16 + 16

Em alguma aula no colégio, sobre corpo humano – mais especificamente, sobre a boca – tive noção do que significava o número 32. A professora falou algo sobre dentes de leite, aqueles que ficam “moles” e caem, sendo substituídos por aqueles que nos acompanham pelo resto da vida (desde que os escovemos, é claro). Achei incrível quando ela disse que podemos chegar a ter 32 dentes. “Mas tem lugar para tudo isso?”, imaginei.

(Na minha boca, de fato, não houve: um siso nunca veio, se bem que não me faz nenhuma falta. Os outros “dentes do juízo” nasceram e foram extraídos, sendo que o único inferior veio torto e ainda provou que realmente faltava espaço: começou a “empurrar” os demais, causando dor imensa e me levando a ficar duas horas com a boca aberta enquanto o dentista colorado fazia a cirurgia e, espertamente, aproveitava para me flautear sem precisar ouvir o troco. Experiência traumática, portanto.)

Pensar na falta de espaço para tantos dentes na boca me dava a ideia de que o número 32 significava “muito”. E em alguns casos, realmente é “bastante”: 32 graus, por exemplo, me faz pensar em ligar o ar condicionado (com 25 já começo a olhar para o ventilador e a pensar nele ligado). Não pensava que significava tanto em idade, por saber que em média vivemos bem mais. Só comecei a achar que era um certo sinal de “velhice” quando vi referências a jogadores de futebol com 32 anos de idade como sendo “velhos” – não tinha noção de que o fôlego para jogar bola não dura para sempre.

Porém, o 32 realmente mostra ser “bastante” quando divido-o por 2: o resultado é 16. Ter 32 anos, portanto, é ter duas vezes 16.

O dia em que completei 16 anos foi um dos mais aguardados da minha vida. Tive noção do que significava tal idade em alguma campanha eleitoral, em 1988 ou 1989: queria votar, mas meu pai disse que teria de esperar até os 16 anos. Ali, de certa forma, comecei a contagem regressiva para 15 de outubro de 1997.

Demorou uma barbaridade, afinal, o tempo que faltava era mais do que tudo o que tinha vivido. Mas chegou, há exatos 16 anos… A eleição seria apenas no ano seguinte, mas ainda naquele mesmo mês fui fazer o título de eleitor, que exibia com o mesmo orgulho que muita gente exibe a carteira de motorista aos 18 anos de idade.

Agora, passou-se o mesmo tempo que tinha sido decorrido desde o meu nascimento até aquele 15 de outubro de 1997. Ruim? Nem um pouco. Tem gente meio “neurótica” com isso, talvez porque acredita naquela história de que existem “idades certas” para se fazer certas coisas. E assim não curtem o que de melhor a passagem do tempo oferece: a maturidade.

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Faça as contas e sinta-se velho

Dando uma olhada em textos antigos, cheguei num que escrevi em fevereiro do ano passado. Nele, comentei sobre o fato de que quem nasceu em 1994 completou 18 anos em 2012.

Pura questão de matemática, então: em 2013, é a vez das pessoas nascidas em 1995 alcançarem sua maioridade… Um ano do qual tenho tantas lembranças boas (que não se resumem ao Grêmio), já se encontra a uma boa distância temporal.

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Já as lembranças que tenho de 1997 não são tão boas quanto as de 1995. Mas uma é muito especial: foi quando completei 16 anos, idade mínima para votar, o que me encheu de orgulho. Tanto que faltando um ano para a eleição, já fui correndo tirar o título de eleitor.

Pois bem: quem nasceu em 1997, chega aos 16 anos em 2013.

11 anos depois

Ao guardar meu título após o voto de domingo, reparei na data de expedição: 30 de outubro de 1997.

Lembro que, mal fiz 16 anos, em 15 de outubro de 1997, eu já quis ir correndo fazer o título, mesmo que a próxima eleição só fosse acontecer quase um ano depois. Os meus colegas de aula à época, em sua maioria, não estavam nem aí para os 16 anos e o direito ao voto, o que eles queriam mesmo eram os 18 e a carteira de motorista. Já eu, ao ter meu título em mãos, passei a exibi-lo, orgulhoso de “ser um cidadão”.

Hoje em dia, vemos isso em propagandas da Justiça Eleitoral que tentam convencer o jovem de 16 e 17 anos a votar. Impossível não sentir certa tristeza ao constatar, 11 anos depois de “me tornar cidadão”, que cada vez menos gente sente interesse por política. Não necessariamente política partidária e eleitoral, mas também a discussão sobre o futuro do país, do Estado, da cidade. Enfim, se preocupar com questões que digam respeito à coletividade ao invés de olhar só para o próprio umbigo. Isso também é política.