Dibem, um cidadão enlutado

O sr. Dibem se orgulha de se matar trabalhando. Sente que é gente como ele que faz o Brasil andar.

Porém, reclama de não ser reconhecido. Se sente massacrado pelo governo, que tem inveja de seu trabalho duro e lhe cobra imposto de renda. “Sempre punem quem ganha mais, um absurdo!”

O sr. Dibem também sofre no trânsito. Além de passar boa parte do dia sozinho em seu carro, preso num congestionamento que só aumenta (“políticos de merda que não alargam as ruas!”), ainda é vítima da indústria da multa. “Afinal, por que raio de motivos é proibido andar a 100 por hora perto da escola???”

Após suportar muito tempo no congestionamento, o sr. Dibem chega em casa e decide assistir televisão. Liga a sua “gatonet” e fica bem informado.

Pelo noticiário, fica sabendo sobre os escândalos de corrupção. “Cambada de safados! Tem que prender tudo!”

Seu filho, o Dibenzinho, avisa que “o gigante acordou”, e que irá a uma manifestação. O sr. Dibem resolve ir junto: veste roupa branca, pega uma bandeira do Brasil e em uma folha escreve, bem grande: ABAIXO A CORRUPÇÃO. Pega o carro e se dirige ao local do protesto.

Chegando lá, não encontra lugar para estacionar nas ruas próximas. Não pensa duas vezes: deixa o carro em cima da calçada mesmo. Afinal, a rua está lotada e as calçadas não servem para nada, só tiram espaço dos veículos.

Na manifestação, perde a voz de tanto gritar “sem partido”. Sente-se orgulhoso de participar da mudança que jamais imaginava um dia ver.

Chega a hora de ir embora. O sr. Dibem chega ao carro e se depara com um papelzinho no para-brisa. Uma multa por ter estacionado na calçada. “Maldita fúria arrecadatória!”

De volta ao lar, liga a “gatonet” e fica sabendo da última: alguns corruptos serão julgados novamente. “Já era para estarem presos! Safados! Agora visto preto, de luto pelo Brasil!”

Um vizinho conta que leu uma notícia sobre a emissora que fala em impunidade ter sonegado muitos milhões em impostos. O sr. Dibem se irrita e diz que isso é coisa de comunista.

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