de revezamento), continuo tendo a mesma sensação. O que se passou desde então para mim não é vida, é existência.

Viver para mim é poder abraçar as pessoas sem medo de contaminar ou ser contaminado. É ir pro bar tomar uma cerveja gelada num dia de calor, ou beber um vinho tinto em boa companhia no frio. É poder ir ao jogo do Grêmio, viajar, ou simplesmente dar uma volta pelo bairro sem medo e sem máscara.

Neste 2020 que já apresenta suas árvores de Natal, não tive Páscoa nem pude abraçar minha mãe, meu pai e meu irmão nas datas comemorativas (Dia das Mães, Dia dos Pais e aniversários). Não pude me despedir como gostaria de minha avó – cujo falecimento completa seis meses no próximo sábado – e também não pude ser abraçado nem dar um longo abraço no meu irmão que, assim como eu, sentiu muito a perda dela. Aliás, nem pude ter um luto normal: antes dessa merda de pandemia eu costumava fazer visitas semanais à vó, e depois do dia 14 de março só pude vê-la novamente quase três meses depois, no velório.

Falta pouco para o fim de 2020. Um ano que parece interminável. Ou um março que não tem fim.

Espero chegar bem ao 31 de dezembro, para poder escrever meu tradicional texto de final de ano que provavelmente será bem mais curto que todos os anteriores do mesmo tipo. Afinal, 2020 não merece lá tanta deferência.

E por fim, gostaria de lembrar que embora este texto saia com a data “2 de dezembro de 2020” pelo WordPress, na verdade o dia é 277 de março.

O fim de um longo inverno?

Tivemos na terça-feira (22 de setembro) o equinócio de primavera no Hemisfério Sul, outono no Norte. Uma passagem que diz respeito ao calendário, “oficial”. Pois o instante inicial da nova estação em Porto Alegre tinha frio que mais lembrava o inverno recém-terminado.

Mas, por outro lado, o sol brilhava nos céus porto-alegrenses, sem nuvens a escondê-lo. Algo que tem sido raro nas últimas semanas. O início deste mês de setembro teve predomínio de dias nublados e chuvosos, com umidade altíssima que propiciou o surgimento de mofo em algumas partes aqui de casa. (Ao mesmo tempo, este tempo “murrinha” era tudo o que precisava a região do Pantanal, sob estiagem severa e que sofre com incêndios.)

Com seus “altos e baixos” de temperatura (se o começo da primavera teve frio, fez calor em pleno 18 de julho, que segundo minha mãe foi o primeiro aniversário dela que recorda de não ter sido gelado), o outono/inverno de 2020 foi talvez o mais “típico” dos últimos tempos, pelo menos no que sinto. Faz quase seis meses que não ligo o meu ar condicionado: a última vez foi (parece mentira) em 1º de abril, lembro que no dia seguinte choveu, esfriou e nunca mais o apartamento ficou quente demais, mesmo com alguns dias de calor que foram registrados. Bem diferente dos anos anteriores em que o verão se prolongou outono adentro.

Por outro lado, foi o primeiro inverno dos últimos anos que terminei sem celebrar que minha avó Luciana tivesse passado por ele: o falecimento dela se deu em 5 de junho, quando ainda era outono, embora o tempo já fosse tipicamente invernal (frio e chuva). Os últimos anos de vida dela foram marcados pelo sofrimento com as baixas temperaturas, por mais roupas que vestisse. Desde 2014, cada final de inverno era motivo digno de comemoração, por menos rigoroso que fosse. Em 2020 não houve o que festejar.

Ainda assim, tive um motivo para ver como positivo o equinócio. Pois este outono/inverno de 2020 foi também da covid-19, que aportou por aqui ainda no final do verão. Após uma situação relativamente tranquila nos primeiros meses, o Rio Grande do Sul (e consequentemente, Porto Alegre) teve uma escalada do contágio que coincidiu com a chegada do inverno. Foram tempos sombrios não apenas pelo pouco tempo de insolação ou pelo excesso de chuva (que também nos afligiu em julho).

A chegada da primavera, portanto, me dá um certo ânimo, embora continue detestando o calorão que marca o verão (do qual a atual estação é a “antessala”) em Porto Alegre. Até 19 de março de 2021 teremos mais da metade do dia com luz solar: bom para o sistema imunológico (vitamina D), e mais “iluminação” em contraponto às “trevas” que de certa forma enfrentamos nos últimos tempos independentemente da estação do ano.

Que esta primavera nos traga, de certa forma, algum tipo de “renascimento”. Duvido que alguém não esteja precisando nem um pouco de esperança em tempos tão tristes.

Uma metáfora do meu 2020

Em meados de dezembro do ano passado, eu estava na dúvida sobre “adiantar” o meu 13º salário (o “adiantamento” significaria recebê-lo em dia via empréstimo; coisas de servidor público que nos últimos cinco anos raramente teve os vencimentos pagos em dia) ou deixar para receber parcelado ao longo de 2020.

Nos dois anos anteriores eu optara pelo “adiantamento”, e pensava em desta vez fazer diferente, para pelo menos sempre receber alguma coisa no último dia útil de cada mês. O efeito seria apenas “psicológico”, é óbvio.

Eis que recebi um boleto do Grêmio. Me era dada a opção de adiantar o pagamento de todas as mensalidades de 2020, com desconto e antes do reajuste previsto para a virada do ano. Algo tentador, até para eu não surtar por “estar gastando demais” a cada mês: o Grêmio já estaria pago, e com desconto!

Então decidi “adiantar” o “décimo” e usar parte do dinheiro para pagar o boleto do ano inteiro de 2020; o resto foi para a poupança. Não só eu, meu amigo Alexandre fez o mesmo. De janeiro a dezembro nossa presença na Arena já estaria garantida.

Porém, veio a pandemia de covid-19. Por conta dela, o último jogo de futebol com público em toda a América do Sul foi o Gre-Nal 424, primeiro da história válido pela Copa Libertadores, em 12 de março. Uma partida que por si só mereceria ganhar um documentário sobre ela – como de fato ganhou.

Fui um dos mais de 50 mil torcedores na Arena naquela noite. Já sabendo que depois levaria um bom tempo até poder voltar a presenciar uma partida, visto que a Conmebol havia suspendido a Libertadores a partir da semana seguinte. Só não imaginava que chegaria ao ponto de dizer “hoje faz seis meses que não vou à Arena”.

E não tenho a menor ideia de quando será possível ir a um estádio novamente – mas a certeza é de que isso não acontecerá em 2020. Sendo que paguei o ano inteiro…

O que de certa forma simboliza bem o que significa 2020 para mim: apesar de recém ser setembro, já digo com segurança que se trata do mais frustrante e sem dúvida alguma o pior ano da minha vida.

Sim, o fato de ter perdido a minha avó Luciana tem um grande peso nisso. Mas poderia ter sido uma exceção, assim como o falecimento do meu avô Pedro Laio em 1996, que apesar disso foi um ano muito bacana e do qual lembro com bastante carinho quase um quarto de século depois.

O mundo já vinha de mal a pior, mas no campo pessoal eu tinha boas expectativas para 2020. Dentre as principais, estava a de viajar ao exterior nas férias que estavam marcadas para o período entre o final de maio e o início de junho: no fim elas serviram para eu mandar trocar a tela do meu computador para facilitar minha vida em tempos de teletrabalho, e no último dia (5 de junho) a vó se foi.

Não falta tanto tempo assim para ser dezembro novamente. Chegará à minha caixa de correspondência um boleto do Grêmio com o valor do ano inteiro de 2021, com desconto. Tenho três meses para decidir se adianto ou não.

O top 10 de 2020

Não, o fato de estarmos ainda em agosto não faz ser “muito cedo” para escrever uma lista assim. Duvido que se deixasse para dezembro ela seria muito diferente. Afinal, 2020 já está garantido no futuro como um ano do qual qualquer sentimento de saudades deveria ser classificado como doença mental.

Neste infame ano, várias expressões “forçaram a porta” e entraram no nosso cotidiano. Todas elas, não vejo a hora que voltem para o lugar de onde jamais deveriam ter saído.

É um top 10 ranqueado pela RAIVA que sinto por cada uma delas. A ordem da publicação é “decrescente”, com uma breve explicação abaixo de cada item. Vamos a eles.

10. Lockdown

Entrou na lista só para “completá-la”. E também para lembrar da raiva que sinto de “líderes” fracos, acovardados, que poderiam ter impedido que vivêssemos uma calamidade – e também que eu escrevesse esta lista, visto que não sentiria 1% da raiva que sinto hoje, na situação pela qual passamos;

9. Fique em casa

Sempre gostei muito de ficar em casa, e inclusive considero que a felicidade só é possível quando nos sentimos bem onde moramos. Mas, desde que isso seja por vontade própria. Ter de ficar em casa – ainda mais quando 95% das pessoas que também precisariam e poderiam não ficam – é uma merda;

8. Cloroquina

Nem era para estar na lista. Trata-se de um medicamento muito útil para quem sofre de doenças como malária e lúpus. O problema é que nosso “presidente” tratou a cloroquina como se fosse um “santo graal” contra a covid-19, e até mostrou uma caixa de remédio para uma ema. Ele jura que se curou graças à cloroquina, mas ainda não vi um vídeo que mostrasse ele abrindo uma caixa e tomando um comprimido tirado de dentro dela;

7. Novo normal

Que a dita “normalidade” mudou muito ao longo da história, não é (ironicamente) uma novidade. Inclusive uma doença, a AIDS, mudou a forma como transamos, nos estimulando a usar preservativo. Mas eu não aguento mais ler e/ou ouvir esta expressão. Pois se o “novo normal” for trabalhar em casa e usar máscara sempre (imagina no verão), prefiro mil vezes o “velho” (mesmo não podendo voltar a ele);

6. Home office

É verdade que já se falava nele antes disso tudo. Mas mesmo antes eu já tinha “os dois pés atrás”. Querem que a pessoa trabalhe de casa, mas sem fornecer equipamento e também a estrutura necessária? Não se surpreendam se as ofertas de emprego num futuro não tão distantes anunciarem como pré-requisitos não só a formação e (em muitos casos) a experiência prévia, como também computador com determinadas aplicações e configurações. O “home office” pode parecer bacana, e dependendo da pessoa até pode ser (não precisar passar horas no trânsito é um ganho em qualidade de vida), mas algum empregador está disposto a dar um auxílio para que seu funcionário tenha uma estrutura melhor em casa, de modo a não precisar trabalhar na mesma sala (e na mesma mesa) onde faz as refeições pelo simples fato de não ter outro local? Me parece óbvio que não;

5. Pandemia

Não é a primeira que a humanidade atravessa, e certamente não é a última. Eu mesmo já passei por outra, a da gripe A em 2009-2010. Só que naquela época ela não era o assunto dominante. Houve algumas alterações de rotina – o início do 2º semestre de 2009 na UFRGS foi adiado em duas semanas para conter a disseminação do vírus, por exemplo. Mas nada parecido com agora, visto que para gripe já existia vacina, bastava adaptá-la à nova cepa do H1N1. Teve até Copa do Mundo: o fim da pandemia foi declarado pela OMS um mês após o apito final do Mundial de 2010 na África do Sul;

4. Coronavírus

Outros coronavírus já causaram surtos no passado, sendo o mais famoso deles o da SARS em 2002-2003. Há vírus da mesma família que causam resfriados, e considerando a quantidade de vezes que me resfriei (só em 2019 foram três), é bem possível que eu já tenha estado em contato com algum deles. Mas seria bem melhor se essa expressão seguisse apenas no cotidiano de virologistas;

3. Covid-19

A doença causada pelo coronavírus descoberto no final de 2019, responsável pela desgraça atual. Maldita para sempre;

2. Quarentena

A própria palavra indica que ela se origina de “quarenta”; no caso, seria o tempo de isolamento de uma pessoa para se curar de uma doença e não transmiti-la. Pode ser até menos, como na própria covid-19: cerca de 15 dias após chegar de uma área onde há grande incidência é suficiente. Mas aqui no Brasil, onde muitas vezes se tem a impressão de que tudo é feito errado desde 1500, já são bem mais de 40 dias. Já deixou de ser “quarentena”, é mais que isso. Passou de “cinquentena”, “sessentena”, “setentena”… 160 dias: “cento-e-sessentena” ou, considerando que é o quádruplo de 40, “quaquarentena”;

1. Isolamento social

A grande campeã, sem dúvida alguma. Uma das grandes desgraças de 2020, provavelmente uma das piores épocas de toda pessoa viva neste momento. O ser humano é um animal social, e por conta de um inimigo invisível está precisando se furtar a uma de suas principais características. Sejamos introvertidos ou extrovertidos, todos nós precisamos de contato social: com nossos familiares, amigos, colegas de trabalho etc. Algumas pessoas necessitam mais, outras menos, mas abdicar totalmente disso, só quem deseja se tornar um ermitão. O que não é o meu caso e o da maioria esmagadora da humanidade, que por conta disso reservará a 2020 um lugar cativo na lista dos piores anos já vividos.