No momento em que escrevo, River Plate (Argentina) e Tigres (México) disputam a decisão da Libertadores de 2015 no Estádio Monumental de Nuñez, em Buenos Aires. Estou bem dividido quanto ao jogo: se por um lado sou extremamente grato ao Tigres por ter eliminado o Inter (não ia dar para aguentar um terceiro título deles na Libertadores), por outro acho que será bizarro demais o River representar a América do Sul no Mundial de Clubes sem ser o campeão sul-americano (o Tigres não irá ao Mundial mesmo sendo campeão pois o México integra a Concacaf).
Sintonizei na Fox Sports para assistir ao jogo. Se quiser, troco de canal e assisto no Sportv. Por curiosidade, coloquei na Globo e nada de jogo: passava a novela.
Pois é: no Brasil, quem gosta de assistir futebol (e não apenas ao seu clube do coração) precisa ter TV por assinatura. Pois a Globo só mostra jogos internacionais se envolverem um clube brasileiro ou a Seleção (cada vez mais da CBF e menos do Brasil). As exceções são a Copa do Mundo (teria de fechar as portas se não mostrasse todos os jogos) e a Liga dos Campeões da UEFA.
“Ah, mas os jogos da Liga dos Campeões são bem melhores que os da Libertadores”. Concordo. Inclusive, a final da principal competição de clubes da Europa não é mais apenas um evento esportivo, passou a ser também televisivo. Tanto que a partir de 2010 a decisão passou a ser disputada em um sábado, de modo a dar a maior audiência possível; na última final eu estava em Porto Alegre e me reuni com amigos na casa do meu irmão para assistir ao jogo.
E nesse aspecto, sem dúvida alguma, a decisão da Libertadores não ajuda: além de ser disputada em dois jogos (a da Europa é em partida única num estádio definido com bastante antecedência, sendo raro algum clube decidir “em casa”), acontece no meio da semana, em uma quarta-feira (como era na Europa até 2009). Obviamente não dá para simplesmente “copiar” os europeus, pois nossa realidade é diferente: na Europa as viagens são mais curtas (podendo ser feitas de trem inclusive) e os torcedores têm mais condições de viajar.
Sem contar que, dependendo do palco, o público da final em jogo único e em campo neutro poderia ser um fiasco: este River x Tigres não levaria muita gente a um Maracanã, por não atrair a atenção dos brasileiros. E aí, entra a culpa da Globo.
Quarta-feira é o “dia do futebol na Globo”. Tanto que temos jogos no absurdo horário das 22h, para que eles sejam transmitidos “depois da novela”. Mas, como não tem clube brasileiro na disputa (obrigado, Inter!), para a Globo é como se nada estivesse acontecendo no Monumental de Nuñez.
Por conta disso, acho bastante discutível essa história de considerar o Brasil como “o país do futebol”. Em geral, brasileiro gosta apenas de assistir ao jogo do seu time (aliás, até isso está ficando difícil, com os altos valores dos ingressos). Se estiver “neutro” na disputa, pode até ver a partida pela televisão, mas dificilmente se deslocará ao estádio – a não ser que seja Copa do Mundo, aí estará disposto a pagar caro por um ingresso só para tirar uma selfie e dizer “fui num jogo de Copa”.
E se a final da Libertadores fosse num jogo único sábado à tarde? Acho que haveria mais chance de ser transmitida em TV aberta. Creio que o mesmo vale para a Copa do Brasil. Finais em noite de quarta-feira limitam a repercussão do evento na mídia.
Isso também é verdade… Só que na América do Sul as viagens não são tão curtas como na Europa, sem contar que o poder aquisitivo aqui é menor do que lá.
O Inter ficou fora da final da Libertadores, e um dia depois deste texto demitiu Diego Aguirre para “criar um fato novo” para o clássico Grenal do domingo, 9 de agosto.
QUE MOMENTO SUBLIME!