No ano letivo de 1993, como sempre acontecia, eu ia muito bem em todas as matérias. Na verdade, em quase todas as matérias: minhas notas em Educação Artística é que destoavam do resto. Comecei bem a 5ª série, com 9 no 1º bimestre, mas no 2º bimestre minhas notas começaram a decair – fruto do que considero uma certa implicância da professora, pois só com ela que fui mal, mesmo que jamais tenha desenhado bem – e cheguei ao último bimestre precisando de 6,5 para evitar o vexame de pegar recuperação. Não era uma tarefa das mais difíceis para quem tirava 10 em tudo, é verdade, mas eu não estava acostumado a uma situação daquelas; e além disso já tivera uma nota 6 no segundo bimestre (e 6,5 no terceiro). Mas consegui tirar 7, e obter a média final de 7,1: foi a única vez em todo o tempo de colégio (1989-1999) em que vibrei com uma aprovação (já que as outras nem tinham graça).
O leitor deve estar pensando: “tá, e o que isso tem a ver com futebol?”. A resposta é que pouco depois da notícia, comentei com um colega: “escapei da repescagem!”. Referência à situação vivida pela Argentina, que só se classificou para a Copa do Mundo de 1994 após vencer a Austrália na repescagem entre América do Sul e Oceania. Sinal dos tempos: eu já me interessava por futebol, graças a uma professora de Educação Física (cujo nome infelizmente esqueci) do Colégio Estadual Marechal Floriano Peixoto, que na segunda semana de aulas de 1993 praticamente me obrigou a jogar, pois não queria mais me ver parado – foi o bizarro episódio em que um colega inventou um gol que eu teria marcado no passado, que tenho certeza absoluta de jamais ter feito (lembro de ter marcado pela primeira vez no colégio na 6ª série, foi tão marcante que até o dia eu recordo: 19 de outubro de 1994).
Assim, o Mundial realizado nos Estados Unidos em 1994 não foi uma Copa qualquer, foi A Copa. A primeira que eu, mais que “dar bola”, curti aos montes. Isso após eu voltar a apenas observar meus colegas na Educação Física: no dia 14 de abril eu acordei com uma estranha dor de barriga que não passava, fui à aula de tarde e comecei a me sentir pior; voltei para casa, me deitei, e quando levantei novamente, não conseguia mais caminhar direito e ainda vomitei; minha mãe me levou ao médico e ele de cara deu o diagnóstico: apendicite – e a cirurgia teria de ser feita urgentemente. Uma semana depois, saí do hospital, mas com atestado médico me liberando da Educação Física. Eu queria jogar, mas não podia…
Restava voltar “aos poucos” e esperar a Copa do Mundo começar, em 17 de junho, com o jogo Alemanha x Bolívia, pelo grupo C: quem esperava uma goleada alemã “se quebrou”, já que a Bolívia, de volta ao Mundial depois de 44 anos, resistiu por 61 minutos ao forte ataque alemão, onde brilhava o matador Jürgen Klinsmann – autor do único gol da partida. O melhor jogador boliviano, Marco Etcheverry (conhecido como El Diablo), entrou durante o jogo mas foi expulso três minutos depois – foi este o tempo que ele jogou em uma Copa. A Bolívia acabou em último lugar no grupo C, já a Alemanha, como era de se esperar, ficou em primeiro.
Uma das cenas marcantes do Mundial foi o golaço marcado pelo jogador saudita Saeed Al-Owairan contra a Bélgica, em jogo pelo grupo F. Aliás, a seleção da Arábia Saudita, que chegou às oitavas-de-final (sendo eliminada pela Suécia), foi uma das surpresas de uma Copa em que elas não faltaram.
Diz o velho ditado que “todo bom time começa por um bom goleiro”. Pois bem: o time que Al-Owairan driblou quase inteiro tinha o fantástico Michel Preud’homme, que com toda a justiça foi eleito o melhor da Copa, apesar de alijado dela precocemente, nas oitavas-de-final. Curiosamente, uma das imagens mais marcantes de Preud’homme no Mundial não foi nenhuma de suas defesas incríveis, mas sim, um lance em que “jogou de atacante”. Foi nos últimos minutos do jogaço Alemanha x Bélgica, nas oitavas: os belgas já haviam sido prejudicados pelo árbitro suíço Kurt Röthlisberger, que não marcara um pênalti claro a favor dos Diabos Vermelhos. Com o time perdendo por 3 a 2, levar mais um não faria diferença, o importante era fazer, então em uma falta para a Bélgica, Preud’homme foi para a área adversária tentar cabecear e marcar o que seria o primeiro gol de goleiro da história das Copas, se acertasse – o que não conseguiu. Logo depois, o jogo acabou: injustamente, a Bélgica voltou para casa e a Alemanha seguiu em frente.
No começo do post, falei da Argentina. Ninguém, exceto os argentinos, levava muita fé nela, mesmo com Maradona (que tivera de perder muito peso para ir à Copa do Mundo). Não era para menos: além de só ter se classificado com as calças nas mãos, na repescagem, ainda levara 5 a 0 da Colômbia, em plena Buenos Aires. Eu inclusive achava que em seu grupo, o D, a briga pela primeira vaga ficaria entre Nigéria e Bulgária, e a Argentina acabaria em terceiro. Ironicamente, eu estava certo, mas “por linhas tortas”. Pois em suas duas primeiras partidas na Copa (contra Grécia e Nigéria) a Alviceleste jogou de forma estupenda. De desacreditada, tornou-se favorita ao título. Só um desastre desviaria os argentinos do destino certo que era a taça.
E ele se deu justamente com Maradona. Na partida contra a Nigéria, o craque foi sorteado para o exame antidoping. E deu positivo para efedrina, substância encontrada em descongestionantes nasais, mas cujos efeitos “estimulantes” sobre o corpo são duvidosos (lembro que em uma noite de 1996 precisei usar as gotinhas no nariz, e no dia seguinte marquei um gol na Educação Física – mas obviamente isso se deveu mais a meu bom posicionamento em campo do que à “efedrina”). Divulgado o resultado, por mais que Maradona jurasse não ter se drogado, a FIFA o excluiu da Copa, e abalada pela exclusão de seu melhor jogador, a Argentina perdeu para a Bulgária por 2 a 0 na última partida da primeira fase – ficando assim em terceiro lugar no grupo, atrás da Bulgária (segunda colocada) e da Nigéria (primeira).
Com Maradona fora do Mundial, brilhou ainda mais a estrela de um outro “Maradona”. Era Gheorghe Hagi, craque romeno que, canhoto como o argentino, tinha o apelido de “Maradona dos Cárpatos”. O camisa 10 da Romênia já mostrou tudo o que sabia na estreia contra a Colômbia (que graças aos 5 a 0 sobre a Argentina nas eliminatórias, era considerada favorita ao título). Também se destacava no time romeno o habilidoso atacante Florin Răducioiu, que marcou o primeiro e o último gol da vitória romena por 3 a 1 – o segundo, mais que um gol, foi uma verdadeira obra-prima de Hagi, que acertou na segunda tentativa de encobrir o goleiro colombiano Córdoba, como mostra o vídeo abaixo (aliás, se Higuita tivesse ido à Copa, teria feito a “defesa do escorpião” para impedir o golaço de Hagi?).
A Colômbia ainda perderia por 2 a 1 para os Estados Unidos na rodada seguinte, e acabaria eliminada na primeira fase mesmo após vencer a Suíça por 2 a 0 na última partida do grupo A. Após o retorno da seleção a seu país, uma covardia: o zagueiro Andrés Escobar, que marcou um gol contra na derrota para os Estados Unidos, foi assassinado em Medellín. Escobar “tinha cometido um imperdoável ato de traição à pátria”, nas irônicas e geniais palavras de Eduardo Galeano.
Os caminhos da Romênia de Hagi e da Argentina sem Maradona se cruzaram em Los Angeles, no dia 3 de julho. Os romenos, apesar de levarem 4 a 1 da Suíça na segunda rodada, bateram os anfitriões Estados Unidos por 1 a 0 no encerramento da primeira fase, acabando em primeiro lugar no grupo A, cabendo-lhes assim enfrentarem uma das seleções classificadas em 3º lugar – no caso, a Argentina. Fazia um calor de 38°C e o sol era de rachar, o que poderia indicar um jogo “parado”, com os jogadores não querendo sofrer ainda mais com o calorão. Mas, apesar de tudo isso, foi um jogaço, o que considero o melhor da Copa de 1994 – e melhor ainda, com mais golaços, como o de Ilie Dumitrescu, que abriu o placar.
Outra surpresa que veio do Leste Europeu foi a Bulgária. Até então, jamais tinha vencido sequer um jogo de Copa, jejum que esperava quebrar com o melhor time que já levou a um Mundial, onde se destacavam Hristo Stoichkov (uma das principais estrelas do Barcelona, junto com Romário), Yordan Lechkov e Krasimir Balakov – isso sem contar o “belíssimo” Trifon Ivanov, o Lobo Búlgaro, “xerifão” da zaga que, literalmente, metia medo só com o olhar. Além de tudo isso, os búlgaros chegavam à Copa credenciados por terem deixado a França de fora, graças a um gol de Emil Kostadinov (outro destaque daquele ótimo time) nos acréscimos do último jogo das eliminatórias europeias, em Paris: 2 a 1 para a Bulgária, de virada, num jogo em que bastava um empate aos Bleus (lembra um pouco o Maracanazo de 1950, né?).
O começo da Bulgária na Copa não podia ser mais desanimador. Estreou levando 3 a 0 da Nigéria e jogando muito mal (dando a impressão de que a velha história mais uma vez se repetiria). Mas o bom futebol voltou na segunda partida: o time búlgaro se recuperou goleando a Grécia por 4 a 0 (enfim, uma vitória!) e batendo a Argentina por 2 a 0, ficando em segundo lugar no grupo D. Passou pelo México nas oitavas-de-final com uma vitória nos pênaltis, para encarar a Alemanha nas quartas.
O Brasil, por sua vez, era obviamente considerado favorito ao título. Mas faltava avisar a nós, brasileiros, que não demonstrávamos lá muita confiança no esquema de jogo do técnico Carlos Alberto Parreira. Assim como em 1990, a prioridade brasileira era primeiro não levar gols, para depois fazê-los. Funcionou bem nas duas primeiras partidas: 2 a 0 sobre a Rússia e 3 a 0 contra os “Leões Domados” de Camarões (que em nada lembravam a campanha da Copa anterior). Mas na última partida da primeira fase, um susto: com um gol do grandalhão Kennet Anderson, a Suécia largou na frente do Brasil. Mas Romário, o artilheiro, marcou seu terceiro gol na Copa no início do segundo tempo, e com isso a Seleção empatou em 1 a 1 e garantiu o primeiro lugar do grupo B, com a segunda vaga ficando com a Suécia.
Rússia e Camarões foram eliminados e despediram-se jogando entre si, com goleada de 6 a 1 para os russos e marcas históricas: o atacante Oleg Salenko, da Rússia, marcou cinco vezes só nesta partida, tornando-se o maior artilheiro em um só jogo. Como Salenko já tinha feito um gol contra a Suécia (em partida vencida por 3 a 1 pelos suecos), saiu da Copa com seis gols e manteve-se isolado na artilharia até a semifinal, quando foi igualado por Stoichkov (que dividiu a Chuteira de Ouro com o russo). O gol de honra camaronês foi de ninguém menos que Roger Milla, que aos 42 anos e 39 dias estabeleceu dois recordes: jogador mais velho a atuar e marcar gol em uma Copa do Mundo.
Outra seleção favorita ao título era a Holanda. Assim como o Brasil, ainda devia seu melhor futebol na Copa. Estreou com suada vitória de virada sobre a Arábia Saudita, 2 a 1. Perdeu para a Bélgica por 1 a 0 e se classificou em primeiro lugar no grupo F com uma vitória de 2 a 1 sobre Marrocos. Enfrentou a Irlanda nas oitavas-de-final e venceu por 2 a 0, com uma ajudinha do goleiro irlandês Pat Bonner, que levou o maior frango da Copa.
Algumas horas depois de Holanda x Irlanda, acontecia a definição de quem tentaria impedir que a Laranja Mecânica fosse à semifinal. Naquela tarde de 4 de julho, enfrentavam-se Brasil e Estados Unidos em San Francisco. Os estadunidenses estavam motivados por dois motivos: além de jogarem em casa, também era o dia da independência dos EUA. O Brasil sofreu, teve o lateral-esquerdo Leonardo justamente expulso após dar uma cotovelada em Tab Ramos, mas conseguiu vencer por 1 a 0, gol de Bebeto.
As quartas-de-final começaram na tarde de 9 de julho, com Itália x Espanha. A Azzurra tentava repetir 1982, quando começou muito mal e levou a taça; já a Fúria queria ficar entre os quatro melhores da Copa pela primeira vez desde 1950. O problema para os espanhóis é que Roberto Baggio, eleito melhor jogador do mundo em 1993, voltara a jogar muito depois de começar mal a Copa, junto com sua seleção. Baggio já havia marcado os dois gols da Itália contra a Nigéria nas oitavas (quando a Azzurra quase foi eliminada, perdia por 1 a 0 até os 43 do segundo tempo, e conseguiu a classificação na prorrogação); contra a Espanha, quando tudo indicava mais uma prorrogação, Baggio fez 2 a 1 – o outro gol italiano, curiosamente, foi de outro Baggio, o Dino.
Algumas horas depois, era a vez de Holanda e Brasil brigarem por uma vaga na semifinal. Foi a melhor atuação de ambas as seleções na Copa. Mas só uma delas podia seguir em frente, e foi o Brasil. 3 a 2, num jogaço: Romário abriu o placar aos 8 do segundo tempo, Bebeto fez o segundo dez minutos depois; porém, logo a Holanda reagiu, com Dennis Bergkamp aos 19 e Aron Winter aos 31 do segundo tempo. Branco, cobrando falta, fez 3 a 2 e colocou o Brasil entre os quatro melhores, pela primeira vez desde 1978. Festa nas ruas de todo o país, mas em Porto Alegre muitos preferiam celebrar dentro de casa devido ao frio intenso que fazia naquela tarde (ou seja, estava do jeito que eu gostava). Aliás, a noite anterior fora não só gelada, como também de muita tensão, devido a uma rebelião no Presídio Central que resultou em perseguição pelas ruas de Porto Alegre e no cerco a Dilonei Melara (um dos criminosos mais perigosos do Estado) no hotel Plaza São Rafael, no Centro. Durante a perseguição, o carro onde estavam Melara e seus reféns passou a duas quadras de onde eu morava na época, da minha janela foi possível ouvir as sirenes das viaturas policiais e enxergar o helicóptero que acompanhava tudo do ar. Bom, esqueçamos um pouco a violência, e voltemos ao futebol de alta qualidade de Brasil e Holanda:
Na tarde de 10 de julho, Alemanha e Bulgária fizeram um confronto que, ao se olhar apenas a História, tinha tudo para ser desequilibrado – e favorável aos alemães, é claro. Eram três títulos mundiais contra apenas duas vitórias em todas as participações em Copas. Dava para dizer que a Alemanha era favoritíssima à classificação para a semifinal. Os alemães sairam na frente com um gol de pênalti de Lothar Matthäus, e chegaram a marcar o segundo gol, anulado por impedimento. Dali em diante, a Bulgária tomou conta do jogo e deu um verdadeiro chocolate. Empatou com um gol de falta, cobrança perfeita de Stoichkov (parecia que colocava a bola dentro do gol com a mão, de tão bem que batia), e virou com uma cabeçada de Lechkov – que, ironicamente, na época defendia o Hamburgo, clube onde mais se destacou. A Bulgária ia à semifinal, um feito histórico, amplamente comemorado nas ruas das cidades búlgaras.
Fechando as quartas-de-final, no fim da tarde daquele 10 de julho, a Romênia de Hagi e Răducioiu tinha pela frente a Suécia de Tomas Brolin e do grandalhão Kennet Anderson. Nos 90 minutos, a Suécia estava com um pé na semifinal quando a Romênia empatou e provocou uma prorrogação; nesta, foram os romenos que quase venceram, mas os suecos alcançaram o 2 a 2 que levou a decisão aos pênaltis, onde brilhou o goleiro Thomas Ravelli: pela primeira vez desde 1958, a Suécia estava na semifinal.
As semifinais foram disputadas em 13 de julho. A primeira, colocava frente a frente Bulgária e Itália. Eu torcia pelos búlgaros, que precisavam superar a mística da Azzurra. Não deu. Placar final, 2 a 1 para a Itália, que como em 1982, estava na final depois de começar mal. Só faltaria ser campeã para repetir a mesma história. Já a Bulgária teve de se contentar com o 4º lugar – ainda assim, seu maior feito futebolístico até hoje.
Mais tarde, foi a vez de Suécia e Brasil se reencontrarem duas semanas após aquele 1 a 1. Novamente, foi uma partida extremamente sofrida, difícil. A Suécia atacou raras vezes; em compensação, sua defesa quase não deixava passar nada (e quando deixava, a bola não entrava). Foi assim até os 35 do segundo tempo, quando foi marcado o gol que, se não foi de forma alguma um dos mais bonitos da Copa, foi o mais incrível: Romário, com 1,68m de altura, saltou mais do que os zagueiros suecos de quase 2m para colocar o Brasil na final.
Em 1970, o Brasil conquistara o terceiro título mundial e a posse definitiva da Taça Jules Rimet batendo a Itália por 4 a 1 na Cidade do México. 24 anos depois, era pelo quarto título, o “tetra” (é um erro usar tal termo, pois “tetracampeão” é o time campeão quatro vezes seguidas…), que valia a partida que se iniciaria ao meio-dia local em Los Angeles, Estados Unidos, no dia 17 de julho.
A expectativa era de um jogo sofrido, nervoso. Claro que foi. Só que acabou 0 a 0, no tempo normal e na prorrogação. O único gol foi comemorado pela minha tia: já em Los Angeles, a disputa foi aos pênaltis. Uns tempos depois assisti a toda a partida no videocassete e me segurei para não dormir, mas dizer que não houve nervosismo em 17 de julho de 1994 seria anacronismo, o pior pecado que pode cometer um historiador.
Assim, palmas para Murilo Salles, que dirigiu o documentário “Todos os Corações do Mundo”, sobre a Copa de 1994. Ele conseguiu transformar aquele jogo morno em um jogão.
E Roberto Baggio, justamente o heroi italiano (não fosse ele, a Itália tinha parado já nas oitavas-de-final, diante da Nigéria), foi quem perdeu o pênalti decisivo, que fez o meu irmão pular em cima de mim para comemorar e quase me quebrar a coluna…
Festa em todo o Brasil, e desta vez até nas ruas de Porto Alegre: apesar de ser inverno, fazia calor naquele 17 de julho. Eu tinha só 12 anos, assim, aquela não foi uma desculpa para tomar muita cerveja…
Uns dias depois, veio uma certa tristeza. Afinal, a Copa havia acabado. Tudo aquilo, de novo, só em 1998, na França. Seria preciso esperar quatro longos anos.
Comecei a ler o teu post e devo confessar que pensei: “tá, e o que isso tem a ver com futebol?”. Porém gostei desse primeiro parágrafo, pois me fez lembrar o meu passado de estudante, especialmente uma certa professora de Matemática que tive. Não lembro seu nome, mas jamais esquecerei de suas ‘manias’.
Veja como foi:
Tudo sempre correu muito bem para mim nos estudos. Bem até demais. Aos doze anos eu estreei no Segundo Grau, curso de Contabilidade. Eu era uma criança entre adolescentes e alguns adultos. Isso não me incomodava, pois já tinha me acostumado a sempre ser o mais novo da turma. Até o dia em que surgiu A PROFESSORA DE MATEMÁTICA. Não sei o que ela pensou, mas o que sei é que ela sismou comigo e queria me carregar no colo, literalmente. A mulher sismou que eu tinha que ficar no colo dela. Vai que era por ela me achar pequenino. Aguentei aquela situação por todo o primeiro semestre, porém no segundo, após as férias de inverno (detesto o inverno) e já com treze anos, eu ‘virei homem’, encarei a professora e terminei com aquela história de colo. Acho que magoei a mulher, ela nunca mais falou comigo e o resultado é que no final daquele ano, 1976, eu fui reprovado, pela primeira vez na vida, justamente em Matemática. Deve ter sido coincidência.
Não sei se aquilo que me prejudicou de alguma forma ou não, o que sei é que em 1978 eu larguei tudo, nunca mais estudei, nunca mais entrei numa sala de aula, e até hoje não concluí o segundo grau.
Tá, mas o que isso tem a ver com a Copa? Aliás, sobre a Copa, a de 94 foi a primeira das Copas ruins que assisti. Minha primeira Copa foi a de 74, minha Copa inesquecível foi a de 82. Poucos comentam mas Leandro era um supercraque, um dos maiores que já vi. Bem, o time de 82 era repleto de craques.
Abraço.
Acho que eu e muitos achamos 1994 sensacional porque não vimos 1982 e, principalmente, porque o Brasil ganhou.
Copa ruim, mas RUIM mesmo, foi a de 2006. Vai ser difícil escrever sobre ela! :p
Sobre as coincidências entre estudos e Copa: 1978 foi o ano que o Brasil foi “campeão moral”…
Campeão moral? Não acredite tanto assim nessa invenção da mídia. A Argentina era um grande time, tinha Passarella, Luque, o genial Ardiles e, fundamentalmente, o magnífico Mario Kempes. Não dava para ganhar deles, não em Buenos Aires.
O jogo entre Brasil e Argentina, que assisti e lembro até hoje, foi muito parecido com um Gre-nal, onde o respeito ao adversário é tão grande que chega, às vezes, a superar a vontade de vencer. O zero a zero foi um resultado justíssimo.
Claro que foi invenção da mídia mesmo, lembrei mais para “situar no tempo”… Até porque “campeão moral”, convenhamos, é desculpa de perdedor (como vimos um certo time usar em 2005…).
Aliás, é um negócio interessante: para a mídia brasileira, NUNCA uma outra seleção pode ser melhor que a do Brasil (mesmo que seja a “máquina húngara” de 1954 ou o “carrossel holandês” de 1974). Há muito tempo é assim: são tantas as desculpas, que nem vou escrever aqui nesse comentário, é melhor fazer um post sobre isso.
Quanto à Argentina de 1978, todos que viram jogar me dizem que era incontestavelmente melhor que o Brasil. Talvez não fosse mais time que a Holanda, mas que o Brasil, era. E o jogo Brasil x Argentina naquela Copa não foi em Buenos Aires, e sim em Rosário. ;)
E por falar em Copa do Mundo … Também tenho um sonho: no dia que criarem uma máquina do tempo, eu gostaria de voltar ao dia 16 de julho de 1950. Local: Maracanã/RJ*. Final da Copa do Mundo. Brasil x Uruguai **. Queria poder chorar por essa derrota, como choraram os 50 milhões de brasileiros (população do Brasil na época) e ver os mais de 200 mil expectadores no Maracanã em completo silêncio, após o 2° gol do Uruguai.
A maior tragédia do futebol brasileiro foi presenciada por 174 mil pagantes e 50 mil penetras, que não acreditaram no título uruguaio, sacramentado pelo gol de Ghiggia aos 34 min da etapa final.
* Os brasileiros construíram o maior estádio do mundo, o Maracanã, para sediar e conquistar uma Copa do Mundo. A copa de 1950.
** O Uruguai, equipe com mais pontos, foi a campeã da Copa do Mundo de 1950.
Sugestão de vídeo – Copa de 1950
Depoimentos: Zizinho e Giggia
Hagi mito demais, até hoje coloco ele no top jogadores que já vi. Sem contar Stoichkov, Brolin, Baggio, todos que destruíram na Copa. Preud’homme fechou o gol belga. Romário foi o herói máximo do tetra. Balboa acertou uma bicicleta devastadora de fora da área, que só não entrou porque não há mais beleza neste mundo.
Copa de 1994 foi a maior de todas. Me arrepio toda vez que assisto “Todos os Corações do Mundo”.
Pior que eu tinha esquecido de citar esse lance e colocar um vídeo! Valeu pelo comentário, e abaixo, o quase gol mais bonito da Copa de 1994:
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