70 anos do início da Segunda Guerra Mundial

No dia 1º de setembro de 1939, os exércitos nazistas cruzaram a fronteira com a Polônia, dando início ao maior banho de sangue de todos os tempos (até agora).

Engana-se, porém, quem pensa que a única motivação da Segunda Guerra Mundial foi a invasão da Polônia.

Muitas vezes se disse que a Segunda Guerra Mundial foi “uma consequência da Primeira”, e não deixa de ser verdade. A Alemanha foi a principal potência derrotada, e em 1919 lhe foram impostos “tratados de paz” absolutamente humilhantes: o país foi obrigado a pagar pesadas indenizações de guerra aos vencedores, e sofreu sérias restrições quanto ao controle de seu próprio território. Mergulhou em grave crise econômica, com uma inflação galopante (para se ter ideia, notas de um bilhão de marcos chegaram a circular, e o dinheiro se desvalorizava tão rápido que por vezes era preciso um saco de notas para comprar um pão), e altas taxas de desemprego. Além disso, os veteranos da guerra sentiam o desejo de vingança, aumentado com a crise e a humilhação a que foram expostos – terreno fértil para o florescimento de movimentos ultranacionalistas de extrema-direita como o nazismo, versão alemã do fascismo.

Adolf Hitler chegou ao poder em 1933, sem esconder que pretendia violar os tratados de 1919. Grã-Bretanha e França fizeram vistas grossas: o líder nazista era anticomunista ferrenho. As potências ocidentais apostaram suas fichas numa invasão alemã da União Soviética, considerada ameaça muito maior: o mundo capitalista ainda vivia sob os efeitos da grave crise econômica iniciada em 1929; enquanto isso a URSS se desenvolvia e era um modelo de “sociedade justa” (mesmo com a ditadura de Josef Stalin) para os trabalhadores, que sentiam ainda mais a crise.

Assim, Grã-Bretanha e França nada fizeram de concreto para impedir o início do expansionismo de Hitler. Em março de 1938, o ditador ordenou a anexação da Áustria, sua terra natal. Depois, a vítima seria a Tchecoslováquia: Hitler acusou o país de maltratar populações alemãs da região dos Sudetos; Grã-Bretanha e França concordaram com a anexação à Alemanha daquela porção de território tchecoslovaco. Depois, Hitler acabaria anexando todo o país – sem ouvir mais do que uma ameaça de Grã-Bretanha e França, de que não tolerariam uma invasão da Polônia.

Quando as tropas atravessaram a fronteira teuto-polonesa, finalmente os governos britânico e francês decidiram agir. Mas foi mais por falta de escolha do que por convicção. Além da promessa de defesa feita à Polônia, Grã-Bretanha e França não contavam com a jogada de Stalin, que assinou um pacto de não-agressão com Hitler. Com isso, Alemanha e URSS dividiriam a Polônia entre si, e os soviéticos poderiam anexar as repúblicas bálticas (Estônia, Letônia e Lituânia – independentes desde 1918, e as primeiras a reivindicarem independência da URSS ao final da década de 1980). Mesmo que Stalin não esperasse a Operação Barbarossa em junho de 1941, graças ao pacto a URSS ganhou mais tempo para preparar a defesa contra uma invasão que mais cedo ou mais tarde aconteceria.

Sempre se diz que em uma guerra, a primeira vítima é a verdade. E de fato, é. As forças aliadas contra Hitler também cometeram crimes de guerra: o bombardeio de Dresden em fevereiro de 1945 segue gerando controvérsias, e há também denúncias de massacres cometidos pelos soviéticos na frente oriental. Sem contar as bombas atômicas jogadas pelos Estados Unidos sobre Hiroshima e Nagasaki em agosto de 1945, quando o Japão estava prestes a se render – e mesmo que não estivesse, nada justifica tamanha desumanidade.

Já as atrocidades cometidas pelos nazistas haviam se iniciado antes de 1º de setembro de 1939. A política de “embelezamento do mundo” mediante a “eliminação de pragas” (inclusive as “sociais”) fora cuidadosamente planejada. Elas ameaçavam as “boas famílias alemãs”, e precisavam ser exterminadas. O Holocausto não foi consequência da guerra, era política de Estado de Hitler: em novembro de 1938 já aconteceram massacres de judeus em diversas regiões sob domínio nazista, na chamada Noite dos Cristais.

É fundamental que tais acontecimentos jamais sejam esquecidos. Pois a derrota do nazismo no campo militar não significou o seu fim definitivo. Sua força reside não nos pequenos grupos que se declaram “neonazistas”, e sim no mito de que foi totalmente vencido. Há muitas pessoas que se questionadas sobre o que acham do nazismo, o rejeitam veementemente, visto que ele é associado ao que de pior já fez a humanidade. Porém, ao mesmo tempo defendem ideias que em muito se aproximam dele, sem se darem conta disso.

13 comentários sobre “70 anos do início da Segunda Guerra Mundial

  1. Camarada Rodrigo: para nós que defendemos um outro modelo societário é importantíssimo analisar o que fizeram os setores da esquerda “adulterada” (em especial a social-democracia) nesses momentos sofridos e decisivos para a humanidade.
    Às vésperas da I Guerra esse setor apoiou a guerra imperialista, incluindo o SPD alemão. Nesse mesmo país já no final da guerra o mesmo SPD, chamado pela própria burguesia para salvar o regime, foi cúmplice do assassinato de Rosa Luxemburgo e ajudou a abortar a revolução alemã que tiraria a URSS do isolamento. Na sequência o seu governo de colaboração de classes mostrou-se ineficiente e ajudou a pavimentar o caminho para a ascensão do nazismo.
    Lembro que mtos intelectuais fazem uma analogia, à qual eu considero pertinente, entre a trajetória do SPD alemão com o PT brasileiro.

    Do outro lado há a hipocrisia dos intelectuais da burguesia. O neoliberal Ludwig von Mises, por exemplo, saudou o fascismo de Mussolini que estaria “salvando a civilização européia” por proteger a sacrossanta “propriedade privada”. O mesmo Mises apoiou na Áustria o fascista Dollfus e a repressão à traidora social-democracia. Depois o mesmo Mises escreveu páginas e páginas querendo igualar o fascismo ao socialismo. Não por acaso vemos direitopatas hoje querendo fazer essa comparação absurda.

    Mussolini tb foi considerado um “grande legislador” por Winston Churchill. Aliás esses dois trocavam correspondências que foram destruídas a mando de Churchill qdo as tropas inglesas estiveram na Itália. Imagina o que não deveria ter ali? KKK

    A teoria da superioridade de uma suposta raça ariana é anterior à Hitler. Não serão poucos os intelectuais liberais que vão defender a superioridade racial nos séculos anteriores (mas isso eu vou contar melhor em um artigo extenso que estou trabalhando).

    É isso!

    Abraços!

    • Não duvido que o ESTADO (é bom frisar, o ESTADO, não o povo) eslovaco tenha ajudado os nazistas. Afinal, após a ocupação da Tchecoslováquia, segundo essa matéria, teria sido concedida “independência” à Eslováquia – certamente era um governo fantoche, subordinado aos nazistas. Da mesma forma que quando a Alemanha foi chamada a socorrer sua desastrada aliada Itália, os nazistas concederam “independência” à Croácia, com um governo fantoche – e o mesmo se deu na França de Vichy, colaboracionista.
      Mas é preciso tomar muito cuidado com isso, para não taxar povos injustamente de “colaboracionistas”. Houve apoio aos nazistas, mas nos territórios destes Estados-fantoche também viviam pessoas que resistiram bravamente. Bom exemplo é o que se deu na Croácia: os croatas são acusados pelos sérvios mais nacionalistas de terem colaborado com os nazistas que ocuparam a Iugoslávia, mas o grande líder da resistência, o marechal Tito, era croata. Certamente muitos resistiram na Eslováquia e na França de Vichy também.

  2. é lógico que esses fatos nunca poderão ser esquecidos!
    milhares de pessoas morreram por motivos financeiros entre as potências.
    o texto está ótimo!

  3. parabens pelo post são assunto q nos naum devemos deixar que seja esquecido pois foi umas das piores atrocidades do ser Humano !!
    “É fundamental que tais acontecimentos jamais sejam esquecidos.”

    parabens

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