O ano era 1993. Eu cursava a 5ª série do 1º grau, no Colégio Estadual Marechal Floriano Peixoto, e como sempre, minhas notas eram muito boas.
Opa! Esqueci de um detalhe. Eu ia muito bem, mas as notas de Educação Artística destoavam do resto. Depois de começar o ano bem, ficando com 9 no 1º bimestre, a coisa começou a complicar no 2º. A professora avaliava o caderno, e descontava nota se os desenhos não fossem pintados (eu já não gostava de desenhar, colorir então…). Assim, acabei ficando com 6 no bimestre – era a primeira vez que meu boletim apresentava uma nota abaixo de 7 (média para passar) desde que eu começara o 1º grau, em 1989.
Naquela época, as escolas estaduais no Rio Grande do Sul tinham um estranho calendário de aulas (o “calendário rotativo”), implantado em 1992 pelo governo de Alceu Collares. As férias de inverno, que tradicionalmente consistiam num período de 10 a 15 dias de descanso em julho, foram ampliadas para 50 dias, cobrindo boa parte de julho e a totalidade de agosto.
Assim, o 3º bimestre letivo de 1993 no Floriano começou apenas em 1º de setembro, e poucos dias depois eu recebi o boletim, com o 6 em Educação Artística no 2º bimestre. Mas o pior não era isso.
Naquele ano, o nosso campeonato VRC de botão tinha em seu regulamento um artigo que determinava que o participante que apresentasse boletim escolar com notas abaixo de 7 perderia seu jogo seguinte por WO. Quem tirasse menos de 5 seria sumariamente eliminado. A ideia foi do meu pai, para que não deixássemos de dar atenção aos estudos, nem mesmo por conta do jogo de botão.
Só que a regra não valia apenas para o campeonato (disputado no sistema de pontos corridos, turno e returno). Era aplicada também ao Torneio Farroupilha, cujas partidas eram eliminatórias. E, quando eu recebi o boletim com aquele maldito 6, faltavam poucos dias para o Farroupilha… Que era a minha única chance de ganhar alguma coisa em 1993 (e também jogando com o Grêmio): no VRC, eu era lanterna “com folga”, não tinha mais chances; e pior de tudo, o meu irmão Vinicius, jogando com o Inter, liderava o campeonato. Aquele ano era muito duro para mim, ainda mais que em 1992 eu ganhara tudo.
No mesmo dia que eu recebi o boletim, o Vini recebeu o dele, também com nota abaixo de 7. Mas, ingenuamente, foi logo mostrando para a mãe (que depois comentou com o pai). Resultado: acabou eliminado por WO do Torneio Farroupilha. Já eu, guardei o boletim para só mostrar depois do torneio (de preferência, comemorando mais um título), e assim pus os botões na mesa para enfrentar o Leonardo, que jogava com o Palmeiras.
Levei 3 a 1 e fui eliminado… E o Leonardo acabou campeão daquele Farroupilha.
Três dias depois, mostrei o boletim, e foi determinado que eu perderia meu próximo jogo no VRC por WO. Como eu não brigava por mais nada no campeonato, “cagava e andava” para esta derrota. Só que o adversário era o meu pai, que jogava com o Peñarol, e que brigava pelo título contra o meu irmão e o Diego (São Paulo). Não interessava aos dois últimos que o pai ganhasse dois pontos assim, sem nem mesmo jogar. E acabou acontecendo uma “virada de mesa”: se decidiu que eu poderia disputar aquela partida.
De novo, não adiantou: perdi por 1 a 0. Mas no fim, isso não atrapalhou o Vini e o Diego, que foram, respectivamente, campeão e vice daquele VRC.
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Se eu já jogava “de sangue doce” minhas partidas restantes pelo campeonato de botão, no colégio a coisa estava feia. No 3º bimestre, minha nota em Educação Artística melhorou só um pouco, e fiquei com 6,5. Com isso, teria de tirar outro 6,5 para escapar do vexame que seria pegar recuperação naquela matéria (pois nas outras ou eu já estava aprovado, ou precisava de muito pouco).
Consegui um suadíssimo 7, e assim fui aprovado com média final 7,1 – a mais baixa em meus oito anos de Floriano.
E resultaram daquele ano desastroso duas resoluções não só para 1994, como para o resto da vida, e que foram cumpridas. A primeira, de nunca mais usar o Grêmio como meu time de botão, pelo bem dele (e deu certo: no campeonato seguinte quem jogou com o Tricolor foi o Diego, que acabou campeão). Já a segunda, foi de não me descuidar mais em Educação Artística, para não passar novamente aquele sufoco.
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Rodrigo e Vini,
Feliz Pai Cesar pra vocês!
Meu amigo, na criação de filhos, passou claro e com regras acordadas previamente, seus valores de pensar e agir.
Assim sendo, Vinicius e Rodrigo, são a farta colheita desse exemplo paterno construído!
FELIZ NATAL PRA TODA A FAMÍLIA E QUE 2012 CONTINUEM VENCENDO OS DESAFIADORES CAMPEONATOS DA VIDA!
Carinhosamente,
Sandra.
Oi Rodrigo, pai “durão” , não? Mas, pelo menos conseguistes permanecer gremista, eheheheheh Um grande abraço. Feliz Ano Novo.