Lá se vão 10 anos daquela tarde fria de domingo, 17 de junho de 2001, em Porto Alegre. Me dirigia à casa do meu amigo Marcel com uma certeza: o Grêmio seria campeão da Copa do Brasil. Pouco me importava o fato de que, após o 2 a 2 no Olímpico no domingo anterior, era preciso vencer o Corinthians no Morumbi lotado, já que empate em 0 a 0 ou 1 a 1 daria o título ao clube paulista.
Só não imaginava que seria da forma como foi: um verdadeiro chocolate. O Grêmio venceu por 3 a 1, quase não tomando conhecimento do adversário. Ganhou não apenas jogando bem: deu espetáculo. A ponto de ser elogiado até mesmo pela “grande mídia” do centro do país, que em todas as conquistas anteriores sempre inventava algum defeito para desmerecer o título gremista.
Outra coisa que eu não imaginava era que depois daquela tarde de 17 de junho de 2001 o Grêmio entraria em um jejum de títulos de expressão que dura até hoje, 10 anos depois. De lá para cá, ganhamos apenas três estaduais (2006, 2007 e 2010), e a Série B de 2005 (o que era nada mais que a obrigação de um clube como o Grêmio).
Porém, parte da explicação do declínio gremista se encontra no próprio time campeão de 2001. Era uma grande equipe, mas extremamente cara para os padrões do futebol brasileiro. Inclusive, a decisão contra o Corinthians foi a última partida de Marcelinho Paraíba com a camisa do Grêmio: o jogador já estava negociado com o Hertha Berlin, da Alemanha.
Os salários extremamente elevados de nomes como Zinho eram herança da parceria do Grêmio com a ISL, assinada no início de 2000, que dava a impressão de que encheria os cofres do clube. Porém, no início de 2001, a empresa faliu. Coincidentemente, na mesma época, Ronaldinho deixava o Grêmio praticamente de graça, graças à absurda incompetência da gestão de José Alberto Guerreiro (maior responsável por nosso jejum), que já recusara propostas “irrecusáveis” pelo (então) craque.
Sem a parceria, era imperioso cortar gastos no Grêmio, pois ficava claro que toda a conta teria de ser paga pelo clube – tanto os salários dos jogadores que ficavam, como os que saíam, caso dos “medalhões” Paulo Nunes, Amato e Astrada, “reservas de luxo” em 2000. Mas o empenho em conquistar títulos importantes adiou duas vezes o necessário enxugamento das finanças: primeiro a Copa do Brasil de 2001, e depois de vencê-la, a Libertadores de 2002 (afinal, qual gremista não sonhava ganhar a América de novo?). Apenas depois da eliminação na semifinal da competição sul-americana, o Grêmio anunciou uma redução salarial e a rescisão de contratos com jogadores de salários elevados.
Mas a conta ainda continuou sendo paga, por muito tempo (como no caso de Zinho). Resultado: o Grêmio enfrenta dificuldades financeiras até hoje, não conseguindo mais montar grandes times como os de 1995-1997 e 2001. E assim entrou em um jejum de grandes conquistas como jamais havia vivido desde que ganhou o primeiro título importante, o Brasileirão de 1981.
Nos últimos trinta anos, o Grêmio já chegou a passar quase seis sem um título de expressão: foi entre o Mundial de 1983 (vencido em dezembro) e a Copa do Brasil de 1989 (início de setembro). Mas em compensação, a partir de 1985 iniciara uma série de títulos estaduais que culminaria no hexacampeonato, em 1990 – sequência que não foi mais alcançada desde então.
Já na atual “década perdida”, o Tricolor conseguiu a “façanha” de ficar fora de quatro finais consecutivas do Campeonato Gaúcho, de 2002 a 2005. Além de fazer papelão no Campeonato Brasileiro por dois anos seguidos: em 2003, quando celebrava o centenário, passou várias rodadas na zona do rebaixamento, e só escapou da queda na última rodada; já no ano seguinte, não teve jeito, e caiu. Depois do retorno (a Batalha dos Aflitos, tão celebrada por Odone), o Tricolor fez boas campanhas, terminando o Campeonato Brasileiro sempre na metade de cima da tabela, e sendo vice da Libertadores em 2007. Mas título, que é bom…
Dessa forma, os gremistas com menos de 15 anos de idade cresceram sem saber o que é um título de verdade, já que no último eles eram muito pequenos, ou nem tinham nascido.
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Para quem quer relembrar não só uma grande conquista do Grêmio, como também um banho de bola, é possível assistir ao jogo inteiro, no canal do usuário Zobarilhas no YouTube.
Rodrigo,
Estou lendo Jogo Sujo. Hoje, passei pelo capítulo da falência da ISL. Era o braço de marketing e de compra e venda de direitos de TV da Adidas, coordenado pelo homem da mala: o responsável pelo pagamento de propina.
A bem da verdade, a ISL já estava quebrada desde 1997. Foi muita trouxice não se informar antes a respeito disso. Mas o Flamengo se ferrou bem mais do que o Grêmio em termos financeiros.
Vamos ao jogo domingo? ;)
[]’s,
Hélio
Ou seja, nada de surpreendente, em se tratando do “profissionalismo” de boa parte dos dirigentes do Grêmio…
Provavelmente não vou ao jogo domingo, pois vou a um churrasco de reencontro da minha antiga turma do colégio, certamente vai levar a tarde inteira. Dia 29, contra o Avaí, aí sim vou certo!
Tenho 25 anos(nasci em 1985) e portanto cresci vendo o gremio ser campeao de quase tudo(so faltou o mundial em 1995 contra o ajax quando fomos operados pelo juiz ingles da partida). Teu texto tem um certo tom depressivo mas e a realidade. Confesso que tambem nao tem sido facil torcer para o nosso amado tricolor nesses ultimos anos. Muita coisa ruim aconteceu de la para ca(ISL Obino rebaixamento) e tudo aquilo que o gremio construiu ao longo de sua historia foram jogados na lata de lixo por direcoes extremamente incompetentes. A decada de 70 foi marcada pelo sofrimento mas essa que passou foi na minha opiniao disparada a pior de todos os tempos em termos administrativos. Por outro lado temos que considerar que assim como na vida o futebol vive de ciclos e esse periodo de seca de titulos com certeza esta para terminar. Claro que como torcedores queremos sempre ganhar mas as vezes nao e assim que as coisas funcionam. Ademais qual o time brasileiro que tem um curriculo de conquistas iguais as do gremio?(4 copas do brasil 2 brasileiros 2 libertadores e 1 mundial) E o inter que nao ganha um brasileiro desde 1979 e a copa do brasil desde 1992? E bom parar pra pensar nisso tambem…
Só que eles ganharam Libertadores e Mundial… Certamente eles não trocariam isso por um Brasileirão ou uma Copa do Brasil. Assim como eu ficaria satisfeito se o Grêmio ganhasse uma Libertadores e um Mundial após ser quarto lugar no Brasileirão.
Rapaz, ao contrário de vocês, jovens gremistas, cresci num tempo em que eles é que ganhavam tudo. A série do octacampeonato deles começou quando eu tinha seis anos, então que eu só fui fazer uma festa de campeão quando tinha 14. Foi duro.
Tá tudo certo com teu texto, foi mesmo assim que aconteceu, mas acho que concordo com o Renato, tá meio deprê. Acho que faltou um último parágrafo, algo no seguinte sentido: “não dá nada, somos o Grêmio”, “eu acredito” ou “o Grêmio vai sair campeão (nem que leve mais cem anos)”.
Ou será que tá achando que nunca mais?
Eu espero que LOGO, relembrar essa conquista da Copa do Brasil de 2001 seja relembrar apenas um banho de bola e um título, e não também quanto tempo faz que o Grêmio não ganha nada de importante.
Espero que o Grêmio sobreviva à arena, e continue sendo realmente um clube, e não que se torne uma empresa. Pode até ser idealismo nesses tempos de futebol-negócio, mas o Grêmio enquanto clube, eu sinto que é de todos nós, gremistas. Virando empresa, passa a ter UM dono só…
Fais tempo que o gremio puto não ganha nada!!!!
É, mas mesmo com tanto tempo sem título, pelo visto segue incomodando muito alguns…
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Ainda faltam cinco anos e meio…