Ao contrário da eleição anterior, não publiquei texto abrindo meus apoios às vésperas da votação. Meu computador estava com problema e não rolava escrever muito no celular. Mas quem acompanha minhas redes sociais (sinceramente, muito mais gente do que quem costuma vir aqui) já sabia meu posicionamento. De qualquer forma, para constar: votei em Karen Santos para vereadora e Fernanda Melchionna no primeiro turno. Ambas do PSOL. No segundo turno, não tive dúvidas: fui de Manuela. Meus votos em 2020 foram todos para mulheres.
Uma obviedade por minha posição política de esquerda, mas era algo que vai além disso: Porto Alegre é governada pela direita há 16 anos, que agora chegará a 20 com a eleição de Sebastião Melo. Era mais do que um voto “ideológico”: era para a cidade sair da mesmice. Ainda mais se considerarmos que é uma mesmice RUIM: há cidades governadas pela direita onde se vive melhor, as coisas funcionam, o que não é o caso de Porto Alegre.
Com o agravante de que o eleito é o vice do lamentável segundo mandato de José Fortunati, o prefeito que mandava cortar árvores com o estúpido argumento de que “as pessoas não as usavam” para alargar uma avenida e que deixou a cidade com inúmeras obras inacabadas – aliás, boa parte delas eram para a Copa de 2014, e não ficaram prontas até agora quando já acontecem as eliminatórias para 2022. E como se não bastasse, Melo promete “abrir tudo” como se fosse possível acabar com a pandemia por decreto; de aumentar a testagem da população para que tal abertura possa ser mais segura ele não falou em nenhum momento.
A maioria do eleitorado porto-alegrense prefere continuar na mesmice ruim para não votar na esquerda. Um voto puramente ideológico… Como costumam ser os meus?
Não. Pois não estou do lado que se utiliza de desinformação e um discurso muito velho. Apoiadores de Melo falavam que se Manuela ganhasse a população porto-alegrense iria “comer carne de cachorro”, o próprio candidato apelava a um anticomunismo que mais caberia na década de 1960 do que em 2020… Sem contar os ataques de Rodrigo Maroni, ex-noivo de Manuela que parecia ser candidato mais por “dor de cotovelo” do que por ter propostas para a cidade (não tinha). Houve campanhas de mais baixo nível em outras cidades brasileiras, mas em Porto Alegre não recordo de outra tão suja.
Lembro de quando cogitei pela primeira vez morar no interior do Rio Grande do Sul, quando fiz um concurso para a prefeitura de Farroupilha em 2013. Um conhecido, de esquerda como eu e que era da Serra, disse: “te prepara”.
Não fui para Farroupilha, me saí (muito) mal na prova. Mas pouco tempo depois passei em outro concurso e em janeiro de 2015 me mudei para Ijuí, a 400 quilômetros de Porto Alegre. Eu pensava seriamente em morar no interior: embora não planejasse ir para tão longe (as outras opções eram ainda mais distantes), o fato de ter o desejo de “mudar de ares” facilitou bastante minha adaptação a uma nova vida interiorana.
Imaginava ficar pelo menos três anos em Ijuí, mas circunstâncias pessoais me fizeram retornar a Porto Alegre assim que surgiu uma oportunidade. Não me arrependi do retorno: era o famoso “cavalo encilhado” que não podia deixar passar.
Ao mesmo tempo, o isolamento social imposto pela pandemia muitas vezes me levou a refletir sobre como seria melhor morar em uma cidade no interior, onde pelo mesmo valor que pago de aluguel em Porto Alegre eu estaria em um apartamento maior, com sacada, talvez até com churrasqueira: não era o caso de Ijuí (onde quase consegui um com), mas não custaria uma exorbitância como em Porto Alegre.
Fala-se muito sobre o conservadorismo do povo do interior, e o exemplo que relatei do conhecido me “alertando” sobre como seria morar na Serra diz tudo. Mas, sinceramente, o povo de Ijuí (que é de onde posso falar um pouco, por já ter morado lá) não me parece tão mais conservador que o de Porto Alegre, que aceita ser governado pela direita por (pelo menos) 20 anos mesmo que ela não faça muito por merecer cinco vitórias eleitorais consecutivas. (E sim, também acho que a esquerda também errou nesta e em campanhas anteriores, somos muito fracos em comunicação.)
Mas, se é para conviver com tantos conservadores (e mesmo reacionários)… Não seria melhor fazer isso onde eu tivesse mais qualidade de vida?
Eis algo em que vou pensar com bastante carinho, especialmente após o fim desta maldita pandemia, já que agora nem adianta muito. Não necessariamente me mudarei, mas pensarei seriamente.