Começou a criminalização

É simplesmente inacreditável o que disse o delegado Gilberto Almeida Montenegro, da Divisão de Crimes de Trânsito de Porto Alegre, sobre a Massa Crítica, vítima de uma tentativa de assassinato na sexta-feira. Bom, na verdade não: é apenas mais um reflexo da carrocracia que impera na cidade.

O primeiro erro crucial foi esse evento ciclístico. Esse grupo cometeu um erro grave, qualquer evento desse porte se avisa a Brigada Militar (BM), a EPTC (Empresa Pública de Transporte e Circulação), a Secretaria de Segurança, para se formar um aparato para evitar situações desse tipo.

Então quer dizer que para se locomover é preciso avisar a Brigada e a EPTC? Pois a Massa Crítica nada mais é do que ciclistas pedalando juntos, se deslocando pela cidade (embora isso tenha sim um sentido de manifestação – mas para lembrar que ciclistas também são trânsito). Por essa lógica, é preciso avisar a BM e a EPTC para formarem um aparato em todos os finais de tarde, visto que os motoristas adquiriram o interessante hábito de protestar nesses horários, levando o caos à maior parte da cidade.

Aqui não é a Líbia. Aqui tem toda a liberdade para fazer manifestação, desde que avisem as autoridades. Faz a tua manifestação, mas não impede o fluxo de automóveis. Se tu impedes, dá confusão, dá baderna, dá acidente. Fica o alerta.

Ah, é? “Aqui não é a Líbia”, mas se desagradar ao Gaddafi, digo, ao fluxo de automóveis… Pelo jeito é legítimo que um bandido dirigindo um carro passe por cima de ciclistas.

Não pode impedir o fluxo de carros (que na maioria esmagadora das vezes é impedido por eles mesmos), mas de pedestres e ciclistas pode, né? Pois o tempo que aquele assassino poderia ter esperado para que a Massa Crítica passasse, é o mesmo que muitas vezes eu espero para atravessar uma rua (isso quando não preciso esperar mais).

18 comentários sobre “Começou a criminalização

  1. E o tal Delegado continua, hoje dia 1°/03, afirmando que tem que pedir licença para andar de bicicleta em Porto Alegre. E os motoristas dos carros que atravancam o trânsito todo dia no centro de Porto Alegre e na cidade baixa também vão ter que pedir licença?? O cara tah achando que estamos no tempo da ditadura militar, quando para reunir, tinha que pedir licença pra polícia, pro exército ou pro bispo. O gestor municipal não gere o trânsito como deveria e a culpa passa a ser de ciclistas que andam de quando em vez nesta ou naquela rua da cidade. Bah! Eu espero sinceramente que neste govenro do Tarso esta turma da polícia não continue sendo instrumento de repressão ao povo e aos movimentos. Pedir licença pra andar de bicicleta ou sejuntar com outros ciclistas pra andar? Ditadura explícita.

    • Bem luizmullerpt, conforme a Constituição Federal no seu inciso XVI diz o seguinte: Todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente.

      As pessoas são livres para fazer passeatas, protestos, manifestações e etc…, não necessitando de AUTORIZAÇÃO do Poder Público para esse fim. A exigência de PRÉVIO AVISO atende uma necessidade administrativa, e foi feita para que a autoridade competente possa tomar as providências necessárias, como, por exemplo, INTERDITAR O TRÂNSITO, LIBERAR RUAS, CONVOCAR FORÇA POLICIAL para garantir a realização da reunião, etc…

      Portanto meu amigo o delegado em questão não está falando M…. está sim baseado na constituição, quanto ao atropelamento, isso já é outro crime que será investigado pela polícia e terá outros tramites para resolvê-lo.

      Isso é o que dá não conhecer nossas LEIS.

  2. Guga e Rodrigo,

    Independentemente do crime cometido de maneira absolutamente inaceitável e injustificável, a Massa Crítica tem a seu favor:

    “Art. 29. O trânsito de veículos nas vias terrestres abertas à circulação
    obedecerá às seguintes normas:…

    …§ 2º Respeitadas as normas de circulação e conduta estabelecidas neste artigo, em ordem decrescente, os veículos de maior porte serão sempre responsáveis pela segurança dos menores, os motorizados pelos não motorizados e, juntos, pela incolumidade dos pedestres.”

    Todavia, por incrível que pareça, o delegado pode estar completamente equivocado ao ter-se posicionado ao invés de declarar-se imparcial conforme o post do Adão Paiani no RS Urgente em função do seguinte artigo:

    “Art. 58. Nas vias urbanas e nas rurais de pista dupla, a circulação de bicicletas deverá ocorrer, quando não houver ciclovia, ciclofaixa, ou acostamento, ou quando não for possível a utilização destes, nos bordos da pista de rolamento, no mesmo sentido de circulação regulamentado para a via, com preferência sobre os veículos automotores.”

    Portanto, embora haja um erro de interpretação baseado no senso comum reacionário e ignorante dos carrodependentes (que julgam que os ciclistas estavam “fechando” a via, o que não é verdade – fechar é vir do nada e ultrapassar de maneira perigosa mantendo-se à frente do veículo ultrapassado ou, então, refere-se ao ato de não deixar ninguém se movimentar por interrupção da via), os ciclistas devem normalmente direcionar-se próximos ao meio fio do lado direito.

    E, de fato, como eles ocuparam toda a largura da pista de rolagem, deveriam, sim, ter pedido autorização às autoridades competentes que, normalmente, não se negam a atendê-los.

    Por fim, um manifestante da Massa Crítica disse a um amigo em comum que eles quase sempre pedem autorização à EPTC e à Brigada Militar mas que, desta vez, esqueceram.

    Nada justifica. Inclusive longe de mim defender a carrocracia e os reaças. Mas é preciso dizer o que precisa ser dito.

    []’s,
    Hélio

  3. Tudo correto. Mas não esqueçam que o bom senso deve sempre estar presente. Tenho o direito de estar num estádio com a camiseta do time adversário, mas não farei isso na torcida contrária, pois seria provocação, apesar de meu direito. Ficar com bicicleta impedindo o trânsito, em velocidade não permitida (mínimo de 50% da vel. máxima permitida) é provocar. A reação foi desastrosa, porém não se esqueça que quando se provoca, se terá reação,

    • “Ficar com bicicleta impedindo o trânsito, blá blá blá…”: bicicletas SÃO trânsito!!!

      “Quando se provoca, se terá reação”: então tu queres dizer que, no fundo, achas que a culpa é dos ciclistas.

      • Não disse que acho que a culpa foi dos ciclistas. Disse apenas que se deve ter bom senso e meditar sobre nossas atitudes. Você tem o direito de parar um ladrão e dizer “devolve o que me roubou”. Mas você fará isso ciente que poderá ocorrer uma reação dele. O que prefere: ter razão morto ou continuar vivo sem razão? Você aconselharia seu filho a agir sem pensar nas consequencias, por maiores direitos que ele tivesse?

        • Acho que ter bom senso nessa questão é não relativizar, com afirmações do tipo “ah, mas eles tavam trancando a rua”, “ameaçaram o cara” (com três dias pra pensar, se inventa qualquer história)… Pois assim, mesmo que não seja a intenção, pra muita gente acaba se fixando a ideia que “a culpa foi dos ciclistas porque eles estavam atrapalhando o trânsito”.

          E não dá pra comparar o maluco com um ladrão: quando somos roubados, sabemos que o ladrão provavelmente irá atirar (ou nos esfaquear) se tentarmos reaver o que ele nos roubou. Agora, alguém imaginava que aquele maluco ia jogar o carro pra cima dos ciclistas?

  4. O Eduardo Guimarães sempre notificou a Brigada Militar de SP sobre as manifestações defronte à Globo, à Folha e no vão livre do MASP. É até uma medida pra atrair a mídia e demonstrar que as autoridades precisam organizar e proteger os pedestres e ciclistas.

    Se tudo for feito sem avisar, infelizmente, há o risco da criminalização e da hostilidade do público externo à manifestação.

    []’s,
    Hélio

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