A decisão certa

Já escrevi, mais de uma vez, sobre morar no interior do Rio Grande do Sul. Em setembro de 2015, ainda sob o efeito de um feriadão muito tenso por conta da violência em Porto Alegre, dizia não ter vontade de voltar a viver na capital – para, menos de um ano depois, estar de volta. Cinco setembros depois daquele texto, lembrava a vida em Ijuí e comentava até mesmo sobre a nostalgia que me dava, ainda mais por ter passado relativamente pouco tempo lá; mas, ao mesmo tempo, não achava que tinha tomado a decisão errada ao retornar a Porto Alegre. E após a última eleição, irritado com a acomodação do eleitorado porto-alegrense, deu vontade de novamente me mudar para o interior.

Mas, como disse no texto do início de dezembro, seria algo para pensar apenas depois da pandemia, mais interminável que o Gauchão de 1994. E de qualquer forma, eu estava realmente certo quando voltei em 2016: a principal razão era que minha mãe e meu pai envelheceriam como a minha avó e demandariam maiores cuidados, que cairiam todos nas costas do meu irmão caso eu continuasse em Ijuí. E se já faz quase duas semanas que não escrevo nada, isso se deve muito à preocupação com a minha mãe, que em exames de rotina descobriu problemas cardíacos e precisou fazer uma cirurgia de ponte de safena: felizmente, correu tudo bem na operação, realizada ontem; amanhã provavelmente ela sairá da UTI pós-operatória (pelo menos dois dias lá são de praxe) e será transferida a um leito clínico, com previsão de mais cinco dias mas podendo ir para casa até antes.

Nada como ter tomado a decisão certa, na hora certa. Em janeiro de 2016, quando me inscrevi no edital de remoção, não pus Porto Alegre como minha primeira opção por achar que seria muito difícil conseguir. Achava mais fácil que abrisse vaga em Santa Cruz do Sul ou Lajeado – e até preferia mesmo ir para uma das duas cidades, bem menos distantes que Ijuí. Mas no começo da tarde do dia 16 de maio, ao abrir meu e-mail após o almoço e ver a mensagem de uma colega aqui da capital manifestando interesse em uma permuta e perguntando se eu ainda queria (afinal, poderia ter mudado de ideia em quatro meses), nem precisei pensar muito antes de responder: iria querer sim, só precisaria de um tempo para me organizar e planejar a mudança.

Mais do que nunca, estou convicto de que não errei. Morar em Porto Alegre, ainda que sentindo vontade de voltar ao interior algum dia, significa estar perto da minha família sem precisar passar horas em um ônibus para isso. Ainda mais agora, em tempos de pandemia. (Já basta a exposição no hospital, acompanhando minha mãe.)

Definitivamente, valeu a pena estar aqui.

Um comentário sobre “A decisão certa

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