Pretendia ter ido à manifestação desta quinta em Porto Alegre, já que não estive nas duas últimas. Quinta passada tinha reunião com meu orientador; na última segunda tinha aula e cheguei a me dirigir em direção à Cidade Baixa depois em busca do ato, mas não o encontrei, pois o grosso dos manifestantes ainda estava na Ipiranga – boa parte deles, tomando porrada.
Durante o dia, circularam muitos boatos – e justamente pela falta de confirmação, os considerei como tais. Um deles dizia que os ônibus sairiam de circulação cedo, por volta das 5 da tarde. Segundo a EPTC eles cumpririam sua tabela normal de horários, mas por via das dúvidas, as pessoas foram liberadas mais cedo do trabalho, devido ao temor de que não conseguissem chegar em casa. O resultado foi a antecipação do “horário de pico” para as 4 da tarde; e foi ainda mais caótico, pois não era um congestionamento normal: as pessoas queriam estar longe do Centro o mais rápido possível, por isso, foram todos ao mesmo tempo. As paradas de ônibus estavam abarrotadas.
Quando saí do trabalho, não sabia se ia para a frente da Prefeitura ou vinha para casa – e a ideia de trocar o “vem pra rua” pelo “vem pra casa” se fortaleceu após eu mergulhar meu pé em uma poca d’água: ao menos teria de trocar a meia e o tênis. O meu irmão tinha dito que estaria no ato e decidi ligar para ele: quando ele disse que iria para casa, tomei o caminho do lar. A pé, pois se pegasse ônibus demoraria ainda mais tempo.
No caminho, foi ainda mais visível o clima de apreensão. Uma loja de conveniência em um posto de gasolina afixava tapumes para proteger seus vidros – o mesmo fazia um hotel ao lado.
Cheguei em casa com o pé encharcado e decidi entrar para o banho: era a senha para permanecer em casa. Porém, não foi só isso. Duas análises que li (aqui e aqui) me fizeram ficar bastante preocupado com o rumo que a coisa está tomando. Vamos relembrar.
Os protestos se iniciaram por uma causa que toca a todos nós: o direito ao transporte. E a cobertura da velha mídia era a de sempre: procurando mostrar os manifestantes como “baderneiros”. Ao ponto da Folha e do Estadão defenderem a repressão aos protestos em São Paulo, semana passada.
Foi o que aconteceu na noite do dia 13. Só que eles sentiram “na pele”, ou melhor, através de uma repórter da Folha. Também perceberam que a adesão aos atos só aumentava, por mais que eles criminalizassem. Então claramente mudaram de lado: passaram a defender os “manifestantes pacíficos” (sendo que muitos dos que apanharam da polícia dia 13 protestavam sem violência).
Veio o dia 17 de junho, a última segunda-feira. As imagens eram – e são – belíssimas: a rua ocupada por milhares de pessoas, lembrando que o espaço público pertence a todos nós, não só ao trânsito de automóveis. Porém, novamente vimos atos de vandalismo – em Porto Alegre a coisa foi muito feia, com muitas depredações e um ônibus incendiado.
Notei algo muito estranho também. No dia seguinte, gente que eu nunca via falar de política (ou quando falava, só saia bosta) manifestava sua opinião no Facebook, dizia querer “um Brasil melhor”, que era hora de “acabar com a corrupção” e etc. Uma semana antes só falava que vivíamos num “país de merda”, e de repente publicava foto com a bandeira do Brasil, se dizendo patriota. Protestar “virou moda”.
E então, eis que me deparo com uma petição online pedindo o impeachment de Dilma Rousseff. Minha cabeça fez algo como um “clic”: um movimento claramente de esquerda e que começou de forma espontânea (a partir das redes sociais), estava sendo tomado pela pior direita. Percebia isso principalmente quando lia comentários acerca de “não pode ter bandeiras partidárias” no ato de quinta, que conforme a organização (?), seria “gigante”. Afinal de contas, em atos que contestam o aumento das passagens e pedem passe livre, as bandeiras que aparecem são as dos partidos de esquerda, justamente por esta causa ser de esquerda.
Meus temores foram confirmados acompanhando as notícias do que acontecia pelo país. Em várias cidades (e principalmente em São Paulo), havia relatos de agressões dos “apartidários” contra quem carregava bandeiras de partidos. Em Brasília, tentaram incendiar o Palácio do Itamaraty. Os protestos foram totalmente desviados do foco original (ou seja, a luta contra o aumento e pelo passe livre), e se voltaram contra os partidos, contra a política (a ponto do Movimento Passe Livre, que chamou as primeiras manifestações em São Paulo, decidir se retirar do ato denunciando a infiltração reacionária). Resumindo, virou uma luta violenta da extrema-direita contra a democracia: em um regime democrático ninguém é obrigado a se filiar a partido algum, mas eles também não podem ser proibidos de existir.
O mais sensato, a essa altura, é cancelar todas as próximas manifestações, visto que a situação está se tornando muito perigosa. O Alexandre Haubrich disse tudo:
Menos empolgação e mais reflexão, por favor. O legado já foi construído, agora chegamos num ponto limite onde as coisas só podem piorar.
Onde que esse movimento é de esquerda ou de direita??? Você enlouqueceu ou sou eu que tenho informações que ninguém tem?!! O movimento é apartidário, PROFUNDAMENTE contra TODO E QUALQUER POLÍTICO, porque o que reina no senso comum é a generalização, ou seja, se foi eleito pelo povo (enganado pelos marketeiros que estão aqui para isso mesmo!!!), não merece mais crédito, afinal a roubalheira foi SEM MEDIDA nas obras da Copa e o povo sofre com a falta de estrutura e planejamento econômico de longo prazo. E de presente uma bela de uma inflação, baixo crescimento e perspectivas de um futuro extremamente sombrio. Analise os últimos acontecimentos, onde a classe média regula o tomate, conta centavos para abastecer o carro, e, se vê obrigada a mandar babás e empregadas domésticas para a rua, afinal a causa é justa, mas o custo não pode ser absorvido. Pegue esse cenário doméstico, coloca a PEC 37 no meio, Renan Calheiros solto e no comando!!! É uma panela pronta para explodir a qualquer momento. A esquerda sabe MUITO BEM que esse movimento histórico não pertence a ela e tratou de encomendar um caminhão de pneus para um incêndio na tentativa de assinar o comando!!! O povo repudiou!!! E tem mais, tenho recebido orientação para começar a guardar comida porque tenho criança pequena em casa, eu pensava que isso era exagero, mas conforme estou vendo às orientações na Vila Campesina, já não estamos tão longe de dias terríveis!
O “Brazil” não acordou, está em um transe hipnótico criado pelos ilusionistas politiqueiros e suas estratégias de manipulação.
Dedico esse vídeo a todo os protestantes, manifestantes e simpatizantes, que acreditam que o povo foi espontaneamente pras ruas sem instituições, contratações e politicagens por trás. Ou seja: Tudo isso é uma armadilha para o próprio povão que se recusa a analisar as coisas antes de aderir ou rejeitar.
Luana, representação sem partidos não existe. O oposto de partidos é um oportunista virar ditador. Só partidos conseguem agregar pautas coerentes na política moderna. Estão insatisfeitos com os partidos atuais? Criem um próprio, ora bolas.
Esse é o perigo: este tipo de comentário (aparentemente) ‘meia-sola’. Um movimento ‘apartidário’ é necessariamente político. E só um míope não percebe que tentar impedir aos participantes o uso de camisetas ou bandeiras (de uso pessoal, sem pretender definir como do coletivo) é ato autoritário e oposto à disposição democrática de dar ‘voz às ruas’. Concordo plenamente com o post.
Figurinha carimbada da classe média conservadora!
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Já antes do primeiro protesto que teve, desde que tinha acabado em poa, o de quinta retrasada, em solidariedade a luta em sp, já se falava em sem bandeira. Até de unes da vida. Foi até alvo de discussão com anarcopunk.
O pior é que o partidão fez o mesmo jogo da direita no poder. É código florestal, mensalão, corrupção, ccs, distribuição das comissões da câmara, sem reforma politica, copa e mais. E vem mais. A sua mídia toma a mesma posição que a conservadora. Claro, defendendo a “isquerda”.
É um joguinho de poder a nossa sociedade? Aliás, o governo atual mexeu na elite? Governam para quem mesmo?
Tudo da mesma laia, só o grupinho é diferente. Essa esquerda brasilis não me representa. Estão em crise e NÃO querem se tratar!
Agora, quem está “liderando” as trocentas páginas do MOVIMENTO DA DEMOCRACIA SEM PARTIDO no Face é o Anonymous. Imagina ser liderado por alguém que pede transparência em tudo e não mostra a própria cara?
Demorei pra entender o que estava acontecendo, mas, no dia 20, encontrei Jesus!! (kkkkk).
Tive que me jogar na Paulista, enrolada na bandeira do PT, pra entender que o ideário desses protestos é FASCISTA.
Por mais que o MPL tenha se declarado de esquerda, eles incentivaram a criação dessa massa amorfa de gente porque queriam engrossar as manifestações pela redução da tarifa. No dia 20, na Paulista, eles viram o monstro que ajudaram a criar. Foram xingados, ameaçados e avacalhados junto com os partidos e demais movimentos sociais organizados de esquerda.
É FASCISMO. Tá dominado.
Segue meu depoimento sobre o que aconteceu na Paulista:
http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2013/06/20/xad-na-paulista-se-lembrou-do-allende/
Uma amiga minha, chilena, também disse que se lembrou de como tudo começou antes do golpe contra Allende.
É mais ou menos como a fábula da raposa e o queijo. Lamentavelmente a esquerda que está nos movimentos sociais fez o papel do corvo, que deixou o queijo cair para a raposa, quando esta elogiou-lhe o (horrível) canto.
A FÁBULA DA RAPOSA E O QUEIJO
Um dia uma raposa faminta buscava o que comer. Viu então um corvo em cima de uma árvore, com um lindo queijo no bico.
– Olá, corvo, como você é bonito! as o que mais aprecio em você é ouvir a sua bela voz!
O corvo no princípio desconfiou, porque tinha a intuição que não era um rouxinol. Mas de tanto a raposa elogiar, acabou comnvencido.
Ao abrir a boca para cantar, satisfeito, seu queijo despencou e caiu justo na boca da raposa, que, apressada, fugiu correndo pela direita…
Moral da estória: cuidado com o canto da sereia Global…
O movimento que levou milhares de jovens às ruas no Brasil foi considerado apartidário, certamente. No entanto todos os movimentos político-reinvidicatórios, ou são posições de esquerda ou de direita.Ou seja, uma coisa é ser apartidário e outra “é levantar uma bandeira” de uma determinada posição política. P.ex. pedir passe livre para estudantes , medicina socializada com pessoal de saúde assalariado em tempo integral é posição da esquerda. Livre iniciativa é uma posição da direita, exigir educação pública para todos é de esquerda. Lucrar com o atendimento médico é de direita. A meritocracia é posição da direita. Quem apóia o bolsa família porque coloca mais comida na mesa de uma familia apóia uma idéia de esquerda Crer que o bolsa-família acomoda as pessoas e elas não lutam por seu crescimento é de esquerda. Enfim o movimento pode ser apartidário, mas tem posição.
Airton, só te enganaste numa coisa: sobre a creditar que quem recebe bolsa familia fica acomodado. Isto é de direita.
Chame o Chico! Chame o Chico! Não chame o Severino. Graças a Deus, temos a inteligência viva. Amanhã vai ser outro dia!!!!!! Conseguinos dar o grito através dos jovens. Por favor, chame o Chico Buarque de Holanda.
.Quando viram que o movimento era puxado pelo anarquismo, o poder tratou de enquadrá-lo nas suas condições via pauta midiática que manipula e controla a mente da maioria do povo brasileiro. Dessa forma, os protestos deixaram de seguir seu rumo genuíno tornando-se uma junção de baderna e voltado para o golpe branco da casa grande.
Chame o Chico! Chame o Chico! Não chame o Severino. Graças a Deus, temos a inteligência viva. Amanhã vai ser outro dia!!!!!! Conseguinos dar o grito através dos jovens. Por favor, chame o Chico Buarque de Holanda.